Mesmo sem querer pôr em causa a importância da decisão da equipa reitoral da universidade onde trabalho de acabar com as praxes, aqui anunciada pelo Ricardo Alves, a realidade é que a presença de tais atos permitiu-me ter vivido episódios que hei de recordar para o resto da minha vida, de cada das várias vezes que tive de me ir chatear com os praxantes e os praxados. Aquela vez em que, num dia com o tempo parecido com o de hoje, eu sugeri (sarcasticamente) ao grupo que berrava num pátio abrigado ao pé dos gabinetes na Escola de Ciências que fosse dali para fora, para o meio da chuva torrencial, pois os caloiros deveriam mesmo era molhar-se; um dos veteranos respondeu-me, candidamente, que tinha sugerido isso mesmo, mas os outros veteranos não tinham concordado. Ou a outra em que os mandei dali embora dizendo que ali “era um local de trabalho”, e eles olharam-me espantados por lhes dizer que a universidade era um local de trabalho – nunca ninguém lhes tinha dito tal coisa. Mas a melhor foi quando, em dias consecutivos, após insistirem em virem para baixo do meu gabinete, ainda me acusaram de os “estar a perseguir” – não seriam antes eles, mesmo sem quererem saber disso, que me estavam a perseguir a mim?Todos estes episódios, todos os dias, o ano letivo quase todo e não somente a “semana de receção ao caloiro”, obviamente acabavam por causar algum desgaste, mesmo se na maior parte das vezes tudo se resolvia com um telefonema ao segurança (e mesmo se entretanto mudei para um gabinete mais sossegado e resguardado). Mas se o barulho durante o trabalho se resolveu, a verdade é que a vida na universidade não se resume ao trabalho no gabinete. E era impossível, para qualquer membro da Universidade do Minho, circular pelos campus, fosse para ir à biblioteca, almoçar ou tratar de outro assunto qualquer, sem se deparar com aquele espetáculo indesejado de barulho e humilhação, voluntária ou não (isso é o que menos me interessa – não é por alguém querer participar neste evento que ele passa a ser tolerável). A decisão da equipa reitoral, por isso, é de aplaudir e só peca por tardia. Bem como a de retirar do protocolo da Universidade o “veterano” da praxe, onde até muito recentemente tinha assento!Resta agora aos praxantes acabar com a praxe... ou passar a fazê-la nas ruas de Braga (a praxe tem de ser feita em público: a humilhação, se não for pública, não conta para nada). Inclino-me mais para a segunda hipótese: a praxe e a “tradição académica” recebem um amplo apoio dos dois principais jornais da cidade, conforme se pode verificar nestas duas “primeiras páginas” do mês passado (curiosamente, ou talvez não, um destes jornais é conotado com a Igreja Católica e assumidamente de “inspiração cristã”). Conforme bem diz o comunicado do reitor, a praxe constitui um ataque à liberdade, à dignidade e à urbanidade. Vamos ver como a urbanidade de Braga reagirá a praxes nas ruas.
Monday, August 8, 2011
G20 ou G40 ?
O comunicado foi publicado na Coreia do Sul após as fortes baixas registradas nas bolsas asiáticas nesta segunda-feira. Os Estados membros permanecerão em contato estreito e atuarão para "garantir a estabilidade financeira e a liquidez dos mercados financeiros".
Estas reuniões das 20 maiores economias já não correspondem ao mundo actual, em que os maiores estados nacionais empobrecem ao mesmo tempo que as suas empresas enriquecem.
Estas reuniões deviam ter a participação dos 20 maiores estados mas também das 20 maiores empresas globais, digamos um G40. Os estados deviam então indagar onde é que as corporações criam emprego e onde é que pagam impostos. Se a resposta não fosse satisfatória deviam apertar com elas.
Presumo que os 20 maiores estados, quando se encontram, jogam uns com os outros um xadrez muito complexo de retaliações e de transferências de poder. A próxima fase, suponho, terá como centro o dolar.
Greenspan disse recentemente qualquer coisa como: "Os Estados Unidos têm meios para pagar qualquer dívida. Trata-se apenas de imprimir mais dólares".
Esta ideia de uma moeda que tem sido emitida, ao longo de décadas, de forma descontrolada, fascina-me. É um factor de crescimento inesgotável, mesmo que ilusório. Será que alguém sabe quantos dólares estão realmente em circulação, mesmo ignorando os milhões de dólares falsos?
