Esta era a minha rua, onde nasci e vivi até aos 20 anos.
Através de imagens obtidas no Arquivo Fotográfico Municipal posso reviver muito do que foi a minha infância e adolescência. A fotografia que antecede este texto mostra a Avenida General Roçadas que liga a Praça Paiva Couceiro a Sapadores, tal como ela era nos anos 50/60.
Não há nenhum registo fotográfico do prédio em que nasci, que já não existe pois foi substituído por uma nova construção. Era o número 153.
Mais adiante, na mesma rua, está a Escola Nuno Gonçalves, que eu frequentei. Era o chamado ensino preparatório, o primeiro e segundo ano do secundário. Lá conheci o professor Xavier Pintado a quem posso agradecer uma boa parte do meu interesse pelas artes.
Antes de construirem a ponte eu tinha que atravessar este desnível, o Vale Escuro, para ir para a Escola. Também participei em muitas guerras de pedrada, a que chamávamos "púrria", por estes baldios. Cheguei algumas vezes a casa com a cabeça aberta. Eram guerras entre ruas ou bairros.
A ponte veio eliminar a descontinuidade da Avenida que ganhou um novo estatuto na ligação da parte oriental da cidade ao centro.
As vivendas geminadas do "Bairro" estavam mesmo em frente à minha janela, um rés-do-chão. A esquina no lado direito da fotografia era o ponto de encontro da malta, ao fim da tarde, para o bate-boca. O "Bairro" era um brinde do regime aos funcionários públicos, creio eu. Do outro lado da rua, do meu, viviam os trabalhadores e os pequenos comerciantes que ainda não eram muito diferentes dos primeiros.
Onde acabavam as vivendas tinham construído os "prédios novos", no baldio onde durante muitos anos nós brincámos e guerreámos em ambiente campestre. Um desperdício portanto.
A rua continuava e descia para a Praça Paiva Couceiro que era onde estava a Junta de Freguesia, os transportes e o comércio de maior requinte.
Já na Paiva Couceiro estava o Café Chaimite (o toldo vê-se à direita na foto), que a partir de certa altura se converteu na meca das nossas discussões políticas (agora é uma cafetaria sem carácter).
Todos os dias descíamos a rua, a pretexto de estudar no Chaimite, e passávamos horas a conversar e discutir. Foi uma das minhas universidades.
Ainda hoje os amigos de então se reconhecem na designação "a malta do Chaimite"
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