Sunday, January 31, 2010

Outono

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Ontem ao serão vi o Medina Carreira e a seguir a "Sonata de Outono" do Bergman. Dormi mal.
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A favor do vento

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Estas turbinas de vento, produzidas em Tianjin, são testemunho da entrada fulgurante da China nas tecnologias emergentes.
Nos últimos anos a China tornou-se o maior fabricantes mundial destas turbinas bem como de painéis solares.
No Ocidente crescem os receios do futuro domínio da China na área das energias renováveis.
(Ler o artigo no The New York Times)

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Friday, January 29, 2010

Algumas ideias sobre a CP e os comboios

Durante esta semana foi moda comentar este artigo do Público sobre os conhecidos defeitos da CP. Eu sou utente regular da CP, na Linha do Norte e nos Urbanos do Porto (e linha de Cascais no verão). A CP tem muitos defeitos, excetuando talvez justamente as linhas que uso (e os Urbanos de Lisboa) – os serviços com mais procura. Custa-me por isso ler críticas tão pouco fundamentadas, patentes no artigo, como “a inexistência de uma ligação directa Estarreja-Azambuja”. Existem vários intercidades Aveiro-Vila Franca de Xira (duas vezes por dia, até param em Estarreja). Perfeitamente sincronizados com esses intercidades, existem urbanos para as ligações Estarreja-Aveiro e Vila Franca – Azambuja. Por que raio haveria de haver essa ligação direta?
Outra crítica descabida é a do Bruno Sena Martins. Intercidades Porto – Lisboa há a cada duas horas tirando a meio do dia (param todos em Coimbra). A isto acrescem os intercidades Lisboa – Guarda (também param em Coimbra). Conto um total de dez intercidades Lisboa – Coimbra por dia (fora os alfas, que são onze). Os horários “não servem” ao Bruno? Comentários como este e o da Azambuja-Estarreja levam-me a concluir que esta gente não quer comboios – quer é táxis!

Claro que isto só diz respeito à Linha do Norte. Fora desta linha as discrepâncias são mais que muitas, e algumas bem gritantes, como é anunciado no texto. Exemplos que me são próximos são a linha do Minho e os ramais de Braga e Guimarães, sem qualquer ligação entre si. Uma viagem de Braga a Viana do Castelo ou Santo Tirso pode levar a transbordos de quase uma hora. Mas há casos bem piores, referidos no artigo. Foi no entanto anunciado um estudo aprofundado sobre otimização de horários por parte da CP, de forma a melhor servir o utente. Esperemos que os resultados desse estudo, e a sua aplicação, não fiquem para as calendas gregas.
Mais fácil de explicar, mas nem por isso menos absurdo, é o famoso “labirinto tarifário”. Esse “labirinto”, como é explicado no artigo, resulta da divisão dos serviços da CP em Urbanos (de Lisboa e Porto), Regionais (os que funcionam pior e mais frequentemente encerram) e de Longo Curso. Eu não uso com frequência os regionais, ao contrário dos urbanos (subsidiados) e, por isso, não me queixo muito, mas é essa a razão de uma viagem Braga-Porto ou Aveiro-Porto custar 2,15 euros e Aveiro-Coimbra (praticamente a mesma distância) custar 5 euros. Essa divisão foi feita no tempo do governo de Durão Barroso, que certamente se preparava para privatizar a empresa em fases (ou pelo menos alguns segmentos da mesma). O curioso é que essa solução seria certamente do agrado dos liberais, e não traria com certeza tarifas nem horários mais integrados. Não se percebe por isso esta crítica. Só porque é uma empresa do estado?
O artigo tem o mérito de apontar o muito que há a fazer por parte da CP. Eu aponto mais dois investimentos urgentes (muito mais do que qualquer TGV Lisboa – Porto). O primeiro é a requalificação da linha do Oeste e a sua extensão a partir da Figueira da Foz, com ligação à Linha da Beira Alta e ao Porto (através de Santa Maria da Feira), assumindo-se assim como uma alternativa à linha do norte e compensando a saturação desta. O segundo, bem mais local, é a ligação ferroviária direta das principais cidades minhotas, principalmente Braga e Guimarães. Guimarães será a Capital Europeia da Cultura em 2012, e só tem ligações de comboio razoáveis a partir do Porto.

Também publicado no Esquerda Republicana

Um piano no telhado

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Há dias no Coliseu ouvi Maria João Pires tocar o Concerto para Piano nº2 de Beethoven com direcção de Eliot Gardiner.
O seu carisma matém-se intacto e o seu piano nunca é amorfo por obra e graça de um belíssimo fraseado.
Só é pena que o Coliseu proporcione uma acustica muito deficiente. Quem, como eu, se encontre nas últimas filas da plateia houve dois pianistas pelo preço de um. O verdadeiro toca no palco e o seu fantasma toca algures perto da cúpula do tecto com um pequeníssimo desfasamento.
É verdade que o Coliseu vem de uma tradição circense mas há limites para tudo.
Já tinha jurado a mim próprio nunca mais lá voltar mas a MJP, tão rara nos palcos, fez-me quebrar a jura.
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Thursday, January 28, 2010

Mais livre do que um tipo sem casa, só mesmo um tipo sem emprego

Já todos conhecemos mais ou menos os argumentos dos que se dizem a favor do arrendamento de casas (mesmo se tal prática constitui um feudalismo dos tempos modernos que perpetua uma distribuição desigual dos bens imobiliários, quando o direito à habitação está garantido na Constituição). O arrendamento deveria ser encorajado porque há casas desabitadas (que os senhorios não querem vender). As rendas deveriam ser aumentadas porque os senhorios não têm dinheiro para fazerem obras e as casas degradam-se (mas nem pensar em os senhorios venderem as casas!). Enfim. Um argumento mais recente, lançado há uns anos por Francisco Sarsfield Cabral num artigo do DN e bastante usado na blogosfera de direita, defendia a precariedade laboral disfarçada nas supostas “boas” intenções do mercado do arrendamento: um indivíduo não deveria comprar casa porque deveria estar sempre pronto para mudar de emprego, de local e mesmo de cidade de trabalho. Eu até aceito este argumento para um jovem, mas só até a uma certa idade. Pelos vistos há quem ache que a precariedade e instabilidade laboral devem durar toda uma vida. Agora, no Blasfémias vai-se mais longe: “cada vez que uma família se vincula a uma casa – habitação própria, alugada ou de renda social – compra a sua própria escravidão.” Não nos vinculemos a casas. Não nos vinculemos a emprego. Não nos vinculemos a nada, pois caso contrário somos “escravos”. Eu ainda hei-de ver esta gente defender que um desempregado é mais livre do que quem trabalha. O que nem deixa de ser verdade: um desempregado não tem horários nem patrão nem responsabilidades. Ainda hei-de ver algum deles escrever que, sempre que um patrão despede empregados, está a contribuir para a sua liberdade.

Também publicado no Esquerda Republicana

Wednesday, January 27, 2010

Parábola triste

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Era uma vez um país que vinha há anos descendo a escada que conduz ao empobrecimento geral e à decadência.
A cada novo degrau descendente fazia malabarismos orçamentais apenas para evitar a escorregadela eminente e a imediata queda no fundo.
A cada degrau, uma vez conseguido o equilíbrio mínimo para não cair, o povo suspirava de alívio mas continuava a descer.
Não havia ninguém que lhe dissesse como inverter a marcha e voltar as costas ao abismo.

