Wednesday, December 31, 2008
Bom 2009 para todos!
2008 acaba em grande, que venha 2009
"Os portugueses gastaram 4,28 mil milhões de euros entre 1 e 25 de Dezembro deste ano. Este é o valor resultante dos levantamentos feitos nas Caixas Automáticas Multibanco (CAM) e dos pagamentos feitos nos Terminais de Pagamento Automático.
De acordo com os dados da Sociedade Interbancária de Serviços (SIBS), o número de operações subiu 4% face ao mesmo período do ano passado, mas o seu valor aumentou apenas 1%. O valor médio gasto por operação foi de 54 euros.
Os levantamentos no Multibanco atingiram os 29,4 milhões, mais 3% que no homólogo, sendo que o valor levantado pelos portugueses ultrapassou os dois mil milhões de euros, também mais 3%. O valor médio dos levantamentos foi de 69 euros.
Já os pagamentos nos terminais chegaram quase aos 50 milhões de unidades, mais 4% que no homólogo, com o valor a passar dos 2,2 mil milhões de euros, sensivelmente o mesmo que no ano passado."
Agência Financeira, 30.12.2008
Onde está afinal a crise ?
Foi empurrada para 2009 ?
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Tuesday, December 30, 2008
Automobilistas ou criminosos ?
"Nos primeiros 28 dias da Operação Natal em Segurança, a PSP já deteve 634 pessoas.
Segundo as autoridades, dois terços por crimes praticados nas estradas, em especial a condução sob o efeito de álcool, mas também por tráfico de droga, posse de armas, furtos e agressões a agentes.
Desde o dia 1 de Dezembro, a PSP já fiscalizou 53 mil viaturas, cerca de 250 seguranças privados em Centros Comerciais e casas nocturnas e já apanhou mais de 2400 excessos de velocidade nos radares.
Esta operação vai prolongar-se até 8 de Janeiro. "
Rádio Renascença, 29.12.2008
Andar a 140 na autoestrada, traficar droga e agredir agentes; para a PSP são tudo criminosos que na sua mente se confundem. Assim vai o civismo das nossas "autoridades".
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Para quem não viu...
Quando chegámos, aquilo que tinham para nos contar era uma história incompreensível que metia guerras coloniais, Salazares, emigrações em massa e outras tragédias escolhidas com exemplar mau gosto. Além disso, havia também os vinte e cincos de Abril e os primeiros de Maio, que vocês insistiam em rodear de monossílabos e interjeições. Então, para explicar o que tinham para nos oferecer, fizeram livros chatos, filmes ainda mais chatos e pouco mais. Depois, acusaram-nos de não entender. A culpa não era vossa. Não, nada disso. Vocês explicaram-nos tudo muito bem. A culpa era nossa, por aparecermos nos inquéritos de rua do telejornal a gaguejar, ou a dizer que o Marcello Caetano era um cantor brasileiro.
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Há assuntos acerca dos quais não podemos falar, são interditos. Nós não estávamos lá, não sabemos nada e, por isso, temos de nos calar. Até porque, afinal, nós somos uns privilegiados. Não passámos por aquilo que vocês passaram. Vivemos neste mundo confortável que vocês construíram para nós. Sim, porque foram vocês que nos trouxeram pela mão a este lugar onde, com uma licenciatura, dezasseis anos de escola, podemos aspirar a dobrar camisolas na Zara, a arrumar livros na Fnac ou, fardados, a fugir dos clientes que procuram informações no Ikea. Com sorte, um contrato de seis meses. Com sorte, um estágio não remunerado.
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José Luís Peixoto
VISÃO 25.12.2008
(para leitura integral clicar na imagem)
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Perguntas e Respostas sobre a última guerra israelo-palestiniana
Quem começou as hostilidades?
A 4 de Novembro deste ano, Israel assassinou seis membros do Hamas, violando uma "tahdiyeh" ou trégua, que estabeleceu (mas nunca reconheceu publicamente) com o movimento islâmico, sob mediação egípcia, a 17 de Junho. O Hamas intensificou o lançamento de mísseis e morteiros sobre cidades israelitas – em sete anos, estes disparos mataram pelo menos 20 civis. Israel retaliou sujeitando a Faixa de Gaza a um duro bloqueio económico – com restrição de entrada de alimentos e medicamentos e cortes de combustível –, agravando uma situação humanitária que o Banco Mundial e ONG descreveram como "catastrófica". Khaled Meshaal, o chefe do Hamas exilado em Damasco, justificou a decisão de revogar a "tahdiyeh", a partir do dia 18 de Dezembro, invocando as execuções dos seus operacionais e o cerco a que Gaza está sujeita.
Porquê atacar agora?
Para alguns analistas, Israel quis aplicar um duro golpe ao Hamas, ainda quem sem a ambição de o eliminar, como tentou, mas fracassou, com o Hezbollah no Líbano, em 2006. Também quis, escreveu o jornal francês "Libération", mudar as regras do jogo antes de uma "desacreditada Administração Bush" sair de cena e Barack Obama entrar na Casa Branca. Decisivo foi também o facto de Israel estar em campanha eleitoral, e de as sondagens beneficiarem o líder da oposição direitista, Benjamin Netanyahu.
Que solução para o conflito?
Para Israel, dizem analistas, o pior cenário seria o Hezbollah, apoiado pela Síria e financiado pelo Irão, abrir uma "segunda frente" no Líbano. O movimento xiita terá cerca de 40 mil mísseis e provou, em 2006, que sabe resistir ao reputadamente "mais poderoso exército do Médio Oriente". Outro receio é o da eclosão de uma revolta popular na Cisjordânia, onde Mahmoud Abbas tem sido incapaz de obter significativas concessões de Israel: os colonatos continuam a expandir-se, as incursões militares prosseguem, os «checkpoints» não são desmantelados e 6000 prisioneiros permanecem nas cadeias. O cenário mais realista parece, assim, o de negociar uma nova trégua. (...) Conclui Yossi Alpher : "Israel vai ter de escolher se reconhece que o Hamas está para ficar e o aceita como interlocutor, por muito que isso seja intragável, ou se reocupa a Faixa de Gaza, derruba o Hamas e acarreta com todos os custos que isso envolverá."
