Tiveram lugar no mesmo dia as votações na Rússia e na Venezuela, as comparações são quase inevitáveis.
O ponto de partida, para mim, é a semelhança que une as duas experiências políticas apesar do folclore envolvente. São dois casos de apelo ao nacionalismo viabilizados pelos combustíveis fósseis. Há outros, como o Irão, mas nos casos em apreço procura-se uma legitimação "democrática".
Na Rússia constata-se uma esmagadora votação em Putin, através dos partidos que o apoiam, da ordem dos 70 %. A oposição fica reduzida aos comunistas que descem para 11%, quase ao nível do PCP. Putin é a Rússia.
Apostando na nostalgia de "grande potência", sem definições no plano ideológico, tudo se joga no processo de encarnar a alma da pátria ferida. Os comunistas também querem o mesmo mas têm um fardo pesado: apesar das óbvias riquezas naturais do país mantiveram o seu povo, durante décadas, num frugalismo exagerado e indesejado. Putin procura não cometer o mesmo erro e isso parece explicar o seu sucesso.
No caso da Venezuela o inimigo é o mesmo, o "capitalismo internacional", e Chavez pretende corporizar a resistência à colonização económica pelo grande vizinho do norte.
Ao contrário de Putin tentou converter o apoio popular à sua política de controle sobre as riquezas naturais em algo mais marcado ideológicamente.
A Venezuela como estado confessional, com "Socialismo do Século XXI", com ameaça de presidencialismo perpetuado, não convenceu maioritáriamente os venezuelanos.
Não se convenceram da razoabilidade de estabelecer um "socialismo enquanto houver petróleo" por decreto.
Ambos os eleitorados têm que ser considerados "competentes".Os russos são dos poucos que podem, por experiência vivida, comparar o capitalismo (mesmo que especial) com o comunismo (mesmo que na sua forma perversa).Os venezuelanos, que já votaram Chavez por larga maioria, ao não fazê-lo agora dão um sinal inequívoco daquilo que repudiam.
Penso que fica claro com estas votações que petróleo + nacionalismo rende muitos votos independentemente de haver, concomitantemente, propostas de esquerda ou de direita, conservadoras ou revolucionárias.
O sucesso económico tornou-se aliás um legitimador imune às vicissitudes políticas e ideológicas.
A China, a Índia e o Irão servem para o demonstrar. Ao contrário dos estados-fantoche do médio oriente, o países citados `têm a sua própria agenda e o seu próprio peso.
Depois de um tempo em que o cinismo dominante era "sejam democráticos se querem ser ricos como nós" estamos agora no tempo do "vejam como eu sou rico e influente apesar de tudo".
Virou-se o feitiço contra o feiticeiro.
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