Saturday, May 31, 2008
Vai bonito o insulto no PSD
Ouvi hoje na televisão, mas não consegui encontrar o registo vídeo destas declarações, por isso reproduzo-as como vêm noticiadas pela Lusa:
“Lisboa, 31 Maio (Lusa) - O presidente demissionário do PSD, Luís Filipe Menezes, criticou hoje a "canalha" que lhe fez "a vida negra" e que "não tem carácter", lançando um duro ataque a Pacheco Pereira, apoiante de Manuel Ferreira Leite.
"Vou mostrar logo à noite [quando forem conhecidos os resultados] como sou diferente dessa canalha que me fez a vida negra, que não tem carácter", disse, adiantando que o grupo a que se referia inclui "pessoas como aquele senhor de barbas que participa na Quadratura do Círculo", numa alusão a Pacheco Pereira, apoiante de Manuela Ferreira Leite e um dos mais ferozes críticos da presidência do autarca de Gaia.
Questionado pelos jornalistas hoje de manhã em Gaia após votar nas directas do PSD, Menezes afirmou que respeitará "os resultados [das directas] sejam eles quais forem".
A propósito, criticou os "tristes, infelizes e barbaramente obcecados" que quando foi ele eleito para a presidência do partido não tiveram a mesma atitude.
"Não pertenço a essa laia", salientou.”
Que eu, um simples mortal, chame canalha a alguém, e há uns que bem merecem, vá que não vá. Mesmo assim, que eu me recorde, não utilizei ainda esta “bonita expressão” na net. Que o Sr. Filipe Menezes chame canalha ao Pacheco Pereira, com todas as letras e em canal aberto, é um espanto. Assim vai este PSD, que em tempos pretendeu ser comandado por dois miríficos políticos nacionais, os Srs. Sá Carneiro e Cavaco Silva.
Friday, May 30, 2008
We are the world
Ontem um amigo enviou-me este video da célebre gravação que eu não ouvia há anos e que, no fim dos anos oitenta, pela constante repetição quase se tornou insuportavel. Agora achei empolgante.
Divine Command
You scored as a person who is always right.
Trailblazing a glorious path of perfection across our tiny, inadequate Universe, you have maintained a strict adherence to the philosophy of always being right. Is there anything we can tell you that you do not already know? The notion is ridiculous. Take a look in the mirror: you have it all figured out. You have cracked the wise code. And you're taking this silly little test? You should be testing us! Anyway, to declare the obvious, you believe people should go on doing stuff in accordance with the stuff that was done by the people who came before, therefore allowing the people who come after to do a little stuff of their own without fucking the whole thing up too much. And how right you are in believing this! And handsome too. Do you even shave? Because, clearly, you don't need to, you gorgeous hunk of wisdom.
Being always right ----------- 100%
O meu presidente
Refiro-me ao artigo de terça feira de Mario Soares no DN, que é um portento. Façam favor de o ler. Mário Soares continua a valer mais que qualquer convergência de esquerdas burguesas.
O sexo dos anjos
EU NÃO VOU
Julgo que os protestos deviam também ser contra os impostos elevadíssimos e o que eles representam. Ainda assim penso que este movimento colectivo, independentemente dos resultados, é um bom exercício.
Thursday, May 29, 2008
Sessão festa no Teatro da Trindade promovida pela esquerda plural
Foi você que pediu um Berlusconi ?
Tem vindo a ser anunciada uma "festa/sessão", com base num "Apelo" rubricado por um vasto conjunto de personalidades que incluem Manuel Alegre, Francisco Louçã e ex-PCPs. Terá lugar no Teatro da Trindade no dia 3 de Junho.
Depois da decadência dos partidos do centro - PSD e PS - estamos agora perante um típico fogacho do esquerdismo oportunista que, como de outras vezes na história, pode vir a ser antecâmara de ditaduras da direita. Quando o povo tiver perdido totalmente a confiança nos partidos “moderados”, sujeito a grandes dificuldades diárias, os pretextos proporcionados por tiradas extremistas farão surgir, do nada, um Berlusconi português ou, quem sabe, um Salazar da era digital.
O problema desta gente, que as sondagens animam, é que não faz os trabalhos de casa; não tem qualquer ideia prática sobre a forma de realizar a justiça que reclama. Nesse aspecto vale mais o Jerónimo, e a sua União Soviética “que ainda há-de vir”, pois ao menos sabe-se do que estamos a falar.
Eles pensam que basta cavalgar as últimas estatísticas sobre a pobreza, mas disso até o Santana Lopes já se tinha lembrado. Não vamos lá com descrições inflamadas da miséria que não são mais do que um disfarce da miséria das alternativas.
O que importa é inventar e preparar um novo mundo que funcione, que convença a maioria, em vez de organizar "AGORA AQUI" festas e sessões à babugem das eleições que se aproximam.
Google takes on Portuguese, and wins
O PSD a passos de coelho
Eu aproveito esta oportunidade para "jogos de azar" e aposto em Passos Coelho. Porquê ? Porque acho que o PSD tem uma necessidade absoluta de fingir que vai começar tudo de novo.
Além do mais é um candidato fotogénico que as senhoras gostarão de ver em despique, civilizado, com o nosso engenheiro Sócrates.
Foi também o único que fez uma proposta diferente e em que toda a gente reparou: a redução dos impostos. Mais vale parecer irresponsável do que parecer irrelevante.