Monday, December 29, 2008
Leiria no tempo das Invasões Francesas
Sócrates bipolar ?
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Sunday, December 28, 2008
Estou farto, farto !
Saturday, December 27, 2008
Imperialismo sem canhoneiras
"Pela primeira vez desde o século XV, a Marinha chinesa envolve-se numa missão militar fora do Pacífico, ao ter enviado ontem dois destroyers para as águas do golfo de Áden para combater os piratas da Somália. As duas embarcações, acompanhadas por um navio de abastecimento, concretizam uma longa ambição política. Uma "oportunidade caída do céu", diz um analista: a China consegue, ao mesmo tempo, afirmar o seu papel de potência mundial e não ameaçar os seus vizinhos.
Os navios de guerra que partiram ontem de Hainan, no Sul, estavam decorados com balões e flores; os 800 membros da tripulação (que inclui 70 soldados de uma força especial da Marinha) acenaram a uma multidão que foi ao cais despedir-se, antes de partirem para a missão. Têm pela frente dez dias de viagem até se juntarem a uma patrulha internacional que vigia uma das regiões marítimas mais movimentadas do mundo, e também uma das mais instáveis, com piratas a pôr em risco o comércio global."
Público, 27.12.2008
No texto diz-se que, com esta manobra naval, os chineses "concretizam uma longa ambição política". Se esperaram 600 anos por esta ambição ela foi realmente longa. Um imperialismo como este só com paciência de chinês.
Caricato é quem durante esses 600 anos colonizou e depredou o planeta acusar agora os chineses de imperialismo no Tibete. Será porque ao Tibete não se chega de barco ?
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Friday, December 26, 2008
Um singelo balanço
A "Intifada judaica" e o "pogrom palestiniano"
Exército foi colocado em estado
de alerta total depois de ataques de colonos extremistas em Hebron, visando árabes e até soldados
Avi Issacharoff, colunista do diário hebraico Ha'aretz, não poupou ontem nas palavras para condenar as acções no dia anterior em Hebron, na Cisjordânia. "Uma família palestiniana inocente, num total de 20 pessoas. Todas mulheres e crianças, excepto três homens. A cercá-los, algumas dezenas de judeus encapuzados tentando linchá-los. É um pogrom. Isto não é uma brincadeira de palavras nem tem um duplo significado. É um pogrom no pior sentido da palavra."
"Primeiro, os homens mascarados incendiaram a lavandaria à entrada da casa e depois tentaram deitar fogo a um quarto. As mulheres gritaram por ajuda, Allahu Akhbar [Deus é grande]. No entanto, os vizinhos estavam demasiado assustados para se aproximarem, aterrorizados com os guardas armados de Kiryat Arba [um colonato nas imediações] que tinham isolado o imóvel. (...) Pouco mais de uma hora depois, chegou uma unidade das forças especiais de polícia para dispersar a multidão de homens mascarados. (...) Ao deixar a casa, um colono disse a um dos agentes: 'Nazis, tenham vergonha!'"
Issacharof é um respeitado jornalista, documentarista e autor do livro The Seventh War: How we won and how we lost the war with the Palestinians, escrito em parceria com Amos Arel, um dos maiores peritos em questões militares e de defesa de Israel - também ele colunista do Ha'aretz.
O jornal juntou a sua voz à de Issacharof ao escrever, em editorial, o que só o grande filósofo e cientista judeu Yeshayhu Leibovitz, que morreu em 1994, ousara antes dizer: "É difícil ignorar o modo como a política e a sociedade israelitas fecharam os olhos ao crescente terrorismo judaico."
"Esta semana, Israel chegou a um ponto de não retorno, que também determinará quem controla o Estado: o sistema de justiça e um Governo eleito democraticamente ou o terrorismo judaico. (...) O futuro do Estado sionista judaico está refém daqueles que rezam pela sua destruição. Nenhuma justificação moral, nem sequer a justa reivindicação moral de um lar nacional para o povo judeu, ficará de pé, dentro ou fora do país, perante a capitulação ao terror."
E nós ?
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"A previsão confirmou-se, o ano ainda não chegou ao fim e só nos Estados Unidos já foram feitos mais de mil milhões de downloads legais de músicas. Até ao final de Dezembro, estima-se que o número ascenda aos 1040 milhões.A Nielsen SoundScan, um sistema de informação que segue as vendas de música e vídeos nos EUA e no Canadá, já tinha previsto em Abril deste ano que 2008 ia ver ultrapassada a barreira psicológica dos mil milhões de downloads (o billion inglês).A cada ano que passa, o formato físico de venda de músicas – o Compact Disc (CD) –, vai sendo cada vez menos comprado. Entre 2000 e 2007 a venda de CDs caiu 45 por cento, e prevê-se que a queda vá continuar ao ritmo de oito por cento a cada ano. Ao mesmo tempo o negócio virtual de música aumenta sete por cento anualmente.Segundo o El País, em 2007 as vendas de música digital nos Estados Unidos alcançaram 1275,5 milhões de dólares (892 milhões de euros) de um negócio total de 10.370 milhões de dólares (7250 milhões de euros), apenas 12,3 por cento das vendas. Mas, de acordo com as tendências, estima-se que em 2011 esta percentagem passe para metade."
