Wednesday, June 24, 2009

AFARI

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Há exactamente 50 anos, durante o Verão de 1959, fui caixeiro e moço de recados na AFARI. A AFARI ainda lá está, na Rua Augusta, e ainda é uma loja de fotografia. Eu é que já não sou caixeiro.
A minha carreira escolar sofreu no ano lectivo 1958/1959 um grande sobressalto que terminou num estrondoso chumbo de quase todos os compinchas da rambóia (entre os quais o meu amigo Luís Maia que reencontrei na blogoesfera).
O meu pai (tirano) decretou que eu trabalharia durante as férias "para aprender", já que durante o ano escolar eu pouco aprendera pelo menos daquilo que ensinavam então no equivalente do 8º ano.
No Diário de Notícias, se não falho, encontrei um anunciozinho que me apressei a responder e que me rendeu, naquelas férias, a astronómica quantia de trezentos escudos (a que hoje se chama um euro e meio).


Ocorreu-me tudo isto recentemente quando bebia uma limonada na Rua Nova do Almada, exactamente como há 50 anos, num cafézito junto à Boa-Hora que, dizem os jornais, está em perigo de vida. A limonada, excelente, lembrou-me aquelas que eu bebia quando era mandado entregar uns pacotes mais acima, na Instanta do Chiado (suponho que eram negativos para revelar ou coisa quejanda).
Na loja eu, apesar da cabulice, falava o melhor francês e inglês o que fazia de mim alguém quando entrava algum estrangeiro, trazido pelo esparso turismo de então. Nesses momentos eu justificava o meu salário e percebia finalmente o alcance da escola.
De toda aquela experiência ficou-me a descoberta da fotografia e um embrião da consciência de classe. E os trezentos paus, bem entendido.
Talvez também uma certa ligação à Baixa que me fez chorar de raiva quando ouvi, algures no Minho, que o Chiado estava a arder.

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