Saturday, September 30, 2006

Comadres

O mundo literário também é pródigo em confusões, mas começo a acreditar que os anos de ouro já lá vão. Onde estão os sucessores de Norman Mailer, que passou décadas gloriosas a esfaquear esposas e a pregar valentes cabeçadas a Gore Vidal em festas novaiorquinas?
No The Guardian de hoje, Salman Rushdie (na minha lista negra desde o ridículo Fury) reagiu publicamente pela primeira vez a uma crítica mordaz que John Updike fizera ao seu (igualmente ridículo) Shalimar the Clown, nas páginas da New Yorker. A peça em questão abria com uma pergunta retórica: "Why oh why did Salman Rushdie in his new novel call one of his characters Maximilian Ophuls?", nome que deixa implícita uma referência ao homónimo realizador alemão que o resto do livro não desvenda. Descuido? Prestidigitação?
A resposta de Rushdie: "A name is just a name. 'Why oh why?...' Well, why not? Somewhere in Las Vegas there's probably a male prostitute called 'John Updike'."
Até nem é má, a resposta. Mas - ladies, is that the best you can do? Alguém lhes dê dois tacos de baseball, se faz favor.

"Forget it, Vladimir. It's Reykjavik"


O sempre cordial mundo do xadrês competitivo voltou a desaguar numa caldeirada de mau sangue. 24 anos depois do "Cameragate" em Reiquiavique, temos agora o "Toiletgate" de Kalmykia.
Devo dizer, contudo, que o meu coração pende para Kramnik. E que atire a primeira pedra aquele que não pensaria duas vezes antes de aceitar partilhar uma retrete com Topalov.

Desabafo

Permitam-me que partilhe o seguinte desabafo: o cavalinho Fairmile, treinado pelo normalmente fiável WR Swinburn, sofreu hoje a humilhação de terminar a das 15:45 em Newmarket num escandaloso 18º lugar, ele que era um claro favorito.
Duas consequências imediatas desta calamidade:
1. esta noite não vou jantar fora;
2. quem for, terá provavelmente a oportunidade de comer um bife retirado ao dorso do cavalinho Fairmile.

Self-Made Man

Regresso

Está tudo na mesma.

Buarqueanos retardatários, apressem-se

Acrescentaram mais duas datas aos concertos do Chico Buarque, uma no Porto e outra em Lisboa (no dia dos meus anos). Eu já tenho bilhete (para a véspera – para passar o dia seguinte com o Chico no ouvido). As restantes datas já estão quase esgotadas e não me admiro que as novas datas esgotem num instante.

Friday, September 29, 2006

Como identificar um Marujo numa redacção

(Não é este, mas se calhar também servia.)
Há três sintomas:
- na parede por trás da secretária, retratos do Papa;
- colados ao écran do computador, autocolantes da ATTAC;
- em cima da secretária, discreto mas sempre presente, um emblema do Beira Mar.

(Com um abraço ao António.)

Aforismo antes do plenário

Homens engravatados a passearem pela redacção são sinal de que se aproximam despedimentos.

Thursday, September 28, 2006

O resto do Mundo


Em Bruxelas, à luz do Sol, dois estranhos apontam o dedo à multidão.

Ladrar é morder

Dentro dos amigos que fiz aqui no Público destaco o Renato, que se sentava na secretária ao lado da minha e com quem era um prazer conversar. O Renato começou há pouco tempo um blogue, Ladrar É Morder. Esquerda a doer.

Reflexões antes da partida

Por aqui vivo os meus últimos dias no Público. E com o ambiente que se vive aqui parece que são mesmo os últimos dias do Público como o conhecemos. Espero no entanto que a oportunidade que eu e mais três cientistas tivemos (e que para mim tem sido muitíssimo enriquecedora) se repita para o ano que vem. Aqui na redacção as pessoas olham umas para as outras à espera de uma convocatória para uma reunião com a administração. Os que já a tiveram discutem se aceitam a rescisão, se acertam a indemnização, como arranjar emprego...
Com isto, a produção e edição do jornal tem-se sentido, em particular a secção de ciência, afectada por férias de colaboradores. Da minha parte, não tendo directamente nada a ver com o assunto tenho feito o meu trabalho. Quando sair deixarei diversos artigos em agenda.
Se exceptuarmos casos de interesse mediático (ainda por cima este interesse é por vezes discutível) como o caso do “estatuto de Plutão”, o jornalismo científico não tem data de saída definida. E porquê? Porque é um tipo de jornalismo que não se esgota tão rapidamente. Não perde actualidade tão depressa como a política, a sociedade ou o desporto. Por isso mesmo – e não estou com isto a queixar-me do salário! – tem valor comercial: por não ser tão efémero.
A natureza da crise por que passam os jornais diários a nível mundial passa por aqui: desde que surgiu a internet, a informação efémera deixou de ter qualquer valor comercial. As pessoas não pagam para lerem hoje de manhã o mesmo que já leram de graça ontem à tarde na internet. O sucesso dos gratuitos deve-se a terem percebido isto muito bem. Por isso... são gratuitos, e estão aqui a demonstrar cabalmente a minha tese sobre a informação efémera.
Os jornais, para venderem, têm de conter informação que não seja só efémera: que não venha nos gratuitos. Precisamos de jornalismo que aprofunde os conteúdos; que não se limite a repetir o que vem nas agências noticiosas. Agora: será isso viável? Receio bem que não. E a culpa não é dos leitores: é mesmo da dimensão do mercado.
Em qualquer lugar do mundo um jornal de qualidade necessita de N colaboradores. Não sei quantos, mas contando com pequenas variações, pelo menos a ordem de grandeza de N deve ser bem definida e independente de especificidades locais (mercado, país, produtividade, ...). Agora, de certeza que N é muito maior do que o número de colaboradores de um jornal popular ou gratuito. O jornalismo de qualidade dá muito trabalho; o Público ou o Diário de Notícias têm de ter muito mais colaboradores que o 24 Horas ou o Correio da Manhã. É preciso perceber este ponto importante.
Para poder sustentar esse número de colaboradores, o jornal precisa vender T exemplares (supõe-se para efeitos de simplificação para T o mesmo que para N). Há mercados em que tal é viável; se o mercado (se o país...) não for grande o suficiente para esses T exemplares serem vendidos diariamente, a conclusão é que talvez um jornal diário de qualidade não seja viável.
Nos EUA o mercado é enorme, e por isso consegue-se fazer entre outros o The New York Times, o melhor e mais completo jornal do mundo e principal referência jornalística a nível mundial.
Na Grã Bretanha consegue fazer-se o The Guardian (um jornal de que eu não gosto, mas isso fica para outra ocasião); em Espanha, o El País. Em França o Libération tem problemas que, no entanto, talvez sejam específicos do jornal.
Em Portugal, se calhar, não há mercado para se ter jornais diários de qualidade. Havia, mas a internet veio roubá-lo. Presentemente se calhar não se consegue vender no mercado português T exemplares por dia e sustentar N colaboradores. Se calhar não é mesmo viável estar a tentar vender todos os dias jornalismo de referência. Haverá sempre mercado para ele, mas não todos os dias. Talvez só aos fins de semana. Por isso não prevejo grandes dificuldades aos semanários. Talvez no futuro só os diários gratuitos e os semanários sejam viáveis. Talvez por isso jornais como o Público e o DN, para sobreviverem, tenham de evoluir para um modelo misto, gratuito ou a preço simbólico durante a semana e com edições especiais pagas ao fim de semana. Não sei. Há que defender o jornalismo de qualidade, mas há que encarar as evidências.

Para ler mais: o João Pedro Henriques, de quem fui colega por uns dias antes de ele se mudar para a Av. da Liberdade, há muito escreve sobre este assunto.

Wednesday, September 27, 2006

Fé e Ciência, Opus Dei e Insurgente

Aleluia! O Opus Dei aparentemente deixou de ser tabu e até já aparecem no Insurgente (onde mais?) ligações explícitas às páginas da organização católica. "Fé e Ciência", é o título do texto. Dedico por isso a minha entrada anterior aos doutores Guanghua Yang e André Azevedo Alves. Espero que os exemplos de Gabriel Burdett, Ellen Carlson e outros cientistas evangélicos os inspire e lhes dê forças para a sua causa: Ciência - sempre ao serviço da Fé!

E o nome da força unificadora é Jesus!

Evangelical Scientists Refute Gravity With New Intelligent Falling Theory

The Onion

Evangelical Scientists Refute Gravity With New 'Intelligent Falling' Theory

TOPEKA, KS-Evangelical physicists are now asserting that objects fall because a higher power is pushing them down.


Sugiro a leitura completa. Deixo aqui alguns destaques:

"According to the ECFR paper published simultaneously this week in the International Journal Of Science and the adolescent magazine God's Word For Teens!, there are many phenomena that cannot be explained by secular gravity alone, including such mysteries as how angels fly, how Jesus ascended into Heaven, and how Satan fell when cast out of Paradise.

The ECFR, in conjunction with the Christian Coalition and other Christian conservative action groups, is calling for public-school curriculums to give equal time to the Intelligent Falling theory. They insist they are not asking that the theory of gravity be banned from schools, but only that students be offered both sides of the issue "so they can make an informed decision."

"We just want the best possible education for Kansas' kids," Burdett said.

Proponents of Intelligent Falling assert that the different theories used by secular physicists to explain gravity are not internally consistent. Even critics of Intelligent Falling admit that Einstein's ideas about gravity are mathematically irreconcilable with quantum mechanics. This fact, Intelligent Falling proponents say, proves that gravity is a theory in crisis.