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Tuesday, January 26, 2010

Nas Nuvens

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"UP IN THE AIR", em Portugal "Nas nuvens", protagonizado pelo mais famoso vendedor de cápsulas de café do mundo, George Clooney, é um filme muito interessante e complexo.
Tem como pano de fundo a propensão inata do capitalismo para reduzir os custos e aumentar os lucros, mesmo que seja necessário chegar ao absurdo de fazer a gestão de pessoal e comunicar os despedimentos recorrendo às técnicas do call center.
O mais interessante é que o filme estabelece um paralelo entre a família tradicional e a organização empresarial. Duas estruturas que ainda não conseguimos dispensar mesmo quando sabemos que não funcionam em bases sólidas ou que não respondem adequadamente às nossas necessidades.
O filme ensina que o casamento e o amor são coisas muito distintas. Como também são muito distintos o "trabalho como forma de subsistência" e o "trabalho como realização pessoal". Vulgarmente pensamos que precisamos dos primeiros mas na verdade precisamos é dos segundos.
Um filme que todos os apoiantes do casamento entre pessoas do mesmo sexo deviam ver.
Realização Jason Reitman, com George Clooney (uma escolha muito adequada), Vera Farmiga (excelente) e Anna Kendrick .
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Monday, January 25, 2010

Reflexões de um fotógrafo

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Ludwig Feuerbach disse: “der Mensch ist, was er isst”, somos o que comemos. Talvez possamos também dizer que somos o que vimos ou somos o que fotografámos, se quisermos entender o acto de fotografar como uma forma superior de ver.
Desde que nascemos interpretamos uma quantidade gigantesca de imagens do que nos rodeia, de forma automática e irrenunciável. Nunca chegamos a desvendar o mistério de reparar em algumas e não em outras. De haver algumas imagens que nos marcam e nos acompanham, ou obcecam, uma vida inteira.
Um fotógrafo, quer seja profissional quer seja amador, produz ao longo da vida muitos milhares de fotografias que o moldam e o transformam. Nunca chega a compreender verdadeiramente se foi ele que as escolheu. Elas permanecem e regressam como testemunhas de um passado que resiste à memória da nossa história pessoal, um vestígio daquilo que já não somos ou daquilo que ainda somos mas sem saber.
Ao rever as imagens de que somos feitos vemo-nos sempre confrontados com a peculariedade do nosso percurso e com o sentido daquilo que fomos (somos ?).
O que retratámos mostra quem somos de uma forma mais fidedigna do que as fotografias do nosso próprio rosto.
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Sunday, January 24, 2010

How do we solve a problem like Sá Pinto?


É claro que ele não tinha perfil para director do futebol. É claro que ele não tem perfil para nenhum cargo de liderança.
Mesmo num caso em que a culpa fosse repartida, o Sá Pinto seria o elo mais fraco. O Liedson é indispensável à equipa; o Sá Pinto é dispensável na estrutura do futebol. Mas ainda por cima o Sá Pinto é o culpado: como era de se esperar, foi ele que partiu para a agressão! Digo "como era de se esperar", porque os antecedentes são bem conhecidos. E é isso que custa mais: o Sá Pinto já se humilhara publicamente, já tinha esta justa reputação, e demonstra que não aprendeu nada.
Dito isto, temos aqui um caso complicado. Vejamos as coisas nesta perspectiva: um jogador que tem adeptos do Sporting que se deslocam de propósito para o apoiarem a jogar noutro clube, em Espanha; um dirigente que obriga os jogadores, no final da partida, a irem agradecer aos adeptos (eu ouvi isto), e que não permite que um jogador proteste com os protestos do público. Entre o Sá Pinto e os adeptos do Sporting há uma relação de amor. Pode um clube dispensar um ícone assim, numa altura em que cada vez há menos amor à camisola e os clubes cada vez têm menos referências? No caso do Sá Pinto, claramente não lhe podem dar um cargo directivo profissional. O que fazer com ele?

A magnitude do problema

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A China criou 11,02 milhões de novos empregos em áreas urbanas em 2009, de acordo com informações divulgadas pela agência de notícias Xinhua. O número superou a meta do governo, de 9 milhões, segundo o Ministério de Recursos Humanos e Seguridade Social.
Cerca de de 5,14 milhões de trabalhadores que haviam sido demitidos foram recontratados no ano passado, também superando a meta, que era de 5 milhões.
A taxa de desemprego urbano na China ficou em 4,3% no ano, com 9,21 milhões de pessoas ainda sem trabalho no país.

O índice de emprego dos licenciados chineses alcançou os 87% em 2009, mais 1% do que em 2008, segundo dados da Segurança social chinesa.
No ano passado, na China, de um total de 7,1 milhões de licenciados que procuou emprego, 6,1 milhões eram recém-formados, diz a Efe.

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Friday, January 22, 2010

Correr é preciso

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Um estudo conduzido pelo National Institute on Aging (Maryland, EUA) e a Universidade de Cambridge, revela que correr regularmente estimula o cérebro. Com este exercício é estimulado o crescimento de centenas de milhares de novas células na região do cérebro ligada à formação e recordação de memórias.
Correr melhora a capacidade que uma pessoa tem de se lembrar das memórias sem as confundir. Uma capacidade crucial para a aprendizagem e outras tarefas cognitivas. O estudo foi publicado na «Proceedings of the National Academy of Sciences».
(Ler o resto no blog Ciência Hoje)

Fico feliz por ver confirmadas científicamente coisas que eu sentia desde que comecei a praticar corrida há mais de vinte anos. Correr é preciso (e correr com certos tipos também).

