Tuesday, June 30, 2009

Pepinos curvos e cenouras nodosas - uma nova era

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Eu não podia deixar em claro que amanhã, transcorrido menos de um mês sobre as eleições europeias, teremos o "início de uma nova era para os pepinos curvos e as cenouras nodosas".

A alteração da legislação que entre amanhã em vigor é mais uma prova da utilidade e clarividência das regras comunitárias.

"... está previsto o grande regresso: pepinos curvos, alhos pequenos, cenouras nodosas vão voltar a conquistar o seu lugar nas bancas. Entram em vigor as novas regras que permitem a venda de frutos e produtos hortícolas “deformados”.As regras comuns de calibragem na União Europeia foram impostas há várias décadas pelos Estados-membros. Mas no final do ano foi anunciado que as normas de comercialização específicas para 26 produtos iam ser revistas. Os couves-repolho já não têm que ser perfeitas. Os damascos, alcachofras, espargos, abacates, também não... beringelas tortas também têm direito a ser compradas. Mariann Fischer-Boel, comissária europeia responsável pela agricultura e pelo desenvolvimento rural, não poupou nas palavras quando, no dia 12 de Novembro, foram revistas as imposições que arredavam dos mercados estes produtos: “Esta decisão marca o início de uma nova era para os pepinos curvos e as cenouras nodosas. Trata-se de um exemplo concreto dos nossos esforços para eliminar burocracia desnecessária”Boel justifica a mudança com a actual conjuntura económica de “preços elevados dos produtos alimentares e de dificuldade económicas generalizadas” – “Não tem qualquer sentido eliminar produtos de perfeita qualidade apenas porque têm uma foma ‘errada’.”

Público 26.06.2009

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A revolta dos equiparados

Na notícia do Público on-line sobre a recente manifestação dos docentes do ensino politécnico, lêem-se comentários como:
"Os professores na sua grande maioria entraram por concurso. O que o senhor ministro quer é que se submetam a novo concurso colocando o seu lugar à disposição de outros que apesar de terem doutoramento e curriculo em investigação, nada fizeram para edificar o sistema politécnico e por isso, tiveram todo o tempo pago com bolsas para fazerem investigação."

Não é verdade que os professores em causa tenham entrado nos politécnicos e nas universidades através de um concurso propriamente dito: se fosse esse o caso, pertenceriam aos quadros dessas instituições. Mas o protesto tem a ver com os docentes que não pertencem ao quadro e que, como tal, nunca foram aprovados num concurso como os concursos devem ser, com um júri com membros externos. Estes docentes foram contratados a termo certo por concursos, sim, mas com júris exclusivamente internos. Em grande parte, foram isso sim contratados “por urgente conveniência de serviço”, o que é um belo justificativo para contratações ad-hoc, muitas vezes do compadre da esquina. Basta ler o Diário da República para confirmar, com regularidade, estas contratações “por conveniência de serviço”. Mas não os tais “concursos” com júris internos que referi: esses não vêm em Diário da República nem têm que ser divulgados. Na melhor das hipóteses estes concursos são anunciados (por exemplo, em jornais ou na net). Mas na maior parte das vezes um anúncio na secção de pessoal chega; os candidatos “convenientes” tomarão sempre conhecimento da vaga. Concursos públicos, publicados em edital e abertos a todos os candidatos qualificados, são os das bolsas de investigação dos tais que “não edificaram o sistema politécnico”.
Se é aborrecido ler comentários deste género (principalmente quando se é bolseiro, ou era até há pouco tempo), mais aborrecido se torna encontrar uma carta como a dos docentes do Instituto Politécnico do Porto, divulgada na sua página e apoiada por um sindicato, o Sindicato Nacional do Ensino Superior. Sindicato esse que até tem um Núcleo de Bolseiros entre os seus sócios. Que pensarão os membros desse núcleo de passagens como esta?
“Não é aceitável uma proposta que obrigue esses mesmos docentes, cujo mérito absoluto pode ser inquestionavelmente comprovado, ou por provas ou por concursos públicos a que já se submeteram no passado, ou por outras provas públicas que verdadeiramente se adeqúem a um regime de transição desta natureza, a disputar o seu posto de trabalho com um número indeterminado de candidatos, estes últimos sem quaisquer provas dadas de poderem vir a oferecer um bom serviço à Escola.”

É notável este receio de disputar o “seu” posto de trabalho “com um número indeterminado de candidatos”. E é eloquente esta ideia de que o seu “mérito absoluto” não possa ser questionado, mesmo se seja somente através de provas e avaliações internas. Mas o melhor é mesmo o medo xenófobo dos candidatos “sem qualquer provas dadas de poderem vir a oferecer um bom serviço à Escola.” Mesmo se estes candidatos defenderam teses nas melhores universidades e têm artigos publicados nas melhores revistas, algo que a maioria destes docentes não faz a mínima ideia do que seja. Só o que é da “Escola” é bom para a Escola.
Quando eu era bolseiro (e antes de conseguir um contrato com uma universidade pública, por meio de um júri internacional), muitas vezes me foi vedada a entrada nos concursos de admissão ao quadro destes institutos, com os argumentos mais estapafúrdios. Outras vezes, era admitido a concurso, e ficava (em conjunto com outros colegas bolseiros) sempre no fim da tabela. Os primeiros lugares eram sempre para candidatos internos. Mesmo assim, estes eram mais que o número de vagas, e os que perdiam impugnavam os concursos, com argumentos do tipo “o candidato vencedor tem mais publicações que eu, mas eu demonstro mais interesse pela Escola - sou membro da Assembleia de Representantes!” (Os bolseiros só não são membros das Assembleias de Representantes porque não os deixam.)
Sempre desconfiei que havia um preconceito contra os candidatos de fora, principalmente os bolseiros de investigação, nestes concursos. Foi preciso vir esta proposta do governo para tornar essa desconfiança cristalina - como é claro do comentário do Público online e da carta do ISEP. Pelo menos esse mérito essa proposta tem.
Uma das críticas que mais se ouvem a este governo é o de pôr os portugueses uns contra os outros. Da parte dos bolseiros de investigação, esta proposta não pode ser entendida por esse prisma. Em nenhum país desenvolvido uma reivindicação como esta teria lugar, uma vez nestes países ninguém tem lugar numa universidade sem ser doutorado. Em Portugal, devido a um estatuto totalmente anacrónico, as universidades e os politécnicos foram contratando temporariamente não-doutorados, que, baseados nessa tradição, tinham expectativas em entrarem automaticamente no quadro. Esses contratados tinham todas as regalias de um funcionário público. Ao mesmo tempo, os bolseiros de investigação (os melhores alunos das melhores universidades) tinham a mesma precariedade (e, ao contrário dos docentes, sem nunca saberem se teriam outra bolsa quando a actual se acabasse, e sem nenhuma protecção social, com descontos sobre o salário mínimo e sem subsídios de férias ou Natal).
Ninguém quer excluir esses docentes temporários dos concursos para posições do quadro. Tudo o que os bolseiros pedem é igualdade de oportunidades no acesso a estes lugares. Seguramente, muitos dos candidatos internos que a eles concorrem são competentes. Por outro lado, essa igualdade de oportunidades não pode traduzir-se numa indistinção nos critérios de avaliação. Não é legítimo pretender-se que o currículo de investigação de um docente do ensino politécnico seja o mesmo que o de um bolseiro (ou, sequer, de um docente de uma universidade). Mas da mesma forma não é legítimo pretender-se que a experiência docente seja a mesma. Ora estes concursos valorizam sempre muito mais a experiência docente que a de investigação, se é que dão algum valor à investigação de todo!
O que se pretende, portanto, é que a nenhum candidato competente seja negada à partida a possibilidade de se candidatar a essas vagas, de forma a estas serem sempre preenchidas pelos melhores candidatos. Para optimizar o esforço que tem sido feito na formação de recursos humanos em Portugal. E sobretudo para garantir um melhor ensino superior às gerações futuras! Infelizmente, não parece ser essa a vontade de muitos desses docentes, a começar pelos sindicatos.

