Thursday, October 14, 2010

O atraso e o esgotamento do regime



Acontece que, enquanto a política se fez segundo um modelo que combinava a distribuição daquilo que não se tinha com a fuga (em geral "em frente"!) ao que incomodava, tudo parecia fácil. Mas agora, que as coisas mudaram, a incapacidade política revelou-se de um modo tão estrondoso como evidente.
Esta incapacidade é bem clara no impasse actual: por um lado, exibe-se um optimismo todo feito de deslumbramento tecnológico e de virtualidades mediáticas, que vive ao sabor dos movimentos quase infinitesimais das estatísticas mais irrelevantes. Mas ao mesmo tempo insiste-se, por outro lado, no fatalismo mais paralisante: "ninguém previu", "não há alternativas", "a culpa é da crise internacional", etc. Com o optimismo, procura ganhar-se em tempo o que se perde em acção, com o fatalismo, procura ganhar-se em impunidade o que se esconde de irresponsabilidade.
De resto, que classe política, que não fosse dominada pelo arcaísmo das suas ideias e pelo egoísmo dos seus interesses, poderia, há um ano, ter pensado - um só segundo que fosse! - que seria possível lidar com a mais grave crise que Portugal enfrentou desde 1974, com um governo minoritário?
Mais: que outra classe política poderia, de um modo tão inconsciente, ter completamente esquecido a lição das experiência minoritária de 1995/2001, e o "pântano" a que ela conduziu? (Compare-se, a propósito, com o que recentemente - em situação análoga - aconteceu em Inglaterra).
Manuel Maria Carrilho, DN 14.10.2010


MMC deixou-se de rodriguinhos e resolveu atacar a fundo.
No seu caso pode sempre perguntar-se em que medida o faz por despeito mas a justeza das suas críticas é indubitável.
Se virmos bem é o próprio regime que ele põe em causa pois, como quase todos os críticos, não apresenta nenhuma ideia séria para o rectificar.
O que é verdadeiramente trágico no momento presente não é a novela do Orçamento mas sim termos a certeza de que o actual governo, e o que ele representa, devem ser varridos do poder e não vermos quem, nem como, pode constituir uma alternativa que nos devolva a esperança colectiva.
Não há sintoma mais claro do esgotamento do regime.
E ainda há quem ache que é inútil, ou mesmo perverso, "mexer" na Constituição.
Santa ingenuidade...

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