Wednesday, September 30, 2009

Parabéns China

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Hoje é o dia do 60º aniversário da República Popular da China. Para comemorar decidi publicar uma curta selecção de fotografias feitas por mim nos primeiros dias deste mês, quando me encontrava em Pequim. Nelas podem ver-se aspectos da cidade moderna dos negócio internacionais e cenas de rua nos hutongs (bairros populares).
Também se ilustram a força da publicidade e o modernismo do metro; os restaurantes populares de noodles e os recantos idílicos em pleno centro; a laboriosidade e o charme.
Aqui ficam os meus parabéns para a China e para o extraordinário povo chinês.
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Compromisso à esquerda

Um apelo à estabilidade governativa. Assinar aqui.

O Tsunami explicado às crianças (e aos fanáticos)

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A 18 de Setembro foi registado um sismo subterrâneo de grande magnitude com epicentro na primeira página do Diário de Notícias. Ainda estavam todos a exigir a explicação do sucedido quando foram surpreendidos por um tsunami que, saindo pelos televisores, deixou tudo de pernas para o ar.
Os fanáticos são como as crianças, por isso é preciso explicar-lhes tudo timtim por timtim. Aqui vai sob a forma de historieta.
Até ao dia 18 de Setembro nada de notável tinha acontecido, vivíamos todos na nossa pasmaceira habitual mas um dos imbecis que habitam no PS, e se alimentam do PS, sugeriu que seria uma grande ideia lançar uma bomba nos jornais para lixar a Dra. Manuela das asfixias. E assim foi.
Esqueceram-se de perceber que, por tabela, afinfavam no Sr. Silva ou então acharam que era um excelente "2 em 1". Seguiu-se uma campanha desenfreada que deu 36% no Domingo mas que entretanto tinha entalado o Sr. Silva contra a parede, com transmissão em directo e em canal aberto.
O tsunami era a consequência inevitável. Agora andamos todos a ver se encontramos um governo viável por entre os destroços. A moral da história fica por conta de cada um.
Agora a sério.
O PS fez o que nunca ninguém tinha feito: atacar e pôr em causa o Presidente da República.
Nem a direita nos piores tempos de Soares ou de Sampaio se atrevera a tocar nessa instituição que parecia ser a única para onde os portugueses ainda se podiam voltar quando tudo o mais falhava.
Essa válvula de escape do sistema foi eliminada em troca de quê ? De uma semi-vitória nas legislativas de 2009.
Essa válvula de escape do sistema foi eliminada com base em quê ? Um email escrito há 17 meses por um jornalista sobre um história que roça o ridículo e que foi roubado não se sabe por quem.
E agora ?
O que é que acontece quando o partido mais votado é acusado pelo Presidente de mentiroso, manipulador, intolerável e indecente ?
Para já esse partido finge que não ouviu. Mas será que resulta ?
Estou convencido de que, aberta esta caixa de Pandora, nos esperam tempos muito difíceis de radicalização à esquerda e à direita, até que as próximas eleições presidenciais em 2011 resolvam esta guerra.
Antevejo que Cavaco vai procurar empurrar o PS para uma aliança com o BE e o PCP.
Dessa forma Cavaco pode sonhar com a reeleição pelo desgaste de um governo crismado como "comunista". O "radicalismo" de tal governo, se forem dados os pretextos convenientes, pode atirar os eleitores do centro para os braços do novo PSD à Passos Coelho, nas eleições que o presidente reeleito convocará para salvar o país da "revolução". Um governo de maioria de esquerda é, com razão ou sem ela, a única esperança da direita para regressar ao poder.
Se os actuais votantes não chegarem para concretizar tal plano poderá sempre recorrer-se a uma campanha de terrorismo ideológico que assuste, e faça regressar ao sistema eleitoral, os 39% que se abstiveram no dia 27.
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Tuesday, September 29, 2009

"Que fazer com toda esta liberdade?"

Aos 45 anos, a Mafaldinha (neste caso, mais correctamente, o Filipe) lança a questão fundamental. Bem hajam!

A fava

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O brinde do famoso Bolo das Escutas saíu, no dia 27, ao Engenheiro Sócrates. Hoje à noite ficaremos a saber a quem vai caber a fava.

Adenda às 21:40 - a fava é para o Zé Povinho. Começou a campanha para as presidenciais. Os irresponsáveis que resolveram usar esta parvoíce das "escutas" para ganhar as legislativas arranjaram um rico sarilho de consequências imprevisíveis. De repente a formação do próximo governo deixou de interessar, vamos assistir a uma polarização e guerra sem quartel entre a esquerda e a direita em plena crise económica. Mesmo que seja verdade que F. Lima tentou, há 17 meses, publicar uma noticiazeca isso é ridículo face ao terramoto que foi desencadeado.

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Monday, September 28, 2009

Sem a pesada herança

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Com a sua votação no Domingo os portugueses obtiveram um importantíssimo resultado: finalmente têm um Primeiro Ministro que não se pode desculpar com a herança deixada pelo governo anterior.
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A natureza de Louçã



