Saturday, July 31, 2010

SNS - "tendencialmente gratuito" ou "tendencialmente falido" ?

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As propostas recentes de Passos Coelho para a revisão da Constituição, consensualmente consideradas como inoportunas e em muitos aspectos desajustadas, abriram caminho a mais uma desenfreada campanha retórica da parte de José Sócrates. Fustigado pelo mar encapelado das sondagens, agarrou-se a essa tábua de salvação com o desespero próprio dos náufragos.

Mas a discussão entre os "coveiros" e os "salvadores" do Estado Social é esquizofrénica.
A proposta de eliminação da expressão "tendencialmente gratuita", que o texto constitucional refere a propósito do direito à saúde, ilustra bem o nível e a qualidade da discussão em curso.

Quem propôs tal eliminação parece ignorar que, já hoje, uma parte dos cidadãos paga taxas moderadoras quando recorre ao Serviço Nacional de Saúde. 
Mas quem se escandaliza com tal proposta, e grita desesperadamente contra o fim da igualdade dos cidadãos no acesso à saúde, parece ignorar que há dois milhões de portugueses que pagam seguros privados do seu próprio bolso.
A esses dois milhões há ainda que acrescentar umas centenas de milhar, os funcionários da administração pública, a quem o Estado proporciona o melhor seguro de saúde que existe em Portugal e que se chama ADSE.

Ou seja, cerca de 25% da população considera o SNS insuficiente e, tendo recursos para isso, contrata com privados uma parte dos cuidados de que necessita.
As razões para esta realidade são a inexistência de cobertura no SNS para certas especialidades (por ex. estomatologia) e os tempos de resposta na marcação de certos tipos de consultas, cirurgias, etc.
Esses milhões de cidadãos, ao obterem cuidados de saúde a expensas próprias fora do SNS, têm contribuído para evitar a sua ruptura. Mas ao contrário do que seria de esperar o SNS, apesar de ser aliviado de milhões de actos médicos que deveria prestar, tem visto os seus custos aumentar de ano para ano.

Por tudo isto, que costuma ser varrido para debaixo do tapete, é absurdo falar, como faz Passos Coelho, da necessidade de "quem pode começar a pagar mais". Quem pode já hoje paga mais e, com a sua ausência das filas de espera, facilita o acesso dos mais desfavorecidos aos cuidados prestados pelo SNS.
Também é absurdo, como faz Sócrates, falar de um SNS ideal e puro como se dentro dele não existissem gigantescos negócios privados; escamotear o descalabro financeiro do SNS que, se não forem tomadas medidas de controle e disciplina, caminha aceleradamente para a extinção.

O assunto é demasiado sério para que o tratem com tamanha ligeireza.
Ontem mesmo o DN titulava "Governo vende hospitais para pagar dívidas" a propósito de mais uma negociata em que o Estado vende os edifícios dos hospitais para realizar dinheiro a curto prazo.
A discussão não devia ser sobre o SNS "tendencialmente gratuito" mas sim sobre o SNS "tendencialmente falido".

Adenda.

Texto de Orlando Monteiro da Silva, Bastonário da Ordem dos Médicos Dentistas, no Público de 30.07.2010.

Atente-se nalguns dados estatísticos sintomáticos de factores de insustentabilidade:

1.  0 orçamento do SNS é actualmente de cerca de quase 10.000.000.000 de euros;
2.  0 que equivale aproximadamente a 1000 euros anuais por cada português;
3.  Acresce ainda a despesa privada em Saúde, cerca de 25% da despesa total;
4.  Estas despesas totais em Saúde, constituindo mais de 10% do PIB, crescem a um ritmo muito superior ao da riqueza produzida;
5.  0 desperdício no SNS é calculado em perto de 25% do total da despesa;
6.  25% do orçamento da Saúde é gasto com a indústria farmacêutica, o que faz de Portugal um país paraíso para o mercado farmacêutico.


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Friday, July 30, 2010

Por esclarecer ? ao fim de seis anos ?

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Publicado pelo jornal Público de 30.07.2010


Eu, que sou ingénuo, pensava que num caso como o Freeport o mais importante era perceber os fluxos do dinheiro. Seis anos parecem não ter sido suficientes para o efeito.
Olhando para este emaranhado, a ser verdadeiro, fico surpreendido não só com os movimentos cujos intervenientes são desconhecidos mas também com a elevadíssima verba entregue pela "Freeport inglesa" a  "Vieira de Almeida & Associados". E também as verbas entregues a Capinha Lopes.
Por quê e para quê ? O que terá sido feito destes quase 20 milhões ?
Porque é que nada é dito sobre a forma como esse dinheiro foi dispendido.
Com uma verba assim pode-se comprar um montão de coisas.
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Thursday, July 29, 2010

Frases para recordar

‎"Worse than working on a credible theory that is far from experiment is to work on a theory close to experiment but which is not credible." (J. Polchinski)

"It has been a historical mistake not to pay more attention to what theorists say." (J. Maldacena)

Na conferência Quantum Gravity in the Southern Cone em que participo.

Fanfarronadas com a golden share



A 2 de Julho, depois de a golden share impedir a venda da Vivo, escrevi uma crónica aqui. Golden share, certa ou errada? Disse: 1) os capitalistas votaram, uns "sim" e outros "não", segundo os seus interesses; 2) o Governo votou "não" porque sendo o seu interesse o do País, havia argumentos nacionais para a PT guardar a ligação ao Brasil. Disse isso, mas acrescentei a hipótese de o Governo - que estivera certo em marcar uma posição - poder ter cometido um disparate financeiro. É que havia gente sábia, como Belmiro de Azevedo (que construiu a Sonae), que garantira: "É muito difícil haver outra oportunidade como esta para vender." E Ricardo Salgado (dono do BES), que dissera que a Telefónica, irritada por não comprar a Vivo, podia comprar a PT toda... Então, golden share, certa ou errada? Escrevi a 2 de Julho: "(...) daqui a dias, se a Telefónica pagar os 7,15 mil milhões já prometidos, a PT não perdeu nada e o Governo marcou uma posição. Se forem menos de 7,15 mil milhões arrecadados, então, o Governo errou. Daqui a dias vamos tirar a limpo." Tiramos a limpo: foram 7,5 mil milhões. E não foi só uma posição afirmada, a portuguesa PT vai mesmo continuar no Brasil. Passei um mês com a dúvida dos ignorantes. Se calhar bom é ter certezas, como Belmiro de Azevedo. Quando fez a OPA à PT disse que ia vender a Vivo à Telefónica. Foi há três anos e era por 2 mil milhões de euros.

Ferreira Fernandes, DN 29.07.2010

Este texto de Ferreira Fernandes condensa a maior parte dos equívocos que, desde ontem, se têm acumulado sobre o significado do negócio PT/Vivo/Ói.
Sócrates tem tido o desplante de insinuar que a golden share teve "um papel essencial na obtenção desta grande solução".

1.  É verdade que a Vivo foi vendida por 7,5 mil milhões em vez de dos 7,15 anteriores à golden share. Mas também é verdade que os 7,5 mil milhões de agora vão ser pagos durante mais de um ano e os 7,15 mil milhões de há um mês eram a pronto. A diferença é portanto muito menor do que parece.
Seja como fôr essa diferença é dos accionistas e não do Estado português.

2. O braço de ferro iniciado pela golden share, e mantido durante semanas, inflaccionou provavelmente o preço de compra da participação na Ói.  O BPI considera que o impacto do acordo é "positivo", embora afirme que, no caso da Oi, a PT vai pagar um "valor elevado por uma posição minoritária sem controlo accionista ou com controlo partilhado".
"Segundo os nossos cálculos, a posição que a PT está a adquirir vale 1,2 mil milhões de euros em valor de mercado, o que implica um prémio de 2,5 mil milhões de euros", acrescenta o BPI na nota hoje enviada aos investidores.

3. A entrada da PT na Ói sempre esteve disponível e para ser realizada não dependia da intervenção de Sócrates e da sua golden share. Quando muito poderá dizer-se que Sócrates exerceu a golden share contra os accionistas da PT (admitindo que eles queriam dar outro destino ao capital obtido pela venda da Vivo) e não contra os espanhóis da Telefónica como ele tentou fazer crer para efeitos eleitoralistas.
Em suma, o Estado português expôs-se ao ridículo na cena financeira internacional , invocando o "interesse nacional" em vão, em troca de nada. A Vivo acabou mesmo por ser vendida e a PT é agora um actor secundário na Ói.
 
