Wednesday, May 14, 2008

One pill makes you larger

Ontem, num comboio da Fertagus, um homem sentado ao meu lado foi aproximadamente vinte minutos a olhar para um puzzle sudoku recortado de um jornal. Só quase no fim da viagem me apercebi que ele estava a resolvê-lo - preenchendo os quadradinhos mentalmente, sem o auxílio de lápis. Um feito que não é assim tão extraordinário, sobretudo se comparado com o dos que jogam xadrês sem auxílio de tabuleiro (como Najdorf), futebol sem auxílio de bola (como a selecção Sueca no Mundial de 1994) ou política sem o auxílio de hipóteses (como Pedro Santana Lopes), mas ainda assim digno de realce. Eu próprio me tenho fartado de escrever aqui nas últimas semanas sem o auxílio de mim próprio; espero que tenham conseguido ler tudo sem o auxílio de letras.
Tudo isto para dizer que gostei muito deste post do Julinho:

«Enfim, claro que desde que rererererevi o Hatari! na televisão no início do mês (e que, claro, ao contrário da merda dos MIB ou do Ishtar ou do Evita, não vai repetir, pelo menos este mês, para poder finalmente gravar, embora nunca veja filmes gravados, mas às vezes gosto de saber que estão lá), tenho andado a ouvir as pessoas na rua a tratarem-me casualmente por bwana. Confesso que me pareceu inusitado de início, mas a verdade é que quando lhes digo para continuarem a fazer a sua vida como se o meu extraordinário poder de atracção carismática sobre eles não existisse, eles cumprem-no escrupulosamente. Estranhamente, quando me faço à população nativa é que a coisa não corre muito bem. Talvez porque não estava no guião, talvez porque não fosse uma fantasia colonial. É o problema de ficarmos cativos, por razões que não nos interessa explorar, em filmes que nos acompanham seguros desde o tempo em que as tardes de fim-de-semana da RTP1 tinham cinema clássico: não há margem de improvisação para um destino cujo fado é o de não se cumprir.»

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