Friday, November 30, 2007
Um Europeu sem inglês
Eu não tenho nada contra a língua inglesa, bem pelo contrário: uso-a todos os dias no meu trabalho, e vivi e estudei num país de língua inglesa. E é útil haver uma língua em que todos podemos comunicar. Esta ideia é talvez um bocado parva e inconveniente, pois é, mas não vos apetece variar do inglês de vez em quando?
Bota de ouro
O simplesmente genial Rui Miguel Tovar, no Record de hoje (juro, está na página 42). Ignoremos os autogolos gramaticais e concentremo-nos no essencial: aquele prodigioso golpe de casting revisionista.
Thursday, November 29, 2007
Ódio e auto-destruição
A história, que sob várias formas se converteu em mito urbano desde meados do século XIX, supostamente ocorreu por volta de 1800.
Opõe Todd, barbeiro que trabalha por conta própria, a dois representantes da burocracia judicial. O poder do estado é usurpado e exercido por estes contra Todd para, remetendo-o a um degredo injusto, se apropriarem sexualmente da sua mulher e da sua filha.
É portanto a impunidade desta casta de servidores do estado que desencadeia a revolta brutal de Sweeney Todd. Um tema moderno em certo sentido.Passa assim ao lado da visão mais comum sobre a luta de classes. Não há propriamente exploradores e explorados no sentido directamente económico do termo.
Impotente nas suas tentativas para castigar os agressores e enlouquecido pelo ódio, Todd decide massacrar indiscriminadamente qualquer homem que ponha o pescoço ao alcance da sua navalha. Essa produção constante de carne fresca excita o faro comercial da senhora Lovett, senhoria de Todd. Assim nasce uma florescente parceria empresarial que usa a matéria-prima criada na barbearia do primeiro andar para encher as empadas da senhora Lovett no rés-do-chão. É o período mais feliz e divertido do espectáculo.
Os espectadores dão por si a simpatizar não só com um "serial killer", que Mário Redondo serve de forma emocionante ao colocar a voz num registo sombrio, mas também com uma actividade hoteleira que mereceria, sem qualquer dúvida, ser visitada pelos piquetes inspectivos da ASAE. Somos portanto obrigados a interrogar-nos sobre as razões dessa simpatia.
Nós sabemos que não se trata de verdadeiros crimes, apenas a sua representação, e portanto a simpatia por Todd demonstra que se obteve neste ponto um efeito de distanciação. As atrocidades cometidas contra "cidadãos inocentes", feitas desta forma distanciada, poderão também introduzir a ideia de que ninguém é inocente quando a violência da burocracia campeia. Tal violência devia ser por todos denunciada e contestada.
A simpatia pelo negócio da senhora Lovett, suscitada por "árias" engraçadíssimas e pela excelente representação de Ana Ester Neves, radica talvez no puro gozo de ver nascer, ao vivo, uma inovação comercial. Inovar, inovar sempre, é o grande mote dos tempos de hoje. A senhora Lovett mostra que tal receita pode ter muito que se lhe diga mesmo quando as vendas disparam, como é o caso.
A cenografia introduz um "mundo" que é tanto estrutura em ferro como labirinto. A movimentação mecânica remete adequadamente para a época retratada.
O nível geral dos cantores é excelente e inclui o consagrado Carlos Guilherme bem como Marco Alves dos Santos, Sílvia Filipe, Carla Simões, José Corvelo e Henrique Feist, sob a direcção do maetro João Paulo Santos que dispensa apresentações.
O meu único reparo a este espectáculo é o subaproveitamento dos belos coros por falta de amplificação das vozes.
Quanto ao mais recomendo vivamente.
No Teatro Aberto mostra-se, musicalmente, como o ódio indiscriminado às pessoas e à sociedade não passa afinal de um processo de auto-destruição.
João Guerreiro, Jovem do Ano 2007
E o João, meu aluno, foi eleito. Há que dizer que teve uma divulgação e apoio que nenhum outro candidato teve (que eu tenha visto). Mesmo assim fico satisfeito por os portugueses terem premiado um feito na área da ciência, para variar.
Na aula de hoje vou dar-lhe os parabéns. Não por ter ganho uma eleição na rede. Mas sim por ser um craque a Matemática e a Física e por ser um bom colega, conforme posso observar. (E por ter derrotado o João Pereira Coutinho...)
(Nota: o João é aluno da LMAC, mas eu teimosamente continuo a arquivar estes textos no arquivo da LEFT...)
Wednesday, November 28, 2007
Se isto não é a canção do ano, não sei qual será a canção do ano
Sonic Youth - «I'm Not There»
(p.s. 1: O Lifelogger é realmente muito prático e amistoso. Agradecimentos a todos os que o recomendaram, em especial ao Irmão Lúcia, a quem só faltou explicar-me todo o processo com bonifrates e lápis de cera.)
(p.s. 2: E vocês aí, não me metam em sarilhos, por favor. Já deixei queimar um arroz de pato por me ter distraído a pensar nessa brincadeira. A minha primeira reacção foi a óbvia: numa quinella irlandesa seria indiferente a ordem dos dois cavalos na aposta, que é uma each-way efectiva sem o mesmo investimento. Mas a maneira como a pergunta é formulada torna esta resposta um bocadinho ridícula. O que se pretende é um benefício objectivo de apostar num cavalo que se sabe não ter hipóteses - independentemente de a aposta ser win-win, de lugar ou each-way. E no sistema parimutuel, isto só faz sentido se envolver um esquema daqueles praticados por mafiosos das Midlands, cujo nome é quase sempre Robbie ou Dave, e cujas unhas são quase sempre da mesma cor dos sapatos. Por exemplo, apostando maquias avulsas a intervalos irregulares nas cabines da pista para inflacionar artificialmente o preço de um cavalo manco e vesgo - aproveitando depois as ofertas daltónicas das grandes agências off-track, que monitorizam o galope das cotações de pista de uma forma surpreendentemente superficial, e cuja preocupação com oscilações súbitas é subordinada à preocupação de poder continuar a prometer aos seus clientes percentagens idênticas sem o peso da breakage. Quer-me parecer que este hipotético esquema teria maiores probabilidades de sucesso antes do advento das betting exchanges online, mas neste ponto, como em tantos outros, é perfeitamente plausível que esteja a dizer um grande disparate, até porque a questão original pode partir de uma idiossincrasia do sistema de apostas americano que desconheça por completo. Parece-me igualmente pertinente salientar que eu agora me dedico mais à fruta.)