"Let's take a look at the evidence," said ECFR senior fellow Gregory Lunsden."In Matthew 15:14, Jesus says, 'And if the blind lead the blind, both shall fall into the ditch.' He says nothing about some gravity making them fall—just that they will fall. Then, in Job 5:7, we read, 'But mankind is born to trouble, as surely as sparks fly upwards.' If gravity is pulling everything down, why do the sparks fly upwards with great surety? This clearly indicates that a conscious intelligence governs all falling."

Critics of Intelligent Falling point out that gravity is a provable law based on empirical observations of natural phenomena. Evangelical physicists, however, insist that there is no conflict between Newton's mathematics and Holy Scripture.

"Closed-minded gravitists cannot find a way to make Einstein's general relativity match up with the subatomic quantum world," said Dr. Ellen Carson, a leading Intelligent Falling expert known for her work with the Kansan Youth Ministry. "They've been trying to do it for the better part of a century now, and despite all their empirical observation and carefully compiled data, they still don't know how." (...)

Anti-falling physicists have been theorizing for decades about the 'electromagnetic force,' the 'weak nuclear force,' the 'strong nuclear force,' and so-called 'force of gravity,'" Burdett said. "And they tilt their findings toward trying to unite them into one force. But readers of the Bible have already known for millennia what this one, unified force is: His name is Jesus."

(Agradeço a dica ao Agreste Avena.)

Tuesday, September 26, 2006

Bruxelas

Não é, de todo, semelhante ao esbatido postal mental que dela tinha.
Esperava a opulência burocrática do centro do Império; mas esta tem apenas uma visibilidade residual em meia dezena de quarteirões, onde sedes bancárias e tribunais futuristas se espelham monotonamente uns aos outros.
Esperava também uma cidade multi-cultural - o velho cliché londrino; não esperava um bi-culturalismo nervoso, que me fizesse lembrar certos bairros de Birmingham.
Tivémos décadas para assimilar a ameaça de que o crescente impulso para a homogeneização económica e cultural faria com que todas as grandes capitais se parecessem umas com as outras, as diferenças lentamente erodidas pela presença ubíqua dos espectros de John Pemberton e Dick e Mac McDonald. Mas esta ameaça sempre teve concretização interna num certo tipo de "viajante" (palavra que deve ser sempre sequestrada entre aspas).
Pessoalmente, noto que cada lugar que visito é semelhante aos que visitei anteriormente, e é totalmente diferente daqueles onde nunca estive. O factor de ligação é, obviamente, a minha pessoa.
Disto resulta que um cartaz prometendo revelações sobre a vida sexual de Tintim, colado à porta de uma sapataria abandonada, me tenha feito lembrar Moscavide. Ou que uma mulher de meia-idade envergando um par de óculos amarelos absurdamente grandes e um par de sandálias amarelas absurdamente pequenas me tenha feito lembrar Cracóvia. Ou que um mulato esquelético empurrando uma máquina de Raios-x ao longo da linha do Eléctrico me tenha feito lembrar Glasgow (onde nem sequer há Eléctrico).
Cada cidade nova é um espelho adequado apenas dos bolsos traseiros das calças. Do direito, onde tenho os cartões de débito; e do esquerdo, onde guardo, no seu estado embriónico, o índice remissivo da desordem no interior da minha cabeça.

... E Sadi Carnot ri-se na escuridão do tùmulo



Mais cedo ou mais tarde, esteja onde estiver, qualquer ser humano acaba por se sentar e ligar a televisão.

Onde estava o Professor Pedro Arroja no 25 de Abril?

A resposta a esta e a muitas outras perguntas na entrevista que Pedro Arroja deu (ou terá vendido?) a Fernanda Câncio, em 1994. É o Blasfémias condensado num texto. Vale a pena ler. Obrigado ao zèd pela sugestão. Alguns destaques:
«Mas é precisamente a pensar nos pobres que eu punha a questão da transacção do voto. Se uma pessoa tem direito a um voto mas não quer usá-lo, tem de o deitar fora. Noutro sistema, poderá vendê-lo a alguém que queira votar várias vezes. Já viu quantos pobrezinhos ficavam beneficiados?»

Ou ainda:
«Por isso é que eu acho que a Constituição devia seguir o exemplo da americana, que diz o que o Estado não deve fazer, ao invés de dizer, como a nossa, o que ele deve fazer. A ideia é limitar os poderes do Estado, que é para prestar serviços gerais à população, como a defesa. Não é para andar a tratar da vida de toda a gente, a dar saúde, emprego, etc. Isso cada um trata da sua vida.»

Ou melhor (destaques meus):
«Posso-lhe dizer que não há país do mundo onde os negros vivam tão bem como na América. (...) Repare, eu acho que eles têm todo o direito à liberdade, é a terra deles. Agora não se esqueça que os negros americanos não estão na sua própria terra. (...) Foram eles que foram. Atraídos pelo nível de vida que não têm em mais parte nenhuma do mundo. (...) Alguns foram levados como escravos. Mas ainda hoje há gente a emigrar para lá, negros. E deixe-me dizer-lhe uma coisa. O homem que ganhou o prémio Nobel, este ano, Robert Fogel, provou que se o sistema da escravatura era politicamente inaceitável, em termos económicos, para os negros, era um sistema muito eficaz. Mais: que o trabalhador negro da época, escravo, vivia melhor que o trabalhador médio branco. Certamente que a conclusão é surpreendente, é por isso que ganhou um prémio nobel. Mas documentou extraordinariamente bem (...) Diz-se que os negros não trabalham, não sei quê, e isto vem provar o contrário: mesmo sob condições de adversidade, a escravatura, os negros eram duplamente mais produtivos que os brancos. E os estados do sul, onde eles estavam concentrados, prosperaram muito mais do que os do Norte. Fantástico. (...) Sabe, não há nenhum prémio Nobel da economia a sair dos países católicos do sul da Europa, e é porque a pretensão é chocante. Estou aqui a falar de estudos documentados, prémios Nobel, e as pessoas riem-se, porque não é aceitável. Eu acho admirável a capacidade de levar a razão humana a este ponto.»

É de morrer a rir. E isto é só uma pequena amostra. Passem por e leiam tudo. A vantagem de se viver na Europa é esta: na Europa lemos uma entrevista destas e rimo-nos.

Monday, September 25, 2006

Para os portugueses com mais de 55 anos, um verdadeiro combatente pela liberdade é necessariamente um antifascista

É claro que “combatente pela liberdade” e “antifascista” não são em geral sinónimos. E é igualmente claro que nas últimas três décadas não houve (felizmente) necessidade de combater o fascismo em Portugal. Uma vez vencida a ditadura, e só então, puderam surgir livremente os tais “combatentes” da “liberdade” de que fala o Blasfémias, e onde se inclui o Professor Pedro Arroja. Quem defende essa “liberdade” tem de facto um combate a travar (pelo menos cultural), pois não é esse o meu conceito de liberdade e nem o do comum cidadão. Mas sobre a diferença entre os conceitos de liberdade de liberais como os membros do Blasfémias e o comum cidadão escreverei noutra altura. O que parece indiscutível é que, para os portugueses da geração do Professor Pedro Arroja, não havia liberdade. Pedro Arroja não será da geração de Badaró ou Raul Solnado, mas tem idade para ter sentido a falta de liberdade do salazarismo. Para merecer a classificação de “um dos grandes combatentes pela liberdade das últimas décadas”, e no caso de ter vivido o fascismo como jovem adulto, tem de ter algum passado antifascista. Confesso que não sei – desconheço a sua idade e a sua biografia: esteve o Professor Pedro Arroja na Universidade em Portugal antes de 1974? Se esteve, o que fez para merecer ser caracterizado como um grande “combatente pela liberdade”? Agradeço que me esclareçam. Cabe então perguntar: onde estava o Professor Pedro Arroja no 25 de Abril?

Friday, September 22, 2006

Professor Pedro Arroja, esse grande antifascista

"...um dos mais importantes defensores da Liberdade que Portugal conheceu nas últimas décadas." O Professor Pedro Arroja. Professor, atenção.

Força Ronny!


Não partilho de todo a posição do presidente do Sporting de defender um novo jogo Sporting-Paços de Ferreira. Só a defenderia se esse passasse a ser um procedimento comum para cada jogo em que o árbitro influenciasse o resultado com erros escandalosos em prejuízo de uma das equipas, o que de facto aconteceu em Alvalade no fim de semana passado. Só que a sugestão de Soares Franco seria somente a de um acto isolado. Poderia corrigir a injustiça do jogo do Sporting, mas há que corrigir as injustiças todas. Ainda na semana anterior o Beira Mar foi roubado em Leiria (tendo perdido dois pontos, enquanto o Sporting, à custa do árbitro, só perdeu um). Não vi Soares Franco ou ninguém a pedir a repetição desse jogo. Os erros (voluntários ou não) acontecem a todos. Mais contra o Sporting do que contra os seus adversários directos, é verdade. Mas aguentar este facto faz parte da condição de sportinguista. Para mantermos a nossa superioridade moral, para pedirmos o fim dos erros temos de pedir o fim dos erros todos.
Acresce a isto que quer José Mota, o técnico do Paços de Ferreira, quer o jogador infractor (Ronny) foram de uma grande humildade (ao contrário de outros que no passado ganharam ao Sporting com a ajuda do árbitro). O Ronny reconheceu mesmo que marcar o golo com a mão tinha sido “instintivo”, não inventando desculpas ou procurando negar o inegável. A um jogador assim eu só posso desejar as maiores felicidades pessoais. E que continue a marcar muitos golos, com o pé ou com a mão. De preferência já no próximo jogo, hoje à noite.