Monday, June 29, 2009

MILF Hunter

Gostaria de avisar todas as pessoas que leram este post hipoglicémico do Lourenço Ataíde Cordeiro (nome não-fictício) e ficaram a pensar que o ensaio de David Foster Wallace intitulado «Consider the Lobster» é um panfleto da Associação de Estudantes da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas cuja tese se resume a "Epá, baza lá comer relva que os animais são altamente" que o ensaio em questão passa por esse cubículo argumentativo apenas de passagem, para abanar a cabeça e prosseguir em direcção a salas muito maiores.
O único problema do ensaio é precisamente o facto de ser reduzido. As virtudes específicas de David Foster Wallace são directamente proporcionais ao espaço que ele tem para as exibir; o ensaio brontossáurico favorece-o de forma muito evidente. Ainda assim, «Consider the Lobster» tem virtudes assinaláveis. (Uma das quais é involuntária: o ensaio relata uma experiência no Maine Lobster Festival, evento que é designado como MLF ao longo das vinte páginas. E o acrónimo MLF, para um par de olhos débeis e um cérebro atolado na adolescência, assemelha-se a MILF, o que resulta em passagens bastante susceptíveis a humor classe-B, como por exemplo "locals do endorse and enjoy the MILF", "a lot of diehard MILF partisans" e "right out there in the MILF's northern grounds for everyone to see").
Já o problema do post do Lourenço é que acerta ao lado quando tenta isolar e definir as virtudes e defeitos de David Foster Wallace. Quando o Lourenço escreve, por exemplo, que "David Foster Wallace parece não transportar consigo nenhum preconceito em relação aos temas que aborda", há que dizer que não parece nada disto. O que parece é que David Foster Wallace transporta os preconceitos todos, e transporta também a consciência de que transporta os preconceitos todos, e a consciência de que essa consciência pode a qualquer momento deixar de ser vantajosa para se tornar incapacitante. Há uma propensão infantil em DFW para deixar a terra intelectual toda queimada à sua passagem, para não se contentar com nenhuma conclusão sem questionar as premissas e a possibilidade de o seu conhecimento dessas premissas poder ou não ter influência nas suas escolhas. DFW é (era) aquele tipo de pessoa incapaz de adoptar uma posição sem considerar a totalidade dos contextos em que essa posição já foi adoptada, uma característica muito útil para evitar um certo registo de escrita baseado na confiança absoluta de que se está a cindir o átomo naquele preciso momento, mas que, levada às últimas consequências, pode impossibilitar qualquer opinião que não esteja envolvida num mil-folhas de distanciamento irónico. No ensaio da lagosta, DFW sabe a que é que vai soar cada salto argumentativo porque já foi tudo dito e escrito antes, mas também sabe que é preciso parar em algum ponto, nem que seja num ponto rodeado de caveats.
Mais estranha ainda é a asserção do Lourenço de que "David Foster Wallace recorre a alguns argumentos, digamos, frágeis, como por exemplo «e se fosse com um carneirinho, como é que era?»", que eu só posso interpretar como uma paráfrase apressada que correu, digamos, mal. É que a única menção ao carneirinho no ensaio, para além de não ter rigorosamente nada a ver com o argumento que o Lourenço lhe imputa, está afundada não apenas em perguntas como em contra-argumentos explícitos: «And is “lamb”/“lamb” the counterexample that sinks the whole theory?».
Isto é (era) o homem. Outras duas citações dispersas são representativas não apenas do ensaio em questão, mas do estilo de pensamento de DFW em geral, que estava muito, muito longe do andar por aí a "recorrer" a "argumentos": «... and when it comes to defending such a belief, even to myself, I have to aknowledge that ...» e «Of course, the most common sort of counterargument here would begin by objecting that...". (É possível que DFW fosse aquele miúdo de três anos capaz de perder metade de uma tarde a considerar questões do género: "o facto de eu estar a pensar no acto de meter uma perna à frente da outra, e de saber que o estado de estar a pensar no acto de meter uma perna à frente da outra pode interferir no acto em si, terá algumas implicações práticas na minha capacidade de ir ali ao caixote buscar os Transformers?").
Vou agora citar um excerto de um conto do Poe ("The Purloined Letter"), uma decisão táctica que faz todo o sentido nesta altura:

I knew one [boy] about eight years of age, whose success at guessing in the game of 'even and odd' attracted universal admiration. This game is simple, and is played with marbles. One player holds in his hand a number of these toys, and demands of another whether that number is even or odd. If the guess is right, the guesser wins one; if wrong, he loses one. The boy to whom I allude won all the marbles of the school. Of course he had some principle of guessing; and this lay in mere observation and admeasurement of the astuteness of his opponents. For example, an arrant simpleton is his opponent, and, holding up his closed hand, asks, 'are they even or odd?' Our schoolboy replies, 'odd,' and loses; but upon the second trial he wins, for he then says to himself, the simpleton had them even upon the first trial, and his amount of cunning is just sufficient to make him have them odd upon the second; I will therefore guess odd'; --he guesses odd, and wins. Now, with a simpleton a degree above the first, he would have reasoned thus: 'This fellow finds that in the first instance I guessed odd, and, in the second, he will propose to himself upon the first impulse, a simple variation from even to odd, as did the first simpleton; but then a second thought will suggest that this is too simple a variation, and finally he will decide upon putting it even as before. I will therefore guess even' guesses even, and wins.

Existe neste modelo de raciocínio o potencial para a regressão infinita. A partir de um determinado ponto, avançar para o ponto seguinte deixa de representar um incremento de sofisticação, e passa a representar uma redução de bom-senso. Da mesma maneira, a partir de um determinado número de avanços, a estabilidade é ancorada num ponto arbitrário. Creio que muitas posições embaraçosas (políticas, morais e futebolísticas) são erguidas sobre versões deste duelo ontológico ("Eu sei porque é que tu achas que o Bush era um cromo, mas eu sobrevoei esse raciocínio numa asa-delta de lucidez e agora estou muito mais à frente").
O que eu encontrei em David Foster Wallace não foi só uma consciência invulgarmente extensa da gritante artificialidade deste processo, ou uma consciência da arbitrariedade do patamar em que a inteligência decide travá-lo, mas a percepção de que essa artificialidade acaba por ser essencial a um mínimo de estabilidade intelectual e emocional. É provável que possa ter encontrado isso noutras pessoas mortas que andei para aqui a ler, mas em nenhum caso me fez tanta aflição que a pessoa estivesse morta. E isto tem de ficar por aqui, uma vez que há pessoas vivas a tentar correr comigo do computador há mais de meia-hora com argumentos espectacularmente não-Wallacianos.

If you've forgotten what I'm naming


Duas exposições na Baixa

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No depuradíssimo espaço Chiado 8, da Companhia de Seguros Fidelidade, está a exposição "Pinóquio", de Jorge Molder. As obras, que versam o tema da máscara que esconde mas revela, estabelecem com o espaço um belíssimo diálogo.


Um pouco mais abaixo, até 30 de Junho, é na Galeria do Governo Civil de Lisboa que expõe José Manuel Simões. Uma série dedicada à manipulação cromática das geometrias urbanas.



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Sunday, June 28, 2009

Futilidades

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António Barreto (Retrato da Semana no Público, 28.06.2009)

Um conjunto de argumentos põe em relevo as vantagens partidárias. Se os votos forem separados, ganham uns partidos, se forem no mesmo dia, ganham outros. A mesma coisa, ou parecida, se as legislativas se realizarem antes ou depois das autárquicas. Quer isto dizer que ninguém tem legitimidade para preferir uma data ou uma ordem: imediatamente lhe saltam em cima com acusações de interesses ilegítimos e de oportunismo. Quem assim faz esquece-se de que os argumentos são totalmente reversíveis.

Outro argumento é o dos custos. Nem sempre se percebe se estamos a falar de custos directos para os votantes, despesas para os partidos ou encargos públicos. De qualquer modo, quem alude aos custos está em geral a pensar nos interesses dos partidos. Com efeito, quem quer as eleições separadas garante que a democracia bem merece um punhado de euros, enquanto os que desejam actos conjuntos referem a poupança assim obtida. É, no entanto, certo que a despesa ou a poupança não parecem um argumento muito forte.

O aparentemente mais sério argumento é o da abstenção ou da participação. Também neste domínio, a consistência não é visível. Juntar eleições, para uns, significa mais participação; separá-las, para outros, teria o mesmo efeito.

Não consta que haja solidez nas razões apontadas. Nem sequer estudos concludentes. A única dúvida razoável é a que alude ao cansaço: maçados com duas deslocações seguidas à distância de uma ou duas semanas, os eleitores poderiam optar por apenas uma. Mas são meras suposições. Além de que não se sabe muito bem se seria a primeira ou a segunda a sofrer dessa terrível fadiga. Como não se sabe se o cansaço é argumento mais importante do que a natureza das eleições e o que está em causa. Apesar de anónimas e limitadas aos emblemas dos partidos, as legislativas chamam mais eleitores. Mas as "grandes figuras" municipais também têm algum efeito. Reflexão tortuosa é a que se apoia na previsão das intenções dos eleitores. Nas autárquicas, diz-se, os cidadãos querem escolher um presidente de câmara e bater no Governo. É estranho, mas é o que consta. Nas parlamentares, os mesmos eleitores esquecem tão vis desejos e designam racionalmente o Governo que preferem. As estatísticas eleitorais sugerem alguma coisa, nomeadamente o facto de poder haver diferenças na orientação de voto entre as duas eleições, assim como uma maior presença do PSD nas autarquias (o que não é uma regra absoluta). Mas não são constantes que permitam certezas.

O último dos argumentos é o mais brutal. Juntar eleições teria como efeito criar a confusão nos eleitores. Já desorientados com a existência de três boletins de voto (freguesia, assembleia municipal e vereação camarária ou presidente da câmara), ficariam completamente perdidos com a eventualidade de terem de lidar com quatro. Muitos votos ficariam assim perdidos. Brancos e nulos, possivelmente. No partido errado, com certeza.

