Tuesday, May 27, 2008

As alternativas de André Freire



André Freire publicou ontem um texto com título prometedor, " Crise do capitalismo neoliberal: alternativas". Respigo do Público:

Vivemos de novo a "estagflação", agora sob a hegemonia do neoliberalismo. Estaremos de novo em fase de mudança de paradigma? No artigo citado, expressei algum cepticismo e preocupação: "O nosso (do Ocidente, da Europa, do mundo) maior problema é a dificuldade em se afirmarem alternativas ao capitalismo neoliberal." Exemplifiquei com um editorial de Manuel Carvalho (PÚBLICO, 6/04/08), no qual este reconhecia os males do capitalismo desregulado, mas, simultaneamente, não perspectivava quaisquer alternativas. Prometi, por isso, reflectir sobre as alternativas: é o que venho fazer, de uma forma necessariamente esquemática e nada exaustiva.

Como tenho andado, desde há vários anos, a clamar e a escrever acerca da inexistência de tais alternativas fiquei interessadíssimo em perceber até onde as reflexões de André Freire o teriam levado.
Como é comum nestas coisas seguiu-se a decepção.
O tema não se presta a atenções repentinas e portanto o texto não passa de mais uma piedosa declaração de intenções.
Cita as propostas da Attac, que como todos sabemos são apenas paliativos, e também os economistas Thomas Palley e Ha-Joon Chang que algures enunciaram vagas propostas de moderação do "capitalismo selvagem".
Esta obsessão de certa esquerda (incluindo Mário Soares) relativamente ao capitalismo "selvagem", "desregulado" ou "neoliberal" e não ao capitalismo tout court, sem adjectivos, é muito elucidativa quanto à sua falta de horizontes.
Mostra duas coisas:

(1) condescendência para com o capitalismo tout court que parece só incomodar quando se constipa com alguma "selvajaria"
(2) falta de trabalho para compreender os mecanismos próprios do capitalismo na sua forma actual já que o concebe como uma aberração

Por isso André Freire termina a sua "reflexão" no mesmo ponto onde a começou:

Perante os sucessivos problemas do capitalismo desregulado, é urgente pensar nas alternativas. O jornalismo de referência tem aqui um papel fundamental, caso contrário estará a funcionar, voluntária ou involuntariamente, como um mero reprodutor das ideias dominantes. Mas os cientistas sociais que não se revêem no mainstream neoliberal têm também uma certa responsabilidade na fraca divulgação destas alternativas: mais empenhamento cívico precisa-se! As alternativas podem ser de difícil exequibilidade, sobretudo no curto e médio prazo, pois implicam uma alteração nas orientações políticas das grandes potências e das instituições internacionais (UE incluída), mas existem. Mais, ou reflectimos sobre elas e pensamos nas vias mais curtas e pragmáticas para a sua implementação, ou corremos o risco de, perante uma recessão mais cavada ao nível mundial, se entrar numa profunda deriva proteccionista e, quiçá, num novo conflito bélico mundial.

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