Wednesday, May 28, 2008
Duas novas revistas on-line
A primeira é a edição portuguesa da célebre revista marxista norte-americana Monthly Review, fundada em 1949, por Paul M. Sweezy (ver fotografia aqui ao lado), em colaboração com Leo Huberman. O primeiro foi um dos mais reputados estudiosos, do ponto de vista marxista, do desenvolvimento do capitalismo e do imperialismo. Qualquer deles já falecido.
O sumário do primeiro número é o seguinte:
Estados Unidos da insegurança, entrevista com Noam Chomsky
A crise alimentar mundial, Fred Magdoff
O colapso do subprime, Karl Beitel
Sweezy em perspectiva, John Bellamy Foster
Este último o seu actual director.
Quanto à segunda revista, que será editada simultaneamente com a anterior, é uma revista portuguesa, que se chama Shift – revista do pensamento crítico radical. É dirigida por Fernando Ramalho e com um conselho redactorial formado Bernardino Aranda, Fernando Ramalho, Paulo Fidalgo, Ricardo Noronha e Rui Duarte. O primeiro número tem como título geral O fim do neoliberalismo ou a segunda morte de Milton Friedman.
O sumário deste número é composto pelos seguintes artigos:
Editorial: Das últimas ilusões à vida imprevisível, Fernando Ramalho
O financeiro contra o económico, Carlos Pimenta
Mecanismos de formação das crises económicas, Guilherme da Fonseca-Statter
Poder mundial e dinheiro mundial, Robert Kurz
Recensão: Socialismo sem dogma, Ricardo Noronha
Pelo exposto parece-me pois que valerá a pena a consulta ao site da editora, sendo possível a partir daí, desde que nos registemos, obter gratuitamente o primeiro exemplar de cada uma delas.
Desejo pois às duas grande sucesso .
Combustíveis e luta de classes
Ou seja, acabou a comida barata, a energia barata, os combustíveis baratos ou a água barata. Por outras palavras: bens democráticos, a que a generalidade dos cidadãos tinha acesso, como a água, pão, electricidade, gasolina ou gasóleo estão a tornar-se bens de luxo ou quase, a que cada vez terão mais dificuldade de acesso as classes médias e de menores rendimentos.
As consequências também serão várias - e todas elas potencialmente explosivas, porque a fome, a sede e a miséria não são boas conselheiras. A primeira é que a possibilidade de violentas convulsões sociais, com impactos fortíssimos a nível político e mesmo riscos para os sistemas democráticos é fortíssima. A segunda é que, à luz da História, situações destas acabam por resolver-se através de conflitos bélicos mundiais, que dizimam milhões de pessoas e reequilibram as condições de vida no planeta.
Perante este enunciado o cidadão tem que colocar-se muitas questões.
Como é possível que o governo português ainda recentemente tratasse a questão dos combustíveis como uma birra dos condutores mal habituados, subordinada em termos de importância ao equilíbrio orçamental ? Onde estão as previsões e as medidas preventivas que seriam de esperar de um governo responsável ?
Como se explica a resignação e passividade da Europa perante o encarecimento acelerado de produtos de que dependem os seus mais básicos padrões de vida, ao ponto de ter que ser acordada por um Manuel Pinho ansioso por encontrar bodes expiatórios ?
São todos incompetentes e irresponsáveis ou há outras explicações para este fenómeno ?
Convém talvez compreender que, mesmo dentro de um país como o nosso, nem todos são afectados da mesma forma e alguns até podem sair beneficiados destas crises. Quem exporta para Angola e é pago pelos rendimentos do petróleo talvez não tenha razões de queixa, ou quem é accionista da Galp, ou quem exporta para a Venezuela às cavalitas do governo de Sócrates, ou quem tem sempre os combustíveis, e não só, pagos pela empresa ou pelo Estado.
Esta questão dos preços do petróleo, do crédito e dos produtos alimentares pode afinal ser, no essencial, mais uma forma de certas classes expoliarem outras.
Também ao nível internacional, nomeadamente na Europa e EUA, conviria perceber quem ganha e quem perde com este terramoto. Para sabermos se estamos perante aprendizes de feiticeiro que jogam um perigoso xadrez contra as potências emergentes, em que as peças são poços de petróleo e mísseis nucleares.
O exagero militante
O Daniel Oliveira, no seu blogue Arrastão, usou este boneco para promover uma campanha de boicote à GALP e outras gasolineiras.
O que o pobre do homem não podia prever, ele que tem sempre posições tão politicamente correctas, é que iria ficar sob a alçada da ASAE "anti-homofóbica".
A sugestão do sexo anal como uma coisa dolorosa, que a imagem aparentemente contém, foi detectada pelos sempre vigilantes fiscais.
Os comentários ao post no Arrastão têm vindo a transitar da questão dos combustíveis para a obsessão "anti-homofóbica", numa ilustração do exagero militante em que hoje vivemos.
De que lado está afinal a intolerância ?
Tuesday, May 27, 2008
Assaltar ou possuir uma gasolineira ?
Para segurança energética nacional, prevenindo uma calamidade em que o petróleo momentaneamente “desapareça” do mercado, há muitas décadas que o Estado português, como a maioria dos Estados, impõe à aprovisionadora e refinadora nacional (Galp) um stock de segurança que permita haver refinação e abastecimento do mercado nacional mesmo que durante alguns meses o país se veja privado da capacidade de se abastecer de petróleo bruto. São quantidades enormes que a Galp é obrigada a aprovisionar em permanência (o que nada tem a ver com uma gestão de stocks caso a companhia não tivesse o constrangimento imposto) e cujo custo de imobilização é enorme. Como a reposição de stocks é automaticamente obrigatória para manter o stock de segurança, se saem 100 toneladas para refinar, têm de entrar 100 toneladas para armazenar. Assim, em conta corrente, a companhia refinadora está sempre a comprar a preços do momento pelo menos a quantidade de produto que está a ser comercializada. E, em termos práticos, podendo estar a refinar produtos a “preços anteriores” (e inferiores), em custo de matéria-prima nas contas globais, é como se cada partida que sai para os postos de abastecimento tivesse sido refinado com o petróleo do “último preço” (pois o que se escoa do stock em refinados é compensado imediatamente no stock de matéria-prima com crude ao preço do momento).