Ao contrário do que pensa Ferreira Fernandes, o Governo nem sempre actua em nome dos interesses do país. Neste caso, pondo-se em bicos dos pés com a golden share, o que pretendia era escapar à derrota eleitoral que se perfila no horizonte.
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Wednesday, July 28, 2010

Elas dançam sozinhas

Muitos estudantes da Universidade Nacional de La Plata, na província de Buenos Aires, foram vítimas dos crimes da ditadura argentina nos anos 70. Estes estudantes, e muitos outros cidadãos, eram raptados, provavelmente para serem atirados vivos de aviões. Mas desapareciam sem deixar rasto. As famílias não eram informadas. Nunca mais ninguém sabia deles.
Em frente ao Departamento de Física da Faculdade de Ciências Exatas da Universidade de La Plata existe o monumento da foto, aos estudantes da faculdade desaparecidos. Cada tijolo que falta representa um desses estudantes. Um deles era filho de uma das mais conhecidas “mães de Maio”. Na inauguração do monumento, a faculdade naturalmente convidou-a. Ela não compareceu, alegando que não acredita que o seu filho tenha desaparecido.

O escritor fantasma



"O escritor fantasma" de Roman Polanski. Um filme excelente que ajuda a perceber como surgem certos políticos com passado irrelevante mas com sucesso fulgurante e muitos fantasmas no armário. Consideradas as diferenças de escala podemos, apesar de tudo, imaginar ficções idênticas na paroquial política portuguesa.

Não posso deixar de assinalar uma coincidência fabulosa. Em dois dias consecutivos, em dois filmes diferentes ("Contraluz" e "O escritor fantasma"), de nacionalidades diferentes, vi uma cena em que o protagonista é dirigido misteriosamente pelo seu GPS para encontrar a chave de um enigma. Não creio que tenha havido plágio.
Ainda ontem eu desdenhava do "misticismo das coincidências" e hoje cai-me isto em cima.
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Relatividade Geral




FACTO

O Governo vai limitar o acesso ao abono de família aos agregados familiares cujos rendimentos ou património mobiliário exceda os 100 mil euros anuais. A medida insere-se nas novas regras de atribuição das prestações por encargos familiares, que passam a depender da avaliação da totalidade do património mobiliário do agregado familiar. A medida, inserida na nova Lei de Condição de Recursos, entra em vigor para a semana.

INTERPRETAÇÕES

Como foi proposta do Governo é uma medida justa que permite ao Estado poupar 90 milhões em 2010 e 199 milhões em 2011.

Se tivesse sido proposta por Passos Coelho era apenas mais uma machadada para acabar com o Estado Social

Se tivesse sido proposta por Paulo Portas era uma das habituais medidas populistas para brilhar nas feiras

Se tivesse sido proposta por Francisco Louçã era uma irresponsabilidade radical e fracturante de quem recusa assumir responsabilidades governativas

Se tivesse sido proposta por Jerónimo de Sousa era um caso de revanchismo de classe na linha das tradições soviéticas.


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Tuesday, July 27, 2010

Um mau serviço à democracia

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Sócrates prestou hoje um mau serviço à democracia ao ceder à sofreguidão do aproveitamento político do caso Freeport.
Num país onde as investigações e os processos duram quase sempre muitos anos, são quase sempre noticiados com destaque na comunicação social e raramente conduzem à condenação de pessoas "notáveis", Sócrates não tem qualquer legitimidade para se apresentar como vítima.

Como primeiro-ministro Sócrates devia antes congratular-se com a profundidade e minúcia da investigação e com o facto de tais investigações terem prosseguido durante anos apesar de haver no caso referências a altos dirigentes políticos.
Qualquer homem público de estatura exigirá sempre mais e mais investigação quando o seu nome está em causa em vez de se queixar do sistema de justiça perante o povo na televisão.


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Monday, July 26, 2010

Contraluz

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Desaconselho vivamente este hollywoodesco Contraluz, mesmo na silly season.
Faz-me lembrar o indigesto Babel de Iñárritu, mas numa versão mais básica.
Enquanto Babel tentava ilustrar a probalilidade de as coisas na vida correrem mal, ou muito mal, Contraluz pretende convencer-nos de que as coisas na vida podem correr bem, ou muito bem.
Grandes paisagens são mostradas sob o efeito de uma música intragável que inviabiliza qualquer reflexão, tal como em Babel. Os cordelinhos da ficção todos à mostra também.
A moda das histórias que se cruzam está de regresso pela mão de Fernando Fragata  para sustentar um misticismo das coincidências que resulta infantilmente enjoativo.
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Saudações do veraneio


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Saudações a partir de Olhão (em cima) e da ilha do Farol (em baixo).

Sunday, July 25, 2010

A bordo

Não resisto a escrever uma postagem a bordo do Buquebus para Buenos Aires, após um excelente fim de semana no Uruguai. Este barco parece um paquete!

Essencial

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Em 2000, os Estados Unidos consumiram duas vezes mais energia do que a China.
Em 2009 a China consumiu mais 4% que os Estados Unidos.
Diário Digital, 20.07.2010

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Wednesday, July 21, 2010

O espantalho

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Segundo o Boletim de Execução Orçamental ontem divulgado, a despesa efectiva do subsector Estado aumentou 4,3 por cento entre Janeiro e Junho, bem acima dos 2,7 por cento implícitos no Orçamento de Estado (OE) deste ano. Do lado oposto estive- ram as receitas fiscais, que dispararam seis por cento, um valor bastante superior à previsão de aumento de 1,2 por cento do OE. O IVA e o IRC deram o impulso nesta subida generalizada das receitas fiscais
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Quase dois terços (63 por cento) dos 202 serviços e organismos públicos analisados pela Inspecção-Geral de Finanças (IGF) em 2009 não cumpriram a obrigatoriedade de divulgar os despachos de atribuição de prémios de desempenho e/ou de alteração de posições remuneratórios dos seus funcionários.No relatório de actividades de 2009, a IGF revela mesmo que "para mais de 65 por cento dos serviços analisados não foi possível determinar se ocorreram mudanças de posicionamento remuneratório, no quadro das opções de gestão".
Público 21.07.2010

Enquanto o povo se distrai com o espantalho da revisão constitucional a despesa do estado continua a derrapar descontroladamente e os impostos sobre os portugueses continuam a aumentar.

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Tuesday, July 20, 2010

O Futuro era Agora

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É comovente a candura de Passos Coelho. Vem anunciar o que tenciona fazer antes de ter sido eleito, quando qualquer aprendiz de político sabe que isso dá mau resultado. O PS e o engenheiro acabam de ganhar o euromilhões.

O fenómeno é ainda mais espantoso por ocorrer depois de se ter assistido ao afundamento inglório da sua antecessora que, num acto tresloucado, resolveu pôr a crise cuja existência ninguém queria admitir no centro do debate eleitoral.  
Passos Coelho mostra nada ter aprendido com o engenheiro Sócrates que ganhou as eleições de Setembro precisamente porque conseguiu evitar qualquer referência ao endividamento externo.
Passos Coelho, pelo contrário, pensa conquistar os eleitores enquanto lhes anuncia que vão ter que pagar pela saúde e pela educação apesar de o seu emprego deixar de estar garantido para toda a vida.

A sua passagem meteórica pela política nacional será recordada, durante muitos anos, como o caso mais notável de sinceridade inoportuna e suicida que a política portuguesa conheceu.

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Monday, July 19, 2010

Mais vale prevenir...

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O Instituto de Conservação da Natureza (ICN) negou à Câmara Municipal de Alcochete (CMA) a intenção de instalar um cemitério no mesmo local onde, poucos anos depois, viria a viabilizar a construção do Freeport, justificando essa sua decisão com a "pressão humana" que tal equipamento iria gerar numa zona ambientalmente sensível.