Thursday, September 21, 2006

O lugar na estante

Duas pessoas, ambas de impecável e insuspeito gosto literário, discordaram cordialmente (uma por mail, outra em pessoa) de um efémero post que escrevi aqui há tempos sobre Don DeLillo. Impus a mim próprio uma reiteração qualificada. Eu continuo a achar DeLillo um grande escritor, tal como achava quando descobri os seus livros com assombro em 2000, na Bibioteca Pública de Birmingham. Os seus livros, precisamente, é que me parecem cada vez menores. E isto não um paradoxo de trazer por blog. Permitam-me um desvio.
Numa recolha de textos sobre os encontros entre Kasparov e a 1ª versão do Deep Blue em 1996, lembro-me de ter lido alguém, enamorado pela sua Espécie, que se gabava que qualquer Grande Mestre podia olhar para a notação da segunda partida e detectar imediatamente qual era a linha humana e qual a da máquina. Vale a pena realçar que a recolha agrupava autores cujo interesse pelo xadrês se assemelha ao meu: apaixonado, mas declaradamente leigo. (Xadresismo lowbrow, digamos). Alguém que conhece o jogo muito melhor do que eu ou o autor do referido texto garantiu-me recentemente que essa superstição já não tinha fundamento na altura e que vai sendo cada vez mais descabida; não porque as máquinas tenham evoluído e encurtado a distância (embora o tenham feito), mas porque o jogo humano - especialmente ao mais alto nível competitivo - permite cada vez menos espaço ao movimento ousado, à inovação radical, ao descuido genial.
Hipoteticamente, seria então possível, ao leitor batido e experimentado, detectar o dedo cibernético na literatura que, numa década lá para o meio do séc. XXI, fosse produzida por um Dark Deep Rainbow, autor de sonetos heróicos e romances espistolares, com © da IBM? Agrada-me, obviamente, pensar que sim. E a questão aqui não é de mera qualidade. Tenho dificuldade em admitir que um computador pudesse escrever Herzog, Pnin ou Mating, mas também o Valley of the Dolls, o Jaws ou o Sei Lá. O livro genuinamente mau, por muito formulaico que seja, tem de florescer de um impulso criativo também ele genuíno - a má Arte é quase sempre involuntária.
Mas custa-me menos a conceber que uma máquina pudesse ser programada para escrever como DeLillo.
Releio, para tirar teimas, algumas partes de Underworld que me ficaram na memória: os B-52's no deserto, os espantosos monólogos fictícios de Lenny Bruce, o episódio em que um padre Jesuíta força Nick a nomear as várias partes componentes de um sapato. Tudo isto permanece admirável. O que não existe, ou é raro, é o pulsar de uma consciência.
O meu sempre fiável James Wood (o melhor crítico contemporâneo em língua inglesa), numa das suas lúcidas diatribes contra o que ele chama "Realismo Histérico", alertou para o perigo de se usar a paranóia como elemento estruturante de uma narrativa - vício comum a uma geração inteira de escritores americanos operando sob a sombra monumental de Gravity's Rainbow. Delillo cai no alçapão que ele próprio cavou: ao insistir que tudo está interligado, força o leitor a constatar que nenhuma dessas ligações é ao nível humano.
Nos três contemporâneos de DeLillo que são, linha por linha, tão bons como ele - Roth, Pynchon e Norman Rush - esse pulsar está presente em cada página. Em DeLillo é apenas vapor, um vapor que ganha alguma solidez - a espaços - em White Noise, o mais doméstico dos seus romances, e na secção mais autobiográfica de Underworld, que trata da infância de Nick Shay no Bronx.
Mas um escritor capaz do desastre estético que é Cosmopolis (reafirmo: um dos piores romances que li nos últimos anos) tem forçosamente de ser reavaliado. E o resto da obra de DeLillo podia ter sido facilmente encapsulada em mini-ensaios; os artifícios específicos da ficção são, nele, quase sempre contingentes.
Por isso, apesar dos vários prodígios da sua escrita, na minha estante ele permanecerá entre o America de Baudrillard e os Derridas, não entre Bellow e Pynchon.

Eça, as letras e os jornalistas

O Diário de Notícias oferece agora uma colecção de medalhas de portugueses famosos. Na edição impressa (mas não na edição electrónica), é incluída uma pequena nota biográfica sobre o homenageado. Na semana passada (creio que na sexta feira), calhou ser Eça de Queirós. O grande mestre da prosa novecentista era descrito como uma das figuras de proa do romantismo, o que já de si é um erro crasso, como qualquer aluno do 9º ano reconhecerá. Românticos eram Almeida Garrett ou Camilo Castelo Branco; Eça era um realista, como Balzac, Zola, Flaubert e outros.
Mas nem era este o único erro num texto de menos de dois mil caracteres. Numa passagem elogiavam a “riqueza” do vocabulário do Eça de Queirós. Ora se há crítica que é feita ao Eça de Queirós pelos seus detractores é a de ter um vocabulário algo limitado, recorrendo frequentemente aos galicismos (“chaminé” em vez de “lareira” e assim por diante). Mesmo admitindo que isso possa ser verdade, este facto realça no entanto a qualidade de Eça de Queirós que eu mais admiro: como consegue ser tão extraordinariamente sugestivo com uma tamanha economia de recursos. O uso por parte de Eça dos adjectivos e advérbios é o mais bonito que eu já vi. Mais do que nenhum outro romancista que eu conheça, a prosa queirosiana é uma obra de arte. E tudo isto com o referido vocabulário “limitado” e económico, características que eu aprecio num escritor. A escrita de Eça vale por si mesma, não necessita de adornos vocabulares pedantes e dispensa a consulta do dicionário. Eu nunca gostei de ir ao dicionário.
Assim encontramos, num texto simples de um jornal, dois erros de palmatória. Escritos provavelmente por um jornalista que teve muitas cadeiras de literatura (mais do que eu, que só tive o português do ensino secundário). No entanto, um bom aluno do 11º ano notará estes erros. Mas nem todos os alunos notarão. Esta biografia também será lida por estudantes da obra de Eça, que encontram assim no jornal de todos os dias uma contradição com aquilo que devem aprender na escola.
O editor de sociedade do Diário de Notícias, um rapaz que, calhando, até sabe calcular uns integrais e, se se esforçar, ainda inverte uma matriz, escreveu há tempos um artigo onde refere a falta que fazem melhores jornais. Tem razão, mas às vezes eu acho que também fazem falta melhores jornalistas.

O Paraíso, Agora!


Parti para este filme de Hany Abu-Assad , como a maior parte dos espectadores, numa atitude de voyeur.

Aquilo que mais me intriga no fenómeno dos bombistas suicidas não é o facto de tantos estarem dispostos a perder a vida mas sim a pobre “administração” do seu sacrifício.
Quando alguém está disposto a morrer dispõe de um poder enorme o que, em minha opinião, não se reflecte nos resultados dos atentados que muitas vezes se limitam a matar meia dúzia de pessoas sem qualquer valor “estratégico”.

Nesse aspecto o filme ajudou-me muito pois fornece um quadro em que nos é proposta uma reflexão sem maniqueísmos.

O ritual suicida, tal como é mostrado, constitui um acto de “libertação” individual ancorado na religiosidade em vez de constituir uma assumida forma de luta com objectivos claros e perpectivas de futuro. Os atentados são fundamentalmente uma saída para o insuportvel individual e não o sacrifício de alguns para uma libertação colectiva.

Constituem uma atitude emocional servida “a quente” (as horas cruciais que precedem as acções são milimetricamente controladas e encenadas) em vez de uma pensada e maquiavélica construção com vista a provocar efeitos desvastadores ao inimigo.
Em contrapartida a acção do exército israelita parece muito mais “fria” (no filme é referido um episódio em que o exército israelita invade uma casa e pergunta ao propritário qual das pernas quer que lhe partam).

Dos dois candidatos a suicidas aquele que revela firmeza até ao fim não é aquele que se quer vingar da violência dos israelitas mas sim aquele que não pode mais suportar o fardo de ter tido um pai colaboracionista.

A exploração desta faceta emocional pelos “responsáveis” políticos, que recorrem complementarmente à manipulação das crenças religiosas, acaba afinal por se revelar uma fraqueza, uma forma fácil mas limitada de manter as aparências de resistência.

Como fica patente no filme, esta estratégia inviabiliza qualquer tentativa de usar a inteligência para combater um inimigo tenaz e muito mais poderoso.

Um grande e corajoso filme.

Penitência

Espreito um dicionário gramatical na Bertrand e descubro uma coisa assombrosa: ando há anos a utilizar incorrectamente o advérbio demais nas situações em que devia usar a locução adverbial de mais. E isto sem nunca ninguém ter tido a gentileza de me corrigir. Como penitência, decidi escrever 100 vezes num caderninho: "De mais: locução adverbial que significa a) uma quantidade excessiva, b) além do devido ou necessário, c) muito. Demais: advérbio equivalente a além disso ou de resto."
Sugiro aos outros prevaricadores que façam o mesmo.

Hugo Chávez fala de Sadi Carnot às Nações Unidas

Ciganos da Ucrânia


Descobri-os em Junho, no programa do Jools Holland, mas só ontem comprei o cd. Está a 16.95 euros na Fnac. Acreditem: é uma pechincha.

Hoje fazem anos




Três amigos meus.

