Sunday, February 19, 2006

O desemprego veio para ficar


O desemprego voltou a subir no último trimestre do ano passado e chegou aos oito por cento da população activa. Este valor, divulgado no dia 14 pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), equivale a 447 mil desempregados e corresponde a mais do dobro do registado no final de 2000, quando a taxa era de 3,8 por cento.
Notícias da Amadora


A verdade é que é cada vez mais difícil ter uma actividade lucrativa com base no trabalho assalariado.

Marx definiu as noções de valor e de mais-valia como sendo originados no acto da produção mas não explorou muito a questão da sua realização. Por outras palavras: a mais valia produzida só se traduz em lucro para o capitalista se ele vender a produção e realizar o valor que o trabalho criou.
Do ponto de vista do capitalista, do “empregador”, é irrelevante que os trabalhadores tenham gerado uma enorme mais valia se não lhe for possível fechar o ciclo D-M-D’ com um D’ muito maior do que D.
Marx falou do trabalho produtivo e do trabalho improdutivo mas “esqueceu-se” de falar do trabalho lucrativo.

A principal transformação dos pressupostos económicos com que Marx trabalhou será provavelmente esta, que os capitalistas se preocupam cada vez mais com a realização da mais-valia, quando acedem ao mercado como vendedores, e cada vez menos com a geração da mais-valia durante a fase da produção. Para o capitalista não faz sequer sentido distinguir entre a geração e a realização da mais-valia pois a ele só o satisfaz o resultado final dos dois processos.

Na medida em que se consome cada vez mais produtos “superfluos” em vez de produtos “indispensáveis” a concorrência tende a ser cada vez maior e não abranje só os produtos similares nem só os produtos com origem geográfica identica.
O capitalista vê-se portanto forçado a reagir ao nível dos preços e ao nível da atractividade dos seus produtos.

Neste processo as tecnologias digitais são um instrumento que tanto pode ser usado para a automatização de tarefas, com dispensa de trabalhadores, como para o suporte informativo do trabalho não-repetitivo em que se baseiam os esforços de realização da mais-valia.
Em qualquer dos casos o desenvolvimento empresarial, sustentado no aumento da produtividade e nos factores de diferenciação, significará sempre a redução do trabalho assalariado.

Por essa razão são totalmente ilusórias as políticas de redução do desemprego como por exemplo o "Plano Tecnológico" sem que se verifique uma alteração do quadro económico actual.

Parece evidente que um quadro económico de novo tipo trará consigo relações de produção também de novo tipo.

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