Público 19.12.2008
Aqui está mais um exemplo da galopante desmaterialização das mercadorias. Com ela vem também a infinita replicação sem necessidade de trabalho humano vivo adicional.
Em tempo de retorno a Marx há que convir que isto nunca lhe passou pela cabeça (que era sem dúvida brilhante).
E nós ? e as novas esquerdas ? que consequência teóricas extraímos destes novos factos ? Eis uma questão para respondermos em 2009.
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Wednesday, December 24, 2008
Um Natal economicamente viável para todos
a) o Alexandre tem várias vezes razão ao longo deste post; aqueles parênteses sobre o câmbio só pecam por defeito. A queda da libra proporciona um dos gráficos mais deprimentes da história económica recente (creio que é evidente que não sei do que estou a falar), mas para o consumidor que deseje vir às livrarias inglesas gastar dinheiro português, a situação não poderia ser melhor. Aliás: o valor da libra desceu mais um bocadinho desde que comecei o post. Aliás: estou a escrever este post à luz de uma pequena fogueira ateada com notas de dez libras (tenho usado as notas de vinte para papel de embrulho);
b) por uma questão de enfim, não vou fazer listas, mas, uma vez que não vi mais do que sete filmes estreados este ano, parece-me pertinente afirmar que o melhor deles foi Du levande (Roy Andersson), do qual podem ver aqui um clip (o truque da toalha é uma tradição familiar a que procuro dar continuidade).
c) por motivos que não vamos aqui enfim, descobri uma coisa assombrosa: o tradutor automático do google transforma "João Miranda" em "John Coltrane".
d) das melhores coisas que li este ano, em qualquer sítio e em qualquer formato: o artigo na Economist sobre o farol de Fastnet.
e) a segunda melhor prenda deste Natal (desde os 15 anos que ninguém me oferecia brinquedos; estou muito feliz):
Tuesday, December 23, 2008
Natal Global ?
Agora, que até os chineses brincam ao Natal porque é giro, ainda faz algum sentido desejar Bom Natal?
Mal não há-de fazer... BOM NATAL !
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To Kill a Mocking Bird
00-zero
A mão do Cardozo na bola ontem foi quase tão grande como a do Hélder Postiga no sábado.
Monday, December 22, 2008
Três dias, três músicas
Por dificuldades de progamação da minha disponibilidade tive que ver em dias consecutivos, neste fim de semana, três espectáculos musicais. Não resisto a deixar registadas (para a posteridade?) as minhas impressões :
Sexta - CABARET, no Teatro Maria Matos, com encenação de Diogo Infante. A protagonista Sally, Ana Lúcia Palminha, foi escolhida de um grande lote de concorrentes, num programa que a TV transmitiu e que grangeou desde logo muitas atenções.
O musical é muito conhecido e tão forte no seu carácter que é difícil abordá-lo com originalidade. Devo confessar que, apesar disso, esperava outro rasgo de Diogo Infante.
Faltam neste espectáculo soluções mais inventivas para quebrar o gigantismo do palco do Maria Matos quando se representa um bar por definição íntimo e recôndito.
Mesmo trabalhos notáveis como Henrique Feist no "mestre de cerimónias", e noutra escala a própria Sally de Palminha, têm que lutar contra a desmesura do palco.
Os "velhos" Isabel Ruth (Fraulein Schneider) e Fernando Gomes (Herr Schultz), grandes artistas que já não têm que provar nada, ficam aquém de todo o seu potencial em virtude da inadequada abordagem musical que lhes foi pedida.
Sábado - "FIDÉLIO" de Beethoven em versão de concerto no grande auditório do CCB. O elenco constava de:
Anja Kampe como Leonore,
Simon O'Neil como Florestan,
Greer Grimsley como Don Pizzaro,
e também Mathias Hoelle, Chelsey Schill, Musa Nkuna e Mário Redondo.
Direcção musical e condução da Orquestra Sinfónica Portuguesa a cargo de Julia Jones.
Um belíssimo serão com esta ópera muito "sinfónica", tanto nos instrumentos como no canto, que foi bem servida e, de alguma forma, teatralmente interpretada apesar da inexistência de guarda-roupa e de cenografia.
Os cantores que mais me impressionaram foram a Anja Kampe e Greer Grimsley. Do púlpito, Julia Jones, com o seu ar atlético, puxou pela orquestra e conseguiu um excelente espectáculo.
Domingo - "Outro Fim" uma nova Ópera de Pinho Vargas e Vieira Mendes na Culturgest.
Não sei quantas pessoas estão "preparadas" para este tipo de música e para um enredo, aparentemente esquemático, que sofre da compressão no tempo de uma ópera curta.
Os intérpretes cantores (Larissa Savchenko, Sónia Alcobaça, Paula Morna Dória, Luís Rodrigues e Mário Alves) são excelentes embora Larissa revele algumas (naturais?) dificuldades com a dicção. A direcção musical de Cesário Costa, como sempre, está "acima de qualquer suspeita".
Confesso que, no meu caso, a experiência como espectador embora interessante se situou quase exclusivamente no plano do intelecto (e pouco na fruição dos sentidos).
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Marx e os seus retornados
Na verdade, aquilo que é o conteúdo do "regresso a Marx" resume-se ao facto de o Estado estar a intervir para tentar remendar os efeitos da crise financeira e minimizar os efeitos dessa crise na chamada "economia real", como se a outra fosse "irreal", ou seja, Bush quando decide injectar no sistema financeiro uns milhões de dólares, ou Obama quando quer salvar a General Motors, Sócrates quando reforça o capital da CGD com fundos públicos, ou os governos quando avançam com variantes nacionais de programas como o Tennessee Valley Authority de Roosevelt para combater o desemprego estão a propor uma solução "marxista" para os problemas da crise. Mais intervenção do Estado, menos "mão invisível", menos mercado livre, logo mais Marx. Para quem conheça Marx esta ilação é completamente absurda.