Wednesday, September 20, 2006

A definição de planeta e os “limites da ciência”

Pedro Correia é um jornalista e blóguer que costumo gostar muito de ler. Escreveu no mês passado no seu blogue um texto (que poderia ser subscrito por muitas outras pessoas) sobre a pífia questão do estatuto de Plutão. Já andava para o comentar há algum tempo, mas só agora pude.
O que é curioso no caso do Pedro Correia é que alguns dos comentários no seu texto revelam que ele ironicamente em certos aspectos está mais próximo das teses do Prof. Boaventura de Sousa Santos do que à partida poderia julgar.
Convém prestar um esclarecimento: a “definição” de planeta não passa disso: uma definição. Uma convenção. Nada mais que isso. Saber se Plutão é ou não um “planeta” é completamente irrelevante para entender a estrutura do Universo. Para entender isto melhor, nada como mais um dos deliciosos textos “para educar o povo” do João Miranda. É pura e simplesmente uma questão de semântica. Nem sequer é ciência.
Em que é que a nova definição de planeta é “uma clara demonstração dos limites da ciência contemporânea na interpretação e catalogação da realidade - incluindo a própria realidade "física", que muitos pensavam ser facilmente traduzível por fórmulas, equações e etiquetas”? Eu tenho a certeza de que Plutão era um planeta de acordo com a definição antiga, e não o é com a nova... E daí? Em que é que isso altera a nossa visão do Universo? Pode quanto muito ter de levar à alteração de muitos manuais escolares. O que é uma questão importante. Mas não é uma questão científica.
Muito mais importantes são acontecimentos como a descoberta da matéria escura, de que falei atrás. Só tenho a lamentar que esse facto (ele, sim, importante para a compreensão do Universo) tenha sido praticamente omitido das páginas da maioria dos jornais portugueses, em detrimento de mais não sei quantas críticas literárias, musicais ou cinematográficas ou da pífia questão do estatuto de Plutão.
(Esta é uma opinião pessoal e que não vincula o jornal onde escrevo até ao fim deste mês.)

Para ler mais: The Cash Value of Astronomical Ideas, no Cosmic Variance.

Tuesday, September 19, 2006

As FARC, as petições e os blogues

Como referi anteriormente, o Tiago Barbosa Ribeiro tem o direito de organizar as petições que entender. No caso concreto da presente petição já não é de agora que o Tiago se refere às FARC e à situação de Ingrid Betancourt. Por isso eu respeito a sua posição.
Permanecendo somente nos blogues que leio, já relativamente ao Blasfémias eu não posso dizer o mesmo: que eu me lembre, nunca li no blogue nenhuma referência às FARC ou a Ingrid Betancourt, em mais de dois anos (não encontrei nada no Google). No entanto a petição e todos os textos sobre este assunto desde então são apresentados de uma forma séria e não panfletária (ou não fosse o blasfemo promotor da mesma o Gabriel Silva). Nada a apontar, portanto.
Há ainda o caso (costumeiro) de O Insurgente, apesar de ninguém neste blogue ser um dos promotores da petição. De acordo com o Google, também não encontrei nenhum material sobre Betancourt, antes de este caso da festa do Avante ter surgido. Será que a indignação só surgiu agora? Pelo contrário, encontrei foi vários textos em defesa do governo colombiano, que mantém prisioneiros políticos e apoia grupos paramilitares assassinos de extrema-direita, que actuam tal e qual como as FARC. A isto, no mesmo blogue, acrescentam-se textos elogiosos a Ann Coulter. Que terá Ann Coulter a ver com as FARC, para além de provavelmente achar que não são nada que não se resolvesse com uns bombardeamentos? Entre outras posições, Ann Coulter defende que as mulheres não deveriam poder votar. Fará sentido defender-se que as mulheres não podem votar e defender-se Ingrid Betancourt, candidata à eleição presidencial? Bem, se as mulheres não pudessem votar, Ingrid não se teria envolvido numa campanha eleitoral e nem teria sido capturada. Faz sentido. E é então por isso que no mesmo blogue surgiram do nada, desde que o assunto começou a dar o que falar, não um nem dois, mas dez textos sobre o assunto, e de certeza que só não surgiram mais porque o chefe entretanto esteve de férias. Sinceramente, ainda bem que O Insurgente não surge como um dos blogues promotores da petição.
Da minha parte, já conhecia a história de Ingrid Betancourt (embora nunca tivesse escrito sobre ela). A ninguém que tenha vivido recentemente em Paris, como eu, poderia escapar o retrato de Ingrid em frente ao Hotel de Ville, como se vê na fotografia que eu roubei ao Véu da Ignorância.
Mas nem por isso assinei a referida petição. Entre outras coisas, porque legitima o governo colombiano e os seus procedimentos. Faço no entanto aqui os meus votos para que as FARC libertem imediatamente Ingrid Betancourt e todos os seus prisioneiros políticos.

Monday, September 18, 2006

Musica, musica, musica...



Vejam este video fabuloso

A maior novidade mediática da semana

Não é o surgimento do semanário Sol, e nem Jura, a nova telenovela da SIC: é o Cinco Dias. Que não poderia começar melhor, com o Rui Tavares a falar-nos dos intelectuais e dos media nos dias de hoje. A não perder.

Hoje bloga-se de...


... Nono Círculo do Inferno. Cujos funcionários são todos sósias de Sadi Carnot.

Ameaça

Um dia destes, atentem bem no que vos digo, eu passo-me da cabeça e escrevo um poema em pentâmetro iâmbico sobre um busto de Sadi Carnot (o da III República), cujos mármores se corroem em silêncio com o desgosto de nenhum cinzel os espatifar na forma de Sadi Carnot (o outro, o Anticristo).
Depois não digam que eu não avisei.

Zapruder


Enfim, estou chateado. Em parte, porque não consigo decidir se o futebol português precisa de um Earl Warren ou de um Jim Garrison.

"bent in/ By the blows of what happened to happen"

Nada do que me acontece é planeado.

As FARC, o PCP e as petições

A minha posição sobre as FARC é bastante clara. Sobre a sua presença na “Festa do Avante”, o PCP já esclareceu: não foram convidadas. Quem foi convidado foi o Partido Comunista da Colômbia e uma revista que apoia a acção das FARC. É natural que surjam panfletos e cartazes menos felizes numa festa do cariz da Festa do Avante!, como também surgem em manifestações.
No entanto o PCP não se furtou a responder à questão: “apoiava” a sua luta. Na sua resposta o PCP referiu ter uma concepção de terrorismo “diferente”. Fez bem em demarcar-se da definição de terrorismo do governo americano, tal como referi no texto anterior. Infelizmente, o conceito de “terrorismo” do PCP é também bem diferente do meu, uma vez que o PCP referiu “não considerar” as FARC terroristas. Apesar de referir que “não os utilizaria”, o PCP não condenou os métodos das FARC. O que é pena e é lamentável, e confirma mais uma vez que, em termos de política internacional, o PCP não pode ser levado a sério. Não que essa posição seja surpreendente: afinal, e infelizmente, é coerente com muitas posições do PCP em política internacional. Não nos esqueçamos de Albano Nunes que, durante os bombardeamentos ao Afeganistão, desconfiava da ajuda humanitária americana: o seu objectivo era “habituar as populações às marcas americanas”.
Dito isto, ao contrário do Tiago Barbosa Ribeiro eu julgo que o PCP tem um papel muito importante na democracia portuguesa e não deve nunca ser marginalizado. Há alturas em que se têm de fazer demarcações claras, de traçar uma linha, mas nenhum partido que se diz de esquerda pode tratar os comunistas como se não contassem. E impressiona-me sempre que vejo uma pessoa que se diz de esquerda a fazer do PCP o seu adversário principal, algo que no caso do Tiago Barbosa Ribeiro é recorrente. Se fizermos uma estatística ao Kontratempos, os textos contra o PCP ultrapassam em número, de longe, os contra qualquer outro partido, se é que estes existem.
Não posso deixar de sorrir quando o Tiago, num assomo de ingenuidade juvenil, afirma esperar que o Bloco de Esquerda isole o PCP e se junte aos restantes partidos num eventual protesto contra a presença das FARC. A maior parte das demarcações que eu referi são válidas quer para o PCP quer para o Bloco de Esquerda, uma organização política com uma forte influência da IV Internacional (trotskista). Em termos de política internacional, eu não vejo grandes diferenças entre o Bloco de Esquerda e o PCP. Mais: nas matérias em que possa haver divergências teóricas (não na prática), como na política europeia, as posições do PCP, sendo retrógradas, são muito mais coerentes do que as do Bloco.
Mas o tema era o PCP e as FARC, e não o Bloco. O PCP não deveria falar como fala das FARC, e o Tiago tem o direito de protestar, se tal o incomoda tanto (embora eu também tenha o direito de achar que tal faz sobretudo parte de uma obsessão anti-PCP da sua parte). De resto, eu sempre achei o Kontratempos um blogue muito informativo e coerente, que não hesita em dizer algumas verdades inconvenientes (só para dar um exemplo refiro o texto A Diferença Toda de hoje). Quando eu discordo do que leio no Kontratempos (algo que nem sucede assim tantas vezes), é um prazer para mim: estar a discordar de uma posição bem fundamentada ajuda-me a organizar melhor os meus pontos de vista. Foi o caso da petição que o Tiago achou por bem fazer. Depois explicarei porquê.