A sul do Tejo nem a natureza funciona
O que importa é morder o cão
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Eu, o moderador
Assisti a um diálogo semiprivado entre os dois. O meu professor perguntou ao jornalista: “Então o que estás aqui a fazer?” O hoje eurodeputado respondeu, algo hesitante: “Bem, eu sou o moderador...” O hoje ministro atirou: “Moderador? Mas tu alguma vez moderaste alguma coisa na tua vida? Tu precisas é que te moderem a ti!”
Vem isto a propósito do simpático convite que o MISTA me endereçou para moderar o debate de hoje à tarde, sobre as eleições para a Assembleia Estatutária da Universidade Técnica de Lisboa. Se alguém me perguntar se alguma vez moderei algo na minha vida, posso sempre referir este debate. Só espero é que ninguém me diga o que o ministro disse ao eurodeputado...
Tuesday, November 27, 2007
Boa ou má jornada?
Faz sentido falar de Socialismo ?
El ministro del Interior y Justicia Jesse Chacón negó que durante el gobierno liderado por el Presidente Hugo Chávez se hayan cometido 90 mil decesos en todo el territorio nacional como consecuencia de la inseguridad, tal como lo señalan algunos sectores de la oposición.Según el titular del MIJ el número real de muertes es de 60 mil, de acuerdo a cifras suministradas por la Ong Centro por la Justicia y la Paz. “Es mentira que en este período es donde más ha aumentado el delito y eso ha quedado demostrado a través de las estadísticas”.Precisó que fue durante el segundo gobierno de Carlos Andrés Pérez cuando se incrementó el delito en casi un cien por ciento. “En ese momento se pasó de 13 a 21 homicidios por cada 100 mil habitantes; y entre los años 1997 y 2000 pasamos de 19 delitos a 33 por cada 100 mil habitantes”.Chacón explicó que entre el 2001 y 2005 el delito por cada 100 mil habitantes creció de 35 a 37. “Hubo un aumento en los años 2002 y 2003 que elevó a 44 homicidios por cada 100 mil habitantes, pero no por errores en la política de Estado, aquí está inmerso el golpe de Estado y el paro petrolero”.
Radio Nacional de Venezuela, 7 Noviembre 2006
La policía judicial venezolana registró 9,568 homicidios, la mayoría a tiros, en los primeros nueve meses del año, 852 más que en igual periodo de el 2006, según datos divulgados ayer por la prensa caraqueña.La cifra explica la razón por la que casi todas las encuestas hechas en el transcurso del año indican que la inseguridad es para los venezolanos el principal problema del país, por encima del desempleo, la corrupción o la falta de vivienda.
Venezuela Real, 25 de octubre de 2007
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Estou certo de que os assassinatos não começaram com Chavez nem seria justo exigir-lhe que resolvesse o problema no tempo em que esteve no poder.
Estes 30 assassinados por dia levantam outra questão.
Sendo as coisas como são na Venezuela, numa sociedade com tais níveis de insegurança e falta de respeito pela vida humana, faz algum sentido falar de "Socialismo do Século XXI" ou mesmo de Democracia ?
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Monday, November 26, 2007
Tenham a bondade de me auxiliar
Dos benefícios criativos da escritura de compra e venda
- Gore Vidal, "The Golden Bowl of Henry James"
(Larga lá a volumetria: pelos meus cálculos, tens uma janela de 3 meses para completar projectos estagnados.)
Miguel Sousa Tavares
O Regresso do Malabarismo
Trata-se de alguém que maneja muito bem a cartilha dos direitos humanos, quando isso lhe dá jeito, mas a quem não me lembro de ter ouvido alguma vez uma ideia que fosse simultâneamente interessante e original.
A falta de rigor, a inconsistência, a volubilidade, a malbaratada capacidade para cavalgar os ares do tempo fizeram dele um monumento que os portugueses só em 2006 foram capazes de apear.
Só ele poderia dissertar sobre o "comunismo duro e puro" da China, tão puro que segundo ele se mistura com o já famoso "capitalismo selvagem", na mesma entrevista ao DN em que relata como agenciou negócios do petróleo, a partir de relações políticas, em favor de uma empresa que paga uma avença à sua Fundação.
Só ele "gostaria que o PS agora se voltasse um bocadinho mais para a esquerda" frase que é, só por si, um verdadeiro tratado de oportunismo e de falta de rigor. Se fosse proferida por Santana Lopes daria chacota durante um mês. Assim se compreende porque não o incomodam as relações "de simpatia e de amizade" com Chavez.
Como se isto não bastasse temos agora a "reacção" do PS, pela voz do inacreditável Vitalino Canas: "À medida que os problemas forem sendo ultrapassados, é claro que a dimensão à esquerda poderá ser mais visível, isso virá com o tempo".
Duma penada, aprofundando a tese de Soares, confirma que a resolução dos problemas do país só pode ser obtida com "políticas de direita" e que depois, quando já houver recursos, cabe às "políticas de esquerda" desbaratá-los.
Que é esta a teoria vigente, em surdina, já todos sabíamos. Infelizmente não é só no PS e na direita tradicional.
Agora dizê-lo com esta candura, com esta inconsciência... é obra.
É o regresso do Grande Malabarista. A verdade é que chegou a época dos circos de Natal...
Sunday, November 25, 2007
A melhor da semana passada - 15
O primeiro-ministro Sócrates é uma pessoa que me surpreendeu muito positivamente. Quando entrou no Partido Socialista, jovem, era eu líder do partido. Pensei que ele fosse uma criatura do Guterres... Era a minha ideia, mas era uma ideia falsa. Estava errado. Ele não é uma criatura do Guterres. Ainda agora em Madrid disse isso ao Guterres.
