Acabei de ler os dois primeiros capítulos de "Foi assim" e não resisto a fazer um primeiro comentário. Tocou-me bastante a excelente descrição do mundo fechado em que também eu cresci.
Também eu entrei para o PCP em meados dos anos 60 e poderia subscrever quase tudo o que Zita diz sobre as motivações pessoais e os enquadramentos psicológicos que explicam tal decisão.
Como ela bem explica não se partia de uma aquisição puramente ideológica para o risco da militância e não se tinha a sensação de estar a iniciar uma "carreira política". Quase sempre se pensava que os resultados práticos da luta, mesmo que fosse o simples derrube do regime, se verificariam a muito longo prazo.
Há uma grande diferença entre nós no que toca ao estatuto social das nossas famílias. Ao contrário de Zita eu não precisei de aprender o que é a pobreza pois nasci numa casa muito modesta. Numa casa onde os livros se contavam pelos dedos de uma mão e em que os donos dos livros dificilmente os conseguiriam ler.
Em Maio de 1967 Zita passa à clandestinidade no PCP. Exactamente um ano depois, a 1 de Maio de 68, eu sigo uma orientação do Partido quando parto para a guerra na Guiné em vez de emigrar.
Qualquer de nós acaba, à sua maneira, por ficar longe da "vida normal" por alguns anos. Por exemplo o Maio de 68 e tudo o que se lhe seguiu foi vivido por mim numa remota Guiné, sem rádio, sem televisão e com jornais que chegavam semanas depois.
Estou convencido de que, enquanto animais sociais, continuamos a pagar o preço desse vazio.
Voltarei mais tarde a tratar deste livro quando terminar a sua leitura e tiver percebido (!?) como é que uma mulher que viveu estas coisas pode ser militante activa de um partido como o PSD.
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