Thursday, October 9, 2008

O Nobel de Kobayashi e Maskawa

Cada um dos galardoados com o Prémio Nobel da Física em 2008 merece por si este reconhecimento. Dito isto, é bastante discutível a forma como foram agrupados. Uma das formas de ver isto, mesmo para um leigo, consiste em notar como o anúncio do prémio de Nambu aparece separado do de Kobayashi e Maskawa. São dois prémios de física teórica de partículas, particularmente do conhecido modelo padrão das interacções electrofracas. Mas pouco mais têm em comum.
Claro que Kobayashi e Maskawa tinham que receber o prémio juntos, mas estranha-se este não ter sido atribuído igualmente ao italiano Nicola Cabibbo. A descoberta destes cientistas é a universalidade das interacções nucleares fracas, generalizando-as para os casos em que há mais do que uma família de quarks. Kobayashi e Maskawa estabeleceram o resultado (através de uma matriz de massa, cujos vectores próprios são os estados físicos) na forma final, com três famílias de quarks. O trabalho de Cabibbo é anterior, e aplica-se somente a duas famílias. A matriz de massa escrita por Cabibbo só tem assim um parâmetro (o ângulo de Cabibbo) - actua num espaço bidimensional, das duas famílias de quarks, mudando-as de base. Mas a ideia física básica, a universalidade, está lá. Kobayashi e Maskawa introduziram (naquele que é o terceiro artigo mais citado da história da física) uma matriz para três famílias, contendo mais parâmetros que por sua vez dão origem ao fenómeno da violação de CP (cuja descoberta experimental foi premiada com o prémio Nobel em 1980, e que deverá estar na origem da assimetria bariónica do universo), e que não seria possível somente com duas famílias. Esta matriz chama-se CKM (Cabibbo-Kobayashi-Maskawa), ilustrando bem o facto de ser uma generalização (fisicamente mais rica, é verdade) do trabalho original de Cabibbo. Por isso mesmo considero uma injustiça que este prémio Nobel não seja partilhado igualmente entre os três autores da matriz CKM (que vai continuar a ser conhecida assim, apesar de só dois deles terem sido galardoados). Isto não quer dizer de maneira nenhuma que eu considere que Nambu não merece um prémio Nobel. Mas isso discutirei noutro texto.

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