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Trinta Autoeuropas

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O grupo automóvel alemão Volkswagen anunciou esta quinta-feira que chegou a um acordo com as autoridades chinesas para instalar a sua décima fábrica na China, informa a Lusa.
A fábrica, que se localizará na província ocidental de Yizheng, iniciará o seu funcionamento em 2013 e terá capacidade para fabricar uma média de 300 mil veículos por ano.
A companhia alemã assegurou que a fábrica dará emprego a 4 mil trabalhadores.
No conjunto das fábricas, entre 2013 e 2014, a Volkswagen construirá três milhões de veículos na China.
Na primeira metade deste ano, o grupo alemão fabricou mais de 950.000 veículos neste país, o que correspondeu a um crescimento de 45,7 por cento face ao mesmo período de 2009.
TVI24, 15.07.2010

A VW tem portanto na China o equivalente a 30 Autoeuropas já que a subsidiária portuguesa produz apenas 100.000 carros/ano. Mas a China tem Autoeuropas de muitas marcas, não é só da VW.
Por essas e por outras é que o PIB chinês cresceu 11% no primeiro semestre quando comparado com o primeiro semestre de 2009.

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Uma mente brilhante

Entrevista de John Nash ao Público. A ler - vale bem a pena.

Numa suíte de um hotel em Barajas, Madrid...

...à espera da ligação para Buenos Aires. A ligação original, esta madrugada, foi impossível de apanhar graças ao atraso do vôo Lisboa-Madrid.

Sunday, July 18, 2010

Uma das melhores melhores frases de sempre de sempre

Ian McEwan: "Some of my best friends are climate change sceptics".

Rumo ao sul

Vou à terra da Mafalda por duas semanas. Não deixarei de a visitar, como é óbvio. E verificarei se é mesmo verdade que no hemisfério sul as ideias nos caem. E os turbilhões giram em sentido contrário.

O Estádio da Nação

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As televisões fizeram ontem uma grande maldade ao engenheiro Sócrates.
No mesmo programa em que explicavam o enorme buraco financeiro que caíu sobre os municípios que "receberam" os estádios do Europeu de 2004 mostraram um discurso de Sócrates durante a fase de candidatura de Portugal à organização da prova.
A entusiástica defesa da construção dos estádios e o desenrolar das benesses que Sócrates antevia em resultado de tão grandioso empreendimento, mostrados vários anos depois de conhecidas as suas reais consequências, constituiram um dos mais virulentos ataques ao primeiro ministro de que há memória.
Já lá estavam o entusiasmo convencido, e o gesto visionário, que hoje os portugueses vêem aplicar ao aeroporto de Alcochete e ao TGV. Há razões para desconfiar.

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Saturday, July 17, 2010

Novas oportunidades


É racismo ao contrário. Na China, muitas empresas "alugam" caucasianos para fingir que têm boas relações e oportunidades de negócio com firmas no estrangeiro.
São pessoas pagas para não fazer nada. E é uma nova tendência das empresas chinesas para passarem uma imagem de sofisticação e abertura ao exterior. Não são necessárias qualificações nem experiência prévia. O único requisito é a cor de pele: branca.
(ler tudo no Público de hoje)

Já temos para onde ir. Dentro em breve até teremos um primeiro ministro para fazer as delícias das empresas em desenvolvimento na China.

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Friday, July 16, 2010

Portas é um artista



Portas propôs no debate do "Estado da Nação" um governo PS-PSD-CDS por três anos, para "salvar Portugal". Já conseguiu o que queria: enunciar uma proposta que agrada, provavelmente, à maioria dos portugueses.
Toda a gente sabe que as próximas eleições não proporcionarão automaticamente uma solução governativa viável.
Se, como parece, o PSD tiver a maioria, mesmo que se alie ao CDS não tem apoio social suficiente para governar em tempos de profunda crise.
No meio de dirigentes que aparecem ao povo como calculistas irresponsáveis esta jogada do Portas é muito forte.
Como muitas vezes acontece esta proposta vale por ser formulada independentemente da aceitação que tem. Talvez até renda mais dividendos ao seu autor se for achincalhada pelos outros partidos.
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Resumo rápido do Mundial de Futebol

Um campeão do mundo inédito – e uma proeza inédita para uma seleção europeia: ser campeã fora do seu continente. A única seleção que até hoje conseguira tal desiderato fora o Brasil – em 1958 (campeão na Suécia) e em 2002 (campeão na Coreia e no Japão).
Integrando ao longo do tempo (em linguagem comum, historicamente) a Holanda merecia mais um campeonato do mundo do que a Espanha. Mas a verdade é que esta Espanha, nos dias de hoje, é muito mais herdeira do vistoso futebol holandês da década de 70 do que a atual Holanda. Parabéns aos campeões. E aos derrotados, e a todos os que fizeram este magnífico e emocionante mundial.

Thursday, July 15, 2010

Uma trapalhada anunciada

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Desde o início, em 2007, a colocação dos radares em Lisboa foi um acto de má gestão. Mal pensado, mal executado e mal gerido.
Alvo de uma petição que recolheu mais de 10.000 assinaturas, o sistema tem-se arrastado sem capacidade de auto-regeneração apesar das conclusões da Comissão que para o efeito a CML criou em tempos.
Absurdo, inútil e vulnerável o sistema de radares de Lisboa está transformado num sorvedouro de recursos.
Mais tarde, como ruína, converter-se-á em monumento comemorativo da inépcia.

Toda a sabedoria popular num único post



A ambição cerra o coração

A pressa é inimiga da perfeição

Águas passadas não movem moinhos

Amigo não empata amigo

Amigos amigos negócios à parte

Água mole em pedra dura, tanto dá até que fura

A união faz a força

A ocasião faz o ladrão

A ignorância é a mãe de todas as doenças

Amigos dos meus amigos, meus amigos são

A cavalo dado não se olha a dente

Azeite de cima, mel do meio e vinho do fundo, não enganam o mundo

Antes só do que mal acompanhado

A pobre não prometas e a rico não devas.

A mulher e a sardinha, querem-se da mais pequenina

A galinha que canta como galo corta-lhe o gargalo

A boda e a baptizado, não vás sem ser convidado

A galinha do vizinho é sempre melhor que a minha

A laranja de manhã é ouro, à tarde é prata e à noite mata

A necessidade aguça o engenho

A noite é boa conselheira

A preguiça é mãe de todos os vícios

A palavra é de prata e o silêncio é de ouro

A palavras ocas orelhas moucas

A pensar morreu um burro

A roupa suja lava-se em casa

Antes só que mal acompanhado

Antes tarde do que nunca

Ao rico mil amigos se deparam, ao pobre seus irmãos o desamparam

Ao rico não faltes, ao pobre não prometas

As palavras voam, a escrita fica

As conversas são como as cerejas, vêm umas atrás das outras

Até ao lavar dos cestos é vindima

Água e vento são meio sustento

Águas passadas não movem moinhos

Boi velho gosta de erva tenra

Boca que apetece, coração que padece

Baleias no canal, terás temporal

Boa fama granjeia quem não diz mal da vida alheia

Boa romaria faz, quem em casa fica em paz

Boda molhada, boda abençoada

Burro velho não aprende línguas

Burro velho não tem andadura e se tem pouco dura

Cada cabeça sua sentença

Chuva de São João, tira vinho e não dá pão

Casa roubada, trancas à porta

Casarás e amansarás

Criou a fama, deite-se na cama

Cada qual com seu igual

Cada ovelha com sua parelha

Cada macaco no seu galho

Casa de ferreiro, espeto de pau

Casamento, apartamento

Cada qual é para o que nasce

Cão que ladra não morde

Cada qual sabe onde lhe aperta o sapato

Com vinagre não se apanham moscas

Coma para viver, não viva para comer

Com o direito do teu lado nunca receies dar brado

Candeia que vai à frente alumia duas vezes

Casa de esquina, ou morte ou ruína

Cada panela tem a sua tampa

Cada um sabe as linhas com se cose

Cada um sabe de si e Deus sabe de todos

Casa onde entra o sol não entra o médico

Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém

Cesteiro que faz um cesto faz um cento,se lhe derem verga e tempo

Com a verdade me enganas

Com papas e bolos se enganam os tolos

Comer e o coçar o mal é começar

Devagar se vai ao longe

Depois de fartos, não faltam pratos

De noite todos os gatos são pardos

Desconfia do homem que não fala e do cão que não ladra

De Espanha nem bom vento nem bom casamento

De pequenino se torce o pepino

De grão a grão enche a galinha o paparrão

Devagar se vai ao longe

De médico e de louco, todos temos um pouco

Diz-me com quem andas, dir-te-ei quem és

Diz o roto ao nu 'Porque não te vestes tu?'

