Uma livraria que, fazendo jus à sua designação, está repleta de livros. É sempre o primeiro erro que estes sítios cometem.
E encontrá-la? Não foi nada fácil de encontrar, a Byblos. Não sei por que carga de água, tinha metido na cabeça que a Byblos ficava no edifício do Amoreiras. Não fica. Tive de pedir indicações a dois transeuntes (que me confessaram, algo embaraçadamente, que também não sabiam onde ficava a Byblos) até que um segurança me salvou a tarde: «Aquela nova loja grande, que vende livros do Miguel Sousa Tavares? Isso não é aqui, é naquele edifício espelhado lá ao fundo».
Não foi nada fácil de achar, aquele edifício espelhado lá ao fundo. Tive de pedir indicações a dois transeuntes (que me confessaram, algo embaraçadamente, que também não sabiam onde ficava aquele edifício espelhado lá ao fundo), até que vi um terceiro transeunte com um livro de Miguel Sousa Tavares debaixo do braço: «É por aqui é, amigo! Pode entrar por aquela portinha giratória naquele edifício espelhado já ali ao fundo, está a ver? Não se preocupe que ainda lá têm muitos livros do Miguel Sousa Tavares».
O que vi lá dentro excedeu todas a minhas expectativas, no sentido em que não fez nada disso, e não me refiro apenas ao número disponível de livros de Miguel Sousa Tavares. A configuração do espaço, para começar, é original, na medida em que não me remeteu para nenhum dos modelos que conheço para superfícies deste género (tem muito pouco a ver com as Fnacs ou com as Waterstones). Há toques verdadeiramente inspirados, como a alcatifa estilo-Weimar, a iluminação sociopata, uns candeeiros nas zonas de leitura claramente modelados nos secadores de um salão de cabeleireira, e as ubíquas pilhas de livros de Miguel Sousa Tavares. Toda a atmosfera, aliás (com excepção dos livros de Miguel Sousa Tavares), evoca um pouco aquelas festas muito populares nos anos 70, em que se metiam as chaves do carro numa terrina de vidro. Não faço ideia quem terá sido o responsável pela decoração, mas aposto que tem bigode, que usa um roupão bordado com as suas iniciais, e que gosta de Barry White.
A arrumação nas secções revelou alguns sinais de espirituoso anarquismo, mas tudo pode não ser mais do que, como disse o Zé Mário, a "vertigem da urgência". Ainda assim, foi transtornante encontrar o Fora do Mundo, do Pedro Mexia, na estante da Sociologia, entre um livro de entrevistas a Carlos Pinto Coelho e um romance histórico de Miguel Sousa Tavares.
A secção de Ficção em português é imensa, e está competentemente dividida em cinco sub-secções: Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literatura Africana, Autores Traduzidos, e Miguel Sousa Tavares. A dos livros estrangeiros foi uma semi-desilusão: pareceu-me ficar aquém da Fnac do Chiado. Ainda assim, vale a pena espreitar a estante dos Penguins, onde os 20th Century Classics, os Modern Classics e aqueloutros Classics baratinhos, com capas cor-de-sabonete-Dove, têm todos direito a duas prateleiras cada. Entre os primeiros - lombadas cinzentas - podem encontrar o Call it Sleep, escrito por um Roth que não era Philip nem Joseph nem Miguel Sousa Tavares, mas que era tão bom quanto eles. Custa 16 euros e 20. E mesmo ao lado, no estaminé das novidades, um belíssimo paperback do Against the Day! Tomei a liberdade de lá enfiar um papelinho com o meu nome e número de telefone, na eventualidade de o comprador querer esclarecer alguma dúvida, ou simplesmente ser meu amigo. Realço também o ecletismo, que não se limita à habitual tríade Inglês-Francês-Castelhano; podem encontrar, para dar um exemplo, traduções do último romance de Miguel Sousa Tavares em italiano, romeno, bengali, mandarim, esperanto, braille e hobbit. Para breve, seguramente, uma edição interactiva em linguagem gestual.