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É assim: eu acho que passados estes dois anos - ele [José Sócrates] tem mais quatro até às próximas eleições em 99 [Mário Soares engana-se pois quereria dizer mais dois anos, até 2009] -, deve ter grandes preocupações, a partir de agora, com o mundo do trabalho. Deve dialogar com o mundo do trabalho.
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Bem, os grupos económicos são necessários. Mas eu acho que houve uma vaga neoliberal vinda da América. E essa vaga neoliberal é uma ideologia. Quando disseram que acabaram as ideologias... realmente acabou o comunismo por implosão, acabou o nazi-fascismo porque foi derrotado, mas veio o neoliberalismo, que é uma outra ideologia perniciosa para a América, em especial, e para o mundo, também para a Europa. Houve uma vaga que entrou...
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Não fui, não fui eu, porque eu nunca aceitei que tenha metido o socialismo na gaveta. Quem inventou isso, claro, foi o Partido Comunista, que disse que eu estava a meter o socialismo na gaveta. Porque, realmente, há tempos para tudo.
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E eu respondi-lhe: "Olhe, ó meu caro amigo, o senhor governador faça favor, para a próxima vez, não me acorde às duas da manhã, porque se é a bancarrota eu tenho de estar lúcido amanhã de manhã e, portanto, preciso de dormir agora. Deixe- -me lá dormir." Bem, não houve bancarrota. Mas estivemos muito próximo, realmente.
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A China preocupa-me mais do que a Rússia, curiosamente. Porque a China, infelizmente, é a combinação de dois regimes, os piores. Tirou o pior do comunismo, que é um comunismo duro e puro, dominado pelo Politburo. E tirou do capitalismo o pior que tem, que é o capitalismo selvagem que não se interessa pelas pessoas. Só se interessa em que a taxa de crescimento suba.
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E depois há outra coisa: é que os chineses apostaram e puseram a sua economia a comprar os títulos de dívida pública dos EUA. E isso parece muito inteligente à primeira vista. Mas a verdade é que eles agora estão cheios de títulos do Tesouro dos EUA, mas os EUA entrando numa situação difícil, de crise financeira, de crise de inflação, de aumento do desemprego, e, com o dólar a descer todos os dias, é evidente que isso cria um problema à China imenso.
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Acho que o aparecimento de novos partidos é possível. Apareceu o Bloco de Esquerda, pode aparecer outro bloco de direita. Podem estar em gestação muitas coisas, não sei se estão. Relativamente ao PS, eu gostaria que o PS agora se voltasse um bocadinho mais para a esquerda.
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Considero que tem sido uma figura discreta (refere-se a Cavaco) e que tem tido bastante bom senso na sua actuação. Aliás, era de esperar que assim acontecesse. Tem feito o seu papel com discrição. E bem. Até aqui.
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Ficámos (MS e Chavez) com relações bastante cordiais.Até posso dizer, talvez, de simpatia e de amizade. E eu falei uma vez nisso com o presidente da GALP, o engenheiro Ferreira de Oliveira. Ele é que foi verdadeiramente o cérebro e o herói desta coisa. Fez realmente a negociação e muito bem. É um grande técnico de petróleos e eu não percebo nada de petróleos,como é evidente.
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A Fundação Mário Soares tem as suas contas em dia mas não recebe dinheiro público. Ou, por outra, já tem recebido algum de empresas públicas mas não recebe propriamente dinheiro...A Fundação precisa de subsídios.
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Nós temos várias empresas, bancos e não bancos, que ou nos dão coisas pontuais ou se comprometem e dão um tanto por mês para a Fundação. A GALP está nesta categoria.
Extractos da entrevista de Mário Soares ao DN de 25 de Novembro 2007
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Se, como dizem, o Mário Soares é o pai da democracia portuguesa então confirma-se o velho ditado: "Tal pai, tais filhos..."
Saturday, November 24, 2007
Socialismo Pimba
Miguel Sousa Tavares diz, no Expresso desta semana, "Eu prefiro o Chavez":
"É verdade que um demagogo é sempre perigoso, mas um demagogo no poder num país como a Venezuela, mesmo com o petróleo, não pode fazer grande mal ao mundo. Um mentiroso, no poder num país como os Estados Unidos, pode fazer e faz".
MST está equivocado, a questão não é essa.
É precisamente para quem não gosta de Bush e do que ele representa que Chavez constitui um problema. Quase faz o Bush parecer um ser civilizado, uma pessoa de bem.
O Chavez e o seu socialismo pimba, movido a petróleo, é o pior compagnon de route que a esquerda podia desejar; é a demonstração mais cruel do impasse em que a esquerda se encontra.
É o equivalente do Alberto João para o PSD. Uma coisa que preferíamos que não existisse.
Basta ver uma conferência de imprensa de Chavez, em que só falta dar biberon ao neto, para perceber tudo. Faz esmola ao povo com as riquezas naturais do país como se se tratasse de uma magnanimidade pessoal que lhe desse o direito a presidir para sempre.
Wonders - Festival Europeu de Ciência
Friday, November 23, 2007
"Semana da Física" - balanço pessoal
Termina hoje a semana da Física no IST. Mais um sucesso, com as sessões de divulgação e a exposição do "Circo da Física" sempre cheias de curiosos, de dentro e de fora do IST, e sobretudo de alunos das escolas secundárias ("futuros caloiros", como alguém muito bem lembrava). Da minha parte, obrigado pela oportunidade de rever velhas experiências (e novas, que nunca tinha visto). Obrigado pelos simpáticos convites, pela oportunidade de falar do meu trabalho e de participar num debate sempre animado, de conhecer e ouvir alunos motivados (o melhor que a LEFT sempre teve) ...e obrigado pelo vinho! (O vinho tinto é o néctar oficial da LEFT.) Foi um bela recordação de uma bela semana. E viva a LEFT, sempre.