Depressa e bem não há quem

Deitar cedo e cedo erguer, dá saúde e faz crescer

Depois da tempestade vem a bonança

Da mão à boca vai-se a sopa

Deus ajuda, quem cedo madruga

Dos fracos não reza a história

Em casa de ferreiro, espeto de pau

Enquanto há vida, há esperança

Entre marido e mulher, não se mete a colher

Em terra de cego quem tem olho é rei

Erva daninha a geada não mata

Em casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão

Em tempo de guerra não se limpam armas

Falar é prata, calar é ouro

Filho de peixe, sabe nadar

Gaivotas em terra, tempestade no mar

Guardado está o bocado para quem o há de comer

Galinha de campo não quer capoeira

Gato escaldado de água fria tem medo

Guarda o que comer, não guardes o que fazer

Homem prevenido vale por dois

Há males que vêm por bem

Homem pequenino ou velhaco ou dançarino

Ignorante é aquele que sabe e se faz de tonto

Junta-te aos bons, serás como eles, junta-te aos maus, serás pior do que eles

Lua deitada, marinheiro de pé

Lua nova trovejada, 30 dias é molhada

Ladrão que rouba a ladrão, tem cem anos de perdão

Longe da vista, longe do coração

Mais vale um pássaro na mão, do que dois a voar

Mal por mal, antes na cadeia do que no hospital

Manda quem pode, obedece quem deve

Mãos frias, coração quente

Mais vale ser rabo de pescada que cabeça de sardinha

Mais vale cair em graça do que ser engraçado

Mais depressa se apanha um mentiroso que um coxo

Mais vale perder um minuto na vida do que a vida num minuto

Madruga e verás trabalha e terás

Mais vale um pé no travão que dois no caixão

Mais vale uma palavra antes que duas depois

Mais vale prevenir que remediar

Morreu o bicho, acabou-se a peçonha

Muita parra pouca uva

Muito alcança quem não se cansa

Muito come o tolo mas mais tolo é quem lhe dá

Muito riso pouco siso

Muitos cozinheiros estragam a sopa

Não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe

Nuvem baixa sol que racha

Não peças a quem pediu nem sirvas a quem serviu

Nem tudo o que reluz é ouro

Não há bela sem senão

Nem tanto ao mar nem tanto à terra

Não há fome que não dê em fartura

Não vendas a pele do urso antes de o matar

Não há duas sem três

No meio é que está a virtude

No melhor pano cai a nódoa

Nem contas com parentes nem dívidas com ausentes

Nem oito nem oitenta

Nem tudo o que vem à rede é peixe

No aperto e no perigo se conhece o amigo

No poupar é que está o ganho

Não dá quem tem, dá quem quer bem

Não há sábado sem sol, domingo sem missa nem segunda sem preguiça

O saber não ocupa lugar

Os cães ladram e caravana passa

O seguro morreu de velho

O prometido é devido

O que arde cura o que coça sara e o que aperta segura

O segredo é a alma do negócio

O bom filho à casa retorna

O casamento e a mortalha no céu se talha

O futuro a Deus pertence

O homem põe e Deus dispõe

O que não tem remédio remediado está

O saber não ocupa lugar

O seguro morreu de velho

O seu a seu dono

O sol quando nasce é para todos

O óptimo é inimigo do bom

Os amigos são para as ocasiões

Os opostos atraem-se

Os homens não se medem aos palmos

Para frente é que se anda

Pau que nasce torto jamais se endireita

Pedra que rola não cria limo

Para bom entendedor meia palavra basta

Por fora bela viola, por dentro pão bolorento

Para baixo todos os santos ajudam

Por morrer uma andorinha não acaba a primavera

Patrão fora, dia santo na loja

Para grandes males, grandes remédios

Preso por ter cão, preso por não ter

Paga o justo pelo pecador

Para morrer basta estar vivo

Para quem é, bacalhau basta

Passarinhos e pardais,não são todos iguais

Peixe não puxa carroça

Pela boca morre o peixe

Perde-se o velho por não poder e o novo por não saber

Pimenta no cu dos outros para mim é refresco

Presunção e água benta, cada qual toma a que quer

Quando a esmola é grande o santo desconfia

Quem espera sempre alcança

Quando um não quer, dois não discutem

Quem tem telhados de vidro não atira pedras

Quem vai à guerra dá e leva

Quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é tolo ou não tem arte

Quem sai aos seus não degenera

Quem vai ao ar perde o lugar e quem vai ao vento perde o assento

Quem semeia ventos colhe tempestades

Quem vê caras não vê corações

Quem não aparece, esquece; mas quem muito aparece, tanto lembra que aborrece

Quem casa quer casa

Quem come e guarda, duas vezes põe a mesa

Quem com ferros mata, com ferros morre

Quem corre por gosto não cansa

Quem muito fala pouco acerta

Quem quer festa, sua-lhe a testa

Quem dá e torna a tirar ao inferno vai parar

Quem dá aos pobres empresta a Deus

Quem cala consente

Quem mais jura é quem mais mente

Quem não tem cão, caça com gato

Quem diz as verdades, perde as amizades

Quem se mete em atalhos não se livra de trabalhos

Quem não deve não teme

Quem avisa amigo é

Quem ri por último ri melhor

Quando um burro fala, o outro abaixa a orelha

Quanto mais te agachas, mais te põem o pé em cima

Quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto

Quem diz o que quer, ouve o que não quer

Quem não chora não mama

Quem desdenha quer comprar

Quem canta seus males espanta

Quem feio ama, bonito lhe parece

Quem não arrisca não petisca

Quem tem boca vai a Roma

Quando o mar bate na rocha quem se lixa é o mexilhão

Quando um cai todos o pisam

Quanto mais depressa mais devagar

Quem entra na chuva é pra se molhar

Quem boa cama fizer nela se deitará

Quem brinca com o fogo queima-se

Quem cala consente

Quem canta seus males espanta

Quem comeu a carne que roa os ossos

Quem está no convento é que sabe o que lhe vai dentro

Quem muito escolhe pouco acerta

Quem nada não se afoga

Quem nasceu para a forca não morre afogado

Quem não quer ser lobo não lhe vista a pele

Quem não sabe é como quem não vê

Quem não tem dinheiro não tem vícios

Quem não tem panos não arma tendas

Quem não trabuca não manduca

Quem o alheio veste, na praça o despe

Quem o seu cão quer matar chama-lhe raivoso

Quem paga adiantado é mal servido

Quem parte velho paga novo

Quem sabe faz, quem não sabe ensina

Quem tarde vier comerá do que trouxer

Quem te cobre que te descubra

Quem tem burro e anda a pé mais burro é

Quem tem capa sempre escapa

Quem tem cem mas deve cem pouco tem

Quem nasce torto, tarde ou nunca se endireita

Quem tudo quer tudo perde

Quem vai ao mar avia-se em terra

Quem é vivo sempre aparece

Querer é poder

Recordar é viver

Roma e Pavia não se fez em um dia

Rei morto, rei posto

Se em terra entra a gaivota é porque o mar a enxota

Se sabes o que eu sei, cala-te que eu me calarei

Santos da casa não fazem milagres

São mais as vozes que as nozes

Toda brincadeira tem sempre um pouco de verdade

Todo o homem tem o seu preço

Todos os caminhos vão dar a Roma

Tristezas não pagam dívidas

Uma mão lava a outra

Uma desgraça nunca vem só

Vão-se os anéis e ficam-se os dedos

Vozes de burro não chegam aos céus

Zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades

Tuesday, July 13, 2010

Não ao bloco central. Até quando ?

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Agora que está de novo na moda a ideia de um "bloco central" tem piada recordar as circunstâcias do anterior.

O IX Governo Constitucional, que ficou para a história como "bloco central", foi capitaneado por Mário Soares e pelo líder do PSD, Mota Pinto, tendo sido empossado por Eanes a 9 de Junho de 1983.
Marcado pela política de austeridade, imposta pelo FMI, tinha a seguinte composição:

António de Almeida Santos (ministro de Estado),
Rui Machete (defesa nacional),
Eduardo Pereira (administração interna),
Jaime Gama (negócios estrangeiros),
Mário Raposo (justiça),
Ernâni Lopes (finanças e plano),
João de Deus Pinheiro (educação),
Amândio de Azevedo (trabalho e segurança social),
Maldonado Gonelha (saúde),
Álvaro Barreto (agricultura),
José Veiga Simão (indústria e energia),
Joaquim Ferreira do Amaral (comércio e turismo),
Coimbra Martins (cultura),
Carlos Melancia (equipamento social) e
José de Almeida Serra (mar).