É comovedor este desvelo dos partidos e de alguns comentadores encartados. O esforço que fazem para cuidar dos pobres cidadãos, tão vítimas de manobras, tão deficientes mentais e tão incapazes de decidir por si! A minuciosa atenção que prestam aos eleitores, tão frágeis e vulneráveis, que perdem literalmente a cabeça perante quatro boletins de voto! Se repararmos bem, quase todos os argumentos conduzem ao mesmo: a incapacidade dos eleitores, a sua falta de discernimento, o seu cansaço fácil e a rapidez com que se confundem. Na verdade, esta discussão ridícula tem um só objectivo, o de começar a arranjar explicações para os fenómenos que os incomodam: derrotas eleitorais e elevadas taxas de abstenção. Na noite (ou nas noites) das eleições de Outubro, já sabemos qual a justificação que mais vezes se vai ouvir: a data das eleições é a culpada.

A propósito das datas e seguramente em consequência da abstenção nas europeias, já começou a ladainha piedosa dos que querem o bem dos cidadãos e a nobreza da democracia. Já se ouvem propostas para "melhorar o sistema" e dar novo "tónus" à democracia. Em vez de se inquietarem com a fictícia democracia europeia e a inutilidade do Parlamento Europeu, propõem que o voto seja obrigatório! Em vez de pensarem na reformulação de alguns processos, designadamente no voto pessoal, sugerem punições para quem escolhe abster-se! Preparemo-nos, pois, para a próxima revisão da Constituição. Lá veremos dispositivos para reforçar a democracia. Sempre com um denominador comum: a cegueira perante as deficiências do nosso sistema e a vontade de resolver os problemas com normas legais e punitivas. Já agora, uma modesta contribuição: as eleições deveriam ser obrigatoriamente em dia de chuviscos. Mas não de mais, que levam as pessoas a ficar em casa, nem de menos, que deixam os eleitores ir à praia.

Saturday, June 27, 2009

A desforra das corporações


Como diz a publicidade de um novo jornal "I de repente tudo muda": Sócrates passa de virtual vencedor das legislativas, sem adversário à altura, para bombo da festa. À medida que o Governo sente aumentar o perigo da derrota eleitoral multiplicam-se os sinais de submissão às corporações.
Por exemplo o "Governo dá por terminada a redução de funcionários do Estado", ou propõe "Menos tempo para chegar ao topo da carreira docente", ou admite que as "Quotas para classificações de mérito afinal são transitórias". Mas também o principal partido da oposição declara que dará prioridade à Justiça e à Educação e percebe-se que conta com os votos dessas classes profissionais, a quem tudo prometerá, para vencer o partido do governo.
Por comodismo, ou oportunismo eleitoral, demasiados políticos esquecem os interesses mais gerais do país e, na véspera das eleições, cedem a todas as chantagens dos grupos de pressão. Foi assim com Cavaco, quando liderou o PSD, e com Guterres quando teve responsabilidades de governação. Ainda hoje estamos a pagar esses erros.
Mas não são esses políticos que pagam as benesses concedidas ou sofrem o descontentamento dos cidadãos que efectivamente as pagam. Os sacrifícios resultantes só se sentem nas legislaturas seguintes e "quem vier atrás que feche a porta".

É esta a triste sina de uma democracia que se deixou cair sob a tutela das corporações. Em que certas corporações têm uma espécie de "golden share" eleitoral, uma espécie de "voto de quantidade".
Um dia, outros usarão este pretexto para destruir o regime.
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Friday, June 26, 2009

Strings 2009

Decorre esta semana (acaba hoje) a conferência anual, este ano em Roma. O nosso leitor (e colega) Pedro Gil Vieira fala hoje à tarde. Creio que é a primeira vez que um português (ainda por cima bastante jovem) fala numa conferência Strings, para mais numa sessão de encerramento. Parabéns, Pedro.

Blue met green in black

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Uma exposição de Laurindo Almeida e João Paulo Almeida para descobrir AQUI









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Thursday, June 25, 2009

Morreu o Thriller

GNR no São João

Quero que você me aqueça no trabalho... e o público que complete: e que tudo o mais vá... É assim a versão dos GNR da clássica de Roberto Carlos Quero que você me aqueça neste Inverno e que tudo mais vá para o inferno.
Por incrível que pareça nunca tinha visto os GNR ao vivo até ao concerto na Casa da Música. Confirmei que Rui Reininho continua uma grande personagem, e tem uma excelente presença em palco. O meu São João valeu a pena sobretudo por isto.

Wednesday, June 24, 2009

Sou tão prestável

Agora do que eu gostaria mesmo era que alguém sugerisse um de Robert Browning (gosto de simetrias). (Linha dos Nodos)

No The Sweet Hereafter do Egoyan, antes do acidente, a rapariga maluca lê um excerto do "The Pied Piper of Hamelin" (do Browning) aos seus coleguinhas.
Já agora, no The Trouble With Harry o médico tropeça no cadáver do Harry porque vai a ler um soneto de Shakespeare (tenho uma história parecida que aconteceu em Monsanto, mas conto noutra altura). E, por falar em sonetos, no a todos os níveis excelente Exorcista III (o filme que inclui um dos melhores diálogos sobre carpas da história do cinema), ouve-se aquele soneto do John Donne em que o sujeito poético aconselha a Morte a bater a bolinha baixa, na medida em que o guarda-redes é anão.

AFARI

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Há exactamente 50 anos, durante o Verão de 1959, fui caixeiro e moço de recados na AFARI. A AFARI ainda lá está, na Rua Augusta, e ainda é uma loja de fotografia. Eu é que já não sou caixeiro.
A minha carreira escolar sofreu no ano lectivo 1958/1959 um grande sobressalto que terminou num estrondoso chumbo de quase todos os compinchas da rambóia (entre os quais o meu amigo Luís Maia que reencontrei na blogoesfera).
O meu pai (tirano) decretou que eu trabalharia durante as férias "para aprender", já que durante o ano escolar eu pouco aprendera pelo menos daquilo que ensinavam então no equivalente do 8º ano.
No Diário de Notícias, se não falho, encontrei um anunciozinho que me apressei a responder e que me rendeu, naquelas férias, a astronómica quantia de trezentos escudos (a que hoje se chama um euro e meio).


Ocorreu-me tudo isto recentemente quando bebia uma limonada na Rua Nova do Almada, exactamente como há 50 anos, num cafézito junto à Boa-Hora que, dizem os jornais, está em perigo de vida. A limonada, excelente, lembrou-me aquelas que eu bebia quando era mandado entregar uns pacotes mais acima, na Instanta do Chiado (suponho que eram negativos para revelar ou coisa quejanda).
Na loja eu, apesar da cabulice, falava o melhor francês e inglês o que fazia de mim alguém quando entrava algum estrangeiro, trazido pelo esparso turismo de então. Nesses momentos eu justificava o meu salário e percebia finalmente o alcance da escola.
De toda aquela experiência ficou-me a descoberta da fotografia e um embrião da consciência de classe. E os trezentos paus, bem entendido.
Talvez também uma certa ligação à Baixa que me fez chorar de raiva quando ouvi, algures no Minho, que o Chiado estava a arder.

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Tuesday, June 23, 2009

Aldaily temático, seguido de modesto exercício de tipologia e de final abrupto por motivos de pequeno-almoço

Tendo relido por ordem cronológica toda a não-ficção que o homem escreveu (o absurdo e embaraçoso contexto emocional não vai ser abordado, até porque a absurda e embaraçosa sensação de que o seu suicídio foi um gesto que me ofendeu directamente ainda não se dissipou), estou em condições de afirmar que David Foster Wallace foi a pessoa mais inteligente que li na minha vida.
A afirmação é discutível, a vida em questão é curta, e a inteligência é difícil de quantificar, mas acho que se impõe aqui o post chato que aqui se impõe. Antes, contudo, my own private aldaily:

«Tennis, Trigonometry, Tornadoes» (pdf) - a mais inteligente biografia psíquica, intelectual e biomecânica de todos os tempos. Tem nove páginas. Permitam-me que vos mostre um bocadinho de cueca: « ... The point is I just wasn't the same, somehow, without deformities to play around. I'm thinking now that the wind and bugs and chuckholes formed a kind of inner boundary, my own personal set of lines. Once I hit a certain level of tournament facilities, I was disabled because I was unable to accomodate the absence of disabilities to accomodate».

«The Empty Plenum» (pdf) - uma recensão crítica ao romance de David Markson, “Wittgenstein's Mistress”, publicada na Review of Contemporary Fiction. Evidentemente a recensão crítica mais inteligente de todos os tempos. É que não há competição por perto, sequer.