Os novos f.ONG.cionários públicos
Correio da Manhã, 21 de Novembro:
A Polícia Judiciária está a investigar a venda de bilhetes para jogos do Benfica numa banca do El Corte Inglés a um preço substancialmente inferior ao praticado no Estádio da Luz, noticiou ontem a SIC. Enquanto no estabelecimento comercial os ingressos eram negociados a cinco euros, nas bilheteiras do estádio eram vendidos a 20 euros. Ou seja, quatro vezes mais.
Neste ‘esquema’, o Benfica disponibilizava graciosamente mil bilhetes cuja receita revertia para a ADDHU, uma Organização Não Governamental cuja presidente, Laura Vasconcellos, é amiga do administrador do Benfica, Domingos Soares Oliveira.
Diário Digital, 20 de Novembro
Depois de ter denunciado uma possível intenção do Governo de levar ao encerramento dos ATL nas instituições de solidariedade social, o Padre Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS), anunciou, esta terça-feira, o fim do bloqueio do Governo, que terá «manifestado vontade» de resolver a situação.
Protagonista de acusações de «concorrência desleal» por parte das autarquias, o Padre Lino Maia reuniu entretanto com o ministro do Trabalho e da Solidariedade Social, ficando com a certeza, conforme afirmou à TSF, de que «vamos encontrar soluções bastante favoráveis que permitiram a permanência do ATL, não exactamente nos moldes em que se encontra, mas com serviços importantes para a família».
Diário Digital, 22 Novembro
A Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados pondera avançar com um queixa-crime contra o secretário de Estado da Protecção Civil por «ofensa ao bom-nome», caso este não retire declarações que fez sobre apoios do Governo à associação.
Em causa estão declarações do secretário de Estado da Protecção Civil, Ascenso Simões, proferidas há 10 dias, quando disse à agência Lusa que o «Governo apoiou [a associação] com 108.900 euros, no âmbito do Concurso de Segurança Rodoviária, que não foram gastos na íntegra».
Ascenso Simões disse ainda tratar-se da única instituição que não deu conhecimento do Ministério da Administração Interna das iniciativas a realizar.
De repente tomamos consciência da miríade de "organizações não governamentais" que nos rodeiam e dos problemas de dinheiros que lhes andam associados.
Todas estas ONG's parecem responder à paranóia catastrofista de uma civilização, a nossa, que funciona como se estivesse a extinguir-se, tema que já tratámos neste blog.
Instalou-se uma total incapacidade para lidar com assimetrias e riscos, como se uns e outros fossem passíveis de erradicação absoluta.
Por outro lado parece que qualquer tipo de "vítima" serve para lançar "iniciativas" neste tempo de falta de empregos e de caça ao subsídio.
Ou muito me engano ou aquilo que seriam, em teoria, manifestações saudáveis da sociedade civil acabam por ser, em muitos casos, formas encapotadas de agenciar interesses particulares dos mais variados tipos. Com financiamento pelo erário público.
Considero a este propósito paradigmático o testemunho "Na pele de um sem-abrigo" publicado no dia 17 de Novembro. Um repórter do «Expresso» introduziu-se num grupo de sem-abrigo na Estação de Santa Apolónia, em Lisboa. Durante 48 horas dormiu na rua e comeu na sopa dos pobres.
Numa só noite os sem-abrigo foram abastecidos de comida e agasalhos por três organizações diferentes: a "Comunidade Vida e Paz", a "Unidos pela Paz" e a "Legião da Paz e da Boa Vontade". Há qualquer coisa neste afã que não me cheira bem; no mínimo grassam a desorganização e a redundância.
Para quem quiser aprofundar deixo aqui uma pequeníssima lista, para dar um vislumbre da extraordinária variedade de organizações existente :
Associação A Nossa Âncora
Associação Contra a Exclusão pelo Desenvolvimento
Associação Nacional de Segurança e Socorro Rodoviário
Associação para a Promoção da Segurança Infantil
Associação Portuguesa de Apoio à Vítima
Associação Portuguesa de Famílias Numerosas
Associação de Utilizadores do IP4
GARE Associação para a Promoção de uma Cultura de Segurança Rodoviária
Rodar - Associação Portuguesa de Lesionados Medulares
APBA - Associação Portuguesa de Business Angels
APA - Associação Portuguesa dos Adeptos
APAI - Associação Portuguesa de Avaliação de Impactes
API - Associação Portuguesa de Iridologia
APPA - Associação Portuguesa de Pesca do Achigã e Defesa da Natureza
APS - Associação Portuguesa de Satanismo
APVGN - Associação Portuguesa do Veículo a Gás Natural
Associação Gaita-de-Foles
AMA - Associação Mulheres em Acção
APG - Associação Portuguesa de Greenkeepers
APPCPC - Associação Portuguesa de Psicoterapia Centrada na Pessoa e de Counselling
ASSOCIAÇÃO TAMPA AMIGA
CEPO - Associação dos Cépticos de Portugal
Estou a pensar inscrever-me nesta última...
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Thursday, November 22, 2007
Efficiency, efficiency they say
(Isto é tão, mas tão bom, que uma pessoa até lhe perdoa ter começado a trocar alguns dos soberbos "la-las" do refrão original por uns desleixados "na-nas". Será da idade? Possivelmente. E se o pior que a velhice nos reserva é começarmos a trocar "la-las" por "na-nas" podemos dar-nos todos por satisfeitos. John Cale é deste planeta e nós também: é preciso ter sorte.)
Barzã
(Já agora, o centenário é este mês.)
E a Inglaterra está fora do Euro 2008
Wednesday, November 21, 2007
Le feu au bobottin
Na semana da LEFT, uma "pequena produção cinematográfica bordalesa". Participa um amigo meu, antigo aluno da LEFT.
As ambições da Europa
Tuesday, November 20, 2007
Há sempre um maçarico que se atravessa no nosso caminho
Beirute
Ou o autor deste comentário anónimo se identifica (pode ser por mail) nas próximas 24 horas, ou faço mal ao coelhinho. Estou a falar a sério. Os comentários anónimos só têm graça quando não têm graça.