O escudo, que era então uma moeda fraca, desvalorizou de uma só vez 12% e depois foi decaindo 1% ao mês. Aumentaram as taxas de juro, os impostos e os preços de combustíveis e cereais, e a saída de divisas para o estrangeiro passou a ser mais “controlada”.

A despesa pública caiu e a contenção salarial foi marcante. Foi ainda decretado um imposto extraordinário, retroactivo, sobre o 13º mês. Uma medida que muitos reputavam inconstitucional e que se tornou numa das iniciativas mais impopulares das últimas décadas.

Os efeitos foram violentos: um crescimento negativo do PIB, uma inflação recorde de 29,3 % em 1984, subida em flecha da taxa de desemprego.
O número de falências cresceu, os salários em atraso chegaram a números nunca antes vistos, entre outros sintomas de crise. A contestação ao governo esteve ao rubro mas Portugal acabou por ultrapassar a crise.

O PSD acaba de recusar, nas jornadas parlamentares, a possibilidade de um governo de Bloco Central.
Comparada com a de 1983 a crise actual, para já, até parece suave. Até quando ?

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Quando a cabeça não tem juízo Lisboa é que sofre

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Cinco anos depois de receber o processo, o Tribunal Administrativo e Fiscal de Lisboa (TAF) decidiu, ontem, anular uma permuta de terrenos entre a Câmara de Lisboa e a Bragaparques, que envolvia os terrenos do Parque Mayer e da antiga Feira Popular. Perante esta decisão, o presidente da autarquia e o vereador José Sá Fernandes deixaram um aviso à Bragaparques: se não houver diálogo, a câmara avança para a expropriação do Parque Mayer.
...
A Bragaparques, refira-se, ainda pode recorrer da sentença do TAF. Até à hora de fecho desta edição não foi possível confirmar junto da empresa de Braga se esse será o caminho. Por isso é que José Sá Fernandes aguarda pelo "trânsito em julgado" da sentença do tribunal para retomar o diálogo com a Bragaparques: "Vamos procurar uma solução justa para todos. Os terrenos de Entrecampos voltam à posse da autarquia. E a câmara po- derá expropriar o Parque Mayer", revelou ao DN. Neste sentido também se pronunciou o presidente da autarquia, António Costa: "Acho que [o diálogo] seria bom para a cidade e não seria mau para a Bragaparques. Se não for essa a intenção da Bragaparques, a intenção da câmara é conhecida e muito clara: nós ficaremos com o Parque Mayer e, portanto, procederemos à sua expropriação se for necessário", declarou o autarca à agência Lusa.

DN, 13.07.2010

Depois dos "excelentes" resultados obtidos no caso do Túnel do Marquês, o perclaro deputado Sá Fernandes, volta a fazer das suas.
Cinco anos já lá vão, consumidos no Supremo Tribunal Administrativo. Muitos mais anos passarão sem que o Parque Mayer, e os terrenos que foram da Feira Popular em Entrecampos, vejam as suas soluções urbanísticas realizadas.
Esperam-nos incontáveis recursos em tribunal, muitos pedidos de indemnização e as inerentes trapalhadas quando a Câmara voltar a mudar de mãos em próximas eleições.
No final, quando a poeira assentar, descobriremos que a cidade, tal como no caso do Túnel, esperou muito mais e gastou muito mais do que seria razoável.
Não há ninguém que ponha termo a estas infantilidades ?

