Thursday, July 27, 2006

Física em Berlim

Uma adaptação deste texto foi publicada na edição de terça-feira do Público.

Começou ontem o 11º Encontro Marcel Grossmann na Universidade Livre de Berlim, na Alemanha. Estes encontros, organizados pelo Centro Internacional de Astrofísica Relativista (ICRA) desde 1975, têm como objectivo a discussão e apresentação dos mais recentes desenvolvimentos em Relatividade Geral Teórica e Experimental, Gravitação e Teoria de Campo Relativista, facilitando a comunicação entre cientistas. A presente edição conta com cerca de 950 participantes de todo o mundo.
Dentro das principais palestras encontram-se tópicos que têm tido desenvolvimentos recentes notáveis como a relação entre a Cosmologia e as Teorias de Supercordas, as Supercordas Cósmicas, o Buraco Negro no Centro da Nossa Galáxia. Serão também apresentadas as futuras grandes experiências internacionais em Astronomia e Astrofísica, como os detectores de ondas gravitacionais por interferometria laser LIGO (na Califórnia) e VIRGO (na Itália), a Antena Espacial por Interferometria Laser LISA e o observatório de neutrinos de alta energia de um quilómetro cúbico de volume IceCube, a instalar nas profundidades do gelo da Antárctida.
No decorrer do encontro, que terá a duração de uma semana, são ainda atribuídos os prémios Marcel Grossmann por parte do ICRA. Este ano os galardoados são o físico teórico Roy Kerr e os astrofísicos George Coyne e Joachim Trumper. Roy Kerr, da Universidade de Canterbury na Nova Zelândia, foi premiado "pela sua contribuição fundamental para a teoria de Einstein da Relatividade Geral". Kerr descobriu uma solução das equações de Einstein que modela o campo gravitacional criado por um corpo com massa e em rotação, generalizando o trabalho anterior de Schwarzschild, somente para corpos que não rodavam. A solução de Kerr pode também ser aplicada à descrição de buracos negros, algo necessário visto que estes objectos são em geral criados a partir do colapso de estrelas que também rodam.
George Coyne, Director do Obstervatório do Vaticano situado na Universidade de Tucson, no estado americano do Arizona, foi premiado "pelo seu apoio e dedicação ao desenvolvimento internacional da Astrofísica Relativista, e pelo seu estímulo a uma relação esclarecida entre a ciência e a religião".
Joachim Trumper, antigo director do Instituto Max Planck de Vida Extraterrestre, em Garching, na Alemanha, recebeu o prémio "pelas suas excepcionais contribuições para a física dos objectos astrofísicos compactos e pela sua liderança da muito bem sucedida missão ROSAT, que descobriu mais de 200 000 fontes de raios X galácticas e extra-galácticas, um grande passo nas capacidades observacionais da astronomia de raios X e no conhecimento do Universo".
O encontro tem o nome de Marcel Grossmann em homenagem ao distinto matemático suíço, colega de Universidade e grande amigo de Albert Einstein. Foi através do pai de Grossmann que Einstein arranjou o seu emprego numa repartição de patentes em Berna, por volta de 1905, altura em que formulou a relatividade restrita, o efeito fotoeléctrico e o movimento browniano. Grossmann entrara como assistente na Universidade em Zurique, algo que Einstein não conseguira. Seria Grossmann a ensinar a Einstein alguns dos aspectos de cálculo tensorial que se revelariam decisivos na formulação da relatividade geral, tendo ambos colaborado em alguns artigos preliminares. Mas o grande público terá sobretudo ouvido falar de Grossmann como o colega de Einstein que lhe facultava os apontamentos das aulas a que este sistematicamente faltava...

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