Com os resultados do Bloco de Esquerda, se Francisco Louçã fosse um político responsável nunca o poderíamos ouvir falar em “vitória” ontem. O objectivo de um partido de esquerda responsável seria, retirando a maioria absoluta ao PS, ter mandatos suficientes para conseguir uma maioria em conjunto com este partido. (Para uma coligação ou para um simples acordo parlamentar, depois se veria.) Mas não assim. Excluído que parece estar um acordo com a CDU (a menos que se queira Portugal fora da NATO e da União Europeia), uma maioria de esquerda só me parece possível para propostas “fracturantes” ou em casos pontuais como um imposto sobre as grandes fortunas. A esquerda responsável, por isso, falhou. Mas nada disso parecia importar a Francisco Louçã, que estava mais preocupado com o seu partido do que com a governação do país.Sempre ouvimos falar da “arrogância” de José Sócrates. Após o que ouvimos ontem, será mesmo Sócrates o “arrogante”? A primeira coisa que o líder do Bloco de Esquerda fez, na noite de ontem, foi “exigir” a substituição de Maria de Lurdes Rodrigues sem propor nenhuma contrapartida. Ao ouvi-lo, apeteceu-me que Sócrates descesse ao átrio do Hotel Altis acompanhado da ainda ministra da Educação, anunciando que a manteria no seu cargo se fosse designado primeiro ministro. A verdadeira natureza de Francisco Louçã, escorpião pronto a picar a rã que o poderia ajudar a atravessar o rio, revelou-se aqui. Quem pudesse ter pensado na viabilidade de uma coligação do PS com um partido liderado por este indivíduo terá encontrado aqui a resposta. Enquanto o Bloco não decidir se é um partido de poder ou de protesto, tal não será possível. Mas, para o Bloco ser um partido de poder, terá que ser com outro líder. Neste momento, Francisco Louçã é o maior problema da esquerda portuguesa.

Porque não se pode confiar em quase ninguém

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"Se pensarmos nisso, olharmos para o passado ou tentarmos recordar-nos, é provável que acabemos por descobrir que é raro existir alguém que não ponha um ideal ou uma entidade bastante impessoal e abstracta acima das suas relações com as outras pessoas.
Esse nobre conceito é reiterado espontaneamente em todos os tipos de situações e não só é aceite como também desperta reacções elogiosas e de admiração.
As pessoas que o manifestam são geralmente aplaudidas como exemplos de empenho, abnegação, altruísmo e até lealdade. É muito provável ouvi-lo também, com variações, da boca de futebolistas, políticos e guerrilheiros e, obviamente, de nacionalistas e religiosos de todas as crenças, cuja razão de ser é essa mesma.
Eu, por outro lado, considero-a uma afirmação perturbadora, para não dizer aberrante, e faz-me imediatamente desconfiar do seu autor.
Essas palavras implicam sempre que qualquer coisa, frequentemente algo que não existe ou é, no máximo, intangível ou invisível, está acima de tudo o resto e, naturalmente, das outras pessoas: Deus ou a Igreja, a Espanha, a Catalunha, a empresa, o partido, a ideologia, o Estado, a revolução, o comunismo, o fascismo, o sistema capitalista, a justiça, a lei, a língua, esta ou aquela instituição, uma escola, um jornal, um banco, a coroa, a república, o exército, um nome, este ou aquele canal de TV, determinada marca, o Barcelona ou o Real Madrid, a minha família, os meus princípios, o meu país."
No seu desbragado exagero esta tese do escritor Javier Marías, que pode continuar a ler AQUI, contém grandes ensinamentos sobre as raízes do fanatismo.
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Ingovernabilidade

PS sem maioria absoluta, com um número de deputados inferior a PSD e CDS coligados. PS e BE não formam maioria juntos. A única solução para uma maioria estável seria um acordo do PS com um PSD descredibilizado e em cacos ou com o CDS mais à direita de sempre. O eleitorado do PS não perdoaria qualquer uma destas opções. Eu não perdoaria.Só resta ao PS seguir em frente, tentar avançar com as reformas que quer fazer (e que bem começou enquanto tinha maioria absoluta), motivá-las e justificá-las o melhor que puder perante o país, e esperar pela atitude dos restantes partidos. Não terá força para mais. O futuro será o que tiver que ser.

Sunday, September 27, 2009

Declaração de (não) voto

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Escrevo este post antes de serem conhecidos os resultados da votação para que não se diga que o faço por causa deles.
Escrevo por imperativo cívico, para afirmar que os resultados, sejam eles quais forem, ficarão inevitávelmente manchados por aquela que foi, provávelmente, a mais grave mistificação durante um período de campanha eleitoral desde que a nossa democracia atingiu a sua fase "civilizada".

Os factos

- A 18 de Agosto 2009 o Público incluiu uma abordagem das escutas com pretexto nas afirmações do PS de que haveria assessores de Cavaco a colaborar na preparação do programa do PSD. A tese implícita era que o PS só podia fazer tal tipo de afirmações se estivesse a vigiar os tais assessores.
- Cerca de um mês depois, a poucos dias das eleições legislativas, o DN publicou o conteúdo de um email enviado por um jornalista do Público a um colega em Abril de 2008. Nesse mail era mencionada uma reunião com Fernando Lima, assessor de Cavaco, em que ele pedira a divulgação pelo jornal das suspeitas da presidência relativamente a uma hipotética vigilância a que estaria submetida.
- Não se sabe quem, quando e por que meios obteve o referido email e como foi ele parar aos jornais.
- Não se conhece qualquer declaração do autor, nem de Fernando Lima, sobre os factos relatados no email.
- Apesar de todas estas incertezas e indefinições o artigo do DN deu origem a uma desefreada campanha mediática que se desenvolveu como se fossem inquestionáveis:
1) os factos relatados no email,
2) a ligação entre esses factos e o artigo do Público publicado 17 meses depois, em 18 de Agosto 2009,
3) o envolvimento de Cavaco, como mandante,
4) a inexistência de quaisquer escutas,
5) a inexistência de qualquer "asfixia democrática" como corolário da inexistência das escutas
- Esta campanha estendeu-se a todos os meios e, a partir desse momento, não houve qualquer outro tema relevante que conseguisse obter atenção e tempo de antena durante o que faltava da campanha eleitoral.
- Pela primeira vez na nossa história recente a luta política partidária usou meios que põem em causa a dignidade da função presidencial e que constituem um verdadeiro "julgamento mediático" do Presidente, com consequências imprevisíveis para o regime.