Monday, November 19, 2007
Vamos supor
Este homem é um Pynchoniano de armário.
(Não isto tenha alguma coisa a ver com nada, mas em Vineland, há uma banda chamada Billy Barf and the Vomitones, que é convidada por acidente para tocar num casamento de mafiosos, performance para a qual se preparam lendo o "Italian Wedding Fake Book", de Deleuze & Guattari. Uma das canções do set, com a participação especial da vocalista e ninjette semi-reformada DL Chastain, goes a little something like this:
Just a floozy with an Uzi. . .
Just a girlie with-a-gun. . .
When I could have been a mo-del,
And I should have been a nun. . .
Oh, just what was it about that
Little Israeli machine?. . .
Play all day in the sand,
Nothin' gets, jammed, under-
stand. . . what I mean?
So Mis-ter, you can keep your len-ses,
And Sis-ter, you can keep your beads. . .
I'm taking care of all my needs. . .
I'll lose my blues, in some Jacuz-zi,
Life's just a lotta clean fun,
For a floo-zy with an U-U-zi,
For a girlie, with-a-gun. . . )
Semana da Física 11
A melhor da semana passada - 14
Dilemas do pão
Público 16.11.2007
Passam a vida a assustar-nos e muitas das vezes com razão. Então não é que agora se descobriu que o pão, o nosso pão, a vulgar carcaça que há muito nos povoa as mesas e as mais variadas dietas, pode ser uma ameaça à nossa saúde? É verdade. Não tanto pelo pão, mas pelo excesso de sal com que o carregam. O dobro do que é habitual nos países europeus, esses nossos imaculados vizinhos de continente, todos eles plenos de regras, normas, medidas, padrões sadios e recomendações cumpridas a preceito. Portugal não, habituámo-nos a excessos e adoramo-los. Não nos basta andar tensos, também temos que ser hipertensos e como isso nem sempre nos está na massa do sangue, como é hábito dizer-se, foi parar à massa do pão. Pãezinhos sem sal, nunca. Por aqui, só com muito sal. Um estudo apresentado ontem, e a que o PÚBLICO já se referiu no início da semana, conclui que a maior parte do pão vendido em Portugal tem cerca de dez gramas de sal por quilo, o que significará que qualquer criatura que coma duas carcaças atinge facilmente a dose máxima de sal recomendada pelos médicos: 5,5 gramas. Como junto às carcaças vai sempre mais qualquer coisa (fiambre, presunto, queijo, manteiga) e como nas refeições mais substanciais do dia há quem chocalhe o saleiro com o vigor de um sino a toque de rebate, escusado será dizer que é como se bebêssemos directamente dos oceanos. Sal, na verdade, não nos falta. Fosse ele dinheiro e seríamos riquíssimos. Falando em dinheiro: parece que é por causa dele que o pão tem mais sal. Assim, retém mais líquido na fabricação, exige menos farinha e pode exibir o requerido peso sem grandes gastos. Por outro lado, também dá jeito a quem vende cerveja ou afins. Um dia ainda o põem em cubinhos ao lado dos tremoços. Quanto ao dinheiro poupado nestes artifícios, pode sempre ser gasto em cardiologistas. Se ainda se for a tempo, claro. "Ó pão salgado, quanto do teu sal são doenças de Portugal?" O jeito que nos dá a poesia...Jeito não é coisa que possa ser invocada para o problema que se segue, também ele relacionado com o pão. Por causa dos nossos imaculados vizinhos de continente, os tais das regras, medidas & etc., vai ser um problema continuar a fazer açorda. Uma norma qualquer, decerto higiénica e ponderada, proíbe que se deixe pão a secar de um dia para o outro e que se faça comida com ele. Por causa disso, e de outras normas igualmente severas, a Misericórdia de Faro teve de deixar a dieta mediterrânica e aderir à cozinha "plástica", onde tudo tem carimbo e certificado de garantia, pode não saber a nada, mas ao menos tem inscrita a validade. Os idosos, que remédio, lá tiveram que habituar-se. O problema é que havia o hábito semanal de fazer açorda. Mas como, se o pão seco vai contra as normas? Ou fazem açorda com pão mole ou deixam de comê-la.O sal é um problema, já se sabe. Mas banir a açorda ou as migas é uma calamidade cultural sem nexo. Um conselho: tirem sal ao pão mas deixem-no secar.E não digam a Bruxelas.
Nuno Pacheco
Sunday, November 18, 2007
Getting pressure from the Mayor
Fitzcarraldo (1982) – Tal como Apocalipse Now, com o qual tem algumas semelhanças oblíquas, é um filme que duplica o seu próprio making of, mas garanto que não vou aqui dizer mais nada de interessante sobre o assunto. Se o Rex Ingram se libertasse sozinho da sua lamparina troposférica, atravessasse três camadas atmosféricas, três áreas de descontinuidade, a ponte 25 de Abril e a louca corrida à fermentação a decorrer no meu quintal entre as laranjas mais timoratas e os exemplares mais inúteis do jornal Dica da Semana, se o Rex Ingram, dizia eu, se materializasse na minha cozinha, e me concedesse três desejos sem letrinhas minúsculas no contrato, é altamente provável que, antes sequer de ponderar uma propriedade com estábulos em Worcestershire ou a paz universal, eu lhe pedisse que Klaus Kinski fosse ressuscitado de propósito para gravar a mensagem de atendimento no meu telemóvel. Queria ver se o departamento de promoções da TMN não aprendia logo a respeitar-me.
They Live! (1988) – Depois da proto-abdicação de McCain, uma vitória de Giuliani nas primárias do Iowa é agora uma possibilidade, o que pode descarrilar a campanha de Romney muito mais cedo do que o esperado para um candidato com roupa interior à Bridget Jones. Fred Thompson incomoda-me profundamente; o homem faz James Spader parecer normal. Barack Obama continua a sua maratona ontológica, tendo bebido uma garrafinha de água mineral à beira do quiosque dos Rockefeller Republicans. John Edwards vai aperfeiçoando a sua imitação anti-sistémica de Dias da Cunha. Bill Richardson é o único Democrata que me faz rir pelos motivos certos. A mulher de Dennis Kucinich é extraordinariamente atraente, mas pelos motivos errados. (Eu votaria em branco, ou em McCain, o que é quase o mesmo).