Sunday, September 17, 2006

Talvez a descoberta científica mais importante deste Verão

Descobertos os primeiros sinais de matéria escura

A matéria visível e a matéria escura foram separadas por uma grande colisão de dois enxames de galáxias. A descoberta foi feita utilizando o observatório de raios X Chandra, da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), em conjunto com outros telescópios, e constitui a primeira observação directa deste fenómeno.
A matéria escura é um tipo de matéria que não emite nem absorve suficiente luz para ser detectada directamente, sendo a sua presença deduzida somente através dos seus efeitos na matéria visível. Esses efeitos podem ser a velocidade de rotação das galáxias e as velocidades orbitais das galáxias em enxames, ou os desvios de luz conhecidos por lentes gravitacionais.
A observação agora anunciada foi feita no enxame Bala, um dos mais quentes enxames de galáxias conhecido, situado na constelação Carina, a cerca de quatro milhares de milhões de anos-luz da Terra. Neste enxame, dois aglomerados de galáxias independentes colidiram recentemente, tendo sido observados pelo Chandra e ainda pelo telescópio Hubble e por outros telescópios do Observatório Europeu do Sul, no Chile. Cerca de 90 por cento da matéria destes aglomerados é constituída por gás quente intergaláctico emissor de raios X. Durante este processo o gás quente de cada um dos aglomerados colidiu com o do outro, enquanto as galáxias (individualmente) e a matéria escura não foram afectadas. Duas equipas de astrofísicos lideradas por Douglas Clowe (da Universidade do Arizona) e Maxim Markevitch (do Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian), dos EUA, compararam imagens do gás obtidas pelos telescópios com gráficos de campos gravitacionais deduzidos a partir de observações dos efeitos das lentes gravitacionais: distorções pequenas mas coerentes na forma das galáxias de fundo, a partir das quais se pode reconstruir a distribuição de massa nos aglomerados de galáxias. Esta reconstrução não deixa lugar para dúvidas – a matéria escura tem de existir nos aglomerados observados.
De acordo com as estimativas, a maior parte da matéria que constitui o Universo é, de longe, matéria escura: apenas cinco por cento da matéria seria visível, contra 20 por cento de matéria escura e 75 por cento de energia escura. A matéria escura propriamente dita é sensível somente ao nível das galáxias, afectando os campos gravitacionais por elas sentidos. Já a energia escura está espalhada pelo Universo inteiro, sendo os seus efeitos sentidos principalmente na aceleração do Universo. Existem teorias alternativas, baseadas em alterações das leis da gravidade, que eram sugeridas como explicações alternativas dos fenómenos dos quais se infere a existência da matéria escura e da energia escura. Os resultados agora divulgados não podem ser explicados por nenhuma alteração razoável da lei da gravidade, mas só dizem respeito à matéria escura. Estes efeitos ainda podem ser utilizados como uma explicação alternativa à existência da energia escura, que se conhece muito mal e para a qual há muito poucas explicações.
Um dos principais problemas em aberto na Física de Partículas e na Cosmologia é a constituição da matéria escura. Durante muito tempo teorizou-se que esta poderia ser constituída por neutrinos, partículas muito leves e que quase não interagem com as outras, sendo neutras relativamente às interacções electromagnéticas (à luz) e nucleares fortes. Por isso estas partículas são muito difíceis de detectar. Apesar de só desde 1998 estar confirmado que estas partículas têm massa, existiam modelos para matéria escura constituída por neutrinos com massa muitos anos antes. No entanto, os dados mais recentes apontam para não existirem no Universo neutrinos em número suficiente para constituírem toda a matéria escura existente.
Estudos da formação de núcleos atómicos durante o Big Bang indicam que a matéria escura terá de ser na sua grande maioria de natureza não-bariónica (ou seja, não pode ser constituída por quarks). A grande maioria das explicações para a constituição da matéria escura assenta em partículas não conhecidas, cuja existência é prevista por teorias de unificação de todas as interacções. Uma hipótese que se encontra muito frequentemente para a matéria escura é a dos “parceiros supersimétricos”, partículas cuja existência é postulada pela supersimetria, simetria que está na base de muitos desses modelos de unificação, incluindo as teorias de supercordas. Não existe ainda no entanto nenhum sinal desta simetria, podendo a sua existência vir a ser confirmada ou desmentida no próximo acelerador de partículas do CERN.


Adaptação de um artigo do Público de 23 de Agosto de 2006

Para saber mais: aqui e aqui.

Friday, September 15, 2006

Fujam!

Vem aí o arquitecto! ©

Debater o evolucionismo: com quem e para quê?

Curioso o repto do João Miranda (rapidamente secundado pela comissão obreira) para se iniciar um “debate” sobre a questão do criacionismo versus evolucionismo. Curioso vindo de quem vem, que escreve textos de Economia que nos tentam convencer de que o ultraliberalismo é uma “lei da Natureza”, que “não admite discussão”. “Discutir” o quê, e com quem? O João deveria saber – e sabe, apesar de não lhe dar jeito admitir – que a ciência não é (felizmente) democrática. Não se “discute” como se fosse futebol ou política. Democráticas são as condições-fronteira (conceito matemático) que impomos no mercado (escolhidas pelo Governo, escolhido por nós). Discutíveis são os textos do João Miranda.
Ainda mais curioso é o critério do João para nos convencer de que um professor da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra e defensor do criacionismo “não tem nada de ignorante” no que diz respeito à teoria da Evolução de Darwin: o professor Jónatas Machado tem um currículo notável... a comentar livros que leu, na Amazon! Algo comparável a escrever um blogue ou comentar nele, que qualquer pessoa sem nenhum tipo de preparação científica pode fazer. Pelos vistos o João Miranda avaliaria o meu conhecimento em supersimetria e supergravidade por este comentário que escrevi enquanto principiante.
Embora tal não diga respeito à minha área política, é com tristeza que verifico que a pior direita encontra aqui um aliado, justamente quem mais a deveria renovar.
Sobre o assunto vale a pena ler quem sabe o que escreve: o Memória Inventada e o Conta Natura. Deste último texto destaco a frase
Eu, que sou cientista, digo-lhe de caras exactamente o oposto: "É um erro pensar que é preciso ensinar filosofia para ensinar ciência".

É curioso que uma opinião contrária parta do João Miranda, um defensor do sistema económico norte-americano, mas pelos vistos não do sistema educativo. Nos EUA estuda-se ciência a sério, e pouca gente que estuda ciência estuda ao mesmo tempo filosofia.

Thursday, September 14, 2006

Sobre as teorias de conspiração do 11 de Setembro

9/11 Conspiracy Theories: The 9/11 Truth Movement in Perspective por Phil Mole, via Esquerda Republicana.
As teorias da conspiração não vão no entanto "acabar", e espero que não acabem, desde que a discussão seja bem fundamentada com pressupostos científicos, como esta. É este tipo de discussões que fazem da América um país livre e avançado.

Cohen-Tannoudji, o bacalhau com natas e o cabritinho

Seguiu-se a segunda palestra de Claude Cohen-Tannoudji, hoje de manhã, num anfiteatro mais pequeno no Complexo Interdisciplinar da Universidade de Lisboa. Sendo esta palestra mais especializada, teve a vantagem de só ter gente interessada na assistência (e nenhum – nenhum – “engravatado”).
A anfitriã de Cohen-Tannoudji, que não tinha nada a ver com os episódios que relatei ontem, e que conhece a minha condição temporária de jornalista-científico-que-faz-física, teve a gentileza de me convidar a juntar-me ao almoço (informal, self-service) que a Universidade oferecia ao cientista e a outros 25 convidados, na cantina do Complexo. Não sei se estaria a violar alguma regra deontológica, e é quase de certeza verdade que tal convite se deveu à condição actual de jornalista (e ao interesse que sempre demonstrei em falar com o cientista). Aceitei com todo o gosto, e agradeço.
Cohen-Tannoudji nem tocou na morue à la creme. Experimentou antes um pouco de um estranhíssimo cabrito com ervilhas e laranja. Azar o seu, que estava muito bom.
Portugal tem muitos defeitos, mas tem esta característica intrínseca que é o nacional-porreirismo.

Messenger

«Olha, isto está a chegar aos 59 minutos, queres que fique mais meia-hora?»
«Ah... se me dissessem isso na cama...»

Poor little ego, how did you feel today?

Excertos dos diários de Susan Sontag aparecem hoje no The Guardian.

Post no qual o autor do blog revela uma fraqueza sentimental por pop oakeshottiano

Well I walked past just yesterday
And I couldn't bear that new mall no more
I can't expect you all to see it my way
But you may not know what was there before
And I want them to put back my old corner store

Well I walked past just like I say
And I felt this hurt that would not go home
I can't expect that you're gonna see it my way
But you may not know the trees I've known
And I want them to put back my old corner store

I know it costs more money to shop there
But this was love, this was love
I know you had to pay more money
I'll pay money, I'll pay more
I don't care what the mall has got
I want back that corner store

And what did I feel when I walked by slow
Sorrow sorrow, all around
Why I would feel sorrow I now know
I smell a ghost smell from the ground
That old wooden smell from the old corner store

Bam a nib a nib a nib way oh
Bam a nib a nib a way oh web oh
Bam a nib a nib a no Corner store Corner store
Bam a nib a nib a nib way oh
Bam a nib a nib a way oh web oh
Bam a nib a nib a no Corner store Corner store

I walked past one final time
And I wished the worst on the place I shop
Now I can't expect everyone to feel like I am
But I spot a trend that has got to stop
And I want them to put back that old corner store

Bam a nib a nib a nib way oh
Bam a nib a nib a way oh web oh
Bam a nib a nib a no Corner store Corner store
Bam a nib a nib a nib way oh
Bam a nib a nib a way oh web oh
Bam a nib a nib a no Corner store Corner store


(Jonathan Richman, «Corner Store», Jonathan Goes Country)

Post no qual o autor admite continuar a desobedecer às instruções do Almanaque Borda D'Água

No compacto Jay Leno, na Sic Comédia, alguém traduziu a expressão "I'm gonna pop a cap in your ass" como "Vou abrir uma garrafa no teu traseiro". O que me parece muito mais doloroso.

Hoje bloga-se de


Fórum Picoas, cujo funcionário percebe qualquer pergunta à primeira.

