Thursday, December 6, 2007

O Cine Oriente, mais conhecido por "o piolho"

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O Arquivo Fotográfico Municipal revelou-se-me recentemente. É uma mina onde podemos redescobrir a rua da nossa da infância.

Lá fui encontrar, entre outros tesouros para a memória, fotografias do velho "Cine Oriente" onde fiz a minha iniciação ao cinema no fim dos anos cinquenta.

Eu morava então na Av. General Roçadas ao fundo da qual, num desvio ladeado de muros altos, se erguia (se ergue ?) a sala do Cine Oriente.

A miudagem pegava numa dúzia de "livros aos quadradinhos", já lidos, e vendia-os à porta do "piolho", que era a alcunha do cinema, angariando assim o dinheiro para o bilhete.

Podia acontecer, e acontecia, que um matulão qualquer se apropriasse do espólio e nos obrigasse a voltar para casa, de mãos a abanar, sem direito a ver o filme. Com a semana arruinada.

As sessões do "piolho" não tinham rival na fruição física do cinema, o ar chegava a ser irrespirável, as paredes escorriam humidade e o ruído era ensurdecedor.

As cenas de suspense provocavam enorme gritaria com que se pretendia avisar o herói prestes a ser atacado pelas costas. As cadeiras de pau, basculantes, eram usadas como instrumentos de percussão que levavam os decibéis a níveis insuportáveis.

Tal animação só a reencontrei, em Bissau, no fim dos anos 60 quando os miudos negros, precariamente sentados quase em cima do ecran, vibravam com o heroismo dos índios contra os cowboys.

As boazonas de então e as "cenas de sexo", cuja ousadia à época todos podem imaginar, desencadeavam pelo escuro esquivas formas de masturbação que me dispenso de esmiuçar.

No ecran havia o Tarzan, os filmes sobre a segunda guerra, e também os fimes de episódios que entretanto caíram em desuso. Se bem me lembro havia um "mascarilha" cujas aventuras e pancadarias se sucediam sob a forma de vários episódios curtos. Ao longo da tarde víamos suceder-se, numerados, uma porrada deles.




Se calhar, mas não garanto, também lá vi filmes de que ainda hoje gosto muito como "A queda de um corpo" (The Harder They Fall) de Mark Robson, "O mundo é um manicómio" (Arsenic and Old Lace) de Capra e "O quinteto era de cordas" (The lady killers) de Mackendrick.

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