The Big Lebowski (1998) – Talvez o melhor filme sobre advogados da história do cinema. Apesar da duração (cerca de sete horas) o espectador nunca se aborrece. A célebre sequência no tribunal, em que o promotor-público de Dallas interroga ferozmente o hirsuto anarquista porto-riquenho sobre a sua costela Habermasiana é um dos grandes momentos da carreira de Mário Viegas.
(Já vi o filme umas oito vezes, mas possivelmente nunca nas condições fisiológicas ideais).
Sunset Boulevard (1950) – Porque não conseguiria fazer melhor, passo a palavra ao maior vulto intellectual contemporâneo, George Steiner: « . . . [Sunset Boulevard] is a nineteen-fifty-something movie starring quite a few actors, produced by someone with money, and directed by someone else whose name is not worth bothering your pretty little head about. The main plot revolves around a group of people who interact with each other by way of talking and gesticulating. All this talking and gesticulating produces a few actions, which produce, in turn, some reactions. The movie starts at the end but gets a grip on itself and comes back, proceeding then in an orderly fashion from start to finish; along the way it passes through several points which could, when taken together, be described as “the middle”. Stuff happens throughout, and consequences to the happening of stuff are also shown. Sometimes, confusingly, different kinds of stuff happen almost at once: two or more people may be talking, or even talking and eating simultaneously, and all of a sudden there is a cut and in the next shot we see someone entirely different driving a car, or shaving, or burying a monkey. It gets pretty frantic up there on the screen, but after a couple of hours of all this stuff happening, stuff suddenly stops happening, meaning that the movie has ended, so, you know, whatever.» (George Steiner, Tiresias’ Curse, or Having Fun at the Movies, p. 328)
Passo esta corrente aos portugueses. Eles que decidam, em consciência.
As metamorfoses da propriedade
Este excerto do artigo de Wayne Crews e Alberto Mingardi "A política dos preços predadores" parece-me importante para se perceber o ritmo e profundidade das transformações a que estamos a assistir.
Bem pode o Sócrates andar a distribuir computadores ao domicílio.
O Governo e a UE parecem ainda não ter compreendido que a sociedade digital está muito para lá da questão tecnológica.
Friday, November 16, 2007
Um muro nas cabeças ?
Continuamos a ignorar as causas dos acidentes
Na sexta-feira 2 de Novembro ocorreu o trágico atropelamento junto ao Terreiro do Paço. Na segunda-feira seguinte, 5 de Novembro, mais dois terríveis acidentes em Tires e na A23 fizeram disparar, anormalmente, em poucos dias, o número de mortos para 45.Faz hoje duas semanas e continuamos sem saber o que realmente aconteceu.
A extraordinária cobertura mediática explica-se pela violência dos acidentes com desmembramento dos corpos, pelo envolvimento de idosos e crianças e pela existência de relações de parentesco entre as vítimas. Mas não têm surgido descrições objectivas e explicações racionais para o que realmente aconteceu. "As causas do acidente estão a ser estudadas" e receamos que nunca venham a ser claramente enunciadas para o grande público.Esse enorme vazio propicia as teorias fantasiosas e os exageros de quem pretende aterrorizar a população apesar de saber que esta "semana negra" não tem qualquer significado estatístico. Tem-se feito uma exploração despudorada dos sentimentos dos portugueses, usando as vítimas como bandeiras de propaganda, apesar de tal ser moralmente inadmissível.Em vez de se estudar as causas dos acidentes e procurar os remédios em conformidade tem-se feito da culpabilização abstracta dos cidadãos comuns a chave que tudo justifica.
Cada vez que morre um português na estrada há fornecedores de radares e de lombas e "especialistas" consultores que aumentam as suas previsões de vendas.
A verdade é que os acidentes de viação em Portugal estão em linha com o nosso nível de desenvolvimento económico e social. Têm mesmo vindo a reduzir o seu número de forma continuada e acentuada nos últimos anos. De acordo com estudos universitários recentes morrem três vezes mais pessoas por ingestão exagerada de sal do que em acidentes de viação.
O que importa é compreender para prevenir, desdramatizar em vez de culpabilizar.Na prevenção dos acidentes rodoviários o mais importante é o "como" e o "porquê" e não o "quem". As causas e não as culpas. Não é possível prevenir o que se desconhece ou aquilo que não se compreende.
Os abaixo-assinados vêm por esta forma exigir que a Autoridade Nacional de Prevenção Rodoviária ponha cobro à presente indefinição e avance com relatórios para cada um dos acidentes, em que fiquem claramente estabelecidos os aspectos factuais, apurados e confirmados, os factores propiciadores ou causadores e o grau da sua influência.
Estes relatórios devem tornar-se obrigatórios sempre que há vítimas graves e ter publicação na internet. Todos os cidadãos poderão dessa forma esclarecer-se sobre os acidentes ocorridos e aprender a evitar os factores de risco.
Se concorda assine a petição on-line AQUI
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O Terreiro do Paço agora é na Avenida dos Aliados
Os portuenses que se queixam de que só Lisboa fica com tudo deveriam pensar nisto: a horrenda “árvore de Natal” que nos últimos dois anos ocupava por esta altura do ano o Terreiro do Paço vai estar instalada este ano na Avenida dos Aliados, sendo inaugurada amanhã.
