Aqui ficam alguns contributos para quem queira formar opinião:
1. A utilização da gasolina e do gasóleo não são exclusivo dos "irresponsáveis ecológicos" que se entretêm a dar umas voltas com a namorada, como o governo dá a entender.
Milhões de trabalhadores, de todos os níveis salariais, dependem todos os dias dos seus automóveis ou dos autocarros e outros transportes públicos que funcionam com combustíveis derivados do petróleo.
Há também um gigantesca cadeia logística que chega a milhares de vilas e aldeias, ao longo do território, que leva os jornais, o correio, os medicamentos e as mercadorias e trás de lá tudo o que os seus habitantes pretendam enviar para o mundo.
2. Ao contrário do que irresponsávelmente se pretende fazer crer a situação descrita anteriormente não é passível, a curto ou médio prazo,de ser substituída por outra muito mais favorável do ponto de vista energético (o que não significa que os esforços para tal não devam fazer-se desde já).
Se todos os utentes de carro próprio decidissem de um dia para o outro passar a usar os transportes públicos nas grandes cidades o caos resultante demonstraria como tais teses são descabeladas.
O mesmo se passa com a rede logística pois a esmagadora maioria das povoações não é servida por qualquer transporte alternativo.
Ao contrário do que insinua o governo, o cidadão comum não tem realmente o poder de decidir, num acto de abnegação, salvar o país através da mudança dos seus "reprovaveis" hábitos.
3. Perante a escalada dos preços do crude os países que continuam a depender do petróleo em larga escala são obrigados a transferir uma parte crescente da sua riqueza para quem o comercializa. É uma inevitabilidade.
Se para além disso o Estado, nesses países, sobrecarregar o preço já de si elevado dos combustíveis com alcavalas e impostos então, para além do empobrecimento acima referido, haverá um outro resultante da perda de competitividade internacional e do definhamento da economia respectiva.
Em termos comparativos os produtos de cada país irão reflectir o peso dos derivados do petróleo na sua estrutura produtora e distribuidora. Das fábricas sairão produtos mais caros e o transporte desses produtos até aos clientes, nacionais ou internacionais, aumentará ainda mais a diferença para os seus concorrentes.
Ou seja, pode haver países que não sendo produtores de petróleo apesar disso beneficiem do agravamento dos preços. O exemplo da Espanha e de Portugal, com níveis de impostos bastantes diferentes, ajuda a perceber esta ideia.
4. A mobilidade é a circulação sanguínea da economia mas também da vida em sociedade e condição das liberdades individuais. Não é admissível o cenário das populações acantonadas nas suas vilas e cidades, num retorno à idade média, com trocas esporádicas e voltando cada um a viver do que produz. Mas também não se podem tornar inviáveis as viagens com o intuito de ver espectáculos, receber formação ou conhecer novas experiências.
Ao pôr em causa a mobilidade piora-se também as condições, económicas e outras, que deveriam propiciar o desenvolvimento de energias alternativas.
5. A mobilidade é um bem que tem que ser absolutamente preservado, mesmo que o Estado tenha que sacrificar algumas outras das suas funções menos importantes.
Quando a mobilidade estiver em causa pelo facto de o Estado precisar dos impostos que cobra na venda dos combustíveis então isso significa, provavelmente, que o Estado está a gastar demais ou a gastar mal; que o Estado está a viver acima das suas possibilidades.
Quadro publicado no blogue "Fumaças" em 26.05.2008
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