Ou eu estou completamente baralhado ou isto é uma falcatrua. Como os preços estão sempre a subir cada lote é sempre vendido como se tivesse custado muito mais caro do que custou na realidade.
Porque não vendem cada lote de acordo com o custo que teve ou, na pior das hipoteses, ao preço médio do stock em cada momento ?
Parafraseando Brecht: qual é a diferença entre assaltar uma gasolineira e possuir uma gasolineira ?
O previsível CAA
Como era de se esperar, o Carlos Abreu Amorim estava pelo Chelsea. Não pelo Ricardo Carvalho nem pelo Paulo Ferreira, nem pelo Drogba ou pelo Ballack: seguramente, pelas origens do treinador Avram Grant.
Ah, como eu tenho pena que o Avram Grant não vá para treinador do Benfica, como se chegou a falar! Lá teríamos o CAA no Estádio da Luz, de kippah vermelha, a torcer pelo Benfica.
As alternativas de André Freire
André Freire publicou ontem um texto com título prometedor, " Crise do capitalismo neoliberal: alternativas". Respigo do Público:
Vivemos de novo a "estagflação", agora sob a hegemonia do neoliberalismo. Estaremos de novo em fase de mudança de paradigma? No artigo citado, expressei algum cepticismo e preocupação: "O nosso (do Ocidente, da Europa, do mundo) maior problema é a dificuldade em se afirmarem alternativas ao capitalismo neoliberal." Exemplifiquei com um editorial de Manuel Carvalho (PÚBLICO, 6/04/08), no qual este reconhecia os males do capitalismo desregulado, mas, simultaneamente, não perspectivava quaisquer alternativas. Prometi, por isso, reflectir sobre as alternativas: é o que venho fazer, de uma forma necessariamente esquemática e nada exaustiva.
Mostra duas coisas:
(1) condescendência para com o capitalismo tout court que parece só incomodar quando se constipa com alguma "selvajaria"
(2) falta de trabalho para compreender os mecanismos próprios do capitalismo na sua forma actual já que o concebe como uma aberração
Por isso André Freire termina a sua "reflexão" no mesmo ponto onde a começou:
Perante os sucessivos problemas do capitalismo desregulado, é urgente pensar nas alternativas. O jornalismo de referência tem aqui um papel fundamental, caso contrário estará a funcionar, voluntária ou involuntariamente, como um mero reprodutor das ideias dominantes. Mas os cientistas sociais que não se revêem no mainstream neoliberal têm também uma certa responsabilidade na fraca divulgação destas alternativas: mais empenhamento cívico precisa-se! As alternativas podem ser de difícil exequibilidade, sobretudo no curto e médio prazo, pois implicam uma alteração nas orientações políticas das grandes potências e das instituições internacionais (UE incluída), mas existem. Mais, ou reflectimos sobre elas e pensamos nas vias mais curtas e pragmáticas para a sua implementação, ou corremos o risco de, perante uma recessão mais cavada ao nível mundial, se entrar numa profunda deriva proteccionista e, quiçá, num novo conflito bélico mundial.
Monday, May 26, 2008
O valor da mobilidade
Aqui ficam alguns contributos para quem queira formar opinião:
1. A utilização da gasolina e do gasóleo não são exclusivo dos "irresponsáveis ecológicos" que se entretêm a dar umas voltas com a namorada, como o governo dá a entender.
Milhões de trabalhadores, de todos os níveis salariais, dependem todos os dias dos seus automóveis ou dos autocarros e outros transportes públicos que funcionam com combustíveis derivados do petróleo.
Há também um gigantesca cadeia logística que chega a milhares de vilas e aldeias, ao longo do território, que leva os jornais, o correio, os medicamentos e as mercadorias e trás de lá tudo o que os seus habitantes pretendam enviar para o mundo.
2. Ao contrário do que irresponsávelmente se pretende fazer crer a situação descrita anteriormente não é passível, a curto ou médio prazo,de ser substituída por outra muito mais favorável do ponto de vista energético (o que não significa que os esforços para tal não devam fazer-se desde já).
Se todos os utentes de carro próprio decidissem de um dia para o outro passar a usar os transportes públicos nas grandes cidades o caos resultante demonstraria como tais teses são descabeladas.
O mesmo se passa com a rede logística pois a esmagadora maioria das povoações não é servida por qualquer transporte alternativo.
Ao contrário do que insinua o governo, o cidadão comum não tem realmente o poder de decidir, num acto de abnegação, salvar o país através da mudança dos seus "reprovaveis" hábitos.
3. Perante a escalada dos preços do crude os países que continuam a depender do petróleo em larga escala são obrigados a transferir uma parte crescente da sua riqueza para quem o comercializa. É uma inevitabilidade.
Se para além disso o Estado, nesses países, sobrecarregar o preço já de si elevado dos combustíveis com alcavalas e impostos então, para além do empobrecimento acima referido, haverá um outro resultante da perda de competitividade internacional e do definhamento da economia respectiva.