..."Só por ignorância de Marx, e de Engels como intérprete "legítimo" de Marx, é que se pode considerar que o reforço do papel do Estado na economia, através quer de nacionalizações, quer de "regulação", correspondem ao programa político marxista. Quer Marx, quer Engels, quando confrontados com as primeiras formulações de um programa "mínimo" por aqueles que hoje conhecemos como os fundadores do Partido Socialista Alemão, nos chamados "programas de Gotha e Erfurt", não fizeram outra coisa senão mostrar como a ilusão da intervenção do Estado era mais uma adaptação do capitalismo do que um passo na sua destruição, mais uma extensão do Estado prussiano e da política de Bismarck do que algo que revolucionários pudessem aceitar. Apesar de algumas ambiguidades dos "programas mínimos", mais presentes em Engels do que em Marx, a rejeição das ideias de Lassalle é radical, perguntando-se Engels na crítica ao Programa de Erfurt se a reivindicação de serviços públicos estatais (justiça, saúde, etc.) era compatível com "a rejeição do socialismo do Estado". E, por fim, a cereja no bolo marxista: é criticando o Programa de Gotha que Marx se refere a que entre "a sociedade capitalista e a sociedade comunista" está a "ditadura do proletariado".
..."Depois, nada há de menos marxista do que confundir a "luta de classes" com o discurso genérico e ambíguo dos ricos e dos pobres, o que faria Marx tremer de raiva. Na verdade, um dos grandes combates políticos de Marx como "marxista", depois de ser hegeliano, foi insistir que o papel do proletariado não vinha da vontade nem do irredentismo operário (bem menor em muitos países do que o da pequena-burguesia ou do campesinato), mas da condição proletária, ou seja, de um dado "científico" inscrito na relação de exploração."
Pacheco Pereira no "Abrupto"
É pena ter que ser um militante do PSD a vir dizer estas coisas.
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O estado é um predador, preda tão completamente...
"A turbulência financeira que atravessou o mundo e está longe de se dissipar já provocou a mais completa série de verdades definitivas e sobretudo contraditórias. Têm de comum o disparate e a inabalável certeza dos seus autores. "Marx tinha razão"; "É o fim do capitalismo"; "Acabou a hegemonia americana"; "Nada será como dantes"; "O Estado tem de tomar conta da economia"; "Vão mudar os padrões de consumo"... Em sentido contrário, também temos: "O capitalismo vai recuperar"; "A iniciativa privada vai ultrapassar a crise"; "Vamos refundar o capitalismo"; "A crise gera novas oportunidades de negócio"; "A União Europeia vai liderar a recuperação das economias"... Sem comentários.
Mais uma vez, anuncia-se um "novo paradigma". Não se sabe o que quer dizer, mas é "chique". E misterioso. Mais poder político? Mais supervisão e regulação? Mais justiça? Mais ética? Novos padrões de consumo? Mais Estado? As únicas certezas são o menor crescimento, o desemprego e a redução do conforto. O resto é uma incógnita. Até porque as mudanças de comportamentos demoram décadas. E as mudanças de leis e de instituições exigem políticos e legisladores à altura, com autoridade e legitimidade - o que também é uma incógnita.
A regulação falhou. É o que todos dizem, menos os reguladores. Convinha saber por que falhou a regulação. Os vigaristas têm meios mais sofisticados. Os reguladores, a justiça e as polícias estão atrasados. Estas são as razões superficiais. Mas há outras. Os reguladores e os políticos conhecem intimamente os especuladores e os predadores. Não só se conhecem, como se estimam e convivem. Têm mesmo, simultânea ou sucessivamente, interesses comuns. O triângulo formado pelos políticos, os reguladores e os especuladores constitui um percurso pessoal que muitos fazem airosamente nas suas carreiras. Muitos políticos e muitos reguladores consideram que os predadores e os especuladores têm o direito de se entregar às suas actividades, de operar no mercado livre, de ter sucesso e de vencer nos negócios. Se é verdade que houve Estado a menos, também é certo que Estado a mais não é a resposta. Pois o Estado é... os políticos!
Por uma vez, os políticos deste mundo não parecem ser os principais responsáveis. Mas não estão isentos. Falharam na regulação, na fiscalização e na inspecção. Falharam na justiça, na investigação e na penalização. São, frequentemente, parceiros, cúmplices e amigos dos bilionários e dos predadores. "
António Barreto, Público 21.12.2008
Eu já tinha falado sobre este "Mito da Regulação". Nem mais nem menos estado, talvez outro estado.
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Sunday, December 21, 2008
O que são "as esquerdas" ?
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"Não basta intitular-se trabalhador, reclamar-se de esquerda e desfilar na rua, para se passar a ter razão moral ou política.
O Estado não pode ser a soma de vários egoísmos corporativos, sustentado pelo sacrifício de uns poucos. Não deveria bastar a um projecto político de esquerda dizer: “Está descontente? Marche connosco!”.
Pelo contrário, não vejo o que o dispensaria de fazer a cada um a pergunta suscitada pela célebre frase de Kennedy: “O que faz você pelo seu país que justifique o seu descontentamento?”.
Mas, para isso, é preciso primeiro definir o que deve ser o Estado. Até onde deve ir e onde deve parar. Uma questão velha como o mundo."
Miguel Sousa Tavares, Expresso 20.12.2008
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Saturday, December 20, 2008
Museu Virtual do Cartoon
Vá ao Museu Virtual do Cartoon e escolha o seu preferido para ganhar o "Prémio do Público". Eu escolhi este do Taeyong Kang.