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Thursday, January 21, 2010

So fucking cold


Ah, a farsa. Vou agora explicar-vos o segredo da boa farsa: o segredo da boa farsa é cercar o temperamento inadequado com as circunstâncias mais adequadas para revelar a inadequação desse temperamento. Esta simples fórmula de meter o homem certo no sítio errado foi utilizada para produzir algumas obras-primas da comédia, tais como a colocação de Basil Fawlty nas imediações de um hotel, David Brent nas imediações de uma empresa, Pacheco Pereira nas imediações de um partido político, e Ricardo Sá Pinto nas imediações de uma sociedade. Estou muito irritado com a situação do Ricardo Sá Pinto, mas não estou irritado com o Ricardo Sá Pinto. Ficar irritado com o Ricardo Sá Pinto faz tanto sentido como ficar irritado com o dióxido de carbono: ele anda cá para cumprir a sua função, que é produzir efervescência; a culpa dos acidentes é de quem o enfia na botija errada, ou, no caso em questão, lhe abriu indevidamente a porta da jaula.
Já temos um forte candidato a texto mais irritante do ano. Estou muito irritado com o texto, mas não estou irritado com o Christopher Hitchens. Ficar irritado com o Christopher Hitchens faz tanto sentido como ficar irritado com a fotossíntese: o homem é um cretino, sempre foi um cretino, e há-de continuar a ser um cretino enquanto houver dióxido de carbono.
É possível ver naquele panfleto anti-Vidal um caso extremo de projecção - uma espécie de roman à clef involuntário em que Hitchens cartografa o seu próprio declínio intelectual - mas nós somos melhores e muito mais profundos que isso, por isso é que andamos aqui todos metidos em blogues. A noção de projecção inconsciente é, de facto, amplamente justificada pelo texto - uma catástrofe de construção, argumentação e auto-flagelação: Hitchens acusa de Vidal de revisionismo paranóico ao acreditar que Roosevelt teve conhecimento prévio do ataque a Pearl Harbour, quando o próprio Hitchens andou anos a martelar a teoria revisionista paranóica de que Churchill teve conhecimento prévio do ataque ao Lusitania; Hitchens impugna Vidal (que viveu 40 anos com um judeu) com um “muito, muito leve” anti-semitismo, quando Hitchens, antes de descobrir as suas raízes judaicas já na meia-idade, foi um fervoroso apoiante de alguns negacionistas do Holocausto; etc. Mas esta sugestão de simetria é falsa, e está longe do essencial.
Vou agora explicar-vos o segredo do essencial: uma linha clara de declínio é a consequência natural de uma longa carreira. E os intelectuais públicos - tal como pugilistas profissionais ou líderes do PSD - parecem estar constitucionalmente impedidos de encenar vénias graciosas, especialmente aqueles que atrelam o seu método argumentativo a uma personalidade que depende da consistência e não das circunstâncias. Estilos mais dependentes de uma inteligência difusa e especulativa, que cortejam activamente o ridículo - como Norman Mailer: o melhor exemplo do mundo de todos os tempos de uma inteligência difusa e especulativa, que corteja activamente o ridículo - têm mais facilidade em mascarar este declínio, pois refundam-se para acomodarem cada tendência cultural. As suas especulações são demasiado irregulares para se detectarem padrões: a esperança é de que, por puro acidente estatístico, a catarata de disparates produza ocasionalmente algo que se assemelhe a profecia.
Hitchens não pertence a nenhuma destas estirpes, e uma linha clara de declínio é precisamente o que não se consegue encontrar nele: um gráfico da sua carreira não teria a forma de uma gradual curva descendente, mas sim de uma epiléptica sucessão de trambolhões. De cima para baixo, de baixo para cima, de baixo para mais baixo - qualquer movimento do homem é sempre um espalhanço. Tal como a Natureza, o debate de ideias abomina o vácuo. No espectro das posições teoricamente passíveis de serem adoptadas sobre qualquer assunto, o bom senso tende a deixar espaços em branco; "Christopher Hitchens" é a forma que a Natureza arranjou para os preencher. Tendo ancorado a sua ontologia na infalibilidade, mede a sua proximidade à razão pelo número de pessoas que pensam exactamente o contrário. Mais do que provar que outros estão errados enquanto ele está certo, Hitchens efectua as suas calibrações argumentativas e sacudidelas posicionais em resposta a um impulso mais primordial: alguém, algures, tem uma opinião que exige uma opinião contrária; e lá vai Hitchens a correr, aos berros, com um espelho na mão, bêbado gordo feio que é.
Gore Vidal é sóbrio, bonito, magro. Os seus soundbytes recentes não demonstram, em rigor, um declínio intelectual, mas um declínio retórico, o que é perfeitamente compreensível, e deveria ser varrido para debaixo do tapete por qualquer pessoa suficientemente adulta para compreender o conceito de gratidão: aquilo são transparentes reduções ao absurdo de fórmulas exaustas, ricochetes de uma pose mecânica que já não consegue fingir espontaneidade através de mestria retórica. “Gore Vidal” foi uma convenção literária concebida por Gore Vidal para ter sempre muita razão num mundo repleto de estúpidos. A convenção, no entanto, emancipou-se muito cedo, e decidiu permitir-lhe apenas escrever muito bem num mundo repleto de pessoas que escrevem mal: escrever muito bem naquele tom patenteável de alegre e incrédula exasperação, como quem relata os disparates de um filho cretino (sendo que o filho cretino é a raça humana). O deleite na imaginação do desastre é uma pose cheia de limitações, que a longevidade tende a agravar, pois perpetua um ciclo vicioso: a pose serve para expressar uma sensibilidade literária e intelectual cuidadosamente artilhada, mas também para validar as suas manifestações, pois se ela não fosse uma consequência natural das respostas aos factos, nunca lhe permitiria escrever tão bem (isto é uma falácia na qual caíram pessoas bem melhores que nós, pelo que não vale a pena empertigarmo-nos). Com o tempo, todas as energias criativas são empregues num único propósito: evitar que a personalidade encontre os prosaicos atritos da realidade, que às vezes fazem uma pessoa (menos eu, que sou realmente infalível) mudar de ideias. Estas personalidades, esculpidas com tanto afinco, deixam por fim de ter a elasticidade suficiente para responder às necessidades, numa altura em que já não há capacidade nem paciência para explorar tácticas novas; e afundam-se no seu próprio ADN, como as pessoas de idade.
Vou agora explicar-vos o segredo das pessoas de idade: as pessoas de idade envelhecem, tornam-se abruptas e inconvenientes, perdem uma fracção das maneiras e a totalidade do timing, lançam piropos a enfermeiras e dizem mal dos brasileiros, babam-se nas golas da camisa e chamam José ao Luís. O que as pessoas que ainda não são de idade fazem é ignorar tudo isto, mantendo um silêncio decoroso, porque um dia aquela pessoa de idade seremos nós, e vamos precisar da tolerância de quem nos ature. Não se aproveita a oportunidade para apontar, como quem descobre a pólvora, que o avô já não é o que era, ou para ganhar as discussões que se perderam quando as regras eram outras.
A entrevista ao Independent que provocou em Hitchens aquela falsa e sórdida indignação é uma entrevista a um homem com 84 anos, que já respondeu a todas as perguntas muitas vezes, e já não se dá sequer ao trabalho de olhar para as cábulas; um homem que sobreviveu à família, aos amigos, aos inimigos, ao companheiro de toda a vida, e às suas próprias pernas; um homem que costumava saudar entrevistadores com abusos pansexuais e citações de Cícero, e que agora se limita a dizer "It is so cold in here," he says, by way of introduction. "So fucking cold"." É um homem que conquistou o direito a ser este homem, e a ter frio, a ter muito frio. Confrontado com isto, Christopher Hitchens foi abrir mais janelas, porque ainda pode. Nem o Ricardo Sá Pinto, por amor de Deus. Nem o Ricardo Sá Pinto.

Parágrafo que cobre a extensão das minhas opiniões sobre o Izmailov

Wednesday, January 20, 2010

Human-aided computing

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Pradeep Shenoy e Desney Tan publicaram recentemente um estudo intitulado "Human-aided Computing: Utilizing Implicit Human Processing to Classify Images". Embora a expressão "human-aided computing" me cause alguns engulhos não posso deixar de achar interessantíssimas as conclusões a que o estudo chega.Trata-se de tentar usar a capacidade automática dos humanos para o reconhecimento de formas. Para o efeito os cientistas procedem à captura de sinais eléctricos medidos na superfície do crâneo. A distribuição espacial das cargas eléctricas permite perceber, com um razoável grau de certeza, se o paciente viu um rosto humano, um animal ou um objecto inanimado.
Estes estudos são motivados pelo desejo de automatizar a classificação dos biliões de imagens que pululam nas bases de dados. Num plano mais geral estas descobertas podem também contribuir para a concepção de novas interfaces homem-máquina.
O que é mais curioso é que se prova que os humanos reconhecem, mesmo sem se dar conta e enquanto realizam outras tarefas, um número enorme de formas que os cercam em cada momento. Essa capacidade de processamento reduz-se drásticamente quando o observador passa do modo automático para o modo "atenção focada numa determinada imagem".
Podemos considerar que é irrisório um resultado científico que apenas permite distinguir as reacções provocadas por uma cara, um animal e um objecto inanimado. No entanto, como noutros domínios, esta pode ser apenas uma fase embrionária que nos levará a conhecer muito mais sobre a interpretação das imagens no médio prazo.
É que sobre a gramática das imagens somos mesmo bastante ignorantes.

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Está um frio do caraças lá fora...


...e eu estou sempre com este gajo. Não tenho propriamente pena dele e nem da sua indemnização. Mas espero que regresse já a Nova Iorque e que regresse depressa à televisão com o seu humor (que, pelos vistos, não agradou às audiências americanas das 23:30). Até lá vou ter saudades.

Tuesday, January 19, 2010

O casamento gay de Santo António

Claramente o casamento civil é uma instituição laica, e isso é válido também para os casamentos civis "de Santo António", apoiados financeiramente pela Câmara Municipal de Lisboa. Uma vez aprovado (como julgo que esperamos) o casamento entre pessoas do mesmo sexo, a questão do apoio financeiro a esses casamentos por altura do Santo António teria que se pôr (e a resposta correta seria, claramente, a não discriminação, como manda a constituição). Mas essa questão só deveria ser posta nessa altura: tudo o que fosse pô-la antes da aprovação definitiva da lei seria uma provocação inútil e com consequências nefastas. Não me refiro somente à opinião dominante na sociedade sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo: refiro-me mesmo aos agentes que ainda têm que intervir no processo (Presidente da República; juízes do Tribunal Constitucional). Provocar a Igreja Católica pode ter graça para alguns, mas provocar estes senhores (e alguns deles podem sentir-se provocados por esta questão dos casamentos de Santo António) pode ter consequências desagradáveis, numa altura em que a lei ainda não passou (e não se sabe se passa).
Foi isso que eu pensei quando soube que esta questão se punha: falta de sentido de oportunidade. E é bem possível que a Fernanda tenha razão: pode ter sido uma ratoeira lançada pela Igreja Católica. E que a Câmara Municipal de Lisboa mordeu.

