Saturday, February 7, 2009

Desidério Murcho, os "pobres", o metro e a escola pública

Na sua habitual linha de pensamento político liberal, Desidério Murcho pergunta quais as vantagens e desvantagens de um imposto único. Tal já havia sido objecto de debate entre o Luís Aguiar Conraria (que, aliás, já tinha apresentado a ideia, e responde a Desidério) e Vital Moreira (que havia respondido à altura por duas vezes). As respostas ao texto de Desidério nos comentários são boas (particularmente a do anónimo Artur), mostrando que, mais do que económica, esta é uma questão política. Mas, lendo os mesmos comentários, reparei num particularmente significativo do próprio Desidério:
Ter dois milhões de euros no banco e viver em Chelas num apartamento de 20 mil euros, sem carro e andando de metro é algo bizarro, não? Isto devia ser evidente.

Para eu ser “bizarro” para o Desidério, só me falta mesmo ter dois milhões de euros no banco. Mas, portanto, escolhas pessoais como não ter carro e opções cívicas como andar de transporte público são, para Desidério, para “pobres”. (Um rico que as tome é “bizarro”.)
Curiosamente o mesmo Desidério Murcho muito insiste na elevação de conteúdos ensinados na escola pública, insurgindo-se contra o preconceito de considerar que os pobres “não gostam” de ciência, filosofia ou literatura a sério como motivo para “aligeirar” os conteúdos dos programas de ensino. Desidério defende o ensino na escola pública da melhor ciência, da melhor filosofia, da melhor literatura. Para percebermos melhor o conceito de escola pública de Desidério Murcho, convinha que ele respondesse a uma ou duas perguntas, relacionadas com este seu comentário. Um “pobre” que se interesse por ciência ou literatura ou filosofia, é bizarro? Um rico que ande na escola pública, é bizarro? Se Desidério achar que sim, julga que a escola pública é “para pobres”. Se achar que não, não é bizarro, por que raio é que o haveria de ser o andar de metro?

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