Considerandos sobre uma história mal contada

- Um Presidente tem tão poucos meios e poder que manda um assessor pedinchar a um jornalista subordinado o favor de uma noticiazinha ? Por que é que ele não ligou ao Belmiro ou, já que dizem que o homem está a soldo, ao director do Público ? Porque é que falaria com um subalterno sujeitando-se a ser desmascarado ?
- Mesmo admitindo que tenha feito tal pedido, e admitindo que o artigo de 18 de Agosto do Público era consequência desse pedido, temos que concluir que só foi atendido 17 meses depois. O homem não tem mesmo influência nenhuma.

Conclusões

A meia dúzia de dias das eleições transformar isto numa coisa essencial é claramente uma manobra cujo beneficiado é, sem dúvida, o Partido Socialista.
O desafio a Cavaco, que só foi lançado para salvar in extremis estas legislativas, faz-nos a todos correr graves riscos de turbulência no momento de formar o novo governo. Neste tempo de enormes dificuldades e incertezas estamos perante o espectro da ingovernabilidade já que, na prática, se está a antecipar dois anos a luta pela Presidência.

Se por um lado este episódio revela uma hipotética tentativa canhestra da parte de Cavaco por outro expõe a potentíssima máquina mediática que conseguiu de uma penada, a partir de material clandestino e irrisório, substituir na campanha o julgamento do governo de Sócrates por um ataque ao PSD e ao Presidente da República.
Os portugueses podem portanto ter dúvidas acerca da competência conspirativa de Cavaco e dos seus assessores mas não podem ter qualquer dúvida sobre a existência algures de uma fábrica comunicacional capaz de transformar quase nada em quase tudo.
Eu, pela minha parte, passarei a interrogar-me sistemáticamente sobre toda e qualquer informação proveniente de tal fonte.

Através destas denúncias mútuas ao mais alto nível, que creio se irão intensificar, desaparece qualquer referêncial credível para os cidadãos.
Em suma, tudo isto é delirante e faz supor que realmente estamos a ser governados por seitas secretas em que nunca votámos.

O regime já de si tão debilitado foi alvo, por obra e graça do fanatismo partidário, de um dos mais contundentes ataques da sua história.
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O dever cívico

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O bom povo português que ontem encheu as bancadas da Luz e do Dragão é o mesmo que hoje, com igual determinação clubística, ponderação e discernimento estratégico, vai às urnas escolher a doutora ou o engenheiro.

Bem haja.

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Saturday, September 26, 2009

Presunto e abanico

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Ao ler o Publico.es descubro finalmente o porquê das reservas de Manuela relativamente a nuestros hermanos:
"Hace una semana, las encuestas para las elecciones generales de mañana indicaban un empate técnico entre los dos grandes partidos, un cuadro que cambió radicalmente al desmoronarse las acusaciones de un presunto espionaje al presidente conservador, Aníbal Cavaco Silva, que habría sido ordenado por el primer ministro socialista, José Sócrates."
Nunca me passou pela cabeça que um presunto estivesse envolvido, como espião, nas escutas ao senhor Presidente. Se eles o dizem...
De notar também que consideram Sócrates não só favorito como, o que é muito mais arrojado, até mesmo socialista.
Mas a sobranceria dos espanhóis é ainda mais grave na forma como caracterizam a política no nosso país:
"El abanico político portugués, además de ser amplio, se presenta confuso."
Volta Manuela, estás perdoada.
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UTOPIA

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Era uma vez um país tão igualitário, tão igualitário, que o Presidente quando queria publicar mandava o assessor pedir por favor ao porteiro do jornal.

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Dia de reflexão

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A campanha acabou. Os golpes e contra-golpes de bastidores levam-nos a suspeitar que, nesta aparência de democracia, somos de facto governados por seitas secretas que desconhecemos. Aqueles em que se vota amanhã são meros testas de ferro ?