«The String Theory» e «How Tracy Austin Broke My Heart» (já houve link para este, agora não há) - Os mais inteligentes textos sobre ténis de todos os tempos (reparem no padrão). O texto sobre Federer, que fique bem claro, é o terceiro texto sobre ténis mais inteligente de todos os tempos, mas ainda assim a uma larga distância deste díptico. O primeiro texto foi publicado originalmente na Harper's e uma versão não-editada aparece na primeira colecção de ensaios de Wallace, com o título original (“Tennis Player Michael Joyce's Professional Artistry as a Paradigm of Certain Stuff about Choice, Freedom, Discipline, Joy, Grotesquerie and Human Completeness”). O segundo é uma pequena crítica à autobiografia de Tracy Austin e aparece na segunda colecção de ensaios. Em conjunto, e entre muitas outras coisas que fazem ao cérebro, propõem uma teoria sobre a constituição do génio desportivo, que postula que o talento atlético é indissociável de uma ausência ontológica, uma espécie de vácuo neo-Zen que permite computar um número ridículo de variáveis de uma forma hiper-consciente mas ao mesmo tempo puramente mecânica, e criar uma simbiose entre agência e acção assente na adopção literal de clichés motivacionais, etc etc etc. Além de estabelecerem a melhor defesa teórica da beleza estética do ténis (de todos os tempos), e de articularem a melhor defesa teórica das limitações intelectuais dos atletas profissionais (de todos os tempos), os textos também incluem piadas.

«The Weasel, Twelve Monkeys and the Shrub» - A célebre reportagem sobre a campanha de John McCain nas Primárias Rebublicanas de 2000. A Rolling Stone acabou por publicar apenas 50% do texto original, mas a versão restaurada, e com notas de rodapé, pode ser lida na colecção Consider the Lobster (com o título «Up, Simba»). Isto é muito mais do que a mais inteligente reportagem política (agora em coro) de todos os tempos, embora também o seja. É uma condensação daquilo que, à falta de melhor alternativa, se pode chamar o tipo específico de inteligência de Wallace, algo de que falarei para aqui sozinho um pouco mais à frente.

«A Supposedly Fun Thing I'll Never Do Again» (pdf) - Temos aqui o apogeu de qualquer coisa, parece-me. O relato de uma viagem de cruzeiro, escrito em 1995, também para a Harper's, é o texto (sem qualificativo) mais inteligente de todos os tempos. Esta histérica certidão pode muito bem ser o resultado não apenas de um processo emocional cumulativo, como também do calor que se tem feito sentir, possibilidades que não voltarão a ser exploradas.
Definir algo como "o mais inteligente" requer provavelmente que se defina o termo, portanto façamos um modesto exercício - inspirado em Howard Gardner - sobre a minha definição operativa de inteligência, atributo que tive o cuidado e as férias de separar (com a ajuda inestimável do alfabeto) em cinco categorias, e que, para este efeito, está limitado à inteligência que pode ser apreendida através da escrita:

Tipo A - A inteligência cuja principal característica é a clareza de raciocínio: a fluência intelectual e a facilidade de exposição que cinzelam a complexidade até um linear encadeamento de factos. O estilo é um factor determinante, mas o seu impacto não é notório. É a inteligência de David Hume, William Hazlitt, George Orwell, V. S. Pritchett, Eric Hobsbawm e, para esticar os exemplos a “pessoas portuguesas com blogs” (que também são gente), Ivan Nunes, António Figueira e Pedro Picoito.

Tipo B - É a inteligência que mais depende de um estilo literário, a que pode mais facilmente ser imitada por pessoas não-inteligentes, e também a menos estanque e mais sujeita a overlaps com outras categorias, pelo que me vou socorrer de números para chafurdar em dois sub-tipos.
tipo B1 - A inteligência céptica e iconoclasta. É um tipo de inteligência semi-narcisista, muito confortável com as suas características, que tende a adoptar uma pose cínica e preconceitos teóricos que muitas vezes dão a ideia de poderem perfeitamente ser outros. Mais do que em qualquer outro tipo, a estabilidade é ancorada numa fórmula estilística. Exemplos: Frederick Crews, Vasco Pulido Valente e Gore Vidal, este último com nítido overlap para o tipo A. (H. L. Mencken e João Gonçalves, já agora, são exemplos do que acontece quando os portadores destas características se apaixonam pelo próprio esqueleto e se tornam paródias privadas, asfixiando a ex-inteligência num transtornante aparato auto-erótico davidcarradinesco).
tipo B2 - a inteligência especulativa, arrojada e insolente. É o tipo de inteligência que mais corteja o ridículo. Há uma marcada predilecção pela ligação insólita, pela interpretação oblíqua, pela exploração de tudo o que é contra-intuitivo. É frequentemente o tipo de inteligência mais entusiasmante e com maior valor de entretenimento, mas também a que mais tende a decepcionar. Exemplos: Henry Adams, Norman Mailer, Susan Sontag, George Steiner, Pedro Arroja.
Como referi, é a categoria mais fluida. Isaiah Berlin é um potencial tipo A a escorregar para o B2. Malcolm Gladwell é um tipo B2 que finge ser tipo A. O maradona é uma síntese espiritual quase perfeita dos tipos B1 e B2 que, certamente por motivos acidentais e não-planeados, consegue quase sempre ser tipo A.
(Apesar de todas estas condicionantes, tenho o tipo B sob controlo, não se preocupem).

Tipo C - A inteligência volumétrica, cuja medida não é necessariamente a qualidade, mas a quantidade e a intensidade. Isto não faz do tipo C o Ramires da tipologia, atenção. O tipo C é tão ou mais digno de respeito e assombro do que os outros. É uma inteligência de seriedade, de trabalho, de rigor, de organização - e de energia. Se houvesse um símbolo que evocasse o tipo C seria um arquivo infinito espalhado ao longo de uma pista de tartan. Os exemplos óbvios são Edmund Wilson, Pacheco Pereira e João Miranda.

Tipo D - A inteligência mais avassaladora. É a mais profunda (uso o termo “profundo” no seu sentido superficial) mas também a de perímetro mais reduzido (uso o termo “reduzido” no seu sentido lato). É uma inteligência de fôlego, confortável com abstracções, que tende para a sistematização (é a mais frequente em académicos), e que extrai a maior densidade intelectual do menos promissor aglomerado factual. Tem lacunas, mas lacunas que costumam resultar de demolições controladas e auto-induzidas. Exemplos: Pierre Bourdieu, Frederic Jameson (ambos com laivos de B2, mas enfim), Clifford Geertz, João Galamba e Yesterday Man (embora este último caso seja muito mais complicado).

A inteligência de David Foster Wallace, com assinalável desrespeito pelo alfabeto e pelo meu trabalho, não cabe em nenhuma destas categorias. Reune características de todas elas (com a clara excepção do tipo B2), mas é falível, enrodilha-se em nós cegos e mete-se em becos sem saída, pois adiciona tantas camadas de auto-reflexividade a cada característica individual que, aplicadas à motricidade, fariam com que fosse impossível atar um sapato sem entrar em convulsões. É uma inteligência exaustiva, no duplo sentido da palavra: esgota-se a esgotar possiblidades.
Quando observa os outros (McCain, Michael Joyce ou o rapaz das toalhas no cruzeiro), quando se observa a si próprio, Wallace dá o benefício da dúvida a cada gesto, a cada frase; e dar o benefício da dúvida é uma das actividades mais fatigantes que conheço. É uma posição ética que nasce da curiosidade e da empatia, mas também resulta de um pânico filosófico genuíno sobre questões de autenticidade emocional, que pode ser forjada não apenas para terceiros, mas também (e isto para ele era uma história de terror) ao nível interno. Se a minha consciência sobre um determinado sentimento é total, como é que posso ter a certeza de que o sentimento é autêntico e não uma construção? (etc)
Wallace aprendeu que a liberdade mais importante é a auto-consciência, mas que esta (por definição) precisa de si própria para aprender a ser utilizada, o que inaugura dificuldades enormes nisto de ser pessoa. Também aprendeu que ser boa pessoa é a melhor forma de inteligência. A sua inteligência antecipa cada passo de quem o lê, mas também permite que os seus próprios passos sejam antecipados. É a inteligência que expande e eleva o que a rodeia. É a inteligência da civilização, e de tudo o que veio a seguir aos calhaus e aos bichos. E faz falta, faz tanta falta.

Não resisto ao centralismo tripeiro

O São João de Braga até pode ser muito bonito, mas eu vou mas é para o Porto. Quem já lá esteve no São João não resiste a voltar. O Rui Reininho e cia. chamam-me. E os martelinhos e o alho porro. Bom São João para todos.