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Monday, July 12, 2010

El tiédio de la existiencia

Chegou ao fim o Mundial em que a única equipa sem derrotas foi a Nova Zelândia, em que a grande figura individual foi um molusco, e em que a Espanha, depois de derrotar os índios, os Nazis e a Frota Imperial, conseguiu aparentemente redimir a Humanidade, salvar as baleias, e tornar o planeta mais seguro para a democracia.
O triunfo dos campeões menos entusiasmantes desde o Brasil de 1994 tem sido quase consensualmente aplaudido, perante a minha boquiaberta conta bancária, como "um triunfo do futebol bonito", o que indica que eu devo ter perdido reuniões importantíssimas, onde se andaram a redefinir conceitos à traição.
A vitória da Espanha é merecida, o que só por si não quer dizer nada, uma vez que o futebol funciona ainda melhor do que o mercado. Não me ocorre uma única competição internacional no meu tempo de vida em que a vitória final não tenha sido merecida; até nas raras ocasiões em que a "melhor" (aspas relativistas) equipa não ganhou, como no Mundial de 1998 (Holanda) e no Euro 2004 (provavelmente a Rep. Checa), a circularidade tacitamente embutida na definição de "vitória merecida" fez com que quem ganhasse merecesse fazê-lo. Na África do Sul, nem sequer houve esse espaço para a manobra retórica: a Espanha era a melhor equipa, e ganhou. Está tudo certo, não é mais nem menos do que isto. Não havia necessidade nenhuma de perturbarem a minha conturbada recuperação emocional depois de ter sido brutalmente espoliado de três mil euros, dando uma rodagem incompreensível à narrativa do "futebol bonito, ah que futebol bonito, é um futebol muito positivo, o tiki-taka, a posse de bola, é assim que deve ser, o tiki-taka, é tudo tão bonito, vejam o número de passes, etc."
Para esclarecer o conceito de vitória merecida: a Espanha venceu justamente porque um Mundial é como uma eleição para a presidência - pretende-se apenas que ganhe o melhor dos participantes. Não é necessário fingir que a opção utilitária está a cumprir um ideal qualquer, basta afastar o Manuel Alegre dos sítios. Nesse sentido, a selecção espanhola foi um justo e digno professor Aníbal Cavaco Silva; estar a promovê-la a Péricles ou Bismarck é capaz de ser um bocadinho excessivo. Não assistimos a um triunfo do futebol espectáculo, apenas a um triunfo do melhor conjunto de jogadores, o que, já agora, é sempre de aplaudir, em particular se os jogadores são tão absurdamente bons como estes (e boas pessoas, ainda por cima, tirando o Busquets, que está duas léguas éticas abaixo do Felipe Melo e do Van Bommel).
Os argumentos utilizados para se tentar extrair desta vitória um significado moral que ela não merece foram competentemente sintetizados neste útil post do Lourenço, do qual ele já está certamente muito arrependido, e do qual tenciono transcrever as passagens mais ofensivas sempre que seja apropriado. Comecemos pela frase que mais vontade me deu de ir destruir um prédio bonito: «obviamente, acho que seria um grande serviço ao desporto a Espanha ser campeã do mundo: provaria que se pode ganhar coisas a jogar bonito, algo extremamente necessário depois daquilo que se passou com o Inter este ano».
Elogiar o futebol praticado pela Espanha ao longo da competição como uma epítome do "jogo bonito" parece-me um caso clássico de confusão crítica (aliteração totalmente planeada): tendo-se detectado a inequívoca existência de talento, todos os frutos produzidos por esse talento são automaticamente classificados como positivos, como se não houvesse um livro chato na carreira de cada Philip Roth, ou como se eu próprio – eu próprio! - nunca tivesse escrito um mau post. Confrontado com a excelência técnica dos jogadores espanhóis (em que um dos defesas-centrais é melhor no passe, na recepção e no drible do que qualquer médio inglês, por exemplo), o espectador que se aborrece suspeita-se imediatamente de estar a caír no filistinismo, ou no iconoclasmo fácil.
O equívoco de base parece-me fácil de identificar. Se reduzirmos o jogo às suas três dimensões básicas - técnica, táctica e física - não é especialmente condenável promover o aspecto técnico em detrimento dos outros dois como o mais importante para o conceito de futebol bem jogado, porque é a capacidade técnica que permite o lance de ruptura, ou a variação inesperada - todos os elementos associados à criatividade, que permite quebrar a deriva mecanicista que o rigor táctico e a capacidade atlética tendem a impor.
O problema com a Espanha é o de ter utilizado - e isto é sem dúvida uma inovação - a capacidade técnica para impor no jogo o mesmo tipo de restrições que no passado e no presente das outras equipas eram impostas pela táctica ou pelo físico.
Num perfil recente de Federer na New Yorker, ele diz o seguinte sobre o jogo de Nadal: «I admire Rafa for that (...) The mental toughness of playing each point the same is amazing, but I could never play that way. I need change, I need a different point every time».
Vamos ignorar os diversos tipos de nojo que a segunda metade deste subtil raciocínio defensivo carlosqueiroziano provoca e concentrar-nos no essencial. A mais visível qualidade exibida pelo futebol espanhol no Mundial foi esta: a mental toughness de jogar cada jogada como se fosse a mesma. Mas o espectador precisa de mais, precisa de variação, precisa não exactamente de uma jogada diferente de cada vez, mas pelo menos de vez em quando. O que o kaku-tani faz é formatar e homogeneizar o jogo, transformando cada jogada numa repetição, razão pela qual a virtude que começa a ser mais elogiada no jogo Espanhol seja não a criatividade, mas a paciência. E a paciência, aplicada com consistência psicótica, é uma virtude que impressiona, mas não entusiasma.
Daí que esta declaração do Lourenço seja tão esfalfadamente equivocada: «o problema da aparente falta de eficácia daquela circulação de bola nasce da atitude de qualquer adversário (Portugal, Paraguai, Alemanha) que dá por dado adquirido a sua inferioridade e se limita a aguardar por um erro espanhol».
Passando por cima (muito por cima, atente-se) da sugestão que o problema da falta de eficácia é a "atitude" dos adversários (talvez ajudasse se eles se demonstrassem mais fair play fazendo um churrasquinho na linha lateral enquanto a Espanha jogava bonito), temos aqui um erro crucial de interpretação. Porque o cálculo racional por detrás da entediante circulação de bola da Espanha é precisamente esse: aguardar um erro do adversário. Isto foi assumido sem problemas por Xavi, e antes por Guardiola. A Espanha não procura controlar o adversário; procura anestesiá-lo. E é inevitável que anestesie parte da plateia também.
Conseguiram a proeza de levar ao extremo da eficiência um determinado processo técnico (tricotado de passes, lento e sem grande progressão), de caminho forçando uma exibição de destreza puramente técnica a produzir na percepção do espectador o mesmo efeito de uma exibição de destreza puramente táctica. E a posse de bola acaba por ter um intrigante efeito colateral: ao resguardarem-se fisicamente, os jogadores espanhóis conseguiram ser os melhores do torneio a fazer pressão alta, pois só precisavam de a exercer seis ou sete vezes por jogo, e estavam todos fresquinhos. A Espanha instrumentalizou uma dos mais impressionantes arsenais de técnica indididual de que há memória para jogar essencialmente um jogo defensivo e de baixo risco.
A ideia de que o futebol da Espanha “representa tudo o que o futebol deveria ser” também caiu por terra (com genuína pena minha) e confunde-me, inclusivamente intriga-me, adicionalmente vexa-me, que se defenda o contrário. O tutan-khamon pareceu, de facto, qualquer coisa como o futuro risonho do futebol, no curto espaço de tempo entre o Euro 2008 e a eliminatória do Barcelona com o Inter, mas agora que foi definitivamente baptizado, entronizado como movimento avant-garde, defendido por uma teoria estética, e sujeito a evangelização por apóstolos e críticos de Arte, assistimos a uma falência parcial do mesmo. O teste definitivo é este: se um conjunto de jogadores de qualidade possivelmente irrepetível, como Xavi, Iniesta e aqueles outros que lá andam, não conseguiram transformar o kiri-te-kanawa em nada mais do que um veículo para ganhar bem, mas chato, o modelo é insustentável como paradigma do futebol bonito. A falência é apenas parcial como mecanismo para ganhar jogos: sete dos oito golos da Espanha e para aí uns 90% das suas ocasiões de golo surgiram não de jogadas de envolvimento, mas sim de lances de bola parada, jogadas individuais de Villa ou Iniesta (sempre que desrespeitavam o metrónomo sedativo do resto da equipa), erros de arbitragem, e contra-ataques competentes - embora se possa argumentar que só a fadiga induzida pelo kon-tiki permitiu essa procissão de acidentes. O Lourenço fala, assumo que sem ironia, de uma “sensação de inevitabilidade” que se começa a instalar: “mais cedo ou mais tarde o golo vai aparecer”. Inevitabilidade foi algo que não senti em nenhum momento no percurso da Espanha, que, como o percurso de qualquer equipa vencedora numa competição a eliminar, foi sendo balizado por contingências favoráveis sucessivas (em número de seis, e não de sete, recordemos). O jogo com a Suiça não pode ser retroactivamente classificado como “um acidente”, porque, se é verdade que a Espanha podia perfeitamente ter ganho esse jogo por 1-0 (bastava ter marcado primeiro), também é verdade que podia ter perdido cada um dos jogos subsequentes por 1-0 (bastava ter sofrido um golo primeiro).
Como entretenimento, no entanto, a falência é total. O objectivo da circulação de bola da Espanha não é entreter o Lourenço nem a minha pessoa. E não o faz. O Lourenço, aliás, só pode estar muito cansado para achar aquilo “futebol bonito”; por amor de Deus Nosso Senhor, o futebol praticado pelo Benfica na época felizmente passada esteve muito mais perto do que é “futebol bonito” do que o muzak de auteur da Espanha. Xavi, uma das pessoas mais pragmáticas e honestas da civilização ocidental, teve a dignidade de sugerir que o futebol da Espanha pode ser aborrecido para o público neutral. Tem toda a razão. Tal como o Brasil de 1994, a selecção de que está espiritualmente mais próxima (o recorde de passes que o Xavi bateu pertencia ao Dunga), a Espanha teve o grupo de jogadores mais tecnicamente dotados do torneio, praticou um futebol personalizado que consiste em reter a bola até toda a gente estar devidamente narcotizada, e contou com um avançado no pico da sua forma terrestre - acrescentando a tudo isto o Iniesta no lugar do Raí. E ganhou, com toda a justiça, e sem necessidade de os erguermos agora a um panteão feito de andaimes.
O que a Espanha fez, utilizando processos diametralmente opostos, é exactamente o que o Inter de Mourinho fez nas eliminatórias com o Barcelona: levar um conjunto reduzido de qualidades específicas ao extremo da eficácia, para eliminar o máximo de variáveis e transformar cada situação de jogo na ocorrência mais segura possível. O que uns fizeram com bola, outros fizeram sem ela, mas o único espectáculo que interessava a ambos era a cerimónia de entrega do troféu.
Não há problema nenhum com o culto da eficiência; só acho extremamente ofensivo para a minha presente situação económica que se tente romantizá-lo.

A vuvuzela patriótica








Como se não bastasse a traição de Passos Coelho, que implicitamente apoiou a Telefónica contra a PT, hoje temos um caso ainda mais grave.
A televisão pública transmitiu em directo a chegada da selecção espanhola a Madrid, comportando-se como se fôssemos uma mera província de Espanha.
A vitória no mundial parece estar a provocar mais alegria em Portugal do que na Catalunha e Sócrates ficará para a história como o traidor que não usou a golden share para defender os nossos "navegadores".
Se a Telefónica não pode comprar a Vivo o Real Madrid também não devia poder comprar, e neutralizar, o Cristiano Ronaldo e o Mourinho.
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Sunday, July 11, 2010

Don't Be Greedy

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Parece estar em vias de solução o conflito aberto pela Google, em Março, com pretexto nas limitações impostas pelo governo chinês às buscas feitas a partir do seu território, nomeadamente pela exclusão de certos termos de pesquisa. 
Na iminência de se ver excluída, apesar de na China só ter 30%  do imenso mercado, a Google parece estar em vias de pactuar com aquilo que tão vigorosamente denunciou alguns meses atrás.
Aguardemos pois a clarificação deste processo que, para já, está muito mal explicado. (ver mais aqui)

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A mais importante das coisas menos importantes

Por estes dias, nos blogues de esquerda quase só se fala de futebol.
Embora eu concorde plenamente com este texto do Nuno Ramos de Almeida – a política não é definitivamente chamada para explicar o que se passa no relvado -, é
bastante consensual que a forma de jogar das seleções reflete caraterísticas nacionais. Os exemplos são vários: a organização e o coletivo alemães, o individualismo e o improviso sul-americanos, o cinismo e o maquiavelismo italianos… Penso mesmo que as extrapolações da política para o futebol têm mais a ver com as extrapolações destas caraterísticas para a política. E no dia a dia estas caraterísticas, se não fazem a política, fazem parte da realidade internacional.
Um bom exemplo de tais extrapolações será o definir-se, como é habitual, um futebol mais baseado nos rasgos individuais como “de esquerda”, enquanto um futebol mais disciplinado taticamente seria “de direita”. Num contexto internacional, quem pratica o primeiro tipo de futebol são países emergentes como o Brasil ou a Argentina e “PIGS” como Portugal, enquanto o arquétipo de quem pratica o segundo tipo de futebol é quem dita a ordem na Europa, a Alemanha. Mas estes países, como todos os outros, já tiveram governos de esquerda e de direita, e nem por isso as suas caraterísticas mudaram. Esta distinção pode fazer sentido para altermundialistas para quem quem governa é sempre de direita, mas não creio que tenha grande utilidade prática.
Dito isto, falar-se em futebol “de esquerda” como o mais espetacular, o mais aberto, em oposição a um futebol “de direita” mais fechado e mais interessado no resultado preocupa-me pelo que indicia. Então a esquerda não está preocupada com o resultado? Só a direita é que está interessada em ganhar?