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Friday, September 25, 2009

Por que voto no PS

Numa notável música intitulada O Estrangeiro, em 1989, Caetano Veloso remata anunciando:
Some may like a soft brazilian singer but I’ve given up all attempts at perfection.
Não defendo que esqueçamos a perfeição. A perfeição deve permanecer como o objectivo, os objectivos devem ser claros e devemos lutar por eles. Mas devemos ter a noção de que a perfeição nunca é atingível por métodos democráticos, e os métodos antidemocráticos (para além de serem isso mesmo – antidemocráticos) conduziram a resultados que ninguém, nem mesmo o mais fanático, considera perfeitos. Ou seja: devemos tentar aperfeiçoar-nos, conscientes das nossas imperfeições. A perfeição é algo que se tenta atingir, e não algo que se estabelece. Finalmente, há limites à perfeição que queremos atingir (à esquerda: a Igualdade e a Liberdade), provenientes da nossa condição humana de animais sociais, que podemos aprender com a História, mas também com a Segunda Lei da Termodinâmica. São totalmente irrealistas as propostas baseadas na “imaginação”, no “sonho”, no “ideal” e na “utopia”, que tantas vezes se ouve falar à esquerda, e que devemos rejeitar em nome da verdade. (Belo slogan, o do PSD: Política de Verdade. Pena que não tenha nada a ver com o partido que o usa.) Mais valem avanços concretos que tacticismos suicidas que preferem levar a direita ao poder em nome da “pureza ideológica”, na esperança que a revolução fique mais próxima e mais fácil. É em nome destes avanços concretos, é por causa destes avanços concretos, que voto no PS nestas eleições legislativas. Porque sou de esquerda e, relativamente aos outros partidos, o Bloco de Esquerda não consegue (ou não conseguiu, até hoje) assumir nenhum tipo de responsabilidades, e o PCP, se não tiver uma posição hegemónica (que o povo português nunca entendeu dar-lhe), prefere conservar a sua pureza como partido puramente de protesto. Esta minha rejeição poderia motivar-me a procurar uma outra alternativa, ou a votar no PS simplesmente porque era o mal menor. Não é esse o caso: voto no PS nestas eleições com convicção: estou firmemente convencido de que é o melhor para Portugal. O que motiva este meu ponto de vista são alguns dos tais “avanços concretos” dos últimos quatro anos, rumo a uma sociedade mais justa. Sem querer ser exaustivo, vou enumerar alguns:
a reforma da Segurança Social, com o aumento da idade da reforma, com vista à sua sustentabilidade; a reforma do Serviço Nacional de Saúde, com o encerramento de urgências aparentemente “de proximidade” mas mal equipadas, e a sua concentração em unidades com tamanho suficiente para terem equipamentos e pessoal de forma a melhor servirem os utentes. O lançamento (após décadas de espera) de infra-estruturas necessárias ao desenvolvimento do país, como o novo aeroporto de Lisboa e (menos) o TGV. No trabalho, o desincentivo da precarização dos contratados. Na administração pública, o programa Simplex que a desburocratizou e simplificou, permitindo resolver online o que dantes demorava horas. Um exemplo concreto é o programa Casa Pronta de aquisição de casas, que permite fazer a escritura e o registo de uma casa própria ao mesmo tempo, numa conservatória, sem recurso a mediadores (os notários), simplificando, acelerando o processo e reduzindo muito os honorários. À custa dos notários, pois claro – e foi preciso coragem para afrontar esta (e outras) corporações. Algo que este governo nunca temeu: afrontar corporações. Na educação, a aposta na requalificação do parque escolar, a retirada de símbolos religiosos das salas de aula das escolas públicas, o investimento no ensino técnico-profissional e para adultos. O princípio da introdução da avaliação dos professores (bem como de todos os funcionários públicos) é salutar e só por si constitui uma grande reforma, que nunca foi aceite em termos sérios pelos sindicatos, por muito que eles digam o contrário. Finalmente, na ciência e ensino superior, área que me é particularmente sensível, assistimos ao reforço do investimento público com a contratação de novos doutorados, a continuação da aposta na formação de doutores e, finalmente, um novo ECDU (estatuto da carreira docente universitário), substituindo uns estatutos totalmente obsoletos e, nomeadamente, acabando com a figura do “assistente”. Uma reforma que se impunha há mais de uma década atrás. Finalmente, foi nesta legislatura que se conseguiu a despenalização da interrupção voluntária da gravidez. Claro que o modelo concreto proposto de avaliação de professores deixa muito a desejar e transforma-os em burocratas, precisando evidentemente de ser revisto (mas não retirado). Claro que continua a assistir-se a uma tremenda promiscuidade entre Estado e empresários privados, algo que só beneficia estes e nos prejudica a todos. Claro que há muito a fazer para uma efectiva redistribuição de riqueza (aquilo que, no fundo, define a esquerda). Mas, no global, fazendo o balanço desta legislatura, estamos muito melhores hoje do que estávamos há quatro anos e meio. Claro que José Sócrates não é, nem em termos de currículo/carreira nem em termos ideológicos, um líder entusiasmante ou carismático. Mas não deixa de ser o melhor primeiro ministro que Portugal teve desde Vasco Gonçalves.

As propostas do Bloco

Texto imperdível no Avenida Central. A ler de uma ponta à outra.

Ninguém quer a China



A Liga Espanhola de Futebol (LFP) está a considerar a possibilidade de voltar a realizar grande parte dos jogos do escalão principal às três da tarde. Porém, a intenção não passa tanto por agradar aos adeptos mais apegados às tradições, mas antes pela necessidade de conquistar novos mercados, em especial o asiático. A antecipação de jogos para o prime time televisivo em países como a China é o caminho apontado pelo director geral da Liga, Francisco Roca.
Esta notícia recente é bem esclarecedora da atenção que "nuestros hermanos" dedicam à grande potência asiática em ascensão. Na nossa campanha eleitoral, onde o sentimento anti-espanhol até teve afloramentos, ninguém se refere à China. Porquê ?
A China é um exemplo inconveniente quer à esquerda quer à direita.

À esquerda porque mostra que um partido comunista, mesmo omnipotente como é o chinês, teve que reconhecer que precisava dos mecanismos capitalistas para relançar o crescimento económico.
Considerando que a sociedade é um barco e que o estado é o casco, por mais forte que o casco seja há que perguntar qual é o motor se quisermos que o barco siga em frente. Os chineses montaram um motor capitalista num barco cujo casco é fortíssimo e continua a ser assegurado pelo Partido Comunista da China. Reconheceram portanto que não existe, para já, nenhum motor mais eficiente.

À direita a China causa outro tipo de engulhos. A tese de que o modelo ocidental de democracia parlamentar é o único que permite que o mercado funcione é desmentido pela experiência chinesa. O mercado imenso que é a China neste momento tem uma dinâmica imparável e a China enriquece todos os dias mesmo quando os outros países mirram sob a crise.
Em democracia sobrevive-se a curto prazo prometendo tudo a todos, mesmo que tal seja impossível; o governo chinês está livre desse fardo e pode concentrar-se no futuro.
Os recursos financeiros da China permitem-lhe até andar pelo mundo a comprar empresas e recursos naturais aproveitando estarem ao "preço da chuva".

Por tudo isto os nossos políticos procedem como se nada estivesse a acontecer a Oriente, nem sequer fazem como os espanhóis e brasileiros que tentam desesperadamente aproveitar, ao menos, o potencial de um mercado gigantesco.
Por cá ninguém quer a China mas a realidade far-nos-á uma grande partida mais dia menos dia.

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Semana da Mobilidade/Massa Crítica


Esta foi a semana da Mobilidade. Para um balanço, ler o sempre atento Menos Um Carro. Esta noite há festa de ciclistas em Alfama. Lá estarei (depois da noite dos investigadores).