Penso que é uma questão de tempo até que toda a gente fuja dos dólares por terem perdido a mais elementar credibilidade.
Nas reuniões do G20 encontram-se muitos países que têm os seus pés-de-meia em dólares. Têm portanto que gerir a transição de forma muito cautelosa para não perderem tudo o que amealharam.
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Saturday, August 6, 2011
Friday, August 5, 2011
Serviço público serve quem?
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A televisão pública beneficiou de uma subida de 2,7 milhões de euros, o equivalente a quase mais 2%, na indemnização compensatória para este ano. O valor de 145,9 milhões de euros já estava previsto no acordo complementar do contrato de concessão de serviço público de televisão para o quadriénio 2008-2011. Ao mesmo tempo, e até ao terceiro trimestre, a RTP tinha recebido 88,15 milhões de euros em dotações de capital. Tudo junto dá 234 milhões de euros de transferências do Estado, o que compara com os 205,5 milhões de euros pagos à RTP o ano passado. Em causa está uma subida de quase 14% nas transferências, ou de 28,5 milhões de euros.
A estes números serão ainda somados os 134,4 milhões de euros de receita da taxa audiovisual paga na factura eléctrica. O acordo entre a RTP e o governo contempla também uma subida de 2,3 milhões de euros na contribuição audiovisual em 2010, face a valores de 2009. Na resolução do Conselho de Ministros (presidido por José Sócrates) ontem publicada, o governo justifica os valores pagos à RTP com o cumprimento dos compromissos decorrentes do contrato de concessão assinado entre o Estado e a empresa para o cumprimento do serviço público de televisão, em particular no que respeita ao acordo de reestruturação financeira da RTP assinado em 2003.
Jornal "I", 15.12..2010
A privatização da RTP vai ficar para melhores dias ou, como avisadamente escreveu o primeiro--ministro no programa do governo, para "tempo oportuno". Se, de facto, o "tempo oportuno" é um eufemismo usado e abusado em Portugal para atirar um problema para as calendas gregas, a recente intervenção do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, em que nomeou expressamente a RTP como alvo a privatizar rapidamente, voltou a criar pânico nos "mercados".
Mas, segundo apurou o i, podem os "mercados" (as outras televisões privadas, as rádios e os jornais) ficar mais descansados: a privatização da RTP não será acelerada de maneira nenhuma e acontecerá, tal como prometeu o primeiro-ministro, "em tempo oportuno" - na melhor das hipóteses nunca; na pior das hipóteses na próxima legislatura, se o PSD voltar a ganhar as eleições.
Num momento de crise gigantesca nos media, abrir a RTP aos privados seria comprar uma guerra de proporções devastadoras. Até aqui, a mais visível face dessa guerra em curso é a oposição do militante número 1 do PSD, Pinto Balsemão, dono do grupo Impresa e feroz opositor da privatização do canal público que ameaça roubar receitas à SIC, neste momento já em perda.
Jornal "I", 01.08..2011
Ao que parece este autêntico sorvedouro de dinheiros dos contribuintes vai continuar a prestar o tal "serviço público" que ninguém consegue perceber qual seja, se o governo não tiver a coragem de afrontar os interesses instalados nas televisões privadas que querem manter as suas posições no mercado da publicidade.
Enquanto os cidadãos são forçados a apertar o cinto as televisões gastam rios de dinheiro a produzir conteúdos de baixo nível. Também elas só ganhavam com o emagrecimento, em qualidade e em lucros, se produzissem mais com menos.
Talvez não seja coincidência a mudança de tom por exemplo da SIC que, nas últimas semanas, desembestou furiosamente contra o governo de Passos Coelho.
Para bom entendedor meia palavra basta.
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A televisão pública beneficiou de uma subida de 2,7 milhões de euros, o equivalente a quase mais 2%, na indemnização compensatória para este ano. O valor de 145,9 milhões de euros já estava previsto no acordo complementar do contrato de concessão de serviço público de televisão para o quadriénio 2008-2011. Ao mesmo tempo, e até ao terceiro trimestre, a RTP tinha recebido 88,15 milhões de euros em dotações de capital. Tudo junto dá 234 milhões de euros de transferências do Estado, o que compara com os 205,5 milhões de euros pagos à RTP o ano passado. Em causa está uma subida de quase 14% nas transferências, ou de 28,5 milhões de euros.