Monday, June 22, 2009

A loucura dos 'OUTDOORS'

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Numa rua perto de si, em Lisboa tal como por todo o país, mais e mais 'outdoors' erguem-se sobre as suas patas para nos convencer.
Quando ainda está bem acesa a polémica sobre a data das eleições, e se ouve falar tanto sobre a necessidade de as campanhas serem esclarecedoras, a proliferação dos 'outdoors' é um tema inescapável. Será que para além de poluirem cada vez mais o nosso espaço público eles contribuem realmente para o nosso esclarecimento? Duvido.
As mensagens comerciais ou políticas que veículam, se é que a diferença ainda existe, não passam de slogans simplistas, toleráveis quando se aplicam aos sabonetes mas inadequados para nos revelar planos sérios de governação.
Os 'outdoors' acabam por funcionar como instrumentos de ostentação, e diferenciação, dos partidos que têm mais dinheiro. Aparecer, aparecer mais do que os adversários pelas ruas do país parece ser, à falta de melhores argumentos, a panaceia da democracia.
Ninguém está preocupado com esta poluição visual (e espiritual) para a qual a política, convenhamos, só contribui de vez em quando ao sabor dos calendários eleitorais.
Mas por este pecado alguém, algum político, devia ser castigado.
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O nosso Berlusconi

Texto muito pertinente de Joel Neto no DN: O nosso Berlusconi.
Se alguma conclusão se pode tirar do frenesi subitamente gerado em torno de José Eduardo Moniz, é que Moniz está disponível. Disponível para o Benfica, disponível para "projectos", disponível para mudar de vida. De maneira nenhuma a expectativa teria chegado onde chegou se Moniz não se tivesse empenhado em marcar a actualidade. E de maneira nenhuma Moniz quer que a expectativa pare por aqui, ou não teria admitido que, em condições ligeira- mente diferentes, a história seria outra. Faz sentido. Depois de quinze anos a conceber, consagrar, manter e reforçar a liderança da TVI, José Eduardo Moniz tem mais do que razões para considerar chegada a hora de fazer outra coisa. Por outro lado, custa a acreditar que se trate apenas de futebol. Quem assiste àquela declaração em que Moniz diz ter desistido de uma candidatura à presidência do Benfica encontra ali muito mais o discurso de um político do que o discurso de um líder do futebol.

Se Moniz sair um dia da TVI para o Benfica, isso será mau para a TVI, mas bom para tudo o resto: para o Benfica, para a SIC, para a RTP - e mesmo, se calhar, para a qualidade média da televisão nacional. Pelo contrário, se acumular um dia as duas coisas, reeditando em Portugal o projecto tentacular que levou Berlusconi ao poder em Itália, isso será bom para o Benfica, razoável para a TVI, mau para a SIC e a RTP - e verdadeiramente péssimo para a qualidade da nossa televisão (pelo menos).

Sunday, June 21, 2009

Primeiro Airbus A320 fabricado na China

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A construtora aeronáutica Airbus vai entregar o seu primeiro avião A320 fabricado na China a 23 de Junho, indicou hoje a agência France Presse (AFP), sem indicar a fonte da informação.
A companhia de aviação Sichuan Airlines vai receber o primeiro avião produzido na fábrica de Tianjin, a única fábrica da Airbus fora da Europa, precisa a agência noticiosa, acrescentado que uma cerimónia marcará esta entrega.
Dez aviões de médio porte A219/320 serão entregues até ao final do ano e a fábrica vai começar a produzir quatro aparelhos por mês antes do final de 2011, indica ainda a AFP.
Expresso, 21.06.2009
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Super Oba(Man)

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Saturday, June 20, 2009

Galileu na China pela mão dos portugueses (2)

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Já há algum tempo tínhamos aqui falado neste tema. Regressamos para divulgar a publicação de um novo texto sobre a matéria, que recomendamos:
Chama-se Sumário de Questões sobre os Céus. É um documento de 100 páginas, com prefácio. E a estrutura do texto vem no formato de perguntas - colocadas por um chinês - e de respostas - dadas por um ocidental com conhecimento de astronomia.
O ocidental era um padre jesuíta português, chamado Manuel Dias. E foi ele quem apresentou Galileu e as suas descobertas à China, em 1614, apenas três anos depois de o trabalho de Galileu ter sido publicado.
Há dez anos que Henrique Leitão, investigador do Centro Interuniversitário de História das Ciências e da Tecnologia, andava atrás deste documento e do contributo de Manuel Dias para o conhecimento da astronomia e dos achados de Galileu na China. Sabia da existência do documento, onde o jesuíta Manuel Dias contava como funcionava o telescópio de Galileu e o que o mestre italiano teria descoberto sobre as maravilhas do Universo.
"É um texto que está em todas as bibliotecas imperiais chinesas, o original é de 1615. Mas foi reeditado até ao século XIX, o que significa que teve imenso impacto na cultura chinesa. Notícias de que havia este texto existem desde o princípio do século XX. Mas nenhum português pensou: vamos lá ler o que vem aqui escrito."
(
Ler o resto do texto no Público 19.06.2009)

Friday, June 19, 2009

65 anos - flor da idade

...e eu nunca, jamais me canso de o ouvir. Ouço-o tanto, e de tanto o ouvir ainda descubro novos aspectos de interesse nas suas canções. Parabéns, meu caro amigo.

Thursday, June 18, 2009

Má propaganda


Ana Bola a dizer que "não aparenta mais de 40 anos" pode ser uma boa propaganda. Excepto para uma marca de óculos. É que dá para duvidar da qualidade das lentes...

Nova esquerda

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Chama-se Nova Esquerda. Vai organizar-se e funcionar como movimento, mas legalmente ficará inscrito como partido no Tribunal Constitucional. É apresentado quarta-feira em Lisboa. Junta os alegristas que ficaram descontentes com a decisão de Manuel Alegre de não sair do PS.

Parece estar em curso o esquartejamento do PS. A derrota eleitoral para o Parlamento Europeu deixou o partido como um animal ferido, que os predadores farejam ao longe.
Corremos o risco de deslizar para uma esquerda constelação de pequenos partidos, seitas puristas que se hão-de digladiar até ao descrédito total.
É esse tipo de esquerda que explica os inexplicáveis Berlusconi.

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Wednesday, June 17, 2009

Algumas considerações sócio-políticas sobre a entrevista de José Sócrates à SIC

Estou a brincar, por amor de Deus. Mas não devo ter sido o único a reparar na nova voz estreada hoje em primeira mão na presença da Ana Lourenço. Como é sabido, o primeiro-ministro era, até hoje, talvez o único líder mundial que falava em jazz. Cada palavrinha era cuidadosamente sincopada, com a acentuação a ser sempre deslocada para a sílaba mais inesperada - os "tambéns" e os "portantos" de Sócrates pareciam os "powers" e os "peoples" de Stevie Wonder em «Higher Ground»:



Pelo pouco que ouvi, a noite de hoje marcou o momento em que passámos a ter um primeiro-ministro em compasso normal, o que provavelmente explica as dificuldades sentidas por Ana Lourenço em disfarçar aquele ar de quem se enganou a contar os sedativos. Tudo isto me deixou um bocadinho triste, mas rogo-vos que não se preocupem comigo que isto já passa. O importante é Portugal.

Uma espécie de conceito de cidade

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Referindo ao presidente do ACP, o autarca de Lisboa acusou Carlos Barbosa de ser o presidente do 'partido dos automóveis', enquanto 'nós estamos aqui para representar pessoas'.
(afirmações de António Costa a propósito do diferendo com o ACP relativamente às obras no Terreiro do Paço) CM, 16.06.2009
Mesmo admitindo que possam ser fruto de um acesso de irritação estas afirmações são extremamente preocupantes pelo que revelam sobre a atitude do Presidente da Câmara de Lisboa relativamente aos cidadãos que se deslocam em automóvel. Para ele parece que os ocupantes dos veículos não chegam sequer a ser pessoas.
Se ele contrapõe o "partido dos automóveis", que presumo devem ter usurpado o poder dos seus proprietários e condutores, à "representação das pessoas", pode concluir-se que as verdadeiras pessoas são as que estão fora dos automóveis.
Este tipo de slogans, de um primarismo indigente, é mais próprio de fanáticos e catastrofistas que de responsáveis políticos. Mas no melhor pano cai a nódoa.
A Baixa de Lisboa, entretanto, está realmente um caos. Ontem calhei passar por lá e estava a ver que não conseguia sair. Só depois de consultar um polícia de trânsito consegui perceber como sair na direcção de Santa Apolónia, mas isso só foi possível desrespeitando uma proibição de virar à direita.
Estamos entregues a "teóricos" cuja principal especialização é odiar os automobilistas.
O seu ideal de cidade é "uma espécie de campo" mas, inconscientes da contradição, no campo constroem urbanizações para o campo ser "uma espécie de cidade".
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António Ruella Ramos (1938-2009)

Depois de Fernando Piteira Santos e da sua mulher Stella, desaparece o director do Diário de Lisboa, jornal de referência da oposição ao salazarismo e o jornal da minha infância.