Em termos comparativos os produtos de cada país irão reflectir o peso dos derivados do petróleo na sua estrutura produtora e distribuidora. Das fábricas sairão produtos mais caros e o transporte desses produtos até aos clientes, nacionais ou internacionais, aumentará ainda mais a diferença para os seus concorrentes.
Ou seja, pode haver países que não sendo produtores de petróleo apesar disso beneficiem do agravamento dos preços. O exemplo da Espanha e de Portugal, com níveis de impostos bastantes diferentes, ajuda a perceber esta ideia.
4. A mobilidade é a circulação sanguínea da economia mas também da vida em sociedade e condição das liberdades individuais. Não é admissível o cenário das populações acantonadas nas suas vilas e cidades, num retorno à idade média, com trocas esporádicas e voltando cada um a viver do que produz. Mas também não se podem tornar inviáveis as viagens com o intuito de ver espectáculos, receber formação ou conhecer novas experiências.
Ao pôr em causa a mobilidade piora-se também as condições, económicas e outras, que deveriam propiciar o desenvolvimento de energias alternativas.
5. A mobilidade é um bem que tem que ser absolutamente preservado, mesmo que o Estado tenha que sacrificar algumas outras das suas funções menos importantes.
Quando a mobilidade estiver em causa pelo facto de o Estado precisar dos impostos que cobra na venda dos combustíveis então isso significa, provavelmente, que o Estado está a gastar demais ou a gastar mal; que o Estado está a viver acima das suas possibilidades.
Quadro publicado no blogue "Fumaças" em 26.05.2008
Um governo de esquerda
Saturday, May 24, 2008
«Por exemplo: despedimentos. Como é que é?«
Your fountain pen has crashed
Friday, May 23, 2008
Dez anos de Expo 98
Só quem não viu a montra de uma agência de viagens de uma pequena cidade de Long Island, no estado de Nova Iorque (sem nenhuma comunidade portuguesa ao lado), com referências e anúncios exclusivos a Portugal (não só Lisboa e a Expo), com um "Gil" gigantesco por trás, poderá pôr em causa a importância que a Expo teve para a promoção do país.
Thursday, May 22, 2008
Nightwatching
O novo filme de Peter Greenaway é uma longuíssima dissertação sobre as relações entre a arte e o poder. Mostra o famoso quadro de Rembrandt "A Ronda da Noite" não como o desfile prazenteiro de uma confraria mas como a denúncia, pelo pintor, de lutas intestinas sustentadas por crimes. Denúncia pela qual paga um elevado preço.
A arte e o poder - e o poder da arte- num filme esteticamente impressionante.
O filme assume uma actualidade insuspeitada quando a sociedade holandesa do Século XVII nos é mostrada na sua faceta marcadamente mercantilista; uma sociedade onde tudo parece ter um preço e onde tudo se paga.
A demagogia nos combustíveis
"Utilizar o dinheiro de todos os portugueses para financiar a gasolina já se fez no passado, mas com consequências horríveis para a economia portuguesa. Isso é transferir (o peso do custo da gasolina) do consumidor para o contribuinte", afirmou o chefe do Executivo, invertendo papéis para perguntar aos jornalistas: "Acham bem que quem não tem carro financie a gasolina?".
Sócrates está a "ver o filme ao contrário" e a ser demagógico. Não se trata de pôr quem não tem carro a financiar a gasolina. Quantos portugueses que não têm carro pagam realmente impostos ? Os cidadãos que usam automóveis é que são tratados e taxados como nababos ou delinquentes. A verdade é que quem compra gasolina está a pagar um imposto especial, enorme, para alimentar a celulite do Estado.
Sócrates já devia ter percebido que hoje a gasolina é um artigo de primeira necessidade, que ter carro não é nenhum acto sumptuário. Os mais abastados até têm muitas vezes a gasolina paga pelas empresas (ou pelo ministério no caso de Sócrates), que depois "reflectem" os custos sobre os consumidores (o famoso mexilhão).
Os combustíveis são aliás um produto que, ao aumentar de preço, acaba por se repercutir no nível geral de preços ao consumidor, incluindo nos transportes públicos. Por isso afecta toda a gente mesmo os tais "que não têm carro". Mas os que têm carro e não têm a gasolina "à borla" sofrem duplamente; quando enchem o depósito e também pelo aumento do preço de todos os outros produtos.
Por isso o governo devia estabelecer um limite para o preço da gasolina no retalho e garanti-lo durante pelo menos um ano através das reduções que fossem necessárias do Imposto sobre Produtos Petrolíferos. Mais tarde ou mais cedo será obrigado a fazê-lo sob pena de rupturas sociais e de insuportáveis limitações à mobilidade de consequências inimagináveis. Os cidadãos já apertaram o cinto suficientemente, agora é a vez do Governo reduzir as despesas para evitar a progressiva paralização do país.
Em paralelo é necessário garantir condições práticas para reduzir aceleradamente a "dependência do crude". Isso é que devia estar a ser discutido, e feito, neste momento.
Os monstros que vivem dentro de nós
Wednesday, May 21, 2008
O 18 Brumário de Rodrigo Tiuí
(Convém igualmente recordar os animadores das workshops anuais de reverberação saudosista que costumam entrar em funcionamento sempre que há jogos ao Domingo à tarde ("ah, o futebol em família") que a parafernália nostálgica a que aludem (o farnel, a almofada desdobrável, o transístor do papá) teve e tem o seu reflexo negro (o psiquiatra, o lenço de papel, a embalagem de Lexotam) naqueles para quem um jogo do seu clube, mais do que qualquer impulso recreativo, sempre representou um sólido motivo para ponderar a eutanásia. Fim de parênteses.)