A estes números serão ainda somados os 134,4 milhões de euros de receita da taxa audiovisual paga na factura eléctrica. O acordo entre a RTP e o governo contempla também uma subida de 2,3 milhões de euros na contribuição audiovisual em 2010, face a valores de 2009. Na resolução do Conselho de Ministros (presidido por José Sócrates) ontem publicada, o governo justifica os valores pagos à RTP com o cumprimento dos compromissos decorrentes do contrato de concessão assinado entre o Estado e a empresa para o cumprimento do serviço público de televisão, em particular no que respeita ao acordo de reestruturação financeira da RTP assinado em 2003.
Jornal "I", 15.12..2010
A privatização da RTP vai ficar para melhores dias ou, como avisadamente escreveu o primeiro--ministro no programa do governo, para "tempo oportuno". Se, de facto, o "tempo oportuno" é um eufemismo usado e abusado em Portugal para atirar um problema para as calendas gregas, a recente intervenção do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, em que nomeou expressamente a RTP como alvo a privatizar rapidamente, voltou a criar pânico nos "mercados".
Mas, segundo apurou o i, podem os "mercados" (as outras televisões privadas, as rádios e os jornais) ficar mais descansados: a privatização da RTP não será acelerada de maneira nenhuma e acontecerá, tal como prometeu o primeiro-ministro, "em tempo oportuno" - na melhor das hipóteses nunca; na pior das hipóteses na próxima legislatura, se o PSD voltar a ganhar as eleições.
Num momento de crise gigantesca nos media, abrir a RTP aos privados seria comprar uma guerra de proporções devastadoras. Até aqui, a mais visível face dessa guerra em curso é a oposição do militante número 1 do PSD, Pinto Balsemão, dono do grupo Impresa e feroz opositor da privatização do canal público que ameaça roubar receitas à SIC, neste momento já em perda.
Jornal "I", 01.08..2011
Ao que parece este autêntico sorvedouro de dinheiros dos contribuintes vai continuar a prestar o tal "serviço público" que ninguém consegue perceber qual seja, se o governo não tiver a coragem de afrontar os interesses instalados nas televisões privadas que querem manter as suas posições no mercado da publicidade.
Enquanto os cidadãos são forçados a apertar o cinto as televisões gastam rios de dinheiro a produzir conteúdos de baixo nível. Também elas só ganhavam com o emagrecimento, em qualidade e em lucros, se produzissem mais com menos.
Talvez não seja coincidência a mudança de tom por exemplo da SIC que, nas últimas semanas, desembestou furiosamente contra o governo de Passos Coelho.
Para bom entendedor meia palavra basta.
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Thursday, August 4, 2011
Volta Catroga, estás perdoado
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O mundo vê espantado o presidente Obama a equilibrar-se num fino arame financeiro e a Europa desorientada a lamber as feridas que os "mercados" lhe provocam. Todos tememos que sobre nós se abata a maior hecatombe económica e social de que há memória.
E o que fazem os nossos deputados? decretam uma economia de guerra? distribuem capacetes e máscaras de gás? tentam preparar o país e os cidadãos do tsunami que se perfila no horizonte?
Não.
Preferem perder o seu tempo a discorrer sobre o súbito eclipse do Bairrão, ou sobre o buraco BPN agora que já não tem remédio possível, ou sobre os titulares convocados pelo treinador para a equipa da Caixa, ou sobre uma determinada chamada telefónica que foi feita para o INEM.
Em suma, pintelhos.
Volta Catroga, estás perdoado.
Via Henricartoons
O mundo vê espantado o presidente Obama a equilibrar-se num fino arame financeiro e a Europa desorientada a lamber as feridas que os "mercados" lhe provocam. Todos tememos que sobre nós se abata a maior hecatombe económica e social de que há memória.
E o que fazem os nossos deputados? decretam uma economia de guerra? distribuem capacetes e máscaras de gás? tentam preparar o país e os cidadãos do tsunami que se perfila no horizonte?
Não.
Preferem perder o seu tempo a discorrer sobre o súbito eclipse do Bairrão, ou sobre o buraco BPN agora que já não tem remédio possível, ou sobre os titulares convocados pelo treinador para a equipa da Caixa, ou sobre uma determinada chamada telefónica que foi feita para o INEM.
Em suma, pintelhos.
Volta Catroga, estás perdoado.