É possível que sim, e por isso é que a direita está no poder na maior parte dos sítios, a maior parte do tempo. Mas não deve ser assim. A esquerda tem que se preocupar com o resultado. A esquerda tem que querer ganhar. Governar. Assumir responsabilidades. Agora a esquerda não pode, com isto, tornar-se igual à direita. Conceber um programa realmente de esquerda de governo e executá-lo pacificamente e sem protestos ou boicotes, de um lado ou de outro, será tão difícil como pôr uma equipa a ganhar sempre e a praticar um futebol espetacular.
Um dos grandes teóricos desta distinção entre o futebol “de esquerda” e “de direita” é o argentino Jorge Valdano (autor da frase que dá o título a este texto, relativa justamente ao futebol). Valdano que enquanto jogador foi colega de seleção de Maradona e, posteriormente, foi treinador, sendo hoje diretor do Real Madrid. Enquanto treinava este clube, em 1996, era frequentemente derrotado com o seu futebol “de esquerda”. Os adeptos do Real Madrid assobiavam-no e insultavam-no em pleno estádio Santiago Barnabéu. Confrontado com essas vaias, o engravatado Valdano respondia, com uma arrogância tipicamente argentina (e talvez tipicamente esquerdista): “Insultam-me porque sou de esquerda!”
Tenho cá para mim que, com a ira que causou aos adeptos do maior clube espanhol, Jorge Valdano teve as suas responsabilidades na vitória, nas eleições desse mesmo ano, do PP, e na chegada ao poder de José Maria Aznar. Queriam um exemplo da influência do futebol na política? Aqui o têm.

Friday, July 9, 2010

O triunfo dos porcos



Puyol marca contra o dirigismo e protecionismo alemães. Pelos povos do sul, em nome de uma Europa solidária. Dança, Angela Merkel, dança!

Wednesday, July 7, 2010

Espero que estejam todos muito contentinhos

A Irlanda sai da recessão

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O Eurostat reviu em alta o valor do crescimento do Produto Interno Bruto português no primeiro trimestre, passando-o de 1 por cento para 1,1. É a terceira maior subida deste ano em cadeia na União Europeia, depois da Irlanda (2,7 por cento) e da Suécia (1,4). A Irlanda saiu oficialmente da recessão em que estava mergulhada desde 2008.

É importante recordar que a Irlanda foi o primeiro dos PIGS a decretar austeridade, por iniciativa própria, e fê-lo de forma violenta chegando ao ponto de reduzir os salários nominais de funcionários e políticos. Agora já cresce a uma taxa quase tripla da portuguesa.

Tal como a Alemanha, a Irlanda prova que as medidas de austeridade e de equilíbrio orçamental não têm obrigatóriamente efeitos recessivos.
Mais um case study.

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Tuesday, July 6, 2010

Perplexo e boquiaberto com a situação do Sporting

Claramente o Moutinho é um jogador à Porto. O Paulo Bento também é um treinador à Porto (esperava que Pinto da Costa o tivesse contratado). Quem nunca foi um jogador à Porto, apesar de lá ter jogado alguns anos, foi este diretor desportivo que o atual presidente se lembrou de ir buscar para o Sporting.
O negócio é o que menos interessa. O que me importa é um dos principais ativos recusar-se a jogar e ser vendido de qualquer maneira. Que presidente é este?
Não sei onde o clube vai parar assim.

A inocência dos espanhóis no caso PT-Vivo

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O discurso "patriótico" contra a venda da Vivo pela PT insinua, subliminarmente, que a Telefónica nos quer roubar as operações da PT no Brasil. Basta pensar dois segundos para perceber que se trata de um embuste.
A Telefónica está disposta a pagar, em troca da Vivo, uma fortuna superior a sete mil milhões de euros (dizem que dava para dois aeroportos de Alcochete).

O cidadão medianamente inteligente pergunta então: com esse dinheiro todo não podíamos realizar meia dúzia de projectos estratégicos no Brasil ou noutro lado qualquer ?
É claro que podíamos.
Toda a retórica anti-espanhola destina-se a ocultar que o verdadeiro problema reside no triste facto de os sete mil milhões não virem, se vierem, para os cofres do Estado Português. O verdadeiro problema é que os parceiros privados com que o engenheiro Sócrates pensava realizar o projecto estratégico da Vivo precisam, e preferem, em vez disso, vender a Vivo e usar o dinheiro de outra forma.

Portanto, a bem da nossa sanidade mental, esqueçamos os espanhóis e as suas pretensas culpas. Discutamos antes se faz algum sentido querer obrigar os accionistas privados a abdicar de um excelente negócio em nome de uma quimera cujo futuro, nestes tempos incertos, pode nunca se realizar.

É verdade que eles sabiam da existência da golden share quando se tornaram accionistas da PT. Mas também é verdade que certamente lhes prometeram enormes lucros em troca da sua fidelidade à causa.
A questão que se coloca é a seguinte: quando é que é o tempo certo para sacar o retorno de tais promessas ?  74% dos accionistas da PT consideram que o momento é agora pois as mais valias realizadas com a venda da Vivo à Telefónica, neste momento, são astronómicas.

Quem não quer submeter-se à lógica dos capitalistas não deve colocar-se na dependência do seu dinheiro.



Monday, July 5, 2010

Na Alemanha nem a austeridade é recessiva

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A senhora Merkel presenciou, com entusiasmo, a cabazada que os seus futebolistas deram a uma Argentina onde abundam os fenómenos da bola. O resultado de quatro a zero roça o inverosímil.

Mais inverosímeis serão talvez as notícias que referem um crescimento superior ao esperado no preciso momento em que a Alemanha está a executar um programa de austeridade bastante violento.
Desmentindo os teóricos de ocasião na Alemanha nem a austeridade é recessiva. Parece portanto ser possível fazer crescer a economia sem ser pela injecção de dinheiro obtido através do endividamento.
Precisávamos era de perceber como se executa tal milagre.


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Sunday, July 4, 2010

A terra dos prodígios

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Na China uma cadela está tratando um filhote de gato como se fosse um dos seus. A tutora Li Dajie trouxe o filhote de gato quando sua cadela de estimação estava prestes a dar à luz.
Mas, nesta terra de prodígios, há mais do que cães e gatos.
A Goldman Sachs reduziu a sua previsão para o crescimento da China este ano de 11,4% para 10,1% (ver aqui). Um verdadeiro descalabro.
Como se tal não bastasse os chineses parecem querer imitar-nos vivendo acima das suas posses e, pela primeira vez, as vendas da General Motors na China superaram as registadas nos Estados Unidos. (ver aqui)