Quando era presidente da Câmara de Lisboa, Jorge Sampaio disse uma vez aos regionalistas para “levarem o Terreiro do Paço” da cidade para fora. Sampaio referia-se à burocracia e não à belíssima praça em si. Recordo agora esta frase ao ver onde está a “árvore”, um mamarracho que é uma demonstração de novo-riquismo e que de árvore não tem mesmo nada. O Porto cobiça tanta coisa de Lisboa, e vejam bem logo com o que ficou. Se era este “Terreiro do Paço” que tanto queriam levar, pois por mim agradeço que fiquem com ele. Se me permitem uma recomendação, só não lhe chamem “a maior árvore de Natal da Europa”. Aquela coisa pode ser a maior da Europa, mas não é uma árvore de Natal.
Este episódio confirma que o Porto só aspira a ter o que Lisboa tem, incluindo o poder. O Porto é tão centralista como Lisboa; a “regionalização”, para o resto do norte, seria decidir entre o Porto e Lisboa. Não há grande diferença, como se confirma pela “árvore de Natal”. Era bom que o bracarense Pedro Morgado se convencesse disso e substituísse a fotografia que eu retirei do blogue dele por uma na Avenida dos Aliados. Quanto tempo demorará até vermos a “maior árvore de Natal da Europa” em Braga?
Thursday, November 15, 2007
L'Europe de la Connaissance et la Stratégie de Lisbonne
"Por que no te callas?"
Todas as discussões que tenho lido sobre o assunto são entre monárquicos e antimonárquicos, envolvendo ainda o colonialismo. A meu ver tal está errado: como disse, é tudo uma questão de ordem na mesa. Eu sou completamente antimonárquico, mas aqui no essencial tenho que apoiar o rei. A minha opinião seria a mesma se tivesse sido Chávez a sugerir a Juan Carlos que se calasse, se este estivesse a interromper outro interveniente. Será que os monárquicos e os que agora defendem Chávez diriam o mesmo?
Para quando o spaghetti à portuguesa ?
"Uma lei não escrita da política italiana diz que os governos nunca caem no dia do juízo. (...) A emboscada, para ser eficaz, deve ser inesperada e fulminante: se foi anunciada, perde subitamente grande parte da sua força". Por isso, os bookmakers apostam na vitória de Prodi sobre Berlusconi
A campanha de Berlusconi para fazer cair Prodi nesta votação pode transformar-se num bumerangue contra ele. O seu partido, Força Itália, convocou manifestações em várias cidades para obter cinco milhões de assinaturas a exigir eleições antecipadas. Mas os seus aliados, Gianfranco Fini, da Aliança Nacional, e Pierferdinando Casini, da União dos Democratas Cristãos e do Centro, não estão interessados em eleições antes da aprovação de uma nova lei eleitoral, que reduza a dispersão do leque partidário e o poder de chantagem dos micropartidos sobre o primeiro--ministro, de direita ou de esquerda. Mas permanecem em desacordo sobre o sistema a adoptar.A revisão da lei eleitoral interessa também ao novo Partido Democrático (centro-esquerda), que tem estado refém do impasse, pois o seu líder, Walter Veltroni, só se poderá afirmar depois do desfecho da questão orçamental.
O debate decorre num certo tom de farsa, pois o que está em causa não é propriamente o orçamento, ou as reformas, mas subtis jogadas para ganhar vantagens políticas.
"Uma maioria deficiente, uma oposição estéril. O Parlamento é o reflexo de uma política inerte".A opinião pública está obcecada por outros temas. Um é a questão dos imigrantes ilegais romenos, acusados de fazerem subir a criminalidade. Outro é a violência e a crescente politização das claques desportivas: foi ontem o funeral do jovem Gabriele Sandri, morto pela polícia durante um confronto entre adeptos da Lazio e da Juventus.
Esta trapalhada respigada da imprensa dá-me vontade de parafrasear o dixote que os ingleses aplicam aos franceses: "ao menos não somos italianos".
Abre-se no entanto outro campo de dúvidas, estudos e previsões: quanto tempo demoraremos em Portugal a atingir um caos semelhante ?
Wednesday, November 14, 2007
Abaixo o governo central! Abaixo a democracia! Viva a "liberdade"! Viva a blasfémia!
A sério: não tenho dúvidas de que os EUA são uma democracia. Cheia de imperfeições e com dificuldades estruturais muito maiores do que outras democracias, mas uma democracia. Os políticos americanos ou ignoravam essas imperfeições do sistema político americano (tipicamente os republicanos), ou reconheciam-nas e prometiam tentar melhorá-las (tipicamente os democratas). Mas é a primeira vez que eu vejo alguém (um conhecido adversário dos governos centrais) a defender as imperfeições da democracia norte-americana e a virtudes do seu carácter "não democrático"! Parabéns ao autor do comentário, João Miranda, pela honestidade. E que isto demonstre a natureza dos projectos políticos libertários, que já representam uma corrente importante nos EUA e começam a dar os primeiros passos em Portugal.
Tuesday, November 13, 2007
Árbitros no Prós e Contras
Sopranos "do berde e da vola"
O filme CORRUPÇÃO sofre de um problema grave: a realidade é maior do que a ficção.
Dito de outra maneira: aquilo que é possível imaginar, e já se imaginou, sobre a realidade retratada no filme ultrapassa as possibilidades ficcionais quando espartilhadas por referências a pessoas concretas.
Ao pretender explorar o sucesso, e os lucros, do livro de Catarina Salgado o filme impôs a si próprio muitos limites para evitar ser alvo de perseguição judicial.
Estes Sopranos "do berde e da vola" são sem dúvida um tema portentoso para uma superprodução entre a farsa e a tragédia. O "engenheiro" do Herman e o presidente de Vila Nova da Rabona de Ricardo Araújo Pereira já o demonstraram.
Salvam-se as excelentes interpretações dos protagonistas que são Margarida Vila-Nova, no papel de Sofia, e Nicolau Breyner que incarna (e carne não lhe falta) a personagem do Sr. Presidente.
Um ser humano indistinto, um ser humano indistinto e outro ser humano indistinto entram os três num bar e pagam uma rodada de iogurtes
Se não resistimos a fazer piadas sobre minorias, seria mais interessante (digo eu) rirmo-nos de minorias dominantes (as que detêm o poder político, económico, cultural), em vez de nos rirmos de quem precisa de se esconder para ser aceite como igual.Ou então rirmo-nos de nós próprios, que ainda é o mais saudável e divertido, como o maradona saberá se já experimentou.