Texto também publicado no Esquerda Republicana

Red Bull Gay Race

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António Costa parece ter encontrado a fórmula para a quadratura do círculo. De uma penada resolve dois problemas, a recusa da Igreja em acolher os casamentos gay no dia de S. António e a falta de dinheiro para pagar o festival aéreo da Red Bull.
Os casamentos em causa decorrerão em plena pista de descolagem e serão seguidos de uma romantica "lua de mel" nos céus de Lisboa de onde os noivos farão o lançamento das grinaldas sobre os espectadores.
A bilheteira e os patrocínios prometem grande sucesso.
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Monday, January 18, 2010

Receitas da publicidade online crescem 30 por cento na China

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Público, 18.01.2009
As receitas geradas pela publicidade na Internet cresceram 30 por cento na China e chegam, agora, aos 74.3 mil milhões de yuan, (cerca de 7,6 mil milhões de euros).
Os dados são da iResearch que aponta para um crescimento na ordem dos 51 por cento, este ano. O estudo é divulgado numa altura em que a Google terá iniciado conversações com a China sobre a censura a conteúdos do seu motor de busca. A empresa não confirmou esta informação.
“Já dissemos que vamos ter uma nova abordagem à China. Vamos discutir a possibilidades de um motor de busca sem filtros”, disse um porta-voz da Google em Londres, citado pela BBC.
A empresa tem um terço do mercado chinês, dominado pelo rival Badu, que tem mais de 60 por cento de quota. Estima-se que na China haja 380 milhões de utilizadores de internet.

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O meu fim de semana foi em grande parte assim

Não demorei foi três minutos (e os móveis não são do IKEA). O autor e intérprete deste vídeo, meu colega e amigo, é um verdadeiro engenheiro da LEFT!

Sunday, January 17, 2010

Alegre ilusão

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De vez em quando, ao estilo luso, o pessoal gosta de se galvanizar por uma ilusão redentora qualquer.
Agora é Manuel Alegre. Vai trazer a união à esquerda desavinda, mesmo àquela esquerda que não sabe que o é e também àquela que não sabe por que é que o é.
Mas o problema da esquerda é outro. É não saber que caminho tomar, não conseguir descobrir a saída do labirinto.

Um projecto de futuro é muito mais do que "cuidar dos pobrezinhos" ou impor-lhes, a martelo, a última fractura da moda.
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Friday, January 15, 2010

Obama continua exemplar

Obama castiga Wall Street com a criação de uma nova taxa

"A minha determinação é conseguir recuperar todo o dinheiro que pertence ao povo americano. E essa determinação resulta da constatação de que a banca regressou aos lucros maciços e aos bónus obscenos", afirmou Obama. A mesma banca que "deve a sua existência ao povo americano", acrescentou.


Veremos é se a medida passa no Congresso...

Também publicado no Esquerda Republicana

A Moody's não nos conhece, e nós ?

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Vasco Pulido Valente, no Público de hoje faz algumas afirmações no mínimo curiosas, de que respiguei as seguintes:

A agência de rating Moody"s disse anteontem que a nossa economia não corria o risco de "morte súbita", mas corria o risco de "morte lenta". Para a Moody"s, sem uma considerável melhoria da competitividade (e, correlativamente, da receita fiscal) as coisas não têm salvação e o país pode "caminhar para um cenário de aumento de impostos, o que combinado com uma subida dos juros, irá pressionar ainda mais a sua saúde financeira".
... Em suma, para a Moody"s, Portugal está condenado a empobrecer pouco a pouco, sem grande esperança de um futuro, comparativamente, "normal".
... Para um americano, esta conclusão é trágica. Para um português, não é. Desde 1820 que Portugal sempre viveu na iminência de uma morte lenta.
... A Moody"s não nos conhece.

Quando analisamos o advento do liberalismo em Portugal, no início do século XIX, e o destino da Primeira República no dealbar do século XX constatamos que ciclicamente se têm registado em Portugal uns fogachos de progressismo iluminado, com decisiva influência maçónica. Por falta de sustentação económica e de autêntica participação popular tais experiências têm acabado por dar lugar a "longas noites".
O regime saído da Revolução de Abril parece estar a seguir o mesmo padrão.
Esta observação não é muito original e a minha competência para deduzir conclusões é muito precária mas confesso que isto me preocupa.
Parece-me que na nossa vida política, recheada de peripécias ridículas, esta questão tem sido quase sempre varrida para debaixo do tapete.

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Thursday, January 14, 2010

The New York Times visita o Ironbound


A baixa de Newark, cantada por Suzanne Vega e onde habita uma grande comunidade portuguesa, voltou a ser visitada pelo The New York Times. A padaria que referem fornecia o pão para muitos supermercados na área metropolitana de Nova Iorque, incluindo Long Island.

Wednesday, January 13, 2010

Casamento gay é primeira página na China

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A julgar por este despacho da AFP certos acontecimentos recentes em Portugal tiveram grande repercussão na China.

PEQUIM (AFP) — O respeito aos direitos gays registrou um novo avanço nesta quarta-feira na China, onde o jornal oficial China Daily publicou na primeira página uma foto do primeiro casamento homossexual realizado no país.
A união de Zeng Anquan, de 45 anos, e Pan Wenjie, de 27, aconteceu em 3 de janeiro em um bar gay da cidade de Chengdu (sudoeste), e tratou-se de um casamento simbólico, já que a China não reconhece o matrimônio homossexual.
"Já não temos que nos esconder. Este é o dia mais bonito de minha vida", afirmou Zeng Anquan ao jornal, acrescentando que milhares de homossexuais se casam todos os anos em outros países do mundo. "Por que não nós?", questionou.
No entanto, os preconceitos persistem na China e as famílias dos noivos se negaram a assistir a cerimônia.
"Minha irmã me advertiu que, se eu não deixasse Pan, ela deixaria de me considerar irmão. Centenas de amigos e parentes me ligaram para dizer que se envergonhavam de mim", contou Zeng.
Até 2001, a homossexualidade ainda era considerada doença mental na China.

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Sai um subsídio para o blasfemo ir estudar

Quem contrapõe valores quase instantâneos, medidos ao longo de dias, a valores médios, medidos ao longo de muitos anos, não percebe nada de estatística. Deveria sair um subsídio era para o João Caetano Dias (um engenheiro do Técnico) ir repetir a cadeira de Probabilidades e Estatística. Ele já não se lembra do que é uma média.

Também publicado no Esquerda Republicana

Ou não ?

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Está a propagar-se nas televisões uma nova praga, "ou não" ?
Contrariando uma prática comum na língua portuguesa os apresentadores e comentadores começaram a acrescentar a expressão "ou não" em frases do tipo: "todos estão ansiosos para saber se houve vítimas do terramoto".
Normalmente a frase apresentada era suficiente mas agora, não sei bem porquê, os locutores da televisão consideram necessário acrescentar "ou não" como se o oposto de haver vítimas não fosse óbviamente não haver vítimas.
Embora não seja propriamente errado fazê-lo parece uma sobrecarga desnecessária da frase.
Arrisca-se a fazer concorrência a uma outra praga, essa mais grave, que consiste em dizer que o "futebol nada tem a haver com a eventual violência nos estádios", substituindo "a ver" por "a haver".
Esta tem atacado de forma brutal mesmo pessoas cujo estatuto cultural é insuspeito.
E ainda há quem se preocupe com o Acordo Ortográfico.
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Tuesday, January 12, 2010

A Estrada

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Baseado no romance de Cormac McCarthy, vencedor do Pulitzer de 2007, “A Estrada” é dirigido por John Hillcoat. Não li ainda o livro mas, pelo que sei dele e da sua fama, esperava bem mais deste filme.
O tema dos sobreviventes ao cataclismo global já foi tratado muitas vezes no cinema e este filme não me parece que lhe acrescente algo que valha a pena. O facto de se centrar nas relações do pai com o filho, enquanto tentam chegar ao litoral para sobreviver, também não me parece que traga uma luz nova a essa questão.
Talvez o texto do livro tenha uma riqueza que o filme não me transmitiu, apesar de uma fotografia acertada e de uma cenografia plenamente credível.