Tuesday, June 16, 2009

Ficção engomada


Foram umas férias excelentes, cuja excelência não foi sequer posta em causa pela súbita e inesperada revelação de que a direcção do Sporting prestes a ser substituída pelo tio do Pedro Granger poderia ter angariado fundos suficientes para financiar a recontratação do atleta português Cristiano Ronaldo através de um expediente logisticamente complexo, mas perfeitamente ao alcance da família sportinguista: matar oito milhões de criancinhas à fome. Não sei como é que nenhum núcleo se lembrou de fazer um abaixo-assinado.
Enfim, a ficção “experimental”. De vez em quando, normalmente quando estou a passar a ferro, dou comigo a reflectir sobre a ficção "experimental". Estas soberbas reflexões, que já colocaram em risco a integridade de inúmeras t-shirts do catálogo Printemps, não se costumam afastar muito da mesma crosta, que é o facto de a ficção "experimental" ser, regra geral, praticada por dois tipos de autores: génios aborrecidos com o seu próprio talento, e mediocridades indignadas com a sua ausência de talento.
A última vaga de reflexões foi despoletada por dois objectos recém-adquiridos: um exemplar do livro The Raw Shark Texts, de Steven Hall, e umas calças extraordinariamente obstinadas, adquiridas por 39 euros (para evocar a quantia em termos mais actuais, esclareço que o atleta português Cristiano Ronaldo poderia adquir 25 calças idênticas por hora durante os próximos cinco anos e ainda ficar com dinheiro suficiente para cobrir as despesas de alimentação do João Gobern). Como tantos outros livros hoje em dia, The Raw Shark Texts é a história de um homem perseguido por um tubarão conceptual. As perspectivas de vida não são boas, mas um capítulo intitulado "The Crypto-Zoology of Purely Conceptual Sharks, Dictaphone Defense Systems and Light Bulb Code Cracking" sugere algumas medidas preventivas. A mais segura é montar um sistema de defesa formado por quatro dictafones de reprodução contínua, cujo objectivo é “gerar um ciclo conceptual não divergente”, e presumivelmente permitir ao protagonista ser processado por plágio pelos herdeiros de John Cage.
O livro pertence a uma nova estirpe literária: o livro-evento. Evento, não no sentido publicitário, mas no sentido comunitário, em que o acto de estar sentado a virar páginas é apenas metade da experiência. Depois, num géiser de geekalhice, somos arremessados para os fóruns, para os wikis, à procura de ovos de Páscoa e de co-obcecados. Também há fotos e rabiscos,


o mais arrojado dos quais se prolonga por quarenta e cinco páginas, e consiste na representação gráfica da aproximação de um tubarão feito de palavras, uma versão ligeiramente mais sofisticada daquilo que qualquer pessoa aprende a fazer aos sete anos, com duas tiras de papel e um lápis:

Isto é tudo muito divertido, e já se fizeram livros excelentes através de métodos semelhantes (o fabuloso House of Leaves estabeleceu o padrão de qualidade a que se deve almejar). Mas também sugere que a linha de evolução na ficção experimental - que começou por traduzir impaciência com um espartilho específico de convenções do realismo - começa agora a traduzir impaciência com tudo e mais alguma coisa. Uma coisa é usar as estratégias da ficção para explorar limites formais e estruturais; outra, bem diferente, é abraçar métodos tão radicalmente diferentes que resultarão inevitavelmente numa forma de expressão que só por hábito ou condescendência continuará a merecer a designação de literatura. Quando o foco do "experimentalismo" é apenas o moldar do texto à última inovação - ficção hiper-textual, ficção twitter, etc. - a literatura arrisca-se a ser apenas a expressão de uma tecnologia, o que não deve ser nada bom, e é provavelmente altura de perder uns minutinhos a passar a ferro e a pensar na vida. (Provavelmente havia escritores vitorianos entusiasmadíssimos com a ideia de "épico metalúrgico" ou de "poesia a vapor", mas os seus esforços não perduraram).
The Raw Shark Texts, já agora, foi recentemente traduzido e publicado pela Presença (com o título Memória de Tubarão), e pode ser adquirido por 22 euros. Para evocar a quantia em termos mais actuais, digamos que o atleta português Cristiano Ronaldo poderia adquirir um exemplar de dois em dois minutos durante os próximos cinco anos, e ainda ficar com dinheiro suficiente para snifar oitocentas linhas de cocaína directamente da nádega da esposa do autor através de uma palhinha com banho de ouro, rodeado por uma trupe de anões montados em uniciclos cantando versões a capella dos grandes êxitos dos Oasis.

Emo Kid is throwing slow-mo dove at my face

Horse montaaaage!

O PS (e a esquerda) em maus lençóis

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Podemos definir o "voto solto", nas Europeias de 2009, como os novos votos ou os votos que mudaram a sua escolha relativamente às Europeias de 2004. Chegamos assim a 725.157 votantes (os 155.599 votantes adicionais em relação às europeias anteriores, mais os 569.558 perdidos pelo PS comparativamente com 2004).
É interessante notar que esses 725.157 votos se distribuiram em partes identicas pelos partidos à esquerda e pelos partidos à direita do PS cabendo a cada uma das alas cerca de 40% dos "votos soltos". Os 20% restantes foram parar aos partidos que previsívelmente não obteriam qualquer representação no Parlamento Europeu indiciando uma atitude imune às lógicas da utilidade, por parte de 145 mil desses eleitores.

Esta aparente simetria entre a esquerda e a direita, feita à custa do partido maioritário, tem no entanto consequências pouco simétricas. Os votos ganhos à direita esboçam uma maioria alternativa enquanto que tal não sucede à esquerda. Mesmo a improvável aliança de um dos partidos de esquerda (BE ou PCP) com o PS resulta mais fraca do que a aliança de direita (PSD+CDS). Tudo isto tomando como base as percentagens obtidas pelos partidos nas Europeias de 2009.

A verdade é que tudo isto não passa de uma miragem. Nas próximas legislativas irão às urnas mais dois milhões e trezentos mil votantes do que nas europeias, se se repetir a relação entre as europeias de 2004 e as legislativas seguintes de 2005.
Esse enorme número de votantes adicionais pode, em teoria pelo menos, dar a maioria absoluta a qualquer um dos principais partidos portugueses.
Apesar de ser esta a "realidade" quase todas as opiniões omitem esta questão. O PSD compreende-se que o faça, o Bloco também pois está a disfrutar da ascensão ao terceiro lugar na hierarquia dos partidos (apesar de ter tido menos de metade dos votos habituais do PCP nas legislativas de há 20 anos).
No caso do PS é mais estranho que tal aconteça.

Está portanto tudo em aberto e cabe aos partidos tentar ganhar o maior número de votos de quem se absteve, ou votou nulo, ou votou em branco ou votou em partidos sem representação parlamentar.
Mas essa luta vai fazer-se em condições adversas para o PS já que deixou criar esta sensação de que a maioria absoluta, sozinho, lhe está vedada. Tal sensação é reforçada pelo tipo de relações que o PS mantém com os partidos à sua esquerda e que torna uma aliança com eles pouco provável aos olhos da opinião pública.

É estranho que o PS não tenha percebido o beco em que se estava a meter. Já terá ficado claro, entretanto, que não é adoptando avulsamente "propostas fracturantes" que impedirá o Bloco de crescer. O BE está neste momento como uma criança que tendo ido à caixa das bolachas não consegue evitar voltar lá repetidamente. Neste "momento de glória" (que os números desaconselhariam) o céu parece o limite e já sonha certamente substituir-se ao PS na liderança de toda a esquerda.

Por outro lado o PS parece ter subestimado o poder do binário PSD/Cavaco na questão das "obras faraónicas". Logo na noite das eleições Rangel introduziu a necessidade do adiamento não tanto para limitar as decisões do governo actual mas para insinuar a ideia de que após as eleições os decisores serão outros. Hoje mesmo o PS cedeu e deixou cair o TGV.

Temos portanto um PS, acossado à esquerda e à direita, lambendo as feridas que não soube evitar.
Os seus inimigos de direita exigirão cada vez mais alto que defina as suas alianças para lhe reduzirem o trunfo da governabilidade (se as não esclarecer) ou lhe roubarem mais eleitores ao centro (se as esclarecer).
Os seus inimigos de esquerda aumentarão a parada sempre que ele tentar aproximar-se pois, à falta de um programa executável, só lhes resta alimentar-se dos despojos da velha nave socialista enquanto esperam pelo momento revolucionário.

Não me peçam para prever o nosso futuro imediato mas, para já, não parece brilhante.
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Vantagens da edição da Europa-América de um romance que eu cá sei

A tradução da Europa-América do Guerra e Paz de Leão Tolstoi até pode ser má (embora seja de Isabel da Nóbrega e João Gaspar Simões, o que nem me parece assim tão mau). E tem uma grande vantagem: a páginas tantas (42, para ser exacto) lê-se:
Entabulou-se uma conversa tão pouco importante...
Nem todas as traduções, nem todas as edições, nem todos os romances inspiraram o Sérgio Godinho. Duvido muito que alguma edição da Penguin o tenha feito.

Monday, June 15, 2009

Dancemos o vira

Sunday, June 14, 2009

Vacas e ovelhas desaconselhadas

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Andamos há muito tempo a ser educados na ideia de que os automóveis são uma temível fonte de poluição e que o campo, com os seus animais, um paradigma de respeito pela natureza.
Pois bem, esta, como muitas outras das nossas convicções, está agora posta em causa por mais um inesperado estudo científico. O nosso mundo parece estar a ser virado de pernas para o ar.
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Vacas e ovelhas poluem mais do que os carros
Apesar do ar inofensivo, vacas, búfalos ou camelos são das maiores ameaças para o ambiente. A produção de carne e as emissões de gases destes animais contribuem em 18% para o aumento do aquecimento global. Mais do que o sector dos transportes (13,5%). A solução passa por mudar a alimentação do gado, mas também a nossa, reduzindo o consumo de carne.
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As vacas têm no estômago uma bactéria que faz com que arrotem metano, e alguns estudos indicam que cada animal expele uma média de 500 litros deste gás para a atmosfera por ano.

