Circulam no espaço público, a propósito da crise, algumas leituras equívocas e mistificadoras:
1. Quando se diz "os cortes na saúde vão prejudicar os doentes" está-se a omitir que os cortes, eles próprios, não são causa mas sim consequência do empobrecimento anterior e do endividamento do país.
2. Quando se discursa sobre os direitos adquiridos e o "retrocesso civilizacional" está-se a escamotear que tais coisas só existem enquanto houver recursos materiais para as manter.
Nada, nem ninguém, está em condições de garanti-las incondicionalmente e é por isso que há no mundo países em que se morre de fome ou por falta de cuidados médicos elementares.
3. Discute-se a crise, quase sempre, como se a superação significasse um regresso à situação económica e social que antecedeu a sua eclosão.
Trata-se de uma mistificação pois o que está a suceder, para já, é uma tentativa de aterragem de emergência dois degraus mais abaixo, correspondentes ao empobrecimento que o nosso país registou nos últimos anos e que a crise se limitou a desvendar.
Por isso há que assumir que no fim desta aterragem de emergência, e esperemos que seja suave, estaremos todos em geral mais pobres.
4. Quem diz estar à espera de ver quais são as medidas do governo para relançar o crescimento económico, e voltar a subir os degraus do desenvolvimento, parece não perceber o essencial.
O desenvolvimento económico depende essencialmente das escolhas e decisões dos cidadãos, das empresas e de outras organizações produtivas. Se estes agentes não decidirem, de forma massiva, aumentar a produtividade e gerar mais riqueza, dentro do país, não há governo que nos valha.
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