A portaria 1226/2009 acaba de frustrar o meu sonho de viver com um casuar, um manatim ou até um monstro-de-gila. A portaria, aliás, veda o meu direito constitucional a comprar numa loja uma baleia ou mesmo “outros cetáceos”. Atenta ao bem-estar dos animais, a portaria até me proíbe de coabitar com centopeias compradas em loja — embora não proíba as que entram pelos canos e se tenha esquecido de estender a proibição a baratas, formigas e outros animais domésticos. Ah, e esqueceu-se de proibir os camelos e outros dromedários, os quais podem assim actuar nos circos — de onde ficarão banidos elefantes, leões, tigres e outros felinos, ursos, lobos, otárias (acho muito bem), hipopótamos, rinocerontes, pinguins, cobras várias, aligators e escorpiões. E varanos. Sim, varanos.
Mas a sábia portaria (resultado do lóbi da Associação Animal — a mesma que há uns anos fez apresentar no parlamento uma lei que visava controlar as ‘condições psicológicas’ em que viviam os animais domésticos, bem como o seu acesso aos transportes públicos, entre outros mimos do género), também proíbe a reprodução daqueles animais em cativeiro. Como bem nota o proprietário circense Miguel Chen, não estão porém disponíveis na praça preservativos para os tigres, o que vai implicar que o ministro, ou alguém que o represente dignamente, se afoite a fazer cumprir a lei, interpondo-se entre tigres e tigresas, em plena época de cio: vai ser um número a não perder, num circo próximo de si.
Eis mais um retumbante triunfo da cultura urbana, moderna e civilizada. Porque o fundo da questão está no que diz Victor Hugo Cardinali — um honrado nome de uma família que tem feito sonhar gerações e gerações de crianças, com os seus tigres, leões e elefantes, saídos da televisão e dos joguinhos de computador para a tenda do circo: “Eu também posso fazer algo como o Cirque du Soleil, para os intelectuais de Lisboa e do Porto. Mas experimentem levar isso a Portalegre e eles vão perguntar ‘que porra é essa?’”. É contra este Portugal da porra que em boa hora surgiu a portaria a defender as centopeias, os aligators e também, já me esquecia, os nandus e os crotalos. Somos assim o primeiro país da Europa a proibir as espécies ‘exóticas’ ou ‘selvagens’ nos circos. É motivo de orgulho pátrio: em alguma coisa somos, afinal, os primeiros. Mesmo que estejamos a criar uma geração de criancinhas a quem ensinam que só os ‘maus’ dos caçadores é que matam animais e que julgam que todos os outros animais morrem de morte natural e que os bifes nascem na horta, junto com as alfaces e as salsichas, e que a galinha não tem filhinhos destinados ao churrasco, mas apenas produz ovos e já estrelados.
Mas a sábia portaria (resultado do lóbi da Associação Animal — a mesma que há uns anos fez apresentar no parlamento uma lei que visava controlar as ‘condições psicológicas’ em que viviam os animais domésticos, bem como o seu acesso aos transportes públicos, entre outros mimos do género), também proíbe a reprodução daqueles animais em cativeiro. Como bem nota o proprietário circense Miguel Chen, não estão porém disponíveis na praça preservativos para os tigres, o que vai implicar que o ministro, ou alguém que o represente dignamente, se afoite a fazer cumprir a lei, interpondo-se entre tigres e tigresas, em plena época de cio: vai ser um número a não perder, num circo próximo de si.
Eis mais um retumbante triunfo da cultura urbana, moderna e civilizada. Porque o fundo da questão está no que diz Victor Hugo Cardinali — um honrado nome de uma família que tem feito sonhar gerações e gerações de crianças, com os seus tigres, leões e elefantes, saídos da televisão e dos joguinhos de computador para a tenda do circo: “Eu também posso fazer algo como o Cirque du Soleil, para os intelectuais de Lisboa e do Porto. Mas experimentem levar isso a Portalegre e eles vão perguntar ‘que porra é essa?’”. É contra este Portugal da porra que em boa hora surgiu a portaria a defender as centopeias, os aligators e também, já me esquecia, os nandus e os crotalos. Somos assim o primeiro país da Europa a proibir as espécies ‘exóticas’ ou ‘selvagens’ nos circos. É motivo de orgulho pátrio: em alguma coisa somos, afinal, os primeiros. Mesmo que estejamos a criar uma geração de criancinhas a quem ensinam que só os ‘maus’ dos caçadores é que matam animais e que julgam que todos os outros animais morrem de morte natural e que os bifes nascem na horta, junto com as alfaces e as salsichas, e que a galinha não tem filhinhos destinados ao churrasco, mas apenas produz ovos e já estrelados.
Este engraçadíssimo texto de Miguel Sousa Tavares no Expresso de ontem fez-me pensar que a proverbial anedota "é tudo malta do Técnico" pode voltar a ser realidade.
Para quem não saiba: numa época de escassez de emprego um recém-licenciado no Técnico só conseguiu empregar-se num circo onde lhe mandaram envergar uma pele de leão e entrar na pista.
Ele lá foi, cheio de medo das feras que o rodeavam, até que uma delas levantou a ponta da máscara e lhe sussurrou: não tenhas medo, é tudo malta do técnico.
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