Orgulho Gay em Xangai

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Xangai (China), 13 jun (EFE).- A primeira festa do Orgulho Gay da China aconteceu hoje na cidade de Xangai, em um ambiente alegre e descontraído e com a esperança de que tenha sido "o primeiro passo em direção a algo maior" e a vontade de "fazer as coisas melhor no ano que vem", afirmaram os organizadores à Agência Efe.
Não houve carros alegóricos, como ocorre na maioria das cidades ocidentais, mas as duas mil pessoas que foram hoje a Xangai para celebrar o Orgulho Gay encontraram música, dança, jogos, desfiles de moda e uma cerimônia de casamento, em uma festa que invadiu a noite.
O desfile de hoje foi o fechamento de uma semana de atividades que só teve como incidente a intervenção, na quarta-feira, das autoridades locais, que obrigaram os organizadores a cancelar duas exibições de filmes e uma peça de teatro.
"Honestamente, não sabíamos o que esperar hoje das autoridades, mas não houve nenhum problema e estamos agradecidos por que tudo tenha dado certo", afirmou à Efe Kenneth Tong, membro da associação de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais de Xangai.
Hoje, a metade dos presentes à festa era estrangeiros, mas os chineses que compareceram se mostraram "esperançosos" com que o evento possa significar "algo importante" para o futuro. EFE

Saturday, June 13, 2009

Nos feriados e no Santo António

Os transportes públicos na região de Lisboa continuam a mesma organização.
Para apanhar o comboio para a Linha de Cascais, é preciso um cartão "Lisboa Viva". Na Estação do Cais do Sodré, uma multidão de lisboetas quer ir à prais no feriado e não sabe da novidade. Só uma das seis máquinas está em funcionamento.
Ontem, a Avenida da Liberdade estava encerrada ao trânsito a noite toda, e não funcionavam os autocarros da Rede da Madrugada (a não ser que fosse só a partir do Marquês de Pombal). Mas ninguém avisava quem esperava por estes autocarros no Rossio e nos Restauradores. Nas paragens lia-se "serviço perturbado" (mas não interrompido), e o tempo de espera era sempre "10 minutos". Após mais de vinte à espera, pus os pés a caminho e subi a avenida. Nenhum autocarro podia ali passar.

Thursday, June 11, 2009

Dois portugueses "à Cavaco"

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Referindo-se às dificuldades que o país hoje enfrenta, Cavaco Silva defendeu ontem que é necessário ter uma "visão alheia a calendários imediatos, que poderiam comprometer o futuro e tornar inúteis os sacrifícios que a hora exige". É preciso agir "com determinação, sentido estratégico e capacidade de mobilizar esforços e vontades" e apostar no que é "essencial para o aumento da nossa capacidade competitiva".

Passadas menos de 24 horas estes dois portugueses responderam cabalmente ao apelo presidencial. Bem hajam.

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Wednesday, June 10, 2009

Há cinco anos

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Começámos há cinco anos
.Hoje é portanto "Dia de Portugal, de Camões, das Comunidades Portuguesas e do blog DOTeCOMe".
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Tuesday, June 9, 2009

75 anos de Donald



The band concert, a mais perfeita e prodigiosa curta-metragem de animação já realizada, tal como já afirmei no aniversário do Mickey. É a melhor homenagem que eu posso fazer ao Donald: passar um filme onde ele é a verdadeira estrela. Mas eu gosto é do Patinhas...

Por pau de canela e Marzagão

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Porta do Mar, em Marzagão. Fotografada por mim em 1983

Considero excepcional o conjunto de construções e de palavras que os portugueses deixaram pelo mundo desde o Século XV.

Não me parece que o concurso para escolher as "sete maiores maravilhas" tenha grande interesse a não ser como forma de trazer este património para primeiro plano. Também acho deplorável, se não mesmo ridícula, uma petição que tenta misturar com o dito concurso uma espécie de "disclaimer" de arrependimento colectivo, sem perceber que esse tipo de questões se situa num nível diferente.

Quando vejo um forte construído a milhares de quilómetros da costa brasileira em plena amazónia, ou uma velha angolana numa igreja barroca de Luanda, ou um senhor Silva em Baçaim que já nem fala português, ou as ruínas de S. Paulo resistindo aos casinos de Macau, ou umas telhas portuguesas no Uruguai, ou a rua da Carreira em Marzagão, ou os dois fortes empoleirados em Mascate, sinto uma grande emoção. E podem crer que não sou dado ao patrioteirismo.

É preciso ser tosco para não entrever uma gigantesca epopeia em tudo isto, para não ouvir os gritos de alegria e de dor que ecoram por todos os continentes como os grandes poetas (e músicos como Fausto e Vitorino) tão bem explicaram, para não perceber o elevadíssimo sentido humano e humanista dessa enorme aventura de cuja memória nunca cuidámos suficientemente e de que, alguns, parecem preferir envergonhar-se.

A esta escala não há, tanto quanto sei, nada que se compare. .

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Suspendamos a democracia por quatro meses

Rangel: governo "está inibido de tomar decisões que retirem capacidade de manobra aos governos seguintes".

Um motor pouco ortodoxo

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O forte crescimento da China vai tirar a economia mundial da recessão, afirmou segunda-feira o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, elogiando Pequim por se esforçar em fazer do yuan uma divisa internacional.

O crescimento económico da China no primeiro trimestre de 2009 ultrapassou as previsões dos economistas e "vai surpreender positivamente" este ano, afirmou Zoellick, salvaguardando, no entanto, que é "perigoso" fazer conjecturas no contexto actual.

"Em geral, (o crescimento da China) não tem agido apenas como uma força de estabilização, é uma força que vai fazer o sistema sair da recessão", afirmou o presidente do Banco Mundial, numa conferência em Montreal, no Canadá.


Depois de Soros é agora a vez do presidente do Banco Mundial anunciar uma salvação vinda da China. Não deixa de ser curioso ver o sistema capitalista à espera de ser salvo por um país "comunista".
O que vale ao capitalismo é a China não ser liderada por Francisco Louçã. Se assim fosse arriscava-se a morrer à míngua.
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Monday, June 8, 2009

Copiam o Sporting em tudo

Eleições no Benfica a 3 de Julho.

No rescaldo das europeias

  1. Parece ser unânime culpar Vital Moreira pela má prestação do PS. Não sei se isso é verdade ou não; da minha parte, não concordo. Quando se repete tantas vezes que “não houve debate sobre a Europa”, esquece-se que Vital foi o único candidato que o procurou introduzir. E com propostas europeístas (que pouco tinham de nacionalistas): o não-apoio a Barroso no Parlamento Europeu (espero que Vital seja consequente com essa sua proposta, independentemente do que o PS decidir) e o imposto europeu. Vital só esteve mal, a meu ver, na última semana, ao associar o PSD ao BPN. É pena que o PS não tenha sabido respeitar a independência do seu cabeça de lista – o político mais atacado, por todos os lados, nesta eleição. Vital Moreira, repito-o, parece-me ser o grande injustiçado destas eleições.
  2. Votei no Bloco de Esquerda, como aqui referi. Genericamente (e para isto eu não preciso de grandes campanhas eleitorais), o meu voto nas eleições europeias seria do Bloco de Esquerda, excepto por algum motivo excepcional. Sou europeísta, e não concordo com um bloqueio da construção europeia como forma de protesto (nisto estou em desacordo com o Bloco). Mas o Bloco é também um partido europeísta (ao contrário do “soberanista” PCP). E há que reconhecer que a Europa não vai nada bem, com os cidadãos a serem cada vez mais afastados dos processos de decisão (veja-se o caso da aprovação do recente Tratado de Lisboa). Insistir em prosseguir sem um verdadeiro apoio popular pode resultar num equívoco trágico. Numa situação em que os eleitores sejam chamados a pronunciar-se sobre esse processo (um referendo), provavelmente votarei contra o Bloco; por agora, entendi votar em quem defenda esse processo. Acresce que conheço pessoas do Bloco de Esquerda que votariam “sim” nesse referendo (o Rui Curado Silva e o Rui Tavares que, embora independente, é um eurodeputado eleito).
  3. O Rui Tavares. Como disse, o meu voto nestas eleições à partida seria naturalmente no BE. Para além disso, fico muito feliz por este meu voto ter contribuído para eleger um amigo (algo que não contribuiu para a minha decisão) e, principalmente, alguém que, tenho a certeza, vai ser um excelente deputado europeu. Espero que a eleição do Rui contribua para aproximar a Europa dos cidadãos.
  4. Finalmente (por hoje), os resultados nacionais. Estive na quinta feira no comício de encerramento da campanha do bloco em Braga. Ouvi Miguel Portas dizer coisas acertadas, mas outras irresponsáveis (criticar o governo pelo aumento das idades da reforma, sem se preocupar com a sustentabilidade da segurança social, ou criticar a avaliação dos professores sem propor uma alternativa que não fosse deixar tudo na mesma - mal). Tive de me vir embora; se ficasse para ouvir Francisco Louçã, iria acabar por mudar o meu sentido de voto mesmo nas europeias. Votei no Bloco porque estas são eleições europeias, nas quais eu votei a pensar na Europa e no mundo (e é o Bloco quem melhor me representa nestes assuntos, dos grandes partidos portugueses). Não é legítimo interpretar o meu voto à luz de política nacional. É muito pouco provável que o Bloco possa contar com o meu voto para as legislativas.