Wednesday, August 3, 2011
Uma catástrofe a menos
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Luiz Carlos Molión, professor da Universidade Federal de Alagoas, no Brasil, e representante dos países da América do Sul na Comissão de Climatologia da Organização Metereológica Mundial (OMM), não acredita no aquecimento global provocado pela actividade humana.
Polémico, com um discurso simples e claro, o metereologista brasileiro defende que a subida das temperaturas nos últimos anos está relacionada com a actividade do Sol e com os oceanos, que ele considera os dois grandes reguladores do clima global da Terra. Por isso, afirma que o planeta vai arrefecer nos próximos 20 anos.
Defende que as emissões de dióxido de carbono de origem humana são incapazes de causar o aquecimento global da Terra. Porquê?
Luiz Carlos Molión, professor da Universidade Federal de Alagoas, no Brasil, e representante dos países da América do Sul na Comissão de Climatologia da Organização Metereológica Mundial (OMM), não acredita no aquecimento global provocado pela actividade humana.
Polémico, com um discurso simples e claro, o metereologista brasileiro defende que a subida das temperaturas nos últimos anos está relacionada com a actividade do Sol e com os oceanos, que ele considera os dois grandes reguladores do clima global da Terra. Por isso, afirma que o planeta vai arrefecer nos próximos 20 anos.
Defende que as emissões de dióxido de carbono de origem humana são incapazes de causar o aquecimento global da Terra. Porquê?
Quando verificamos a variação do dióxido de carbono ao longo dos últimos 150 anos, percebemos que não se relaciona com a temperatura. Por exemplo, entre 1925 e 1946, houve um aquecimento muito forte, principalmente no Árctico. A temperatura subiu no Árctico mais de 4 graus centígrados. Mas em 1945, no final da Segunda Guerra Mundial, as actividades humanas lançavam apenas 6% do carbono que lançam hoje para a atmosfera.
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Então o CO2 nunca controlou o clima global?
Exactamente. Os cilindros de gelo mostram muito bem isso: a temperatura sobe antes e só cerca de 800 a 1.200 anos depois é que o CO2 sobe.
Porquê?
Quando os oceanos estão frios, durante as eras glaciares, a produtividade do plâncton e das algas é muito grande e, por isso, tendem a fixar o CO2. Quando ocorre um aquecimento, há maior libertação do CO2 que estava dissolvido na água do mar, o que significa que o CO2 que está hoje na atmosfera não é necessariamente de origem humana, muito pelo contrário: o carbono que a actividade humana lança na atmosfera é apenas 3% de todos os fluxos naturais que saem dos oceanos, dos solos e da vegetação.
Então o CO2 nunca controlou o clima global?
Exactamente. Os cilindros de gelo mostram muito bem isso: a temperatura sobe antes e só cerca de 800 a 1.200 anos depois é que o CO2 sobe.
Porquê?
Quando os oceanos estão frios, durante as eras glaciares, a produtividade do plâncton e das algas é muito grande e, por isso, tendem a fixar o CO2. Quando ocorre um aquecimento, há maior libertação do CO2 que estava dissolvido na água do mar, o que significa que o CO2 que está hoje na atmosfera não é necessariamente de origem humana, muito pelo contrário: o carbono que a actividade humana lança na atmosfera é apenas 3% de todos os fluxos naturais que saem dos oceanos, dos solos e da vegetação.
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Há cientistas que têm manipulado os dados para forçar o aquecimento global?
Há cientistas que têm manipulado os dados para forçar o aquecimento global?
Sim, no caso do Instituto Godard de estudos espaciais da NASA, onde trabalha James Hansen, o pai do aquecimento global, ele publicou um gráfico de temperaturas em 1999 e outro em 2008 em que se vê claramente que, sem justificativa científica alguma, as temperaturas das décadas de 1930 e 1940 foram rebaixadas. E as mais baixas, relativas às décadas de 1950 e 1960, foram elevadas, para dar a impressão de que a tendência é de um aumento contínuo das temperaturas globais da Terra, quando na realidade não é.
Vale a pena ler na íntegra esta entrevista publicada no Expresso (Única) da semana passada.
No meio de tantas catástrofes eminentes é reconfortante não se confirmar que, com os nossos gestos mais inocentes, estamos a provocar mais outra.
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Vale a pena ler na íntegra esta entrevista publicada no Expresso (Única) da semana passada.
No meio de tantas catástrofes eminentes é reconfortante não se confirmar que, com os nossos gestos mais inocentes, estamos a provocar mais outra.
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