Este é um filme muito adequado ao momento presente, que tem laivos de pré-catástrofe. O filme é tão sombrio que saímos de lá aliviados por vivermos, apesar de tudo, comparativamente, num verdadeiro paraíso.

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Braga americaniza-se

Depois da neve por dois anos seguidos (em ambos eu estava a dormir), agora temos tiroteio numa escola secundária.

Monday, January 11, 2010

Que raio havemos de chamar a isto ?

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Há um ano falava-se da crise e de como ela mostrava as mazelas do capitalismo. 2009 prometia ser o ano da regulação, de novas regras, quiçá da morte e substituição do sistema.
Um ano depois a grande excitação da esquerda, que deixou outra vez de falar do capitalismo como um moribundo, é o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Uma espécie de vingança dos impotentes que foi aprovada essencialmente porque irrita e escandaliza os "burgueses" que continuam a mandar na economia e a maioria do povo que não votou como devia.

Há um ano o governo do engenheiro Sócrates prometia, custasse o que custasse, tudo fazer para impedir que as pretensões carreiristas dos professores se sobrepusesse aos interesses da generalidade dos cidadãos.
Um ano depois todo o leque parlamentar rejubila pela paz nas escolas al(can)çada pela aceitação de uma avaliação em que 95,5% dos professores são bons, muito bons ou excelentes e uma carreira que, para todos, "é o reino dos céus". Os partidos só discutem a quem atribuir os louros de tal façanha.

Isto em que vivemos no dealbar da nova década já não é propriamente uma democracia mas não sei que raio de nome lhe havemos de chamar. Os tiques democráticos continuam presentes mas funcionam como mero formalismo e servem de álibi ao constante favorecimento de corporações e grupos de pressão (para além do tradicional "poder económico" que agora até se pode queixar de concorrência desleal).

Sucedem-se incontáveis trapalhadas administrativas, fracassos e adiamentos da justiça, uma opacidade generalizada e suspeitas de corrupção ou manipulação a torto e a direito (hoje surgiram dois novos casos: as irregularidades administrativas e económicas no Ministério da Justiça e as promoções irregulares no Ministério das Finanças).
Qualquer funcionário se sente no direito de sonegar informação ao público. Presidentes disto e daquilo, e até ministros, julgam poder recusar-se a estabelecer prazos para a conclusão das tarefas para que foram nomeados. Os nossos dinheiros são gastos de forma muito pouco transparente e só por acaso isso chega ao conhecimento público.
Ninguém é responsabilizado, ninguém é preso e os vários partidos lá se entendem para sobreviver neste pântano que o outro desdenhou. Uma casta vive suspensa acima das nossas cabeças e tem do nosso mundo uma ideia ficcionada. Somos apenas um tema literário dos discursos.

Isto em que vivemos já não é propriamente uma democracia no sentido do “governo do povo e para o povo”. Mas também não é uma ditadura.
Que raio havemos de chamar a isto ?
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Sunday, January 10, 2010

De Pompadour a Antoinette

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Membros do Blogue Jugular na sessão parlamentar onde foi aprovada a proposta do PS de casamento entre pessoas do mesmo sexo (neste video, Paulo Corte-Real, Maria João Pires, Ana Matos Pires, Fernanda Câncio, Isabel Moreira, Alexandra Tavares Teles, a deputada do Parlamento Europeu, Edite Estrela, Isabel Advirta, Eduardo Pitta e Sarah Saint-Maxent )


Também temos a nossa Pompadour, agora em versão laptop nas bancadas de S. Bento, twitando em directo as vicissitudes do casamento gay.
Sem a nossa Pompadour, estou convencido, o nosso Louis XV nunca teria tido a energia necessária para vergar a corte, perdão, o partido e concretizar esta bravata libertária contra o entendimento do povo.
Há que tirar-lhe o chapéu por esse feito e recomendar-lhe amistosamente que se retire antes que seja obrigada a interpretar também o papel de Marie Antoinette.
É que cheira a fim de regime.

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Saturday, January 9, 2010

Korda


Korda teve a oportunidade fantástica de acompanhar durante anos, como fotografo, a Revolução Cubana e os seus principais ícones. Sabe-se lá porquê.
Mas pagou um preço, ficou toda a vida amarrado ao retrato que fez do Che. Dizem que é uma das imagens mais reproduzidas da história da humanidade.
Uma exposição do trabalho de Korda está na Cordoaria até ao fim de Janeiro.
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Friday, January 8, 2010

Resumo do dia


Bom resumo no Jugular (a quem roubei a ilustração): um passo importante na luta pelo fim da discriminação (mas a luta continua). Por outro lado, tenho saudades do tempo em que havia uma ministra da educação (e não eram os sindicatos a mandar no ministério).

Os vasos comunicantes do funcionalismo (continuação)

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Texto de Vasco de Almeida originalmente escrito como comentário ao post "Os vasos comunicantes do funcionalismo".

Às vezes interrogo-me se ainda haverá alguém a preocupar-se com o rumo que as coisas estão a tomar, e não necessariamente pelas mesmas razões que afligem "muitos quadros superiores da função pública".
1. Na realidade, os funcionários públicos e seus representantes defendem, na prática, o alargamento das suas regalias e direitos, independentemente da justificação económica ou exiquibilidade financeira das mesmas.
Que eu saiba, nenhum trabalhador da função pública perdeu a sua remuneração em virtude da eclosão e desenvolvimento da crise internacional: mas isso não impediu um dirigente sindical de reivindicar um aumento de 2,5%, isto numa altura em que não havia indicadores económicos que não estivessem a descer (inclusive a inflação!).
Uma das recorrentes linhas de ataque dos sindicatos dos professores é acusar esta ou aquela proposta de ser economicista, querendo que outros daí deduzam que uma medida economicista é, por definição, má. No entanto, e como a anterior ministra da educação chamou a atenção no início do seu mandato, nos dez anos anteriores as despesas de educação duplicaram e os indicadores do sector regrediram praticamente sem excepção (a maioria das pessoas só começou a reparar no que ela dizia lá para o fim do mandato).
Quando todos os argumentos falham, vem o último, muito citado pela esquerda pura, de que os trabalhadores não são responsáveis pelo estado a que as coisas chegaram; e não foram, pelo menos a título individual (a nível colectivo a história é outra). Mas, por muito que nos custe, a razão não é fonte de bem estar, e não cria o aumento da riqueza que possibilite a redistribuição. Infelizmente, a economia e a moral não andam de mãos dadas.
2. A questão da avaliação dos professores tem muitos ângulos por onde apreciar os problemas do funcionalismo público, alguns deles convenientemente ignorados.
Até à queda do cavaquismo, foi quase como se tivesse havido um pacto entre o PSD e o PCP para o ME: um ficava com a pasta e os quadros superiores, o segundo encarregou-se da representação laboral. Note-se que a paz no sector foi praticamente ininterrupta, uma ameaça de desencadear uma qualquer forma de luta depressa desaguava num acordo.
Quando o anterior governo começou a pôr em causa a profusão de delegados sindicais a tempo inteiro, a paz finou-se.
Até ao 25 de Abril, e talvez mesmo durante algum tempo depois, a maioria dos professores exercia a profissão por vocação, mas logo a seguir a vocação cedeu o lugar aos imperativos económicos familiares.
Independentemente das responsabilidades individuais ou colectivas, o facilitismo foi sempre ganhando terreno e o estatuto social dos professores foi sendo regredindo: os professores por vocação (a esmagadora minoria) defendiam-se pela sua maneira de estar na profissão e na sala de aula, os outros não sabiam defender-se em parte alguma (via-se a olho nu nas reuniões de pais). E é o produto deste sistema que está agora a chegar às escolas sob a forma de professores.
Outro argumento que se ouve invocado com a maior seriedade é que as escolas devem ter maior autonomia, não só no sentido geral mas até ao nível escola a escola. É espantoso como é que se espera que alguém implemente um conceito destes sem cuidar, entre outras, da questão prévia da avaliação individual de desempenho, baseada em resultados mensuráveis e não em profissões de fé.