Wednesday, September 13, 2006

Claude Cohen-Tannoudji e a feira das vaidades

Confesso que, após uns anos “lá fora”, eu já me tinha desabituado destas coisas. Aliás, como nunca estive muito por dentro do meio académico em Portugal, a bem dizer eu nunca me tinha habituado.
Então foi assim. Na conferência de Claude Cohen-Tannoudji, hoje de manhã, num grande anfiteatro da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, havia uma série de lugares “reservados” na primeira fila. Esses lugares eram destinados a convidados especiais, que à medida que iam chegando se iam cumprimentando, com beijinhos e apertos de mão efusivos. Já não se viam desde o último seminário que fosse também “evento social”, como este era.
Entre esses convidados, reitores, professores, gestores, directores, eu sei lá, estava o actual Presidente da Fundação para a Ciência e a Tecnologia, um homem sério e que me parecia genuinamente interessado em conhecer o Prémio Nobel de Física de 1997 e saber um pouco do seu trabalho. Foi convidado... por ser o “homem do dinheiro”, e foi assim que foi apresentado a Cohen-Tannoudji. No dia em que deixar de ser presidente da FCT, já não será mais convidado de honra, o que não sucedia aos outros. Nitidamente, não era membro do “clube”.
Os membros do “clube” falavam entre si, e nenhum deles parecia minimamente interessado no trabalho de Cohen-Tannoudji. Mas só eles tinham acesso à conversa com o físico francês, que cumprimentavam e com quem tentavam manter uma conversa de circunstância. Distinguiam-se da restante audiência, para além dos lugares reservados, pelo porte: fato e gravata, imprescindível nos homens, ou um bom vestido nas mulheres.
Nas filas traseiras instalou-se quem realmente queria ouvir Cohen-Tannoudji: quem não tinha fato e gravata, fossem estudantes de licenciatura ou doutoramento, investigadores ou professores.
Após a conferência seguiu-se a sessão de perguntas. Uma senhora, membro do “clube”, colocou algumas questões num inglês pouco menos do que macarrónico. Numa ocasião, traduziu “êxito” por “exit”. Levou como resposta do Prémio Nobel um “sorry, I do not understand your question”.
Seguiram-se as questões relevantes, colocadas a partir das filas traseiras (ninguém usava gravata ou traje académico). A anfitriã, uma professora da Faculdade, dava por encerrada a sessão, a que se seguiram umas fotografias. Entretanto, dois gestores grisalhos e barrigudos recordavam-se que também já tinham estudado Física em tempos e discutiam o conceito de arrefecimento dos átomos. O que era ali a temperatura? A anfitriã tentava recordar-lhes a distribuição de Maxwell e Boltzmann.
Seguia-se o almoço com o Prémio Nobel, para o qual tinham sido convidados pelo menos alguns dos membros do “clube”. Antes havia uma rápida conferência de imprensa, onde o Prémio Nobel ia responder a algumas questões dos dois jornalistas (eu e um colega da revista 2010) que tinham aparecido no evento. Um dos engravatados, à minha frente, perguntava a outro se a conferência de imprensa ainda ia demorar muito tempo (deveria ter pressa para voltar à sua “investigação”, talvez a jogar na bolsa). Outro engravatado respondeu-lhe que não, que não deveria haver muitas perguntas a fazer: “estes jornalistas científicos não percebem nada de Física!”

A reportagem sobre as conferências de Cohen-Tannoudji – há mais amanhã – e as suas respostas a algumas das minhas perguntas surgirão em breve no Público.

O blog de Coleridge II (ou "A edição e revisão deste blog é da exclusiva responsabilidade dos leitores")


«If I should die without having destroyed this and other Memorandum Books, I trust, that these Hints and first Thoughts, often too cogitabilia rather than cogitata a me, may not be understood as my fixed opinions - but merely as the suggestions of the disquisition; & acts of obedience to the apostolic command of Try all things: hold fast that which is good.»

(S. T. Coleridge, Notebooks [June 1810])

Choque equestre

Infra-estruturas? Do que este país precisa é de uma boa pista para corridas de cavalos.

Fuck you David Hume

Mesmo debaixo de uma torrente de provas, ainda há quem tente desacreditar e ridicularizar a mais que óbvia relação de causalidade entre as minhas esporádicas visitas a Portugal e os bons resultados do Sporting. Estes literalistas da Lógica, para além de serem chatos, não percebem que, na anti-terra que é o Futebol, uma t-shirt esburacada, um cachecol encardido ou até um simples par de peúgas desirmanadas podem fazer ruir todos os edifícios da Razão.
Eu admito - e até compreendo - que as grinaldas e florilégios do sucesso recaiam sobre os Caneiras, os Bentos, os "miúdos", etc.
Não acreditem: a responsabilidade é minha, e da minha roupa suja.

Futebol total


O médio-ofensivo recupera bolas; Miguel Veloso, o "trinco", distribui e dribla.
O lateral-direito remata à baliza; Liedson desarma um adversário perto da linha de fundo.
Os 2 avançados fazem o maior número de faltas; o golo é marcado por um defesa.
Até alguém me mandar calar, vou passar a referir-me a esta equipa como o "Limão Mecânico".

Manual de Sobrevivência

O artigo "Manual de Sobrevivência" do Almanaque Borda D'Água para 2007 inclui a seguinte frase: «Veja menos televisão, que frequentemente estupidifica e deprime, e antes converse, leia, escreva, pinte, faça desporto, medite, reze...»
Obedecerei a esta sensata instrução assim que conseguir decifrar a natureza exacta da relação entre a Floribella e o Frederico.

Hoja bloga-se de

Fórum do Seixal, cujos funcionários são adequadamente prestáveis.

"As Bodas de Fígaro" em português

Estreia na próxima sexta-feira dia 15, no Teatro da Trindade, a ópera "As Bodas de Fígaro" numa versão em português.
O espectáculo será levado ao Porto e a várias outras cidades até ao fim de 2006.



música
Wolfgang A. Mozart
libreto
Lorenzo da Ponte
direcção musical
Cesário Costa
encenação
Maria Emília Correia
cenografia
Rui Francisco
desenho de luz
João Paulo Xavier
figurinos
Rafaela Mapril
adaptação musical
Nuno Côrte-Real
fotografia e design gráfico
Clementina Cabral
Interpretação
José Corvelo, Lara Martins, Mário Redondo, Teresa Gardner,
Sónia Alcobaça, Bruno Pereira, João Sebastião, Eduarda Melo,
Raquel Camarinha, Job Tomé
orquestras Metropolitana de Lisboa | Clássica de Espinho
coro de Câmara de Lisboa Cantat
produção
Teatro da Trindade/INATEL | Coliseu do Porto
co-produção
Orquestra Metropolitana de Lisboa
com o Apoio do Ministério da Cultura | Instituto das Artes

Tuesday, September 12, 2006

Sporting Clube dos Putos


Da esquerda para a direita: Miguel Veloso (18 anos), João Moutinho (20 anos), o velho Marco Caneira (27 anos), Nani (19 anos). Ganharam ao Inter de Milão, de Figo, Crespo & cia.

Claude Cohen-Tannoudji em Lisboa

Amanhã e depois (ver informações). É entrar, senhoras e senhores, meninas e meninos, é entrar.

"Milhares de pessoas têm de desistir do carro para Portugal cumprir Quioto"

Aguardo legislação nesse sentido, como há noutros países. E não são as pessoas que "têm de desistir do carro" que são umas pobres vítimas. Vítimas somos todos das pessoas que egoística e irresponsavelmente usam o carro nas cidades todos os dias.

Extracto da entrevista de Ana Paula Vitorino ao Público:

A secretária de Estado dos Transportes, Ana Paula Vitorino, não tem dúvidas: para aumentar o número de pessoas que andam nos transportes públicos, não basta apenas melhorar a oferta, mas é preciso também criar dificuldades a quem prefere andar de carro. "Temos de penalizar o transporte individual", disse Ana Paula Vitorino ao PÚBLICO.
A secretária de Estado justifica com o seu próprio exemplo. Ana Vitorino mora em frente a uma estação do metro, em Lisboa. Mas muitas vezes vai à Baixa de carro, porque há um parque de estacionamento com tarifas baratas - o do Martim Moniz. "Não se devem construir mais parques de estacionamento no centro", afirma.
Ana Vitorino tem outras críticas às facilidades concedidas aos automóveis particulares, como a construção de infra-estruturas que melhoram o acesso aos grandes aglomerados. "Não existem razões para facilitar as entradas nas cidades", afirma.
Enquanto estava na oposição, durante o anterior Governo, Ana Vitorino criticou a construção do polémico túnel do Marquês, que pretende aliviar o trânsito numa das principais entradas de Lisboa. Agora, a secretária de Estado diz que não se pronuncia sobre o assunto.
"Se utilizássemos todos o carro, Lisboa ficava parada, ninguém podia ir a lado nenhum", acrescenta a governante. "Temos de penalizar os circuitos, para que as pessoas sintam o desconforto do transporte individual e optem pelo transporte colectivo."

Monday, September 11, 2006

Impressões de chegada

Gostaria de falar do "caso Mateus"; da reforma da Segurança Social; do novo formato do Expresso.
Mas vou antes dizer isto: o Plateau passa música muito boa.

9/11

Estava - como em tantos outros momentos, históricos ou não - num alfarrabista. Em Birmingham. Três ou quatro clientes receberam mensagens de texto quase simultaneamente e o gerente ligou um rádio.
Pensei imediatamente na única pessoa de New York que conhecia: um tipo chamado Keith, que tinha conhecido na semana anterior numa pousada em Londres, e que se apresentava a toda a gente da mesma maneira:
"Hi, I'm Keith. I'm from New York City."
Foi o Keith que me falou pela primeira vez dos White Stripes, na altura ainda meio desconhecidos na Europa. E na noite de 9 para 10 de Setembro, a última que passámos em Londres, deu-me uma palestra de duas horas (com dezenas de exemplos ilustrativos) sobre sotaques americanos, depois de eu ter cometido o erro de falar de "um sotaque americano". É que há muitos. E ele falou-me de todos.
Na manhã seguinte apanhei um comboio para Birmingham e o Keith apanhou um avião para La Guardia e não voltámos a falar, porque são mesmo assim as amizades de viagem.
O Keith, que era de New York City, e que, durante poucas semanas, teve centenas de milhões de conterrâneos, todos com "sotaque americano".