A destreza no desenredamento da narrativa tem sido o mais fiável mecanismo de sobrevivência do adepto palmaresisticamente desafiado, mas o seu potencial oracular está acessível a todos. Reduzido ao essencial, o conceito pode ser formulado da seguinte maneira: «Em futebol, qualquer detalhe que contribua para um melhor arco dramático, vai geralmente ocorrer». Apoiado neste princípio, qualquer observador atento podia prever, por exemplo, que, depois do fiasco metabólico na final do Mundial de '98, a grande figura do Mundial de '02 seria Ronaldo; ou que, por mais apagada que fosse a sua época, era inevitável que Derlei marcasse um golo decisivo ao Benfica.
A partir do momento em que o Futebol Clube do Porto espoliou o Vitória Futebol Clube da hipótese de conquistar dois troféus na mesma época, dois factos tornaram-se instantaneamente evidentes: o Sporting iria ganhar a final, e a grande figura do jogo seria um avançado brasileiro destinado a acabar a carreira no Alpalhoense.
As conferências do divã
São em torno do livro A Globalização no Divã. Alguns dos autores deste livro são daqui, outros daqui, e ainda este. Hoje é a primeira conferência, Ciência e sociedade num mundo globalizado. Às 18 horas na Livraria Pó dos Livros, em Lisboa. Uma co-organização do Le Monde Diplomatique (em cuja página pode ser visto o programa todo). Eu serei um dos intervenientes. Apareçam!
Quem é Ricardo?
Curta-metragem de José Barahona, com argumento e diálogos de Mário de Carvalho, sobre um interrogatório na PIDE
Tuesday, May 20, 2008
50º Aniversário da Candidatura de Humberto Delgado a Presidente da República
Um físico na prisão de Estaline
Monday, May 19, 2008
Reflexões em aberto sobre o Maio de 68
Tudo no seu lugar
FC Porto campeão, Sporting vice campeão, vencedor da Taça de Portugal e apurado para a Liga dos Campeões: tudo no seu devido lugar. Tudo como já é hábito. Tudo como é justo que seja.
Esperemos que para o ano nem tudo seja assim, para que algo continue a ser assim. Espero que o Sporting continue a vencer a Taça e mantenha o apuramento directo para a Liga dos Campeões. Acredito que é possível, se os reforços previstos se concretizarem e se não houver venda de jogadores.
Os números não enganam: desde 1974 que o Sporting não ganhava troféus importantes em dois anos seguidos (campeonatos e taças). Desde 1971 que não ficava acima do terceiro lugar por dois anos seguidos (este resultado foi igualado o ano passado). Desde a década de 50 que não ficava acima do terceiro lugar por três anos seguidos.
Mas os números também não enganam: não fossem as penalizações do apito Dourado e o Sporting acabava o campeonato a 20 pontos do FC Porto que nem sequer foi um supercampeão. O ano que vem tem que ser melhor. Com o mesmo treinador e uma melhor equipa.
Diz antes: deveriam chamar-se "livres à Inácio"?
Toda a gente chama a estes livres "livres à Camacho", mas na verdade eles foram introduzidos por André Cruz e César Prates.
Barco com água abastece Barcelona
A seca na cidade de Barcelona é tão forte que já obrigou ao recurso a um barco com água para abastecer a população. As barragens estão vazias, apesar de alguma chuva que caiu em Abril.
As chuvas da Primavera permitiram que as barragens estejam agora com cerca de 25% da sua capacidade preenchida, mas estão muito longe de poder fazer face às necessidades da cidade. O Verão deverá ser bastante quente e seco, segundo as previsões meteorológicas, pelo que medidas de emergência começam já a ser tomadas. As autoridades têm feito campanhas apelando ao uso racional da água por parte dos consumidores, mas o carregamento de 19 toneladas trazidas por barco de Tarragona acabou por ser uma medida inevitável para fazer face à uma das piores crises de abastecimento desde 1953.
"Se não chover e se não forem encontradas soluções, Barcelona vai sofrer com cortes de fornecimento de água. Mas por agora, parece que as medidas que estão a ser tomadas vão ser eficazes", disse Jordi Campillo, vereador para o ambiente.
Os 5,5 milhões de habitantes da cidade deverão poder contar até ao Verão com mais dez carregamentos de água, que custarão cerca de 40 milhões de euros. O governo está a construir uma fábrica de dessalinização de água do mar, que será a maior da União Europeia e que deverá estar operacional em Maio de 2009. Estima-se que possa fornecer 20% da água necessária a Barcelona e será a primeira de várias a construir por toda a Espanha.
Esta notícia sobre uma das cidades mais bem geridas da Europa, ou com fama disso, leva-me às seguintes questões:
- Se isto se passasse em Portugal estaríamos certamente a ouvir um coro de vozes clamando contra a nossa impreviência e falta de planeamento.
- Por falar em Portugal, qual é a probabilidade de se verificar uma situação equivalente ? Será que devíamos começar já a planear centrais de dessalinização ?
- Estaremos a fazer tudo para proteger e potenciar as nossas reservas (pelos vistos estratégicas) de água ? Onde se meteram os adversários do Alqueva ?
Sunday, May 18, 2008
Uma escala inimaginável
Temos dificuldade em imaginar a escala do desastre ocorrido na China. Dezenas de milhares de mortos confirmados e outros tantos ainda soterrados, quatrocentas barragens afectadas, um milhão de pessoas em fuga para escapar às enxurradas, cinco milhões de pessoas desalojadas.