Se os sindicatos estivessem realmente preocupados com o futuro do ensino público, tiveram já tempo mais do que suficiente para fazer o mínimo indispensável, que era apresentar um modelo credível de avaliação. De avaliação, note-se, não de auto-avaliação: na situação em que o país está, quem quiser auto-avaliar-se deverá também auto-financiar-se.
3. Na base de todos estes problemas, está um outro, bem mais espinhoso: a nossa jovem democracia está prisioneira do funcionalismo público e seus grupos de pressão.
Na realidade, se há direitos que a democracia nos confere, o exercício desses direitos só se aproxima da plenitude quando protagonizado pelo funcionalismo público. Quem é que reivindica direitos independentemente dos custos senão o funcionalismo público? Quem é que tem o seu posto de trabalho praticamente salvaguardado de todas as crises, venham elas de onde vierem, senão o funcionalismo público? Quem é que exerce o direito à liberdade de expressão, das mais variadas e estranhas formas, senão o funcionalismo público? Quem é que tem praticamente o monopólio dos orgãos de representação, senão o funcionalismo público?
Neste sentido, é lógico, coerente, e até profundamente justo que o pai do Estatuto da Função Pública seja o actual detentor do mais alto cargo público.
4. É também paradoxal o posicionamento dos partidos de esquerda relativamente a esta questão: eles aproximaram-se do funcionalismo público pela via do sindicalismo, e têm mantido um virtual monopólio neste tipo de representação.
No entanto, se há uns anos se podia discutir se, e até que ponto, os partidos de esquerda utilizavam a sua implantação sindical para pô-la ao serviço dos seus objectivos políticos, actualmente a questão já parece ser outra: se a reivindicação dessa representatividade serve antes de tudo para oferecer aos diversos lóbis instrumentos eficazes para a sua agenda política. A possibilidade de esses lóbis degenerarem em qualquer coisa de mais sinistro - os indícios abundam - parece não preocupar esses partidos, crentes como estão de que a maioria dos trabalhadores é bem intencionada, e que é sempre possível negociar uma solução aceitável.
5. A sensação esmagadora que fica é que o funcionalismo público no seu conjunto vive numa redoma e está completamente alheado daquilo que se passa fora dela; e pensa que aqueles que não vivem na redoma têm por obrigação mantê-la. Mais cedo do que mais tarde isto vai dar um muito mau resultado.

HOJE

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Finalmente assinado o Acordo para Redução do Défice

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Isabel Alçada e Mário Nogueira assinam o tão esperado Acordo para a Redução do Défice, respondendo às preocupações do Senhor Presidente da Républica e dando o exemplo aos partidos representados na AR. A sua abnegação e desprendimento não podem deixar de inspirar todos os portugueses quando lhes são pedidos grandes sacrifícios para debelar a crise.
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Thursday, January 7, 2010

José Maria Pedroto desapareceu há 25 anos

Entrevista a Mário Wilson:

- Em 1963 acaba como jogador. Passa a adjunto de Otto Bumbel, depois de Janos Biri e de Mário Imbelloni e a fechar este ciclo é adjunto de Pedroto.
- Quando o Pedroto sai é que eu assumo o lugar de treinador da Académica. O Pedroto era intratável. Tinha atitudes que roçavam o racismo. Ele queria sempre ser o big boss. «Pedroto era ele, ele e só ele»
- As grandes lutas Norte-Sul começam entre Pedroto e Wilson. E são lutas duras...
- São, são... Mas em Coimbra eu era o Capitão e os jogadores andavam à minha volta, pouco ligavam ao Pedroto. Eu era o espírito académico, o Pedroto era ganhar, ganhar...tinha uma determinação própria, um pouco a destoar daquele ambiente de Coimbra.
- Pedroto deixa a Académica por dar uma punhada num jornalista de Coimbra, não é?
- Exactamente. Ele foi acumulando pequenos ódios. Tinha coisas tal como o Pinto da Costa,de uma determinação inabalável. Uma das máximas do Pedroto era: «Morrer por morrer, que morra o meu pai, que é mais velho». Isto era Pedroto.
- Ia falar da saída de Pedroto...
- O Porto foi jogar a Coimbra e esse tal jornalista, depois do jogo, escreveu: «Este jogo antes de começar já estava perdido.» O Pedroto não esperou, foi ao café onde se reuniam os teóricos, viu o jornalista e perguntou-lhe: «Foi você que escreveu isto?». - «Fui, porquê?» E Pedroto respondeu-lhe com um soco nos queixos. Isto era Pedroto.

A BOLA - 17-10-2009

Os vasos comunicantes do funcionalismo


Professores... e os outros
As negociações em curso entre o Ministério da Educação e os sindicatos dos professores sobre a respectiva carreira, estão a deixar muitos quadros superiores da função pública na mais absoluta perplexidade, tal é a disparidade entre as condições que já vigoram para estes últimos e aquelas em discussão com a classe docente. Em cima da mesa está uma versão light de avaliação e progressão, que, ao invés das restantes carreiras, pretende abolir as quotas na avaliação, consagrar a contagem de tempo de serviço entre 2005 e 2007, e até, pasme-se, manter um período de permanência de 4 anos em cada escalão, enquanto nas restantes carreiras os quadros qualificados com "bom" no seu desempenho são forçados a esperar cerca de 10 anos até poderem subir de nível remuneratório. A serem concretizadas tais medidas aos 140 mil professores do ensino público, estes seriam detentores de um estatuto privilegiado, relativamente a outros congéneres também servidores do Estado, o que seria de todo inadmissível, pelo que teria de existir obrigatoriamente uma equiparação extensível às outras carreiras. E isto pela simples razão de que o ministro das Finanças declarou, aquando da implementação do PRACE, que um dos objectivos do programa consistia na uniformização da multiplicidade dos sistemas remuneratórios e de progressão, até aí existentes no sector público.
Rui M. Alves, em Cartas ao Director, DN 06.01.2009

Tudo o que justamente refere Rui M. Alves é agravado pelo facto, ontem revelado pela ministra, de só 0,5% dos professores terem classificação inferior a "Bom".
Logo que os professores tenham alcançado todas estas regalias extraordinárias teremos, como é costume, uma "justa luta" dos restantes funcionários públicos pela sua extensão a todos os servidores do Estado com o argumento de que "a equiparação é da mais elementar justiça".
Foi através de mecanismos como este que o défice orçamental português se tornou quase insanável e o nível de impostos pagos (por quem paga) verdadeiramente insuportável.
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Vocês são daquelas pessoas que eu fui incapaz de transformar em checoslovacos?