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Friday, December 19, 2008
A nossa imprensa desportiva
Jogo de sombras chinesas
"É impossível voltar atrás. O desenvolvimento futuro da China deve depender da reforma e da abertura", declarou o chefe de Estado e secretário-geral do Partido Comunista Chinês, durante uma cerimônia para celebrar o 30º aniversário do lançamento das reformas.
Contudo, em discurso de mais de uma hora e meia pronunciado diante de 6.000 convidados em Pequim, Hu Jintao também colocou limites a esta abertura, destacando que ela tem que vir junto com estabilidade e continuar sob a direção do Partido Comunista no poder.
"Nos demos conta de que o desenvolvimento é a lógica de base, e a estabilidade a tarefa de base. Sem estabilidade, não podemos fazer nada, e perderemos tudo que ganhamos", afirmou.
"Nosso partido seguirá sendo a coluna vertebral de todos os grupos étnicos nacionais para administrar os diversos riscos e desafios, externos ou internos, e continuará sendo a base no processo histórico de desenvolvimento do socialismo segundo as características chinesas", prosseguiu.
Em seu discurso, repleto de referências ao marxismo e ao socialismo, o presidente Jintao enumerou as profundas mudanças, sobretudo econômicas, que surgiram na China desde o lançamento das reformas sob a batuta do ex-dirigente chinês Deng Xiaoping.
Ele se referiu principalmente à reunião mantida pelo Partido Comunista de 18 a 22 de dezembro de 1978, durante o qual foram ratificadas as reformas. Esta reunião "marcou uma nova etapa na história do partido" desde a instauração da República popular da China, em 1949.
Em 1978, a China estava começando a emergir do caos da Revolução Cultural (1966-1976), com um Produto Interno Bruto (PIB) de apenas 364 bilhões de yuans. Em 2007, a China declarou um PIB mais de 68 vezes superior, de 24,953 trilhões de yuans (3,421 bilhões de dólares, segundo o câmbio do fim de 2007).
"O crescimento médio anual foi de 9,8%, ou seja, mais de três vezes a média mundial. A economia chinesa se tornou a quarta maior do mundo", ressaltou o chefe de Estado. "Não deixamos de nos abrir para o exterior e viramos uma página histórica, ao passar do fechamento à abertura em todos os setores", afirmou.
"Hoje o povo chinês está no caminho da prosperidade e da felicidade. O socialismo de características chinesas mostrou seu vigor e sua vitalidade", considerou.
AFP, 18.12.2008
No mesmo dia em que Hu Jintao pronunciou este discurso foram divulgados números sobre os internautas chineses. Com 290 milhões de internautas, 80% dos quais em banda larga, a China ultrapassou os Estados Unidos como a maior comunidade online do mundo.
Um dia, no futuro, ter-se-á uma noção mais exacta das consequências gigantescas, para o bem ou para o mal, desta transformação silenciosa do gigante asiático, para além dos fait-divers provocatórios que constantemente a ocultam.
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Thursday, December 18, 2008
Anti-gay ou anti-casamento ?
Barack Obama escolheu o reverendo Rick Warren, pastor evangélico anti-casamento gay, para a oração da cerimónia da sua tomada de posse. A escolha foi polémica, especialmente entre activistas dos direitos gay.
E se os médicos jogassem no Estrela da Amadora ?
O Governo adiou para Janeiro a discussão da proposta de alteração da carreira médica, que logo tinha suscitado a oposição dos Sindicatos, e vai reformulá-la.
Por outros exemplos, receio bem que a Ministra faça finca-pé em aspectos que não têm grande relevância para o serviço prestado à população, e vá abrir mão daqueles que poderiam de facto contribuir para um melhor SNS.
Por exemplo, insistir por um lado em que os médicos trabalhem mais horas por semana, pagando-lhes o mesmo. E por outro abrir mão da exigência de só os médicos com mais de 55 anos poderem ser dispensados das urgências nocturnas. Ou de as competências de determinados graus médicos serem revalidadas de 5 em 5 anos. A ver vamos.
Por outro lado, não é difícil descortinar nas reacções à proposta uma guerrinha entre Ordem e Sindicatos, subjacente à unidade da corporação em defesa do seu “estatuto”.
Claro que as vitimas do “conflito em larga escala” com que o presidente da Federação ameaçou o Governo, serão exclusivamente os doentes que os senhores doutores eram supostos servir...
Esta situação, assim como o conflito entre os sindicatos dos professores e o Governo, deve levar-nos a repensar a legitimidade social e ética de certas corporações profissionais que prestam serviços de primeira necessidade por conta do Estado utilizarem a greve como meio de reivindicação sindical.
Por coincidência, ouvi hoje que os jogadores do Estrela da Amadora, apesar de não receberem ordenado, não tinham feito greve ao jogo com o Futebol Clube do Porto...
Jogassem eles por conta do Governo e outro galo cantaria!
por Maria Rosa Redondo
(nossa analista, em exclusivo, do tema "clubes e corporações")
"PCP e BE vão perder pau e bola"
Este aparente estado de graça que vivem o Bloco de Esquerda e o PCP - fruto da contestação social de que é alvo o Governo por falta de políticas de esquerda, mas, sobretudo, por parte das corporações (professores, médicos, magistrados, etc.) - pode ser, na verdade, uma faca de dois gumes.
Nem BE nem PCP dão sinais de poderem corporizar um apoio pós-eleitoral ao PS se este não atingir a maioria absoluta nas legislativas do próximo ano. A "ética" do PCP não permite esse hipotético acordo. Se o permitisse, seria seguramente mais fiável como parceiro do que o BE. Mas não pode. Ponto final.