Cientistas ao Palco


Hoje é a Noite dos Investigadores. Durante o dia, um pouco por todo o país, o público vai ter a oportunidade de abordar cientistas. Eu vou estar em Lisboa, nos Jardins da Gulbenkian, à tarde. Apareçam!

Thursday, September 24, 2009

Avante ou avançar ?

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Acabo de me cruzar com uma uma arruada (ou avenidada pois foi na Av. da Igreja) da JS, comandada para meu espanto pelo bisonho Vitalino "apanha as" Canas.
O homem, em pessoa, parece um daqueles tipos que ficaram até muito tarde nos escuteiros mas que, neste caso, usa fato com colete mesmo sob 29º de temperatura.
Um simpático jovem ofereceu-me a simpática raquette que figura neste post um adereço que, suponho eu, a JS recomenda ao povo para enxotar os problemas que o afligem.
Ao receber a oferta eu gritei: "Avante Portugal !", para testar o jovem. Ele, prevenido e bem formado, percebeu a provocação e respondeu: "Avante não, avançar !".
Talvez avante e avançar não sejam assim tão diferentes. Quando me meti no carro ouvi, no noticiário, que uma aliança pós-eleitoral entre o PS e o PCP começa a estar em cima da mesa.
Creio perceber que o Eng. Sócrates quer ver se arranja forma de evitar o Dr. Louçã, que ele considera, sabe-se lá porquê, um chato.
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Wednesday, September 23, 2009

Dirce Migliaccio (1933-2009)

Vários blogues referem a morte da "Emília", do Sítio do Picapau amarelo, que Dirce de facto interpretou na primeira temporada da série, dos anos 70 da TV Globo, que encantou a minha geração. Só que Dirce não foi a melhor das Emílias: quem tornou Emília inesquecível, tendo-a interpretado por cinco temporadas, foi a actriz Remy de Oliveira. Dirce Migliaccio deve ser lembrada sobretudo como Judiceia Cajazeira.

Por que não vou votar

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Há dias o DN dizia que, há 17 meses, um jornalista disse que um assessor lhe dissera que o presidente havia dito que temia que escutassem o que eventualmente dissesse.
Este episódio remoto, um pouco ridículo, foi transformado no centro da campanha eleitoral e passou a dominar todos os noticiários e debates, o que é notável como manobra política.
Se por um lado revela uma hipotética manobra canhestra da parte de Cavaco por outro expõe a potentíssima máquina mediática do PS que conseguiu de uma penada, a partir de material clandestino e irrisório, substituir na campanha o julgamento do governo de Sócrates por um ataque ao PSD e ao Presidente da República.
A organização que esta operação pressupõe é de alto calibre e não funciona certamente na base da improvisação e da carolice. Se a isto juntarmos o caso da Manuela Moura Guedes, e não só, talvez a "asfixia democrática" invocada pela "outra senhora", ou pelo menos a asfixia do PSD, comece a fazer algum sentido.
Eu disse recentemente que uma coligação de direita não tem condições sociais para governar Portugal. Os factos recentes deram-me razão e mostram que um governo desse tipo seria trucidado pela máquina mediática do PS em três tempos, como sucedeu com Santana em 2005. De qualquer forma, como é óbvio, essa nunca seria a minha opção de voto.
Mas o PS, cujas tentativas reformistas têm muitos aspectos que eu aprecio, assusta-me enquanto cidadão. A sua capacidade para manipular a informação ultrapassa o razoável e causa-me uma certa repulsa.
A guerra com Cavaco, que só foi empolada para salvar in extremis estas legislativas, faz-nos a todos correr graves riscos de turbulência no momento de formar o novo governo. Neste tempo de enormes dificuldades e desafios estamos perante o espectro da ingovernabilidade já que estão a antecipar dois anos a luta pela Presidência.
À esquerda do PS o panorama é desolador. Não há uma ideia consistente de futuro e, à falta de uma proposta verdadeira alternativa, começam a proliferar os saudosismos e os radicalismos imbecis.
Numa bebedeira emocional preparam-se para reeditar os mesmos erros com que, em 1975, arruinaram o verdadeiro PREC.
Perante isto declaro-me impotente, tal como a generalidade dos cidadãos.
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Tuesday, September 22, 2009

Fábrica 798, Pequim

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From Beijing 798


No dia 20 de Setembro o DN noticiava:
Os edifícios da antiga fábrica da Oliva, em São João da Madeira, com arquitectura de autor nos anos 50 e 60, vão acolher indústrias criativas e actividades culturais, com a designação Oliva Creative Factory, incluindo um centro de arte contemporânea e dois núcleos museológicos.

Esta excelente notícia trouxe-me à memória a Fábrica 798, em Pequim, que visitei recentemente.

Trata-se de uma antiga fábrica de componentes para a indústria de armamento que depois de vários anos de abandono foi entregue aos artistas plásticos.
Hoje é uma das mais visitadas atracções turísticas da cidade. Lá estão instaladas inúmeras galerias de arte e exposições bem como lojas e cafés.
Veja mais imagens da Fábrica 798 clicando AQUI.
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Qual “asfixia democrática” (2)?