Bom dia, alegria! O pior já passou, e tudo se resolveu: a password do blogger afinal era "Alexi_Lalas", entretanto alterada para o nome de um futebolista com menos internacionalizações. Creio não estar a extravasar as minhas competências ao lembrar-vos a todos que tiveram muitas saudades minhas, e que a minha ausência vos fez sofrer muito. As pessoas do Albergue Espanhol (um nome a duas curtas vogais de distância de ter como anagrama "pus-lhe gel no rabo") ficaram tão transtornadas que chegaram ao ponto de omitir este blogue da sua extensa lista de links, um gesto inadvertido e facilmente rectificável, mas que me comoveu profundamente.
Quanto ao número de Natal do Economist, no fundo o assunto que nos trouxe aqui hoje, não haverá dúvidas em apontar o artigo The Art of abandonment como o grande vencedor, seguido de perto pelos artigos Older and richer e Tongue twisters («Turks coin fanciful phrases such as “Çekoslovakyalilastiramadiklarimizdanmissiniz?”, meaning “Were you one of those people whom we could not make into a Czechoslovakian?”»).
Também manifestamente incapaz de transformar pessoas como o Abel e o Hélder Postiga em checoslovacos, a direcção do Sporting Clube de Portugal tem aproveitado os intervalos da sua agenda normalmente preenchida com actividades destinadas à opressão de casais homossexuais para "mostrar interesse" na contratação de jogadores de futebol. A situação apanhou-me desprevenido, mas deixa-me confiante no futuro. O Pedro Mendes e o Ruben Micael não preenchem as lacunas mais urgentes, mas se o interesse for real revela uma nova maneira de pensar o reforço do plantel. Mais ou menos desde 1997 que a contratação de jogadores para o Sporting é subordinada à elaboração de um perfil: um treinador fazia um relatório no qual lamentava a falta que lhe fazia um avançado rápido que desse largura ao ataque e contratava-se o Giménez; ou um ponta-de-lança corpulento para proporcionar um modelo de jogo mais directo, e contratava-se o Purovic. Andámos assim nove anos a gastar dinheiro não em atletas profissionais, mas em formas platónicas. O novo rumo assenta em premissas diferentes: gasta-se o dinheiro que houver (outro mistério: acho que não sou o único que começou a contar cartas no blackjack) em qualidade, sem entrar em considerações sobre o sítio onde ela posteriormente se enfia. O Pedro Mendes e o Ruben Micael têm poucas características em comum, a não ser o facto de ambos exibirem uma insólita propensão para passar a bola a colegas de equipa. Não cumprem as fantasias centimétricas e curriculares dos adeptos mais lúcidos (ando a sonhar com um trinco africano de dois metros de altura há tanto tempo), mas um meio-campo de tísicos em câmara lenta que não perdem a bola parece-me uma melhor base de sustentação de um clube que luta activamente pelo terceiro lugar do que um meio-campo de tísicos em câmara lenta que perdem a bola. Os melhores autores de contos de todos os tempos foram o Isaac Babel e o Leonard Michaels, mas isso é assunto para outro post, e eu vou escrever muitos, muitos posts este ano.

Wednesday, January 6, 2010

Parábola Imbecil

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Era uma vez um país que descobriu, subitamente, uma enorme injustiça: os muros.
Alguém se lembrou de que os muros, pelo menos os que têm entre um metro e dois metros de altura, dividem a população em dois grupos: os que vêem e os que não vêem por cima do muro.
Trata-se de uma intolerável discriminação, com base nas características físicas, de todos aqueles que são mais baixos do que o muro. Qualquer pessoa sabe, ou devia saber, que ter horizontes largos é um direito inalienável de todos os cidadãos, mesmo dos baixinhos.
Instalada a polémica, entre os que eram a favor e os que eram contra, estes últimos tentaram apaziguar a querela aceitando abrir umas ranhuras nos muros para que todos pudessem ver para lá deles. Nada feito, isso era prolongar a discriminação pondo os baixinhos a espreitar a paisagem através de orifícios o que não era nada dignificante.
Houve também quem dissesse que a paisagem era quase sempre um montão de lixo e que, dado o adiantado estado de degradação dos muros, em breve todos acabariam por ruir resolvendo o problema naturalmente. Foi-lhes respondido que cada um devia poder olhar para onde quisesse, mesmo que para o lixo, e já.
Os políticos, sempre atentos aos votos flutuantes, resolveram legislar que os muros deviam ser reconstruídos por forma a terem menos do que um metro ou mais do que dois metros de altura. Foi um alvoroço pois, alertou-se, isso não resolveria o problema dos anões nem dos basquetebolistas estrangeiros que amiúde nos visitam.
Os limites foram então alterados para os cinquenta centímetros e para os dois metros e meio. Apesar de uma petição reaccionária a legislação foi finalmente aprovada. Mas tudo recomeçou pois alguém se lembrou de dizer que os muros de dois metros e meio criavam uma distinção entre os que passavam a cavalo e os que passavam a pé.
Foi então aprovada a proibição total de qualquer muro, sebe ou vedação em todo o país.
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Tuesday, January 5, 2010

Arrefecimento Global

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Mais de 1.400 passageiros foram retirados de um comboio que ficou preso na neve por mais de 30 horas, na região da Mongólia Interior, na China, segundo a televisão estatal chinesa.
O comboio chocou contra uma camada de neve de mais de 2 metros, no domingo, e os primeiros passageiros foram retirados na segunda-feira.
Os 15 vagões do comboio, que viajava de Harbin para Baotou, ficaram cobertos pela neve. Os passageiros ficaram presos no comboio sem luz, nem aquecimento.
O norte da China está a enfrentar os piores nevões dos últimos 60 anos.

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"Café Com Blogues" hoje n'"A Brasileira"

Em Braga, a partir das 21:15. Um programa da RUM gravado ao vivo. Apareçam!

Monday, January 4, 2010

Um furo para começar bem o ano

Um furo no pneu dianteiro da minha bicicleta. Foi na "ciclovia" Cais do Sodré - Belém, junto às Docas de Alcântara, numa zona (vejam bem) da tal "ciclovia" onde é suposto o ciclista desmontar-se e seguir a pé (eu sei que contado ninguém acredita, mas é verdade). Desobedeci e não vi uns vidrinhos que lá estavam. Poderiam ser restos de garrafas partidas na passagem de ano, mas também pode ser que estejam lá postos de propósito para travar quem não segue a pé (e obviamente só vê os tais vidrinhos depois de lhes ter passado por cima). Enfim. Mais tarde, nesta semana ou na próxima, conto escrever sobre as novas "ciclovias" de Lisboa.

Sunday, January 3, 2010

O deserto de Lawrence

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Revi recentemente o filme de David Lean que já não via há muitos anos. Agora com a vantagem de ter estado em 2009 no cenário físico de muitas cenas do filme, a zona desértica de Wadi Rum no Sudoeste da Jordânia.

Os enormes espaços de areia, onde emergem rochedos graníticos impressionantes, são realmente um cenário fabuloso que o filme aproveita de forma soberba.

Aqui ficam algumas imagens recolhidas por mim na Primavera de 2009. Para ver mais clique aqui.


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Fuga para a vitória


A sensacional fuga do forte de Peniche por parte de Álvaro Cunhal e outros dirigentes comunistas faz hoje 50 anos. A ler a evocação no Diário de Notícias de hoje (inclui também uma entrevista a Eugénia Cunhal). Tal como eu, o jornalista sonha com o dia em que este episódio passe ao grande ecrã. Através de um estúdio de Hollywood? Não me admiraria nada.





A evasão que fragilizou Salazar e devolveu a liderança ao PCP

por JOÃO CÉU E SILVA



Era dada como impossível uma fuga que, afinal, libertou dez comunistas.


Afuga de dez presos políticos do Forte de Peniche em 1960, a prisão maisvigiada de Portugal, dava um bom argumento para um filme de Hollywood.Se fosse Steven Spielber o realizador, o argumento privilegiaria aarriscada aventura do grupo de dez fugitivos, mas se Clint Eastwooddirigisse o filme, o foco seria em Álvaro Cunhal.

Realizadoresà parte, com visões colectivas ou de heróis, o que aconteceu nessanoite de há cinco décadas exactas é um filme cujo argumento ainda nãoterminou de ser escrito, porque os participantes que estão vivos vãoatrasando com novas revelações a versão final. Não será por essa razãoque esta escapada à Steve McQueen, de uma prisão também virada para omar, passou despercebida à época e ainda hoje, com a evocação emPeniche pelo secretário- -geral do PCP, desperta curiosidade, por serdaquelas cenas impossíveis de acontecer, inverosímeis mesmo num filmede acção.