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Saturday, July 3, 2010

Yes, we can't

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Por Clara Ferreira Alves


Desde a revolução que Portugal é governado à esquerda em matéria de Estado e prestações sociais. Apesar das maiorias absolutas, Cavaco tinha dinheiro da Europa para manter o Estado e quis mantê-lo. A sua direita, dotada de consciência social, não era a direita pura que hoje existe em Portugal. Esta nova direita é mais jovem, mais estrangeirada, mais academicamente preparada do que a velha direita. É mais ideológica e está disposta a romper de vez com o Estado social. Nascida em democracia, formada nos cursos de Economia e Gestão das universidades, é também constituída por um núcleo de quadros e recém-licenciados, futuros regentes da pátria, que nada têm a ver com as negociatas de restaurante e o bloco central de interesses. Conservadores, pró-americanos, dotados de certo puritanismo, crentes na virtude absoluta do mercado e do capitalismo, acham (protegidos pela inexperiência) que a sua oportunidade para mudar Portugal de vez está a chegar. Tencionam, no poder, construir um sistema que proteja os empreendedores, desmantele a máquina estatal, agilize a justiça e privatize a economia agilizando os seus instrumentos, desde os financeiros aos legais; o que significa que pretendem rever a Constituição e a legislação laboral.
Não acreditam nos sindicatos, acham os comunistas e socialistas um anacronismo e consideram que só a criação de riqueza possibilita a prosperidade geral. A sua agenda política é liberal ou ultraliberal. O que quer dizer que não se revêem no PSD do cavaquismo nem no seu provincianismo. Desprezam adquiridos à esquerda como a existência de uma televisão pública, "intelectuais subsidiados" ou um Ministério da Cultura.
Em Portugal, estes jovens turcos, agastados por serem a geração "sacrificada" com a despesa pública, estão a chegar ao poder. E o seu homem vai ser Passos Coelho. Tudo os separa da velha direita de Freitas do Amaral e de Adriano Moreira, e nem para Paulo Portas e o seu populismo defensor de velhos e agricultores têm muita paciência. Serão para Portugal o que a direita foi e vai voltar a ser em Espanha: os agentes da liberalização. Os socialistas já se aperceberam que vão ser apeados nas urnas e apenas tentarão evitar uma votação humilhante. Os jovens turcos sabem que chegou a sua hora e que a crise é a sua oportunidade de pôr em prática as teorias que admiraram nos livros e nas escolas que frequentaram. Por essa Europa, a esquerda social-democrata e socialista não se repensou nem se preparou. A Europa de Willy Brandt, de Mitterrand, de Olof Palme e de Mário Soares, a Europa descendente da II Guerra Mundial e das ditaduras acabou. Calcificou. A sua sucessão tecnocrata não formou brilhantes quadros políticos e contratou demasiados oportunistas e medíocres serviçais.
O futuro da Espanha e de Portugal discutiu-se nesse encontro Aznar/Passos Coelho. E é de direita. À esquerda, só um partido vai capitalizar com a decadência do PS: o Bloco. Porque tem pensamento, ideologia, quadros e ideias. Porque não descansa. Porque prefere combater a governar. A derradeira campanha eleitoral da velha esquerda europeia foi a eleição de um Presidente americano negro. Yes, we can't.
 
Clara Ferreira Alves, Expresso 12.06.2010 (ler aqui o texto completo)

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Friday, July 2, 2010

Diz o Público: enquanto não regionalizarem nem fizerem ciclovias mais vale andarmos todos de popó

O “Público” parece ter descoberto as questões relacionadas com mobilidade. Só é pena que, avaliando pelo suplmento da semana passada, esteja a servir-se dela para promover questões que com ela nada têm a ver, pelo menos diretamente.
Num primeiro artigo, anuncia-nos que “já compramos muitas bicicletas – para andar faltam as ciclovias”. Eu sou um defensor da criação de ciclovias em cidades congestionadas por trânsito automóvel (não necessariamente em lugares turísticos só para efeitos de recreio, como se vê agora). Mas, como utilizador quotidiano de bicicleta (sem ciclovias), não posso aceitar que um jornal “decida” que só com ciclovias é que se pode andar de bicicleta. Essa é uma decisão pessoal, que deve ser estimulada (e a criação de ciclovias onde se justifiquem é um bom estímulo), mas que não deve depender nem ficar à espera da criação das mesmas.
Mas o exemplo mais gritante da utilização das questões da mobilidade para fins políticos que lhe são alheios é esta entrevista onde se defende que “sem regionalização não haverá transportes públicos de qualidade”. Eu compreendo que uma rede integrada de transportes públicos extravasa as autarquias, que têm que atuar em rede de uma forma concertada. Mas o principal problema nos transportes públicos em Portugal é a dispersão de operadores – de empresas.

Só na cidade de Lisboa tem-se a Carris, o Metro e a CP. Na região de Lisboa acrescem a Fertagus e inúmeras operadoras municipais, todas elas representando entidades patronais distintas, praticando diferentes tarifários, com diferentes bilhetes. Poderia argumentar-se que se estas empresas fossem fundidas todas numa entidade regional, tudo funcionaria de uma forma muito mais integrada. Mas a regionalização não garantiria isso (no caso de Lisboa, Carris, Metro e CP andam muitas vezes de costas voltadas e são três empresas do estado – serem “regionalizadas” não resolveria por si nada se continuassem a ser três entidades independentes). Por outro lado, fundir estas empresas (no caso do Metro e da Carris) e colocá-las (com a CP Lisboa e todos os operadores municipais) sob a alçada de uma autoridade metropolitana de transportes (que poderia perfeitamente ser uma entidade supramunicipal) não implica regionalização nenhuma. Desde que houvesse um regime de tarifas (bilhetes e passes) compatível, a responsabilidade pela adequação da oferta, em cada município, poderia ser da responsabilidade da câmara respetiva. (No caso de Lisboa, a Carris e o Metro pertencem não à Câmara mas ao Estado, uma questão bem mais controversa. Mas a entrevista não a aborda.)
Tudo o que eu aqui disse também se aplica ao Porto, substituindo Carris por STCP, e a outras autarquias. Defender que só com a regionalização pode haver transportes públicos de qualidade, para além de um tiro no pé para quem quer defender os transportes públicos, parece-me uma enormíssima desonestidade política. A regionalização tem outras implicações profundas, e que nada têm a ver com transportes públicos.

Thursday, July 1, 2010

Durma, dr. Soares!


Foi durante o Prós e Contras desta semana (na segunda parte) que Mário Soares contou a história que aqui reproduzo.
Nos anos 80, era ele primeiro-ministro, por duas vezes o ministro das finanças, Silva Lopes, telefonou para sua casa desesperado, às duas da manhã, a dizer que no dia seguinte o país iria entrar em bancarrota e já não haveria dinheiro para pagar os salários. Das duas vezes Mário Soares respondeu que, se isso fosse mesmo verdade como Silva Lopes temia (e em nenhuma das duas vezes tal se confirmou), no dia seguinte ele, Mário Soares, teria de estar bem desperto para decidir o que fazer. "Por isso, ó Silva Lopes, deixe-me dormir!"
Se, aos 86 anos, o velho cometesse a loucura de se recandidatar a Presidente, eu ainda votaria nele. Mário Soares é o último grande português vivo.

Olho VIVO




Decorrem debates emocionados, e patrióticos, acerca do veto de Sócrates à tentativa de venda da Vivo pela PT.  Qual padeira de Aljubarrota brandindo uma golden share em vez de uma pá.
Todos parecem esquecer que a disputa diz respeito a uma empresa que funciona no Brasil e não na Ibéria.
O "nacionalismo" neocolonialista de Sócrates, se faz algum sentido no contexto das negociatas, é portanto exercido em detrimento do legítimo "nacionalismo" de Lula da Silva.
Muito me riria eu se tudo isto acabasse com a nacionalização da Vivo pelo governo brasileiro.

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Um governo precário

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A praga da precariedade já chegou ao governo.
Temos um governo a prazo, sem norte e sem motivação, que vai desfiando trapalhadas umas atrás das outras (SCUTS, PT-VIVO), para gáudio do PSD que assiste confortavelmente ao enterro do seu atávico rival.
Os assessores governamentais de todo o tipo cheiram no ar a queda iminente e, como foi noticiado recentemente, correm a trocar os seus lugares instáveis por colocações seguras no funcionalismo público.
O Presidente assiste a tudo isto enquanto paulatinamente prepara a sua reeleição.

Como já disse anteriormente neste blog considero esta situação altamente irresponsável. Neste momento crítico para o país o pior que nos podia acontecer era sermos governados por quem já não tem credibilidade nem motivação. São estes governos mortos-vivos que costumam, já que não esperam senão a derrota, assumir em nome do Estado de todos nós compromissos futuros ruinosos e insustentáveis.

Quem devemos culpar por tudo isto são os que colocam os seus cálculos eleitoralistas e mesquinhos à frente dos interesses do país, adiando sem razão uma nova solução governativa para Portugal.

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