Em todo o caso, não achei piada nenhuma ao seu texto (eu que acho piada a quase tudo). É que, ao contrário de si, tenho a sorte de ter amigos gays, e imaginação suficiente para adivinhar a incomodidade e o sofrimento que esse facto, tão anódino e normal, pode ainda provocar nas suas vidas.»
(Mais uma adição ao Clube dos Amigos da Comédia como Instrumento de Justiça Social. Não conheço outro tipo de humor que não o baseado - em maior ou menor grau - na "ridicularização das diferenças", mas admito que o quintal me ocupa muito tempo. De qualquer maneira, vale a pena ler aquela página inteira, desde o "marialvismo literário destes queques terríveis" à "cumplicidade com autos-de-fé". O estagiário que a Danone destaca para ler o meu blogue já deve estar a escrever memorandos frenéticos. E esta, meus amigos, é para epígrafe de qualquer coisa:
Monday, November 12, 2007
Janelinhas saltitonas da alma
- The Elegant Variation
(A melhor inoculação que conheço contra este vício específico - choques em cadeia entre globos oculares vagabundos - é um conto chamado "'Tis the Season to be Jelly", de Richard Matheson. Está incluído no livro Shock III, que podem adquirir em segunda mão na Amazon, ou em alternativa, pedi-lo emprestado à minha pessoa, com os vossos olhos aparafusados ao solo em súplica dextrivolúvel.)
Há muito tempo que não me sucedia isto
Mais um teste político
Your Political Profile: |
Overall: 20% Conservative, 80% Liberal Social Issues: 25% Conservative, 75% Liberal Personal Responsibility: 25% Conservative, 75% Liberal Fiscal Issues: 25% Conservative, 75% Liberal Ethics: 0% Conservative, 100% Liberal Defense and Crime: 25% Conservative, 75% Liberal |
A melhor da semana passada - 13
A polícia encontrou na posse do chefe da máfia Salvatore Lo Piccolo, detido na segunda-feira, uma série de pequenos recadinhos que no conjunto constituirão como que o "Decálogo" da Cosa Nostra, de acordo com a imprensa italiana. Os papéis por pouco não acabaram deitados numa sanita. O diário La Repubblica chamam-lhe mesmo os "Dez Mandamentos" da organização siciliana, e vão da unidade dos membros ao ódio à polícia, passando pelo respeito e o amor à mulher. Um dos papelitos - chamados "pizzini", todos escritos à máquina - diz que "é preciso estar a todo o momento disponível para a Cosa Nostra, mesmo que a tua mulher esteja quase a deitar-se". Outro insta os membros a não "cobiçarem" as mulheres dos amigos. Os destinatários das mensagens são ainda convidados a não frequentarem "bares e casas de jogo" ou a simpatizarem com a polícia, sendo terminantemente proibido que façam parte das forças de segurança. As autoridades italianas apreenderam ainda a descrição do que pensam ser a hierarquia da organização criminosa e as suas regras de funcionamento. Os investigadores admitem que o conjunto dos pizzini constitua uma espécie de "manual de iniciação" para os novos mafiosos. Segundo o Corriere della Sera, Lo Piccolo estaria a recrutar candidatos no momento da detenção.Uma leitura mais atenta das pequenas mensagens, que o chefe mafioso esteve a ponto de deitar numa sanita, revela ainda, de acordo com a agência Ansa, nomes de empresas e de comerciantes que pagam o pizzo, o imposto exigido pela organização. Os agentes apreenderam além dos pizzini nove pistolas, várias imagens piedosas e crucifixos. As autoridades italianas pensam ter decapitado a máfia siciliana com a detenção de Salvatore Lo Piccolo. O mafioso era o último do triunvirato que a dirigia na ilha, formado ainda por Bernardo Provenzano e Antonino Rotolo, detidos há um ano. A acreditar no ministro do Interior, Giuliano Amato, no prefeito de Palermo, Giuseppe Caruso, e no procurador antimáfia Piero Grasso, reunidos em Roma, numa conferência de imprensa, o "polvo" já não é senão uma sombra dele mesmo. Enfraquecida pelas prisões, "desestruturada" dentro de si mesma e rejeitada por um número cada vez maior de sicilianos dispostos a não pagar o pizzo, a Cosa Nostra irá entrar provavelmente num período de "ajustes de contas", prognosticou Caruso. Salvatore Piccolo, 63 anos, frequentemente apresentado como o sucessor de Provenzano, detido em Abril de 2006, figurava num "pizzino" apreendido a este, onde constavam ainda outros nomes. Provenzano escreveu então num papelito que "já não restavam senão ele, Rotolo e Lo Piccolo", declarou Piero Grasso.
Sunday, November 11, 2007
Mal de montaña
O pior que pode resultar daqui é um ânimozinho revolucionário aos que desejam uma vaga de fundo para devolver Paulo Bento às Astúrias. Não seria a maior asneira da história do Sporting, nem a menor: seria apenas mais uma, e sinceramente, já me começam a faltar esferas no ábaco.
O erro de Paulo Bento esta noite é tão incontornável como irrelevante. É certo que retirar o lateral-esquerdo ao intervalo é o equivalente futebolístico a invadir a Rússia em Setembro (manobra estreada, pelo menos neste clube, a 14 de Maio de 1994). Mas o jogo estava perdido desde os primeiros minutos, quando a equipa do Braga descobriu que estava a jogar não contra outra equipa, mas contra uma daquelas expedições ao Evereste que corre mal.
A maior responsabilidade que pode ser imputada a Paulo Bento é a de ter feito um trabalho demasiado bom no ano passado: levou um plantel com apenas oito jogadores de campo (e incluo o Abel nesta estimativa apenas porque a sua hirsutez me intimida) a sítios onde plantéis com apenas oito jogadores de campo nunca devem ir sem tendas, cordas, e botijas de oxigénio.
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