A sorte dos que sobreviveram foi terem nascido num país como a China. De outro modo o número de vítimas ainda continuaria a aumentar durante muito tempo.
Saturday, May 17, 2008
O gigante tem pés de barro ?
As imagens televisivas do terramoto na China têm-me comovido. Não só pelos dramas pessoais mostrados mas, essencialmente, pela admirável mobilização de meios para o salvamento.
Talvez só a teimosia disciplinada dos chineses permita uma tal dimensão. O regime político chinês, goste-se ou não, também garante uma enorme rapidez, sem controvérsias, na mobilização dos meios que em termos humanos são avassaladores.
A aparente facilidade com que o terramoto destruiu cidades inteiras é um claro sintoma da "pressa" com que a modernização da China tem sido feita. O gigante tem pés de barro ?
Friday, May 16, 2008
Os novos cruzados
Fernanda Câncio publicou hoje no DN um texto intitulado "O que há num nome" em que empunha garbosamente a bandeira dos direitos dos homossexuais.
A verdade é que, pelo exagero e pela argumentação descuidada, acaba por prestar um mau serviço à causa que julga defender.
Confunde, com evidente prejuizo, (1) a reivindicação dos homossexuais serem tratados como qualquer outro cidadão, sem discriminações, com (2) a questão do que pensam os portugueses sobre o fenómeno da homossexualidade.
Qualquer pessoa bem formada aceitará sem dificuldade a reivindicação (1) mas quanto ao resto haverá certamente uma grande dispersão e muitas opiniões "negativas".
Haverá quem considere a homossexualidade uma espécie de doença, ou uma moda chic, ou um vício; haverá quem pense que se nasce gay e quem pense que trata de uma escolha livre, condicionada ou não por misteriosas "predisposições"; haverá quem a julgue prejudicial à sociedade e quem pense que é uma opção do foro íntimo que como tal deve ser respeitada.
Na falta de uma explicação "científica" para o fenómeno da homossexualidade fica aberto um extenso campo para a especulação, situado no plano da liberdade de pensamento que, tal como a liberdade dos homossexuais, tem que ser respeitada. O que pode e deve ser exigido, independentemente do que cada um pense acerca da homossexualidade, é que respeite sem excepções os direitos dos seus concidadãos.
Portanto não é sequer inteligente exigir que, para além de respeitar os direitos de cidadania dos homossexuais, se tenha também que considerar a homossexualidade "correcta" (seja lá isso o que for), ou aprová-la de alguma forma. Essa fasquia tão alta invade a liberdade de pensamento e reduz a base de apoio das medidas necessárias para protecção dos direitos dos homossexuais.
Quer a Fernanda Câncio queira quer não há muitos milhares de cidadãos que, embora não "aprovando" as práticas homossexuais, respeitam sem reservas os que as adoptam. E não são nenhuns energúmenos.
O mais grave do artigo de Fernanda Câncio é o que ele revela de intolerância perante opiniões diferentes, o espírito de cruzada de quem está na posse de uma verdade inquestionável, que é o primeiro sinal do fanatismo. Quem é que ungiu a Fernanda, que ciência lhe foi revelada para se permitir tratar como idiotas os que não pensam como ela. Episódios recentes, de contornos inadmissíveis, em que Fernanda Câncio surgia no papel de vítima deviam talvez ter-lhe ensinado a prezar o respeito pelos outros.
Infelizmente hoje qualquer neófito na luta pelas liberdades, quando o faz com exagero e espavento, pensa que isso lhe dá o direito de classificar, a torto e a direito, a sinceridade democrática, a pureza de esquerda e a coerência revolucionária dos outros.
Ir às fontes
Coisas de que nem sempre nos lembramos
"O nosso mundo duplicou com a abertura da Índia e da China. Desde há anos que este processo se iniciou, mas o seu impacto tem sido especialmente sentido nos últimos dez anos.
A abertura dos países asiáticos duplicou, sensivelmente, a população do nosso "mundo económico". São países com uma mão-de-obra abundante, embora pouco sofisticada, e escassez de capital, incluindo capital humano (ou trabalhadores especializados). Ou seja, a nível mundial, duplicou a oferta de mão-de-obra e aumentou a procura de capital e de pessoas muito qualificadas (nomeadamente, dos executivos). Se a oferta global do factor trabalho aumentou drasticamente, então a pressão sobre a baixa dos salários será também muito grande nas economias mais desenvolvidas. Simetricamente, a forte escassez de capital e investimentos e, acima de tudo, de pessoas altamente qualificadas faz subir a sua remuneração pela pressão no mercado.
A primeira implicação da "duplicação do mundo" é uma forte redistribuição do rendimento dentro de cada país. No mundo ocidental, há uma clara estagnação salarial e as remunerações do capital (incluindo o capital humano) têm subido significativamente. Em certo sentido, deste lado do mundo, os mais educados e mais ricos ficaram ainda mais ricos e os pobres ainda mais pobres.
No entanto, do outro lado do mundo, na China e na Índia, os salários têm aumentado e a pobreza tem diminuído, de forma sustentada e significativa. Os efeitos são, assim, exactamente simétricos no Ocidente e no Oriente.
