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Esta coisa do Acordo Ortográfico parece-me ser mais um não-problema.
Como quase tudo no nosso país está a ser tratado como uma disputa entre claques.
Depois de ouvir e ler muito sobre o tema cheguei à conclusão de que não virá ao mundo nem grande bem, nem grande mal, por causa deste acordo.
Ele é fundamentalmente um sinal diplomático, um gesto simbólico com o qual eu estou totalmente de acordo. É preciso pensar largo, universalmente, tendo sempre em mente a comunidade mundial dos falantes.
Depois há um outro nível de irrelevância da ortografia. Trata-se de uma “lei” sem sanções. Passada a fase dos ditados escolares cada um escreve como calha e não sofre qualquer sanção por isso. Até nos meios de comunicação e nos documentos oficiais podem encontrar-se "variações" ortográficas que não invalidam as notícias nem os contratos.
No plano da comunicação pode argumentar-se que algumas regras têm que ser respeitadas sob risco da incomunicabilidade. Mas também é verdade que certas manipulações da ortografia enriquecem a comunicação, em vez de empobrecer, pela sugestão de novas semânticas.
O mesmo se passa aliás com a sintaxe que, a ser sempre respeitada, limitaria gravemente a linguagem poética.
Num mundo ideal cada pessoa deveria, em cada momento, ter liberdade para gerir a sua comunicação através do equilíbrio entre a inteligibilidade, a ortografia criativa e a linguagem poética. A “ortografia oficial” seria usada nos documentos formais ou de carácter científico.
Estas dissertações foram desencadeadas pelo texto de Rui Tavares no Público de 14 de Maio (ver aqui), que recomendo, intitulado "Uma boa decisão". Diz ele a abrir:
“Vasco Graça Moura escreveu um poema celebrando o sexto aniversário do blogue de Pacheco Pereira, cujo título é Abrupto, e aproveitou a ocasião para lhe lamentar a queda do "p" pelo novo acordo ortográfico, jurando que havia de pôr luto se o abrupto ficasse abruto. É bonito, sim senhor. Mas não é verdade: o "p" em abrupto não é uma consoante muda e, pronunciando-se, continuará na palavra escrita.
Aproxima-se um dia decisivo para a questão ortográfica e a confusão, voluntária ou involuntária, é geral. A confusão, acima de tudo, dá jeito. No meio disto, até há quem pense que o que está em discussão é Portugal ratificar ou não o Acordo Ortográfico. Mas não é.
Portugal já ratificou o Acordo Ortográfico. Há mais de 15 anos. Aquilo que na sexta-feira se votará no Parlamento português é uma modificação que se introduziu, entretanto, para permitir a entrada de Timor-Leste e aceitar que o acordo entre em vigor depois de ratificado por três países.”
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