Aliás, se fosse preciso fazer uma sequela destasaventuras de comunistas a fugir à PIDE, não faltariam episódiosigualmente inspiradores. Como o de Dias Lourenço, que saiu da solitáriada mesma fortaleza num acto de magia, ou de António Gervásio a deixar aprisão de Caxias ao volante do automóvel de Salazar, aí estacionado.

EmPeniche, o argumento foi fácil de conceber porque havia um final jádecidido como sendo o melhor: uma fuga que libertasse dez dos maisimportantes dirigentes comunistas. Antes de aparecer a palavra "fim"neste filme, ainda se veriam imagens de duas consequências desta fuga:a ida para a luta clandestina dos dez fugitivos e o rolar de cabeçasdos responsáveis por esta acção ter sido bem sucedida.

Em 1960, aúltima coisa que Salazar precisava para animar a eterna contestação doPartido Comunista Português ao, também, eterno regime ditatorial doEstado Novo era esta fuga. A prisão, na casa do Luso, de Álvaro Cunhal,Militão Ribeiro e Sofia Ferreira em 1949 fora uma glória para aactividade da polícia política, que reforçara os seus poderes eactuação a qualquer preço. A fuga, por seu lado, era uma glória para amáquina partidária que sobrevivia na clandestinidade mesmo comconstantes quedas de militantes.

O dia 3 de Janeiro de 1960 nãoera o marcado para a evasão do forte de Peniche, mas uma mudança deguardas obrigou a antecipar em uma semana a "operação". Pelas 16.00, nolargo frente à prisão, o actor Rogério Paulo deu o sinal de início:abrir e fechar o porta-bagagens do carro de modo a que os presos dascelas do lado norte o vissem. A seguir ao jantar, pela 19.00, osguardas apitaram a dar ordem para os presos voltarem às celas. Começaaqui o primeiro ponto crítico, quando Álvaro Cunhal regressa aoPavilhão C sob a escolta de um guarda prisional. O fugitivo GuilhermeCarvalho aproxima-se e adormece com uma toalha embebida em clorofórmioo guarda, que desmaia. Os dez detidos que vão fugir dirigem--se, então,para a porta do refeitório que dá para o exterior do forte. É o segundomomento crítico, para o qual contam com a conivência de um dos guardas,Jorge Alves, a quem o PCP pagou uma avultada soma (150 contos) parautilizar a sua posição de vigilância e o seu capote para fazeratravessar os detidos até ao muro que os separa da liberdade. Oterceiro momento crítico dá-se quando o GNR se apercebe que em vez decinco ou seis presos tem dez e foge ele mesmo pelos lençóis quepermitiam aos detidos escorregar parede abaixo. Mesmo assim, conseguemrealizar a fuga espectacular que abalou o regime e marcou a agenda dacontestação.

Xangai "Better City, Better Life"

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Estruturas já construídas em Xangai e iluminadas para a passagem do ano.

A construção do Pavilhão de Portugal para a Expo’2010, em Xangai, adjudicada a um consórcio liderado por uma empresa lusa de Macau, deverá arrancar ainda durante o início deste mês. O evento decorre entre 1 de Maio e 31 de Outubro. "É um prazo um pouco apertado, mas exequível", disse fonte ligada à participação portuguesa no certame, o maior organizado pela China depois dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008.
A área da exposição vai ocupar 528 hectares, dez vezes mais do que a Expo’98, em Lisboa, sendo esperados 70 milhões de visitantes, cinco por cento dos quais estrangeiros. O Pavilhão de Portugal, orçado em três milhões de euros, terá 2000 metros quadrados e foi desenhado por Carlos Macedo e Couto, de 58 anos, arquitecto português radicado em Macau.
O edifício beneficiará da proximidade à Praça Europa, espaço para espectáculos com capacidade para 1200 pessoas. Ficará também perto de uma entrada para o recinto e de uma estação de metro. Mais de 200 países e organizações internacionais confirmaram já a participação no evento.
Correio da Manhã, 02.12.2009

A participação portuguesa neste evento mundial que terá lugar em Xangai já em Maio, "Better City, Better Life", parece estar a ser preparada em cima do joelho, à última hora e às escondidas.
O site alusivo à participação portuguesa ( http://www.portugalexpo2010.com.pt/ ) ainda não tem conteúdos e continuo sem descobrir qual o aspecto que terá o pavilhão português ao contrário de muitos outros cujo design é conhecido há meses (eu já em Maio de 2009 tinha aqui publicado alguns)


Pavilhão da Arábia Saudita


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Friday, January 1, 2010

A salvação está no "Família, Família"

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A RTP transmitiu uma versão para famosos do "Família, Família" pouco depois da mensagem televisiva de Cavaco. Convenci-me definitivamente de que Portugal é um país esquizofrénico.
Cavaco diz “A dívida do Estado tem vindo a crescer a ritmo acentuado e aproxima-se de um nível perigoso”; “o endividamento do País ao estrangeiro tem vindo a aumentar de forma muito rápida, atingindo já níveis preocupantes”; “o tempo das taxas de juro baixas não demorará muito a chegar ao fim”; “se o desequilíbrio das nossas contas externas continuar ao ritmo dos últimos anos, o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos, ficará seriamente hipotecado”; “quando gastamos mais do que produzimos, há sempre um momento em que alguém tem de pagar a factura”; “com este aumento da dívida externa e do desemprego (…) podemos caminhar para uma situação explosiva”.
Logo depois sucedem-se no televisor as lantejoulas da "gente bonita", todos muito talentosos e amigos, fogosos e esfusiantes de alegria de viver. O público presente no estúdio, e certamente também em casa, segue embevecido o playback pechisbeque dos mais recentes êxitos do pop top.

Devo ser eu que estou equivocado. Talvez o programa seja apenas uma resposta às preocupações do PR que dissera no seu discurso ser necessário “recuperar o valor da família”. “O esbatimento dos laços familiares tem sido um dos factores que mais contribuem para agravar as dificuldades que muitos atravessam.”
Realmente nesta "Família, Família" ninguém parece atravessar qualquer dificuldade.
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E as sucatas da Jamba ? Quem as compra ?

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Dar balanço


1) Há 20 anos, a política girava à volta de Cavaco Silva e de Mário Soares. Hoje, meus amigos, quem se lembra destas personagens?
2) Há 20 anos, o Presidente da República e o primeiro-ministro passavam a vida em guerras mais ou menos estéreis e em intrigas palacianas um contra o outro. Vejam só como a vida política era ridícula e como hoje ela é diferente...
3) Há 20 anos, o partido da oposição estava numa grande crise e aventava-se o seu fim. Hoje, felizmente, todos entendem o papel da oposição.
4) Há 20 anos, a Justiça era acusada de favorecer os ricos e os poderosos, além de ser muito lenta a resolver os casos em litígio. Hoje há respeito pela magistratura.
5) Há 20 anos, jornais como o “Diário de Notícias” pertenciam ao Governo. Hoje essa ideia seria impensável.
6) Há 20 anos, a Galp, a EDP, a PT e outras grandes empresas eram do Estado e uma pessoa só podia ser administrador de qualquer delas se o Governo deixasse. Hoje, tudo mudou e todas essas empresas são privadas.
7) Há 20 anos, uma pessoa para ter uma consulta ou uma operação ficava numa coisa chamada ‘lista de espera’. Hoje chega a parecer ridículo só o nome.
8) Há 20 anos, os professores não eram avaliados. Hoje isso seria um cenário impensável.
9) Há 20 anos, era impossível ver uma ópera de jeito em São Carlos porque o país não tinha dinheiro para pagar produções decentes. Hoje, felizmente, temos o que queremos e da melhor qualidade.
10) Há 20 anos, José Sócrates ainda não tinha acabado o curso de Engenharia Civil nem se tinha revelado um grande estadista.

Balanço de 20 anos de Cartas do Comendador, ou retrato de um país onde tudo mudou (extracto)
Comendador Marques de Correia, Expresso 31.12.2009
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