Há também alterações nos preços dos bens: os bens industriais pouco sofisticados, intensivos em mão-de-obra menos qualificada, têm baixado de preço de forma muito clara. Da torradeira à televisão, os preços de hoje seriam impensáveis há dez anos. E, dentro em pouco, o preço de um carro utilitário e estandardizado irá pelo mesmo caminho. Tudo isto é positivo para todos os consumidores. Como os asiáticos têm melhorado a sua situação económica, deixando de passar fome, os preços dos bens alimentares têm subido (também por isso) de forma muito acentuada. Com a economia mundial a crescer a taxas nunca observadas, devido aos países asiáticos, o preço da energia tem igualmente aumentado. Estes efeitos podem ser desagradáveis mas acontecem por boas razões. "
Estas frases extraídas do artigo de Luís Campos e Cunha "O mundo duplicou", publicado no Público de 16.05.2008, mostram que estamos numa época em que, pela primeira vez na história, é obrigatório olhar para o mundo como um todo.
Infelizmente quer a política quer a cultura ainda não se abriram ao universalismo e continuamos todos a funcionar com base em particularismos e capelinhas.
Por outro lado, em termos médios, este novo mundo económicamente integrado "regrediu" para um tipo de sociedade industrial que a Europa, por exemplo, tinha ultrapassado há décadas. Voltou a formar-se um gigantesco proletariado industrial e uma aparentemente inesgotável reserva de mão de obra barata. Mas esta "sub-revolução industrial", que ocorre em plena era digital, não será uma simples cópia das anteriores.
Mais depressa do que julgamos centenas de milhões de seres humanos, culturalmente muito diversos, deixarão de ser apenas "comedores de arroz" e entrarão nos mercados da arte, do turismo e do entertenimento. As consequências são incalculáveis.
Thursday, May 15, 2008
Chavez, sempre inspirador
Bar des sciences
Wednesday, May 14, 2008
"Nunca haverá uma solução militar"
En la actualidad, muchos israelíes no tienen ni idea de lo que sienten los palestinos, de cómo es la vida en una ciudad como Nablus, una prisión con 180.000 reclusos en la que no hay ni restaurantes, ni cafés ni cines. ¿Qué ha ocurrido con la famosa inteligencia judía? Ni siquiera estoy hablando de justicia o de amor. ¿Por qué se continúa alimentando el odio en la franja de Gaza? Nunca podrá haber una solución militar, porque dos pueblos luchan por una sola tierra. Por fuerte que sea Israel, siempre sufrirá inseguridad y miedo. El conflicto se devora a sí mismo y al alma judía, y siempre se le ha permitido que lo haga. Quisimos hacernos con tierras que nunca pertenecieron a los judíos y construir en ellas asentamientos. En ese hecho, los palestinos ven, y con razón, una provocación imperialista. Su resistencia, su no, es absolutamente comprensible, pero no los medios que utilizan para llevarla a cabo, ni tampoco la violencia o la inhumanidad indiscriminada.
Los israelíes debemos finalmente encontrar el valor para no reaccionar ante esa violencia, el valor de ser fieles a nuestra historia. Los palestinos no podían esperar que después del Holocausto nos ocupáramos de alguien que no fuéramos nosotros mismos: teníamos que sobrevivir. Ahora que lo hemos hecho, unos y otros debemos mirar colectivamente hacia delante. Aún no ha nacido el primer ministro israelí capaz de esa empresa. Fundamentalmente, hoy en día no hemos avanzado nada respecto a 1947, cuando las Naciones Unidas votaron la partición de Palestina. Peor aún: en 1947 todavía era posible imaginarse un Estado binacional, pero, 60 años después, parece algo inconcebible. Hoy en día, los israelíes, al referirse a una solución basada en la existencia de dos Estados, hablan de separación, de divorcio: ¡qué cinismo! Normalmente, los divorcios afectan a personas que en su día se quisieron... (...) Hace años que no vivo en Israel y soy muy consciente de que mi perspectiva es la de un forastero. A veces, la gente me pregunta "¿qué es un judío?". La respuesta es la siguiente: un judío que tiene experiencias antisemitas en el Berlín de 2008 es diferente al que las tenía en 1940. El de 1940 se sentía amenazado; el de la actualidad puede pensar en su propia tierra, en Israel. Hoy en día puedo decirle al antisemita que "o bien aprendes a vivir conmigo o podemos seguir cada uno nuestro camino. Y punto", y esto supone una diferencia fundamental. A medio plazo, soy pesimista respecto a Oriente Próximo, pero a largo plazo soy optimista. O encontramos una forma de vivir con el otro o nos matamos.
As saudades que eu já tinha deste homem
A cor do horto gráfico
Esta coisa do Acordo Ortográfico parece-me ser mais um não-problema.
Como quase tudo no nosso país está a ser tratado como uma disputa entre claques.
Depois de ouvir e ler muito sobre o tema cheguei à conclusão de que não virá ao mundo nem grande bem, nem grande mal, por causa deste acordo.
Ele é fundamentalmente um sinal diplomático, um gesto simbólico com o qual eu estou totalmente de acordo. É preciso pensar largo, universalmente, tendo sempre em mente a comunidade mundial dos falantes.
Depois há um outro nível de irrelevância da ortografia. Trata-se de uma “lei” sem sanções. Passada a fase dos ditados escolares cada um escreve como calha e não sofre qualquer sanção por isso. Até nos meios de comunicação e nos documentos oficiais podem encontrar-se "variações" ortográficas que não invalidam as notícias nem os contratos.
No plano da comunicação pode argumentar-se que algumas regras têm que ser respeitadas sob risco da incomunicabilidade. Mas também é verdade que certas manipulações da ortografia enriquecem a comunicação, em vez de empobrecer, pela sugestão de novas semânticas.
