O debate entre os candidatos à liderança do PSD no Jornal da Noite da TVI - competentemente moderado por Pedro Santana Lopes - foi útil em pelo menos um aspecto: permitiu que todos os participantes apresentassem uma versão reduzida mas não-adulterada da sua essência. Manuela Ferreira Leite, maquilhada pela mesma equipa de profissionais que transformou Cate Blanchett em Bob Dylan, falou menos e fez mais sentido, recorrendo ao seu expediente retórico habitual: declarar um domínio insuficiente sobre este ou aquele dossier, para logo na frase seguinte, insinuar toda uma galáxia de conhecimentos apreendidos sobre o mesmo dossier; tendo lido cento e quarenta mil páginas de relatórios sobre o TGV, a dra. Ferreira Leite está agora a apenas sessenta mil páginas de formar uma opinião sobre o assunto. Passos "the Voice" Coelho, que passou ao lado de uma grande carreira a passar trip-hop e música ambiente nas noites da RFM, teve direito a mais minutos do que qualquer outro candidato. Não retive uma única palavra do que disse, mas concordei com tudo, embora me pareça que os seus assessores devam insistir neste ponto no futuro: sempre que Passos Coelho falar, deve ser acompanhado por uma secção de cordas, e imagens de arquivo de florestas, nevoeiro e quedas de água. Patinha Antão mostrou notável contenção, resistindo heroicamente à tentação de chamar idiotas a todos os presentes. Gore Vidal costumava dizer que não havia problema no Mundo que não pudesse ser resolvido se lhe pedissem a opinião. Patinha parece alimentar a mesma convicção, mas com uma diferença crucial: não nos basta pedir a sua opinião - devemos implorá-la, espojados no chão, enquanto gememos e esfregamos gravilha no cabelo, até que ele aceda em resmungar alguma luz sobre o problema. Tenho um tio que se comporta exactamente como Patinha Antão e ninguém na família fala com ele. Vive hoje na Damaia, protegido por rotundas inegociáveis, e a única pessoa que o atura é uma mulher-a-dias da Eslováquia.
Tendo em conta a curta mas sólida tradição dos militantes do PSD em escolherem o candidato transtornantemente menos qualificado, um facto parece-me agora incontornável: o principal adversário do engenheiro Sócrates nas próximas eleições vai ser Manuela Moura Guedes.
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