O Bloco de Esquerda ainda não é seguramente um bloco - é antes uma soma de personalidades, umas mais afastadas do que outras da extrema-esquerda estalinista e trotskista que se exibiu no pós-25 de Abril. Há quem tenha vontade no BE de vir a ser parceiro do PS (o caso Sá Fernandes é exemplar), mas muitos preferem cultivar esse lado de esquerda alegre. Outros temem que o PCP possa explorar eleitoralmente no futuro a perda da marca irreverente do BE.
É por isso que nem o PCP nem o BE têm condições para vir a ser aliados dos socialistas. E se não o são agora, quando estão em alta, quando o serão? Provavelmente, nunca. E sabe-se como ser poder atrai ou repele imprevisivelmente os eleitores. Assim, não só o BE e o PCP podem estar votados a ficarem eternamente na margem do poder, como podem também estar a contribuir para encostar o PS aos sectores colocados à sua direita, cavando um fosso inultrapassável. Ou seja, bloquistas e comunistas perderiam pau e bola. Mesmo que Manuel Alegre se exponha a protagonizar mais algum papel ingrato.
Wednesday, December 17, 2008
Um partido sidecar ?
"Faz-se um partido agora, só para tirar a maioria absoluta ao PS. E depois?"
"A ambição do projecto em curso e que ninguém nega que está já na estrada é de conseguir criar uma força política à esquerda que ocupe o espaço tradicional da social-democracia europeia, mas que parta de bases programáticas que equacionem já a crise do capitalismo financeiro e a nova época do capitalismo que vai nascer desta crise.
Daí o enfoque que este movimento e o próprio Manuel Alegre têm posto na necessidade de debater e de aprofundar propostas e ideias sobre o que fazer e o que propor ao país. Não pode haver um partido ou um movimento que redefina a esquerda em Portugal sem um sólido programa político. E há que encontrá-lo nos escombros não só da falência do comunismo soviético, mas também do liberalismo de Ronald Reagan e de Margaret Teatcher, bem como ainda da social-democracia que se enamorou do primado do mercado e esqueceu as pessoas como centro da sua acção programática.
Por isso, não basta debater os serviços públicos e o papel do Estado e Alegre fala já numa iniciativa sobre Justiça. A frase irónica de Alegre sobre o PRD surge precisamente nesse sentido. Não basta juntar personalidades e fundar um partido. Isso resultaria num fenómeno populista, mas sem futuro, feito para sobreviver algumas eleições, como foi o PRD, até acabar afogado nas urnas.
Outro risco que os dinamizadores deste projecto parecem estar conscientes de que não querem correr é o de Manuel Alegre mais os seus apoiantes romperem com o PS, formarem um partido e virem a funcionar como uma espécie de novos Verdes de uma nova CDU. Isto é, virem a ser a cereja no bolo de uma coligação liderada pelo Bloco de Esquerda. "
São José Almeida, PÚBLICO, 17.12.2008
Sábias palavras mas, por aquilo que conheço das pessoas, e destes processos, não tenho grandes esperanças de assitir à formulação de uma alternativa consequente. A esta hora já anda toda a gente a fazer contas aos votos e à distribuição dos lugares.
Quem me dera estar enganado...
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Isto diverte mas começa a ser cansativo
O que entendo por “democratizar a ciência” ou “democratizar a arte” é torná-las acessíveis aos cidadãos que por elas se interessarem, mesmo sem serem especialistas, sem nunca alterar o seu conteúdo. Por “tornar acessíveis” entendo fazer divulgação (algo que nem todos os cientistas ou artistas são obrigados ou vocacionados a fazer), ou em alternativa permitir que se faça divulgação desse mesmo trabalho para quem esteja interessado. Este público não é especialista e não deve ser tratado como tal. É até provavelmente à partida muito ignorante, mas é interessado e tem o direito de ver a sua curiosidade satisfeita.
No caso dos artistas, a divulgação mais imediata consiste na realização de exposições, abertas a todos os que as quiserem ver. Não há absolutamente nenhuma bitola diferente para as ciências e as artes. Defendo exactamente a mesma coisa. O que verifico é que os cientistas estão muito mais habituados a este procedimento. Certos artistas pelos vistos resistem. Não podem fazê-lo se receberem dinheiro do estado (enquanto artistas). Mas, repito, não defendo que o Estado interfira na sua liberdade e na sua criatividade de nenhum modo.
Tudo isto vem a propósito dos textos de Carlos Vidal. No mais recente, Carlos Vidal atribui-me entre outros qualificativos uma frase que nunca escrevi: “a função de qualquer artista [é] fazer com que as pessoas gostem um pouco mais de arte”.
O que eu escrevi (nos comentários) foi “Entendo que faz parte da minha função fazer com que as pessoas gostem mais um pouco de física. Tal como faz parte da função de qualquer artista fazer com que as pessoas gostem um pouco mais de arte.” “Faz parte” no sentido explicado nos parágrafos acima. E “faz parte” dessa função: nunca “é” essa função, unicamente (nem sequer principalmente). Mas quem é pago pelo Estado não se pode furtar a essa função.
A outra frase que Vidal me atribui até é verdadeira mas está descontextualizada. Escrevi “querer tornar a arte acessível a todos não implica necessariamente ter que fazer concessões”, exactamente no mesmo sentido em que (mais uma vez...) acima escrevi. “Acessível” nesta frase no sentido de “estar acessível” e não de “ser acessível”. São duas coisas muito diferentes (a língua portuguesa tem essa riqueza de distinguir o “ser” do “estar”). A minha tese resume-se na frase “a arte não tem que ser acessível, mas deve estar acessível”. Parece uma tese bastante óbvia mas pelos vistos não é para toda a gente. Carlos Vidal defendeu aqui que “Uma obra de arte não pode nem deve estar acessível a qualquer pessoa”. Para não deixar dúvidas, acrescentou: “a arte não pode ser para todos!” É contra esta posição que eu me tenho vindo a insurgir.