Não foi nada fácil de achar, aquele edifício espelhado lá ao fundo. Tive de pedir indicações a dois transeuntes (que me confessaram, algo embaraçadamente, que também não sabiam onde ficava aquele edifício espelhado lá ao fundo), até que vi um terceiro transeunte com um livro de Miguel Sousa Tavares debaixo do braço: «É por aqui é, amigo! Pode entrar por aquela portinha giratória naquele edifício espelhado já ali ao fundo, está a ver? Não se preocupe que ainda lá têm muitos livros do Miguel Sousa Tavares».
O que vi lá dentro excedeu todas a minhas expectativas, no sentido em que não fez nada disso, e não me refiro apenas ao número disponível de livros de Miguel Sousa Tavares. A configuração do espaço, para começar, é original, na medida em que não me remeteu para nenhum dos modelos que conheço para superfícies deste género (tem muito pouco a ver com as Fnacs ou com as Waterstones). Há toques verdadeiramente inspirados, como a alcatifa estilo-Weimar, a iluminação sociopata, uns candeeiros nas zonas de leitura claramente modelados nos secadores de um salão de cabeleireira, e as ubíquas pilhas de livros de Miguel Sousa Tavares. Toda a atmosfera, aliás (com excepção dos livros de Miguel Sousa Tavares), evoca um pouco aquelas festas muito populares nos anos 70, em que se metiam as chaves do carro numa terrina de vidro. Não faço ideia quem terá sido o responsável pela decoração, mas aposto que tem bigode, que usa um roupão bordado com as suas iniciais, e que gosta de Barry White.
A arrumação nas secções revelou alguns sinais de espirituoso anarquismo, mas tudo pode não ser mais do que, como disse o Zé Mário, a "vertigem da urgência". Ainda assim, foi transtornante encontrar o Fora do Mundo, do Pedro Mexia, na estante da Sociologia, entre um livro de entrevistas a Carlos Pinto Coelho e um romance histórico de Miguel Sousa Tavares.
A secção de Ficção em português é imensa, e está competentemente dividida em cinco sub-secções: Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literatura Africana, Autores Traduzidos, e Miguel Sousa Tavares. A dos livros estrangeiros foi uma semi-desilusão: pareceu-me ficar aquém da Fnac do Chiado. Ainda assim, vale a pena espreitar a estante dos Penguins, onde os 20th Century Classics, os Modern Classics e aqueloutros Classics baratinhos, com capas cor-de-sabonete-Dove, têm todos direito a duas prateleiras cada. Entre os primeiros - lombadas cinzentas - podem encontrar o Call it Sleep, escrito por um Roth que não era Philip nem Joseph nem Miguel Sousa Tavares, mas que era tão bom quanto eles. Custa 16 euros e 20. E mesmo ao lado, no estaminé das novidades, um belíssimo paperback do Against the Day! Tomei a liberdade de lá enfiar um papelinho com o meu nome e número de telefone, na eventualidade de o comprador querer esclarecer alguma dúvida, ou simplesmente ser meu amigo. Realço também o ecletismo, que não se limita à habitual tríade Inglês-Francês-Castelhano; podem encontrar, para dar um exemplo, traduções do último romance de Miguel Sousa Tavares em italiano, romeno, bengali, mandarim, esperanto, braille e hobbit. Para breve, seguramente, uma edição interactiva em linguagem gestual.
Uma nota final sobre a secção de Ciência-Para-Os-Muito-Muito-Leigos, que também me pareceu algo fraquinha: cinco míseras prateleiras, estrategicamente colocadas de forma a que quem venha de lá com o The Ancestor's Tale do Dawkins (13 euros e 20), tenha de passar por quarenta edições ilustradas do Antigo Testamento (com comentário e notas de Miguel Sousa Tavares) antes de chegar à caixa. Gostei muito das escadas rolantes. O aspecto mais negativo de todos é a chuva. Não é que chova lá dentro, mas ainda assim, acho que deviam fazer alguma coisa sobre o assunto.
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