Hoje bloga-se de...


...Alcácer do Sal. Cuja Junta de Freguesia tem um ponto Net com funcionários excessivamente simpáticos.

Haverá terrorismo aceitável?

Cinco anos depois do dia que mudou a História, vale a pena reflectir sobre a questão do título.
A meu ver, uma das grandes falácias que se seguiram ao 11 de Setembro de 2001 foi esta: passou a colocar-se todo o tipo de terrorismo no mesmo saco, e a condená-lo indiscriminadamente. Será este procedimento honesto e aceitável? Julgo que não. Visa somente satisfazer os objectivos da direita e extrema direita no poder nos EUA. Lamentavelmente este tipo de raciocínio tende por vezes a ser adoptado mesmo por pessoas que eu respeito e gosto muito de ler.
A meu ver, o terrorismo não é aceitável em Estados de Direito. Os métodos usados por organizações como a ETA ou o IRA não são, portanto, aceitáveis (vamos deixar Israel e a Palestina de fora da discussão por agora). O que não significa que sejam indefensáveis os objectivos destas organizações; só o são os seus métodos. A partir do 11 de Setembro de 2001 passou a considerar-se “ilegítima” e “indefensável” qualquer causa que fosse defendida por um grupo terrorista, e impensável sequer tentar compreender os motivos por trás do surgimento deste terrorismo. Quem o tentar fazer é logo acusado de “conivência” com o terrorismo (este ponto da discussão já se aplica perfeitamente ao conflito israelo-palestiniano).
Há no entanto a meu ver casos em que uma resistência armada (que pode ser chamada “terrorista”) é inevitável: é quando a autoridade não é um Estado de Direito e pratica ela mesma o terrorismo. Foi o caso do ANC de Nelson Mandela (sim, Nelson Mandela, a meu ver o Homem do séc. XX, também foi considerado “terrorista”), a resistir ao apartheid da África do Sul, e de muitos movimentos anticolonialistas. Foi também esse o caso de muitos movimentos de luta contra as ditaduras da América Latina entre os anos 60 e 80. Em qualquer um desses casos a luta armada parece-me aceitável e, em alguns casos, provavelmente inevitável.
O que não é aceitável é o uso de violência contra inocentes. Os casos que eu anteriormente foquei usavam a violência contra agentes da autoridade. Agentes corruptos e ditatoriais.
Na Colômbia vigora um regime corrupto de extrema-direita dominado por militares e barões da droga, que aterrorizam quem se lhes opuser. A resistência armada a um regime destes é aceitável e legítima.
Lamentavelmente, não é só isto que fazem as FARC. As FARC raptam e matam indiscriminadamente. O exemplo mais conhecido e mediático é o de Ingrid Betancourt, candidata pelo Partido Ecologista às eleições presidenciais de 2002, sem nenhuma ligação ao governo colombiano, e raptada e mantida em cativeiro pelas FARC desde essa altura. Por isso as FARC são um movimento terrorista, tal como o é o Sendero Luminoso no Peru. Quando os actos terroristas são ilegítimos, uma resposta armada é legítima.
Queria terminar referindo que os terríveis acontecimentos de há cinco anos foram um atentado terrorista ilegítimo, e como tal, na mesma ordem de ideias do que tenho vindo a escrever (e sempre defendi), a resposta dos Estados Unidos da América foi legítima.

Sunday, September 10, 2006

E agora, Ferrari?


Para quem tiver dúvidas: Michael Schumacher ultrapassou e dominou com facilidade o seu sucessor, dando a entender que para o ano, se continuase a correr, seria um candidato mais forte do que ele. Filipe Massa nem vê-lo. Teve azar com o carro de Alonso à frente, mas tinha sido ultrapassado sem apelo nem agravo nas mudanças de pneus.
A Fórmula 1 para o ano vai ser muito aborrecida. Valham-nos pilotos como o Robert Kubica (pódio à terceira corrida).

Agora até sou o "Professor Chanfrado"!

Caros visitantes ocasionais:
Sei que estais aqui de passagem, motivados pelas ligações a este blogue por parte do Insurgente, de A Causa Foi Modificada e do Franco Atirador. Queria aproveitar para vos agradecer – para mim é uma enorme honra ter-vos aqui. Eu sei que o que escrevo a seguir pode parecer abuso da minha parte, e desculpai-me se eu vos parecer inconveniente. A verdade é que eu só tenho é que vos agradecer as visitas. Afinal dia após dia eu contorço-me a imaginar esquemas para vos trazer cá. Ora provoco este, ora chateio aquele, a ver se alguém me liga e me linca, para ver os contadores de visitas dispararem. Dia após dia, é essa a minha luta. É essa a razão por que eu estou na blogosfera, e diria mesmo que é só para isso que eu vivo. Preciso de vós como do ar que eu respiro. Por isso mesmo eu só tenho que vos agradecer, e é preciso ter uma grande lata para ainda vos vir pedir alguma coisa por cima. Ora lata é o que menos me falta. Por isso, já que aqui estão, eu queria pedir-vos um favor.
Existe um blóguer muito simpático, chamado Rui Castro, que escreve nos Incontinentes Verbais. O senhor dedicou-me primeiro o texto chamado "Pecados Mortais", que eu achei que não tinha comentário possível a não ser o que eu lá deixei – o autor deveria comprar uma fralda... para a boca (para os incontinentes verbais, estais a ver a chalaça?). Pois bem: o referido texto foi lamentavelmente omitido da colectânea organizada pelo André Azevedo Alves. O comentário da fralda para a boca até foi lá deixado primeiro, como a minha forma de protesto por esta omissão tão pouco católica. Afinal, o Rui dispara que se farta, e em todas as direcções. Bem: mais até naquelas em que o André Azevedo Alves costuma disparar, o que torna a sua omissão ainda mais injusta.
Até que, nisto... o Rui Castro dedicou-me outro texto! Intitulado, notai bem, “Filipe Moura, o professor chanfrado!” Cheio de considerações que eu também me abstenho de comentar, mas que me fazem verificar, como um bom cientista, que o Rui ainda não comprou a fralda. Mas o título e, sobretudo, aquela fotografia... Sim, porque o Rui não fez a coisa por menos: ilustrou o texto – reparai – com a célebre fotografia do Einstein com a língua de fora! Tanta simpatia e tanta originalidade deixaram-me verdadeiramente comovido.
Por este motivo, eu queria aproveitar a vossa presença aqui, agora nestes dias que faltam antes de regressar a um número de visitantes semelhante ao do Rui Castro, para vos endereçar o seguinte pedido, e corrigir a omissão do André Azevedo Alves: já que aqui estais, não deixeis de visitar igualmente os Incontinentes Verbais, o blogue do Rui Castro. Muito agradecido. Deus vos pague.

Saturday, September 9, 2006

Universo Particular

Marisa Monte conquistou o Coliseu com músicas antigas, dos Tribalistas e dos dois álbuns mais recentes, num espectáculo cuidado e profissional.


Ninguém como Marisa combina a música moderna com a música tradicional.


Perfeito o concerto de ontem à noite da maior cantora brasileira da actualidade.

Friday, September 8, 2006

O blog de Coleridge


«What a beautiful Thing Urine is, in a Pot, brown yellow, transpicuous, the Image, diamond shaped of the Candle in it, especially, as it now appeared, I having emptied the Snuffers into it, & the Snuff floating about, & painting all-shaped Shadows on the Bottom.»

(Samuel Taylor Coleridge, Notebooks - December 1803)

Na Escócia é que sabem


Sai para a semana. Devotos Peeleanos, fãs de Undertones, amantes da boa punkalhada britânica: comprem e divirtam-se.

Playlist

O meu PC também tem a sua polícia secreta, e mantém-me sob cerrada vigilância musical. De acordo com as pidescas estatísticas do Windows Media Player, estas são as 10 canções que mais vezes ouvi em repeat nos últimos 2 anos:

1. «Some Kinda Love», Velvet Underground
2. «Just Like Tom Thumb's Blues», Bob Dylan
3. «Love Letter», Nick Cave
4. «Our Way to Fall», Yo La Tengo
5. «Bugger Bognor», Luke Haines
6. «Danny Says», Ramones
7. «Tesla's Hotel Room», The Handsome Family
8. «Pushkin», Will Oldham
9. «RV», Faith No More
10. «Come Back to Camden», Morrissey

(Em 11º lugar está o «Ace of Spades» dos Motörhead, o meu amuleto mp3 para as noites de poker virtual)

Publicidade

Gosto muito, mesmo muito, de um grupo musical canadiano que nenhum dos meus leitores conhece. E é assim que eu quero que as coisas se mantenham.

Housekeeping

Antes das férias, arruma-se a casa. A lista de links foi remodelada. Inclui agora mais quatro blogs descobertos às três tabelas; mais alguns escritores "da casa"; uma página com gatinhos bébés; e uma agência de apostas. Há pornografia lituana, mas está camuflada; os eventuais interessados terão de ler muita coisinha edificante antes de acharem a pocilga.
O nome, o lema e o layout do blog continuam na mesma, mas desconfio que não por muito tempo. Até o nome do autor pode mudar em breve. Ser o Rogério Casanova, mesmo em part-time, não é, de todo, o que a publicidade prometia.

A Festa do Avante! anda muito mal frequentada



Camaradas, acho que vou lançar uma petição blogosférica. Quiçá até pedir um voto no
plenário da Assembleia da República.

Thursday, September 7, 2006

Interregno

O ritmo de postagem vai ser drasticamente reduzido nas próximas três semanas.
A culpa é de Lisboa.

Caveat Senescens

Ele escreveu: "o tempo não se limita a passar; muitas vezes passa-te por cima".
Depois escreveu: "esse rosto apedrejado por cronologias".
E ainda arranjou tempo para escrever: "vivo, morto, vegetal, qual é a diferença?".
Por fim decidiu rasgar o postal de aniversário e começar de novo quando se sentisse menos ruvinhoso.