Fala-se de “asfixia democrática”. Na comunicação social, não vejo onde esteja. Temos a TVI e, como agora se confirma, o Público, que sempre fizeram as campanhas que quiseram. Regressemos uns anos atrás. Não direi muitos (ao tempo em que o Prof. Cavaco era primeiro ministro, os deputados da oposição eram sempre filmados de costas no Parlamento e, no Telejornal, a sua cara aparecia no canto superior direito sempre que o seu nome era referido – no canal único de televisão, a RTP). Eu proponho regressarmos somente seis anos atrás. Num breve intervalo da sua colaboração de mais de 20 anos com Cavaco, o director do DN era... Fernando Lima! Imposto pela PT Multimedia, apesar do voto contrário do Conselho de Redacção do jornal, preocupado em ter um comissário político na direcção. (Como os leitores se recordam, Lima tratou de pôr o cabeçalho do jornal centenário a laranja. E nunca assinava os editoriais que escrevia. As eminências pardas nunca gostam de dar a cara.) O director do Expresso era o arquitecto Saraiva. Na TVI tínhamos José Eduardo Moniz, e no Público... José Manuel Fernandes!
Não me recordo de nenhum órgão de comunicação social não partidária que não estivesse a favor do governo há seis anos. Comparem com a situação hoje. Onde estava há seis anos quem hoje fala em “asfixia democrática”? Nunca eu senti um país tão asfixiante como há seis anos atrás.
É claro que hoje temos órgãos de comunicação social a favor do governo (e contra, nomeadamente os que elenquei), como é normal e desejável numa sociedade plural. Mas há uma diferença entre ter uma tendência e deixar-se manipular.

Monday, September 21, 2009

Aprende-se sempre a ler o Arrastão

No meu caso, eu hoje aprendi um provérbio completo (só conhecia a última parte). O resto do texto (não só o título) também está bom.

Sunday, September 20, 2009

Qual "asfixia democrática" (1)?

Entrevista de José Miguel Júdice ao DN:

A revelação por parte do DN do e-mail trocado entre Luciano Alvarez e Tolentino Nóbrega, jornalistas dos Público, é uma violação de privacidade?

Não sei se o e-mail é privado ou se tem interesse público. Acho muito curioso que a imprensa portuguesa, que durante anos e anos não se preocupou com a revelação de escutas, agora que atinge os jornalistas, estes comecem a ficar preocupados.

Considera reprovável, do ponto de vista ético?

É deontologicamente censurável, mas, durante anos, os jornalistas aceitaram que isso fosse possível em muitas situações que não envolviam jornalistas. É como se estivessem a provar um pouco do seu remédio. Os jornalistas dão muita importância a si próprios. Eticamente, é inadmissível que os jornalistas queiram ser protegidos de uma forma que não se protegem os outros cidadãos.

Considera aceitável que o DN tenha divulgado o e-mail?

É importante que o Diário de Notícias tenha divulgado esta situação. E é importante que os jornalistas ponham a mão na consciência. Eu sou amigo do José Manuel Fernandes, mas a reacção do José Manuel Fernandes, que de manhã afirmou que o Público estava sob escuta e depois vem reconhecer que, afinal, não houve qualquer intrusão no sistema informático do jornal, é de uma gravidade absoluta. E nem pediu desculpa. Depois das suspeições lançadas devia de haver um pedido de desculpa ao País, a todos nós. A comunicação social deve pôr a nu estes métodos de fazer jornalismo. Se é grave o que Fernando Lima, assessor do Presidente da República, fez, também é grave a comunicação social sujeitar-se a isso.

O interesse público justifica a publicação do e-mail?

Está tudo a arrancar os cabelos porque é um jornal a fazer a outro jornal aquilo que é prática da comunicação social fazer a outras entidades não jornalísticas: publicar e revelar documentos, mesmo que protegidos pelo segredo de justiça, em nome do interesse público. Esta dupla ética não é aceitável.


Ler também as declarações do Presidente do Sindicato dos Jornalistas: os jornalistas devem "aprofundar a investigação até ao limite das suas forças".

O Campeonato

A campanha eleitoral tornou-se um campeonato dos espiões. Ficámos agora a saber que dirigentes do BE têm PPRs e acções de empresas capitalistas. Pelos vistos "quem se mete com o PS leva...".
A história das escutas no DN está mal contada e revela maquiavelismo. O Público cumpriu o "pedido do Presidente" dezassete meses depois ? Parece demasiada falta de respeito por parte de um jornal subserviente.
As actuações quer do Público quer do DN (quem lhe entregou o tal email ?)são ambas deploráveis e revelam a guerra reinante entre os gangs de assessores.
Sucedem-se, e provavelmente continuarão a suceder, os "escândalos"- caso Público, PPRs do BE, votos pagos no PSD, congelamento da carreira do juiz Rui Teixeira, emprego de MFL no Santander etc, etc. Não é estranha tanta coincidência de casos neste momento? há que perguntar a quem servem?
O que aparentemente se passou com o Público é diferente da habitual relação entre jornais e fontes no governo ou na presidência?
Eu como cidadão evitarei embarcar nesta divisão entre anjos e demónios.
Para já faço uma dedução: a investida contra o PR, com base no caso do Público, parece revelar que o PS prevê um governo da MFL apoiado por Belém em vez de um governo PS a necessitar da colaboração presidencial na sequência das próximas eleições.
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Saturday, September 19, 2009

Os 60 anos da RPC

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No dia 1 de outubro a China vai comemorar os 60 anos da implantação da República Popular com um desfile que promete espantar o mundo.
Veja aqui uma série de fotografias sobre os preparativos.

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Coabitação Democrática

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Um jornal que recebe dicas de um assessor presidencial e outro que passados dezassete meses, em plena campanha eleitoral, tem acesso a mensagens privadas de jornalistas do primeiro. O mais grave é que, por ganância eleitoral, resolveram esgrimir em público estes actos "triviais" que normalmente ocultam das nossas vistas.
É este o ambiente de guerra de gangs em que vivemos e não é só na Quinta da Fonte.