Carlos Vidal não entendeu (ou fingiu que não entendeu, por lhe dar jeito) a minha distinção entre “ser” e “estar” acessível, e tem-me vindo a responder (nos comentários e em texto) como se eu defendesse que a arte tem que “ser” acessível, algo que não defendo e nunca defendi. Não têm pois qualquer procedimento as respostas que me tem vindo a dar. Este tipo de confusões e desarticulação do pensamento não é novidade em Carlos Vidal, conforme os seus leitores poderão testemunhar.
Com que critério julga Vidal quem é ou não merecedor de conhecer as obras de arte? A sua iluminada cabecinha, pois com certeza. Vejamos o julgamento que faz de mim. Sem me conhecer de lado nenhum, nem o que eu sei nem deixo de saber, declara que “a ciência que eu sei” (e pelos vistos, se ele não me conhece, a ciência em geral) é “estrita, reduzida e muito especializada” (ficamos esclarecidos). Decide que, se eu me dedicasse só a ela, “todos teríamos a ganhar com isso”. (Devo agradecer o elogio? E se o Vidal se dedicasse só à arte?) E finalmente manda-me calar, algo que os leitores que fazem comentários simpáticos ao PS sabem que é o que Vidal melhor sabe fazer: “Quem não percebe isto porque é que não se cala e fala de física, só?? Custa muito ?????”
(Para não me acusarem de descontextualizar, esta frase vinha a propósito da “crítica de arte”, algo que nunca fiz nem tive alguma vez pretensões de fazer. Vidal confunde uma legítima opinião sobre um filme de um espectador com uma crítica profissional de cinema.)
Finalmente, Vidal proíbe a minha entrada nas suas exposições. Para que conste (sinto-me orgulhoso): “nunca admitirei a entrada de F. Moura numa galeria onde tenha obras minhas expostas. Isto é irrevogável, caríssimos.”
Curiosamente este mesmo autor que acha que a arte (em particular a sua arte, como referiu) “não é para todos” e me proibiu de a ver não se coibiria, dias depois, de exibir aqui, no Cinco Dias, desenhos de sua autoria.
Isto é comigo. E com outros leitores? De Carlos Miguel Fernandes, por exemplo, diz que a sua “arrogância reaccionária julga-se conhecedora de crítica”. Apesar de “não saber quem CMF é” nem “lhe interessar”, Vidal declara taxativamente que CMF “não poderá alguma vez ser” um “apaixonado sensível das imagens”. Pois acontece que Carlos Miguel Fernandes, para além de cientista, é um já reconhecido fotógrafo com um currículo considerável de exposições e obra publicada.
Assim se demonstra o belo resultado que teria a aplicação do critério que Vidal defende: quem teria acesso à arte seriam os “escolhidos”. Por quem? Por quem já tem acesso à arte. Os melhores não seriam necessariamente os escolhidos, como o exemplo do Carlos Miguel Fernandes confirma.
Infelizmente, este caso exemplar ilustra bem o estado bafiento de algumas universidades portuguesas. Carlos Vidal é assistente da Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Conforme aqui já tem defendido, só lá deve ter acesso quem tiver passado pela sua formação, pela sua “escola”, que consiste em “desigualdades académicas, disciplina, hierarquia e gajas”. Quando o interlocutor é alguém que nunca passou pela escola mas é famoso e reconhecido internacionalmente, como Jorge Calado, baixam logo a cabecinha. Quem não é conhecido, mesmo que tenha valor, como o Carlos Miguel Fernandes, é logo automaticamente barrado. Não é “da escola”, e não há escola como “a nossa”. Melhor retrato da academia tradicional portuguesa não há.
Com os insultos e delírios de Carlos Vidal posso eu bem, e julgo que o Carlos Miguel Fernandes também. Afinal, como eu já tenho dito, visto de fora isto até é divertido. Daqui de dentro começa é a ser cansativo. O problema (não é meu, mas não deixa de ser um problema) é que quem emite estes juízos baseados em puro preconceito é professor e – ele próprio o admite – aplica estes critérios aos seus alunos (e aos futuros colegas). E quer que se aplique a todos os cidadãos que ele entender.
Como resolver este problema? Não sei; no caso concreto do meio académico, o ministro Mariano Gago terá as suas ideias. Entretanto no Cinco Dias a gente vai-se rindo com o espectáculo.
West Coast
Portugal passou a ser um país muito popular entre os detidos de Guantánamo desde que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Luís Amado, anunciou, no dia 10, a disponibilidade de receber alguns, disse à agência Lusa Clive Smith, director da organização de defesa de direitos humanos Reprieve e defensor jurídico de 30 detidos. "Todos a quem falámos [da oferta do Governo português] ficou contente com a ideia", revelou Smiths. "Portugal é um lugar muito popular em Guantánamo nesta altura!", garantiu.
PÚBLICO, 17.12.2008
Só eles. Aos portugueses que tardam em reconhecer o país maravilhoso em que nasceram, e que não merecem, o Eng. Sócrates devia providenciar umas estadias em Guantánamo beneficiando dos voos gratuitos que tanta celeuma têm provocado
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Tuesday, December 16, 2008
Atamancar a política
A arte para o povo explicada aos velhinhos que gostam de elites
Paul Krugman fala de economia para o povo (via João Pinto e Castro).
Herman José fez “Cozinho Para o Povo”:
Googlei “arte para o povo”. O primeiro resultado da pesquisa foi Diego Rivera, o famoso pintor mexicano que gostava que a sua arte estivesse em sítios públicos para poder ser contemplada por todos. Por isso Rivera (e muitos dos seus contemporâneos mexicanos) gostava de pintar sobretudo murais.
