O ano em que a França entra para o «clube atómico», o ano, também, do inicio da «era Kennedy». Uma era curta... As primeiras pílulas contraceptivas são vendidas nos Estados Unidos e o grupo The Shadows impõe um «som inglês» na música anglo-americana. O advento da pílula fará certamente mais pela libertação sexual do que cem discursos na Sorbonne em 1968.
A 13 de Fevereiro, a França torna-se o quarto pais do «clube atómico», realizando o seu primeiro ensaio nuclear no Pacifico Sul.
No 1.° de Maio as relações Leste-Oeste sofrem mais um duro golpe: o piloto norte-americano Gary Powers é feito prisioneiro pelas autoridades soviéticas depois do seu avião espião U-2 ter sido abatido sobre território da URSS.
A 30 de Maio a Bélgica concede a independência do Congo. Lumumba torna-se o presidente do novo país, iniciando-se uma sangrenta guerra civil. A emancipação da África Negra passa por isto, pela violência, mas o que é certo é que, em dez anos, 32 novos países nascem naquele continente.
A 12 de Outubro realiza-se uma das mais dramáticas (e cómicas...) assembleias das Nações Unidas. Na sessão comemorativa do 25.° aniversário da organização, o Iíder soviético Nikita Kruschev abandona a sala depois de ter tirado um sapato e de ter batido violentamente com ele em cima da sua banca A reunião estava «quente», e as nações, bem longe de se acharem unidas.
Menos de um mês depois, a 8 de Novembro, John Kennedy é eleito presidente dos Estados Unidos, o 35 º da História, o mais jovem, também: contava 43 anos de idade. É também em 1960 que os EUA impõem o embargo a Cuba com o pretexto da nacionalização de bens americanos.
Na África do Sul dá-se o massacre de Sharpeville e a ilegalização do ANC. É criada a OPEP.
A família real britânica é «agitada» com o nascimento de André, a 19 de Fevereiro, e com o casamento da princesa Margarida com o fotógrafo Anthony Armstrong-Jones, a 6 de Maio.
Em Portugal, que é visitado por Eisenhower, verifica-se a fuga do Forte de Peniche protagonizada por Álvaro Cunhal e outros dirigentes do PCP.
A ONU condena o colonialismo português a 15 de Dezembro depois do levantamento de Mueda, Moçambique, que provocou dezenas de vítimas. Em Junho Salazar encontra-se com Franco em Mérida.
No desporto fala-se pela primeira vez neste nome: Cassius Cíay, medalha de ouro dos pugilistas pesos-pesados nos Jogos Olímpicos de Roma.
Em Itália, Fellini conclui «Dolce Vita» e em França nasce, com o cinema de Jean-Luc Godard, a expressão «nouvelle vague» que viria a marcar o cinema por muitos e bons anos. Os filmes do inicio da década, no entanto, chegam, ainda, dos Estados Unidos: «Psycho» e «Spartacus». Brigitte Bardot começa a rivalizar com Marylin Monroe: os europeus «descobrem» a sua nova vedeta.
Musicalmente, os Shadows começam a impor um «som inglês», e o tema «Apache» é um dos que dominam o top britânico durante o ano ao lado de «What Do You Want?» e de «Poor Me», de Adam Faith; «Cathy's Clown», dos Everly Brothers; «Please Don't Tease», de Cliff Richard; «OnlyThe Lonely», de Roy Orbison e «It's Now or Never*, de Elvis Presley.
Elvis Presley que, nos Estados Unidos, passa o ano com três temas no top: «Stuck on You», «Are You Lonesome Tonight ?» e o já citado «lt's Now or Never». Duas cantoras também se distinguem no top norte-americano: Brenda Lee e Connie Francis. Cada uma delas tem, ao longo do ano, duas canções na lista dos mais vendidos.
Outros nomes do top norte-americano: Chubby Checker («The Twist»), Drifters («Save the Last Dance for Me»), Maurlce Williams and the Zodiacs («Stay»), Marty Robbins («El Paso»), Johnny Preston («Running Bear») e o incomparável Ray Charles com «Georgia On My Mind».
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Esta cronologia dos anos 60, que vai prosseguir, pretende repor o equilíbrio quanto à sobrevalorização do Maio de 68 neste ano do seu quadragésimo aniversário.
Basta olhar para a cronologia dos anos 60 para perceber que, antes dele, já tínhamos tido a pílula, os cabeludos Beatles, as latas de Andy Warhol, o mito de Che Guevara, a firmeza de Martin Luther King e de Mandela, o génio de Felini e Antonioni, a mini-saia, o "flower power", S. Francisco, "The times they are a-changin", etc, etc, etc.
Razões sentimentais e desígnios políticos, que passam pelo regresso a um passado mítico, explicam os exageros actuais sobre o Maio de 68, desenquadrando-o da década em que se insere e atribuindo-lhe a autoria de mudanças que lhe eram anteriores. Do mesmo passo omitem-se as consequências catastróficas que, no plano político, resultaram dos "espontaneismos" inconsequentes que tanto reconfortam hoje os orfãos das utopias.
Se é verdade que Sarkozy não poderia ter divorciado e casado de novo sem o Maio de 68 também podemos perguntar se ele teria chegado a ser eleito sem o susto burguês do Maio de 68.
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