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Friday, September 18, 2009

Ir ou não ir à missa

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Pensamento do dia:
Para ter sucesso e ser estimado em Portugal é imprescindível ir à missa (qualquer que ela seja).
Espíritos livres, críticos e independentes não são apreciados. Amen.
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Misantropo

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Estreou ontem nos salões do Palácio Marquês de Tancos este clássico de Moliére.Um texto e uma tradução magníficos servem um tema carregado de actualidade.
O teatro em todo o seu esplendor.
Ver mais aqui

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Thursday, September 17, 2009

Não há festa como esta (4)



O cartaz prometia, no “Fórum”, um debate: “Novas Gerações – Gerações sem direitos”. A sala estava como se vê na fotografia. As “gerações sem direitos” conviviam, bebiam, ouviam música. Cá fora. Fizemos o mesmo.

(Postagem em co-autoria com o João Branco.)

Não há festa como esta (3)



O slogan da CDU nem é mau: “soluções para uma vida melhor.” Só que neste caso (e em todos os quiosques onde este cartaz estava colado) as soluções para uma vida melhor passavam pela venda de tabaco.

(Postagem em co-autoria com o João Branco.)

Não há festa como esta (2)



A Festa tem um “Espaço Livro”, com obras (muitas, e ainda bem) de autores, comunistas e não só. O que demonstra uma certa e salutar abertura. Mas deveria haver limites: ver, misturados com os romances de Saramago, os “Desenhos da Prisão” de Cunhal ou a “Miséria da Filosofia” do Marx, “manuais” da Paula Bobone e álbuns do Tintim e da Anita parece-me mal. Não combina.

Não há festa como esta (1)



Qualquer pessoa se enternece a ouvir Jerónimo de Sousa. Mesmo Francisco Louçã: recordo o ar embevecido do “coordenador” do Bloco de Esquerda a ouvir o líder do PCP a citar Almeida Garrett no debate entre ambos: “o número de indivíduos que é necessário condenar à miséria (...) para produzir um rico!”. “O antigo operário fabril lê Almeida Garrett!”, terão todos os espectadores do referido debate concluído. É possível que sim. Mas é possível também que Jerónimo se limite a prestar atenção à decoração das tasquinhas da Festa. (Festa que, como é sabido, todos os anos ele ajuda a montar.)

Por que não gosto de campanhas eleitorais

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As campanhas eleitorais são uma bebedeira de emoções clubisticas, são o último lugar onde alguém, alguma vez, será esclarecido.
As campanhas funcionam com uma terminologia que põe a realidade entre parentesis, ai de quem não consiga distanciar-se; desviam a atenção daquilo que a experiência nos mostrou acerca dos candidatos no passado para aquilo que prometem no futuro.
As Campanhas eleitorais são como discutir o Relatório e Contas e o Plano de Actividades do Benfica nas bancadas do estádio durante um jogo contra o F.C. Porto.
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Mulheres do Hindustão em Alcácer

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A inauguração é amanhã, 18 de Setembro, pelas 17 horas
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Wednesday, September 16, 2009

Regresso a um blogue colectivo

A partir de agora, passo a escrever sobre política no Esquerda Republicana, com mais pessoal da LEFT (excepto um!). Os textos serão republicados aqui. Para além disso, continuarei a escrever no Avesso do Avesso sobre tudo o que mais me apetecer, que a vida não é só política. Até já.

Tuesday, September 15, 2009

A barbárie dos civilizados

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Na minha recente viagem a Pequim tive oportunidade de visitar o que resta do antigo Palácio de Verão destruído, saqueado e depois incendiado por forças do exército francês e inglês em 1860, durante as "Guerras do Ópio". É um episódio vergonhoso e revoltante.

O número de obras primas de todo o tipo que foram roubadas ou que se perderam é incalculável (as duas estatuetas que foram leiloadas recentemente pela Christies sob protesto da RPC são apenas um pálido exemplo).

Charles George Gordon, um capitão, de 27 anos de idade, nos Royal Engineers, escreveu:

Nós saímos, e, depois de o pilharem, queimaram todo o lugar, destruindo à maneira dos vândalos a maior parte da valiosa propriedade a qual não pode ser substituída por quatro milhões. Recebemos um prémio monetário de mais de £48 ... Eu tenho feito bem. A população [local] tem muitos civis, mas eu penso que os grandes nos odeiam, como devem depois do que fizemos ao palácio. Vocês dificilmente podem imaginar a beleza e magnificência dos locais que queimámos. Fez uma ferida no coração queimá-los; de facto, esses lugares eram tão largos, e nós estávamos tão pressionados pelo tempo, que não foi possível pilhá-los cuidadosamente. Quantidades de ornamentos em ouro foram queimadas, consideredos como latão. Foi miseravelmente desmoralizador trabalhar para um exército. (texto extraído da Wikipedia, elucidativo apesar da tradução deficiente)

Ainda hoje se sente a repulsa dos chineses pela violência colonial de que foram alvo, apenas há 150 anos, por parte daqueles que passam a vida a exigir a abertura e a moderação dos outros.



No museu que se encontra junto ao local dos antigos jardins está reproduzida uma carta, escrita por Victor Hugo, expressando indignação pelo vandalismo das forças francesas e inglesas.



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Monday, September 14, 2009

Disney compra Marvel

Esta notícia já tem uns dias. Em miúdo aprendi a ler com os livros da Disney, mas a Marvel nunca me interessou. Mesmo assim não me deixa de causar uma certa confusão imaginar que é possível um dia ver o Capitão América ou o Hulk atrás dos Irmãos Metralha...