Rivera demonstra que querer tornar a arte acessível a todos não implica necessariamente ter que fazer concessões. É conhecida a história da sua disputa com Nelson Rockefeller, a propósito do mural que o milionário lhe encomendou para o Rockefeller Center em Manhattan. Rivera queria incluir a figura de Lenine no mural; Rockefeller recusava, mas Rivera incluiu-a à mesma. O mural nunca chegou a ser exposto em público e acabou por ser destruído. A história é conhecida: foi contada por exemplo no filme Frida. Um filme de Hollywood. Outro exemplo de “arte para o povo”.
“A massificação destrói a “aura” que envolve as obras de arte”, escreveu alguém num comentário no Cinco Dias. Façamos disto uma causa: destruir a aura da arte elitista. Destruir a aura das elites.
Monday, December 15, 2008
Um Fórum Pós-Capitalista
Está tudo doido
Eu até admito que os criadores dos Simpsons não queiram ver as suas personagens em filmes de pornografia. Mas a condenação, a haver, seria por violação dos direitos autorais (embora se tivesse que provar que o condenado era o autor dos vídeos). Mas... por pornografia infantil?
Acabou por ser um bom fim-de-semana, só foi pena ter-me trancado a mim próprio fora de casa
Vou "linkar" um "blogue", como dizem os jovens
Sunday, December 14, 2008
Ah Lobo Antunes, és um cordeirinho
Ford: I've heard some things. A terrible review in The Sunday New York Times.
Birnbaum: Are you going to go out and shoot it? Is that a true story that your wife took a pistol and shot a bad review Alice Hoffman gave you?
Ford: Yes, it is a true story. Shot her book. Seemed so good to do. We had another copy so I went out and shot it too. I don't read my reviews anymore.
(De uma entrevista antiga a Richard Ford, que é, depois da aposentação de Norman Mailer, claramente o escritor mais chanfrado em actividade)
A macdonaldização da Antena 2
Texto de Mário Vieira de Carvalho, no Público de 13.12.2008
"Carecemos de uma esfera pública mais forte e dinâmica e com maior incidência em questões de cultura. Como explicar, por isso, o retrocesso na missão de serviço público da RTP/RDP através da Antena 2 - um retrocesso que remonta a 2003?
Antes de mais, a Antena 2 tem de fixar o seu público-alvo, que não pode ser o mesmo de uma rádio generalista. Tem de estimular aquilo a que poderíamos chamar a literacia da escuta e definir, a partir daí, uma estratégia de alargamento da sua audiência. Mas não se pode ganhar mais pessoas para a literacia, se se começa por promover a iliteracia.
Eis, precisamente, o que se passa com a música. Assiste-se a um recuo histórico da sua presença na Antena 2 e, portanto, na esfera pública. Deixou de haver em Portugal uma rádio que cultive realmente a integridade da escuta musical. Só por excepção se consegue ouvir uma sinfonia ou uma sonata completas. O andamento desgarrado de um quarteto de cordas é transmitido com o mesmo à-vontade caprichoso e arbitrário, a mesma falta de escrúpulos, o mesmo alvar "porreirismo" com que se apresentaria ao ouvinte a estrofe desgarrada de um soneto.
A programação começa logo por pressupor o enfado do ouvinte, a sua incapacidade de concentração, ou simplesmente a sua preferência pelo entertainer (locutor) a pretexto da música. Exclui-se, ao mesmo tempo, um tipo de ouvinte muito comum: o que mergulha subliminarmente no discurso ininterrupto da música enquanto se ocupa de outras coisas. Um modo de percepção que não impede que a música se entranhe e se reconstrua no seu todo, deixando intactas no subconsciente as associações que permitem depois reconhecê-la e antecipá-la no seu desenrolar - a base da literacia da escuta."Vibrato", "Baile de máscaras", "Boulevard", etc., que preenchem manhãs e tardes inteiras, são nomes diferentes para a mesma receita: a dos antigos "serões para trabalhadores". Coisas truncadas, mutiladas, aligeiradas, abreviadas... para "o Outro inferior".
Música a metro, ou a retalho, leiloada a pataco - "quatro minutos" deste, "três minutos" daquele -, como quem propusesse "20cm x 10cm" de tal ou tal tela pintada. O alinhamento espartilhado em "horas" impõe o tempo burocrático ao tempo musical. Para uma sinfonia de Mahler, só cortando as "extremidades"....Amordaçada, estropiada, a linguagem da música deixa de falar por si.
Mal a gente mergulha no universo do indizível, logo a palavra irrompe, banal e intrusiva, liquidando a experiência musical. Bombardeiam-nos com comentários fúteis ou pormenores pitorescos, observações a despropósito, erros, imprecisões... A pseudo-abertura à comunicação informal esconde o défice de profissionalismo. Nunca houve tantos profissionais da música e da musicologia em Portugal, e nunca a Antena 2 teve tão poucos deles nos seus quadros!... A programação planificada cede o lugar à improvisação atabalhoada. Por isso se recuou também no aproveitamento das novas possibilidades oferecidas pela Internet.Salvo os programas ou apontamentos de divulgação assinados por colaboradores com créditos firmados, a Antena 2 transformou-se numa rádio de apartes, de spots publicitários, de reclames a música que não chega a ser difundida.
Os ouvintes que se contentem com as amostras. Se querem mais, que comprem o CD.Mas, qualquer dia, nem isso. A iliteracia vicia. Como os hamburguers. Acaba-se o gosto pela música, e resta apenas a frequência aditiva do fast food musical. A obesidade da mente."
Concordo plenamente e transcrevo quem conseguiu caracterizar tão bem o que se está a passar.
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Saturday, December 13, 2008
Pimba TMN
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