O culpado é o povo ?


Não é possível continuar a ignorar os níveis de abstenção (55% na Europa e 63% em Portugal). Só votaram 44% dos europeus e vamos continuar a funcionar como se não tivesse acontecido nada ? Lamentamos e culpamos o povo de ter ido para a praia ?
Hoje todos os discursos se centram na recomposição do panorama político nacional propiciada pelos resultados, tratando assim as eleições de ontem como uma megasondagem para as legislativas.
Este comportamento irresponsável só acentua a sensação de inutilidade da participação e agravará a abstenção da próxima consulta europeia.
Os 63% que não votaram mandaram uma mensagem muito forte sobre a irrelevância da Europa ou sobre a sua própria impotência para a influenciar através do voto. Os 63% que não votaram são uma base enorme de recrutamento para eventuais aventuras populistas.
Entretanto o PSD celebra uma vitória que alcançou com os votos de apenas 11,8% dos recenseados e o PS lambe as feridas com menos de um milhão de votos.
Esta gente avança para os seus lugares no Parlamento Europeu sem uma hesitação ?
Qualquer político responsável deveria pelo menos prometer que, no Parlamento Europeu, será desencadeado um processo tendente a compreender as causas e encontrar remédios.
Omitir esta questão, ou lamentá-la apenas, é comprometer o futuro do projecto europeu.
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Sunday, June 7, 2009

Uma exposição interessante

"O frigorífico de Einstein", no Museu da Electricidade em Lisboa. Encerrava hoje (dia em que a fui ver). Se não vale como recomendação, vale como reconhecimento.

Vote para fora cá dentro

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Vote para fora cá dentro

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Se vai votar não beba

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Se vai votar não beba

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Há mar e mar, há ir e votar

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Saturday, June 6, 2009

Dom Giovanotto

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O São Carlos apresenta, até 14 de junho, uma nova encenação da autoria de Maria Emília Correia para o D. Giovanni de Mozart. O facto de a encenadora ser mulher, tão seduzida pelo herói como as cantoras em palco, constitui um óbvio motivo de interesse.

Maria Emília trata Don Giovanni com a mesma galante condescencência com que tratara, no Trindade, o Conde de "As Bodas de Fígaro". Para desespero de uma parte dos frequentadores de São Carlos a cenografia repete também aqui, embora menos adequadamente, uma estética colorida e que invoca a actual sociedade das compras por catálogo.

O Don Giovanni podia muito bem ser um galã de shopping e as meninas em topless as caixeirinhas por ele desencaminhadas. Não se venha portanto dizer que o tratamento do tema não é actual embora se possa dizer que há uma desvalorização do lado filosófico e mítico da história.

O elenco tem um ponto fraco em D. Elvira (Katharina von Bülow) e uma boa surpresa em D. Ana (Carla Caramujo). Don Giovanni (Nicola Ulivieri) e Leporello (Kevin Short) estão bem mas não conseguem entusiasmar.

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Friday, June 5, 2009

Gaiteiros em Braga

O Pedro Morgado não refere, mas esta noite a cultura em Braga vai passar muito por um concerto dos Gaiteiros de Lisboa na Avenida Central. Será por ser também o comício de encerramento da campanha do Bloco de Esquerda, e o Pedro querer manter o blogue neutro? Ou será alergia ao nome "Gaiteiros de Lisboa"? De qualquer maneira fica aqui a informação. Lá estarei para ouvir. E para dar o meu apoio.

Entre a Manuela Moura Guedes e o Pedro Tadeu, ao menos este é de esquerda...

Thursday, June 4, 2009

Quatro Coreógrafos

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ISOLDA Olga Roriz
À FLOR DA PELE Rui Lopes Graça
FAUNO Vasco Wellenkamp
STROKES THROUGH THE TAIL Marguerite Donlon
um belo espectáculo, recomendo
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Eleições (1)

As do Sporting, antes do dia do voto: não há presidentes perfeitos. José Eduardo Bettencourt é um betinho insuportável (e mais ainda o seu sobrinho Pedro Granger). Ainda assim, enquanto a oposição se resumir a candidatos como Sérgio Abrantes Mendes ou, agora, Paulo Pereira Cristóvão, não vejo melhor alternativa para o Sporting que a actual linha de dirigentes.

Ilustríssimo sr. Vasco...

...essa do Carlos Castro da blogosfera tem autor. (Se esse estaminé onde escrevem aceitasse comentários, eu deixaria lá um em vez de estar aqui a escrever.)

A 20 anos de Tiananmen

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Qual foi a maior surpresa vinda do regime chinês nestes últimos vinte anos?

Se olharmos para trás e recuarmos a Tiananmen, acho que conseguiríamos imaginar este crescimento económico. Isso era concebível. Mas não se esperava que o sistema político fosse tão resistente como tem sido. Fizeram um trabalho impressionante de adaptação do seu autoritarismo. Saíram-se tristemente bem! E ao contrário do que poderíamos esperar também, tornaram-se numa grande potência sem criar uma tensão grande na região, ou nas grandes potências. Há tensões inevitáveis, mas a sua estratégia de apaziguamento tem sido muito bem sucedida. Seria de esperar o aparecimento de coligações de países asiáticos [contra a China], ou tensões mais sistemáticas com os EUA, mas na verdade, as relações melhoraram muito nos dois casos, fortaleceram-se. E este processo será agora muito mais difícil de interromper.

Consegue imaginar um regime democrático na China nos próximos 10 ou 20 anos?

Vinte sim, dez não! Será interessante ver a questão das transições políticas. Hu Jintao é o último líder a ser nomeado por Deng Xiaoping e depois teremos líderes que não receberam o aval dos fundadores da República Popular. Serão seleccionados por um processo que ainda é relativamente novo para um estado autoritário. A transição de Jiang Zemin para Hu Jintao foi um alto momento de transferência de poder. Se conseguirão ou não manter esta transição com sucesso é ainda uma questão. Acho que conseguirão, mas haverá uma diminuição de poder a cada ronda de novos líderes.

Como serão escolhidos?

Suponho que o processo venha a ser uma geração escolher a outra, pessoas que estão preparadas para receber a confiança do Partido e receber poder. Será como uma empresa que dá poder a um novo CEO, com os sucessores a serem escolhidos. É um processo difícil. Se olharmos para o grupo de potenciais líderes, qualquer um deles poderá perder a sua posição muito depressa, não tem uma posição de força nem a bênção de Hu Jintao. Provavelmente, haverá um enfraquecimento progressivo da próxima liderança. Mesmo Hu Jintao ainda tem de pesar as suas relações com Jiang Zemin. Haverá facções, necessidade de construir bases de poder, estarão numa posição mais fraca.

Será mais fácil assim ver as lutas internas do Partido?

Eles fazem um bom trabalho a manter isso à porta fechada, por enquanto. Mas a tensão virá se houver uma grande crise de política externa, uma séria crise económica. Quem deverá ter o poder numa situação destas? Quem conseguirá tomar decisões concertadas? De repente estas questões de autoridade e tomada de decisão vêm ao de cima com uma grande crise.A outra questão é: há neste momento uma classe média que é ainda de primeira geração. Saiu da pobreza e de um período em que as suas famílias eram pobres e eles também. Há de certa forma um sentimento de gratidão pelo que o Governo fez por eles, dando-lhes uma nova riqueza e um conjunto de liberdades. A segunda geração será um teste: será uma geração que apenas conheceu isto e que não estará grata, e terá mais expectativas em relação aos seus direitos e liberdades. Poderá pressionar mais o sistema político, e é possível que a nova classe média lute mais pelos seus direitos do que a actual. Isso será outro teste ao sistema.O Partido protege os interesses da classe média em detrimento da maior massa populacional; há uma “conspiração” de elite para proteger os interesses da classe média face aos mais pobres. Isso também já é uma tensão.

O que prevê para os próximos 20 anos?

Em dez anos ainda teremos uma coisa parecida com o sistema actual; em 20 haverá transições de liderança com a segunda geração da classe média a ser mais prevalecente... Em alguns aspectos, a China ainda é tratada como pertencendo a uma classe diferente por causa do seu sistema político. Não é tratada como as democracias mundiais. Para ser uma potência mundial de pleno direito, o seu sistema político terá de mudar. Quando a memória de Tiananmen desaparecer – que ainda está muito viva –, afastando as inseguranças que criou, e a velha guarda do Partido também, haverá mais possibilidades de vermos mudanças.

Extractos da entrevista feita pelo Público a Andrew Small, especialista em questões chinesas do German Marshall Fund dos EUA. (ver texto completo)
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