O mesmo se passa aliás com a sintaxe que, a ser sempre respeitada, limitaria gravemente a linguagem poética.
Num mundo ideal cada pessoa deveria, em cada momento, ter liberdade para gerir a sua comunicação através do equilíbrio entre a inteligibilidade, a ortografia criativa e a linguagem poética. A “ortografia oficial” seria usada nos documentos formais ou de carácter científico.
Estas dissertações foram desencadeadas pelo texto de Rui Tavares no Público de 14 de Maio (ver aqui), que recomendo, intitulado "Uma boa decisão". Diz ele a abrir:
“Vasco Graça Moura escreveu um poema celebrando o sexto aniversário do blogue de Pacheco Pereira, cujo título é Abrupto, e aproveitou a ocasião para lhe lamentar a queda do "p" pelo novo acordo ortográfico, jurando que havia de pôr luto se o abrupto ficasse abruto. É bonito, sim senhor. Mas não é verdade: o "p" em abrupto não é uma consoante muda e, pronunciando-se, continuará na palavra escrita.
Aproxima-se um dia decisivo para a questão ortográfica e a confusão, voluntária ou involuntária, é geral. A confusão, acima de tudo, dá jeito. No meio disto, até há quem pense que o que está em discussão é Portugal ratificar ou não o Acordo Ortográfico. Mas não é.
Portugal já ratificou o Acordo Ortográfico. Há mais de 15 anos. Aquilo que na sexta-feira se votará no Parlamento português é uma modificação que se introduziu, entretanto, para permitir a entrada de Timor-Leste e aceitar que o acordo entre em vigor depois de ratificado por três países.”
.
One pill makes you larger
Tudo isto para dizer que gostei muito deste post do Julinho:
«Enfim, claro que desde que rererererevi o Hatari! na televisão no início do mês (e que, claro, ao contrário da merda dos MIB ou do Ishtar ou do Evita, não vai repetir, pelo menos este mês, para poder finalmente gravar, embora nunca veja filmes gravados, mas às vezes gosto de saber que estão lá), tenho andado a ouvir as pessoas na rua a tratarem-me casualmente por bwana. Confesso que me pareceu inusitado de início, mas a verdade é que quando lhes digo para continuarem a fazer a sua vida como se o meu extraordinário poder de atracção carismática sobre eles não existisse, eles cumprem-no escrupulosamente. Estranhamente, quando me faço à população nativa é que a coisa não corre muito bem. Talvez porque não estava no guião, talvez porque não fosse uma fantasia colonial. É o problema de ficarmos cativos, por razões que não nos interessa explorar, em filmes que nos acompanham seguros desde o tempo em que as tardes de fim-de-semana da RTP1 tinham cinema clássico: não há margem de improvisação para um destino cujo fado é o de não se cumprir.»
Blog Archive
-
▼
2008
(890)
-
▼
May
(78)
- Vai bonito o insulto no PSD
- We are the world
- Divine Command
- O meu presidente
- O sexo dos anjos
- EU NÃO VOU
- Sessão festa no Teatro da Trindade promovida pela ...
- Foi você que pediu um Berlusconi ?
- Google takes on Portuguese, and wins
- O PSD a passos de coelho
- Duas novas revistas on-line
- Combustíveis e luta de classes
- O exagero militante
- Assaltar ou possuir uma gasolineira ?
- O previsível CAA
- As alternativas de André Freire
- O valor da mobilidade
- Um governo de esquerda
- «Por exemplo: despedimentos. Como é que é?«
- Your fountain pen has crashed
- Dez anos de Expo 98
- Nightwatching
- A demagogia nos combustíveis
- Os monstros que vivem dentro de nós
- O 18 Brumário de Rodrigo Tiuí
- As conferências do divã
- Quem é Ricardo?
- 50º Aniversário da Candidatura de Humberto Delgado...
- Um físico na prisão de Estaline
- Reflexões em aberto sobre o Maio de 68
- Tudo no seu lugar
- Diz antes: deveriam chamar-se "livres à Inácio"?
- Barco com água abastece Barcelona
- Uma escala inimaginável
- O gigante tem pés de barro ?
- Os novos cruzados
- Ir às fontes
- Coisas de que nem sempre nos lembramos
- Então o que é que fica ?
- Chavez, sempre inspirador
- Bar des sciences
- O novo avião de Sócrates
- "Nunca haverá uma solução militar"
- As saudades que eu já tinha deste homem
- A cor do horto gráfico
- One pill makes you larger
- Bem vindo de volta a casa, Roca!
- Um dia de salário para a Nação
- A hegemonia cultural e política da esquerda nas vé...
- O socialismo morreu ? Viva o pós-capitalismo !
- O perigo das promessas
- Até sempre e obrigado, Rui Costa!
- Sectarismo no Avante!
- Hugo Chávez apoia China contra 'planos separatista...
- O provincianismo da praxe
- Made in China
- E se houvesse um novo 25 de Abril ?
- Luzes e sombras de Israel
- Santa Apolónia e a crise alimentar
- 1968
- 1967
- 1966
- 1965
- 1964
- Rigor, transparência, honestidade
- Bosco
- 1963
- 1962
- O metro mais bem planeado e os autarcas mais intel...
- 1961
- 1960
- Grandes marcas com quanto por cento de desconto?
- Os meus anos 60
- A quarta via para o socialismo ?
- No Dia das Mães
- CORPO traço CORPO
- Proselitismo de 1º de Maio
- Ainda o Maio de 68
-
▼
May
(78)