O melhor das autárquicas (para já)

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Prémio "Diga bom dia com Mokambo"


Prémio "Suspense"


Prémio "Sem Espinhas" I:


Prémio "Sem Espinhas" II:


Prémio "Põe tua mão na mão do teu Senhor":


Prémio Figurantes:


Prémio "Mãos na massa":


Prémio "die hard":


Prémio Madre Teresa:



Prémio Carreira (Edição Dulpa):




E, finalmente, o cartaz mais sincero de todos:


Recebido por email, de autor desconhecido

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O dilema eleitoral






Regressei a Portugal quando, em teoria, a campanha eleitoral deve começar mas tenho a sensação de que já tudo foi dito antes de eu chegar.
Não resisto à tentação de dar o meu "contributo" para a confusão instalada.
Eu acho que estas eleições apresentam um verdadeiro quebra-cabeças a quem pense ir votar (aos outros já lhes basta a descrença sobre o futuro do país).
Falemos então do dilema eleitoral.
Uma maioria de direita, do PSD ou do PSD+CDS, não tem condições sociais para governar. A agitação sindical e as investidas da comunicação vão esfrangalhar qualquer governo desse tipo em três tempos. Não deve conseguir durar um ano, pelas minhas contas. Basta ver o que sucedeu ao governo de Santana Lopes.
Mas uma maioria por convergência à esquerda, por exemplo do PS com o BE, ao introduzir na área do poder forças vocacionadas para a contestação em roda livre, que não têm projecto próprio que não seja de negação, pode produzir resultados catastróficos. Talvez uma tal coligação seja a única hipótese de a direita voltar a ter uma base social de apoio para governar, de forma musculada.
Portanto, meus caros, só vos resta votar no senhor engenheiro e rezar para ele ter maioria absoluta. De todos os maus cenários de futuro que nos cercam esse é capaz de ser o menos mau.
Espero não vos ter desmoralizado em demasia, só o suficiente.
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Sunday, September 13, 2009

Gilgamesh

Estes três momentos são momentos-espelho em que os personagens são confrontados com o Eu que é Outro, a lenda erguida em torno das façanhas de cada um. Dom Quixote torna-se grave e sério, temendo que o infiel não seja fiel à verdade. Ulisses comove-se, consciente do tempo que passou. Hadji-Murat sente-se lisonjeado com a possibilidade de ser personagem de uma leitura do czar. Nas histórias vemo-nos reflectidos. São as histórias que fecham o círculo que começa na acção e que, ao regressar ao mesmo ponto, já se fez narrativa; que começa no homem e, seja a enfrentar moinhos, ciclopes ou russos, acaba no herói.

Neste post fabuloso, o Bruno Vieira Amaral fala de um truque literário que eu acreditei durante anos ter sido prefigurado na Epopeia de Gilgamesh: confrontar o protagonista, dentro da narrativa, com uma representação das suas façanhas. Quando digo que acreditei durante anos que isto estava tudo no Gilgamesh, não o faço apenas para falar no Gilgamesh e ter portanto uma oportunidade para escrever Gilgamesh, pois embora Gilgamesh seja uma palavra engraçada, não é esse o aspecto mais importante desta situação do Gilgamesh. Li um texto de alguém, algures (não me lembro se numa revista, ou num texto de apoio da faculdade, mas gostava imenso de saber quem foi o sacana) que não só fazia um resumo inacreditavelmente distorcido da história de Gilgamesh, como tinha até a desfaçatez de a melhorar. Lembro-me que a paráfrase da tábua XI indicava que ao regressar a Uruk, depois da sua longa e infrutífera procura da imortalidade física, Gilgamesh via um grupo de pessoas a desenharem as suas façanhas nas muralhas da cidade, e compreendia que essa era a única imortalidade a que podia aspirar. Isto, para um texto que, salvo erro, precede Homero em para aí uns mil anos, pareceu-me na altura impossivelmente adulto.
O problema é que as duas versões existentes da Epopeia não confirmam aquela sinopse fantasma. O que acontece na tábua XI é que Gilgamesh aponta para as muralhas que ele próprio ajudou a erguer e pergunta (creio que retoricamente, embora haja ali um conveniente barqueiro):

300. Then Gilgamesh said this to the boatman:
"Rise up now, Urshanabi, and examine
Uruk's wall. Study the base, the brick,
the old design. is it permanent as can be?
Does it look like wisdom designed it?

A natureza da revelação é evidentemente semelhante: isto é uma manifestação de orgulho no seu trabalho, uma aceitação de que a sua proeza funcionou tanto ao nível comunitário (deu ali uma parede às pessoas), como ao nível pessoal e egocêntrico (é esse trabalho que tornará a sua memória permanente). Mas chamo a vossa atenção para o facto de não haver nada nas muralhas que se assemelhe às tais representações pictóricas dos feitos de Gilgamesh. Quem é que me enganou? Se alguém me conseguir esclarecer este mistério, ficarei eternamente grato. Andei anos a pensar injustamente que um qualquer blogger anónimo da Suméria tinha sido melhor do que Homero.

(Na quinta e última secção de 2666, Reiter regressa, já depois do final da II Guerra, à aldeia russa de Kostekino. No edifício onde se escondera durante o Inverno de 1942, descobre que «alguém se tinha entretido a desenhar nas paredes - e no tecto! - cenas quotidianas dos alemães que lá tinham vivido». No meio dos desenhos, Reiter descobre-se a si próprio. Quando li esta cena, pensei imediatamente "olha: isto é como no Gilgamesh"; afinal aquilo não é bem como no Gilgamesh).

O nosso Cristiano Globaldo

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Andei meia duzia de passos no aeroporto de Pequim, ainda meio a dormir depois de nove horas dentro do avião, e deparo com o nosso Cristiano Globaldo em grande estilo a mostrar a garrafa do champô.

Mal sabia eu então que haveria de voltar a vê-lo, durante dez dias, nas fachadas dos autocarros e nas televisões dos apeadeiros do metro.


É o milagre da globalização das imagens icónicas. A um menino português, ainda por cima nascido na ilha do doutor jardim, basta-lhe mostrar a face para até os chineses se precipitarem na direcção da drogaria.

Entretanto eu via-me aflito para eles perceberem que acabava de chegar de "pu tao ya" (que é a maneira que eles têm de referir o nosso país). É obra.

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