Elementos de Frenologia



« ... as quase imperceptíveis protuberâncias no cocuruto de Liv Tyler comprovam que ela é muito boa rapariga, amiga do seu amigo, e dada à paródia ... »

(Franz Joseph Gall, A Anatomia e Fisiologia do Sistema Nervoso em Geral, e do Cérebro em Particular, Apêndice VII)

Abóboras

Num bloco de notas da minha adolescência encontro uma página preenchida por uma citação do Humboldt's Gift em que o narrador Charlie Citrine se refere a outro personagem como um "cabeça de abóbora". Na página seguinte está uma lista de batotas para o Fifa '98 - que inclui um código para transformar as cabeças dos jogadores em abóboras gigantes.
Até à deriva na frivolidade eu gosto de uma certa consistência temática.

Hipérboles minimalistas

Prefiro um ensaio menor de James Wood aos melhores livros de George Steiner.
Prefiro dois minutos dos Ramones à discografia completa dos The Clash.
Prefiro um conto de Chekhov à obra inteira de Flaubert.

Tratamento preferencial

Por um daqueles groundhogdayescos desacertos cósmicos, acordei dois dias seguidos ao som da mesma canção - uma popalhada banal dos The Feeling. Passado o pânico inicial, uma linha chamou-me a atenção:

People in love get special treatment

O que é manifestamente mentira. Não têm. Mas deveriam ter. Pelo menos nas farmácias e supermercados.

As mexidas na Câmara de Setúbal

Sobre o caso da Câmara de Setúbal: que fique bem claro que eu lamento profundamente a saída de Carlos de Sousa. Se o PCP está a procurar simplesmente “limpar a cara” por causa do caso das aposentações compulsivas ou não, é algo que não fica claro. Agora uma coisa é certa: nas eleições autárquicas há uma hierarquia clara dos candidatos, pelo que na saída do presidente os eleitores sabem quem é o vice-presidente. Votam numa lista. Já nas legislativas não é assim, pois só conhecem o nome do candidato a Primeiro Ministro. Santana Lopes não participou sequer nas eleições legislativas de 2002, ao contrário da Presidente indigitada da Câmara de Setúbal. A substituição de Carlos de Sousa, sendo sempre lamentável (pelo autarca que é), é muito mais comparável à “rotação” de deputados anteriormente praticada pelo Bloco de Esquerda. É esta a minha resposta a esta entrada do velho Daniel Oliveira que, com o seu costumeiro moralismo, lança acusações aos outros sem antes olhar bem para a sua própria “casa”.
Também não concordo com João Pedro Henriques quando, ao comparar este caso com o de Fátima Felgueiras, fala em "dois pesos e duas medidas". Primeiro, não creio que este caso seja comparável ao de Fátima Felgueiras (ou os de Gondomar, Oeiras ou Marco de Canavezes), onde as acusações de corrupção aos autarcas visam crimes de peculato e um enriquecimento ilícito pessoal. Já em Setúbal, se houve alguma ilegalidade (ninguém confirmou ainda), foi em proveito... da autarquia (que está na bancarrota, já desde a anterior gestão) e de alguns trabalhadores (e à custa do Estado). Finalmente, não me parece que as atitudes dos partidos (o PS, ao preservar Fátima Felgueiras para ganhar eleições; o PCP, ao substituir Carlos Sousa para evitar a dissolução da Câmara e eleições antecipadas) sejam assim tão diferentes: ambas visam simplesmente a preservação do poder.
O assunto não é simples e nem permite uma interpretação única, mas do que foi dito concordo plenamente com Vital Moreira.

Wednesday, September 6, 2006

... his sanity an unstable artifice...


« ... He woke up with a shudder as though he had himself fallen off his bicycle. If his mind were really this sort of magnet, mechanically dispersing its lines of force when it went to sleep, and mechanically orienting them when it woke up -- which was normal, the dispersion or orientation? The mind, like the body, kept its unity unless it happened to lose balance, but the professor of physics, who slipped on a pavement and hurt himself, knew no more than an idiot what knocked him down, though he did know -- what the idiot could hardly do -- that his normal condition was idiocy, or want of balance, and that his sanity an unstable artifice. His normal thought was dispersion, sleep, dream, inconsequence; the simultaneous action of different thought-centres without central control. His artificial balance was acquired habit. He was an acrobat, with a dwarf on his back, crossing a chasm on a slack-rope, and commonly breaking his neck.»

(The Education of Henry Adams)

O citador incorrecto

"I'm gonna get medieval on your mind"

Conversa de pub

(Dois trintões sisudos trocavam reminiscências...)

--Gostava de poder voltar à escola, com a idade que tinha na altura, mas sabendo tudo aquilo que sei hoje.
--A ideia não é má; o problema é que eu, por exemplo, sei menos hoje do que sabia quando entrei para a Preparatória.

Odd man out

O Robert, meu flatmate em Edimburgo durante um ano e meio, fez anos ontem. No mesmo dia em que nasceram Freddie Mercury, Arthur Koestler, Jesse James. E também aquele que é o meu pintor Romântico preferido: Caspar David Friedrich.
Curiosamente, deste quinteto heterogéneo, o Robert não é o odd one out.

Airport Security Oversights

Airport Security Oversights
September 6, 2006


A Connecticut man was recently arrested for carrying a stick of dynamite in his checked luggage on a flight back from Brazil. Here are some other items that have passed through airport security recently:

July 24, Houston to New York: Unauthorized liquids, cleverly hidden within cell membranes of passenger
July 28, Portland, OR to Topeka, KS: 16 pounds of science textbooks
Aug. 15, Pittsburgh to Detroit: VHS tape of Nothing But Trouble, starring Chevy Chase and Dan Aykroyd
Aug. 19, Washington, DC to Darfur: Hope
Aug. 23, Bangkok, Thailand to Orlando, FL: Monkey's paw with one wish left
Aug. 29, São Paulo, Brazil to Hartford, CT: More mining equipment, including Komatsu PC400LC-7 deep excavator
Aug. 31, Sydney, Australia to Los Angeles: Russell Crowe
Sept. 3, London to New York: A few Muslim people may have slipped through with their dignity

(The Onion)

Agora explico eu

Não há dúvida de que o Miguel Esteves Cardoso é um assunto tabu, e quem ousar meter-se com ele tem de levar com os seus amiguinhos, de direita ou supostamente de esquerda. Quem se meter com os amiguinhos dele também, que eles funcionam todos em bloco (salvo seja). Todos eles consideram-se muito especiais por pertencerem ao grupinho, influência provável do líder intelectual. Esta gente julga-se eleita, e não me refiro ao “povo eleito” no sentido judaico, apesar de uma regra essencial para pertencer ao grupo ser apoiar-se incondicionalmente as políticas do estado de Israel, mesmo as mais criminosas.
A melhor demonstração do tipo de pessoas que é esta gente (os amiguinhos do Miguel Esteves Cardoso) ocorreu há mais de três anos, no episódio que originou o fim da Coluna Infame. Está certo que a provocação do Daniel Oliveira ao chamar de “extrema direita” ao João Pereira Coutinho surge do nada, é completamente infundada e desnecessária. Mas e a reacção do João Pereira Coutinho? Não se deve à “extrema direita” propriamente dita – deve-se a um membro da “ralé” ter-se atrevido (é mesmo a palavra) a insultar o “Pereira Coutinho”. Provavelmente João Pereira Coutinho gostaria de ter resolvido a questão com um duelo! João Pereira Coutinho tem uma formação oxfordiana, e para ele ter sido abordado assim por um qualquer Oliveira é como se um estudante se atrevesse a frequentar as áreas reservadas a professores. O cavalheirismo é importante, mas mais importante é o “respeitinho”. Toda a sua reacção é de quem foi mimado a vida toda.
Daí que não espante que se diga que o cavalheiro é talentosíssimo, genial e escreve muito bem, mas ninguém do referido grupo se tenha sequer dignado a criticar-lhe os modos. O mesmo pode ser dito relativamente ao seu companheiro de armas, no que diz respeito a textos tão dignificantes como este. A Bomba ainda se dá ao luxo de o destacar. E o bobo da corte, mais preocupado com o Hamlet e o Rei Lear, ainda faz reparos ao penteado de Vital Moreira. Qual é a reacção dos amiguinhos do MEC e das pessoas “cool-tas”? «Ah, o maradona (com minúscula!) é tão engraçado! Ah, o maradona (com minúscula!) escreve tão bem, ele e a Charlotte! E o João e o Alberto! São tão talentosos! São mesmo uns geniozinhos, uns queridíssimos!» Para o que esta gente escreve ou diz, a impunidade é total. Nesse aspecto estão muito bem para o Estado de Israel. Não admira que apoiem as suas acções criminosas incondicionalmente.
Queria ainda fazer um esclarecimento aos muitos visitantes que apareceram aqui ontem a julgar que eu sou “professor”: eu não sou “professor”, embora gostasse de o vir a ser um dia, quem sabe. Dei aulas em Portugal e nos EUA, sempre enquanto estudava. A última vez que dei aulas em Portugal foi há nove anos, quando ainda ninguém sabia o que era um blogue. Os visitantes que aqui vêm não são meus “alunos”. São pessoas livres e que pensam pela sua cabeça – se aqui vêm é porque tomam essa decisão livremente. Não pertencem a nenhuma “seita”, como a dos amigos do MEC e da Bomba, que se lincam mutuamente e são todos lincados pela Bomba, e tratados por “queridíssimos”. Basta entrar no referido Bomba Inteligente para verificar – todos os dias há entradas que são respostas directas e descontextualizadas aos amigos da Bomba (e do MEC), de forma a que quem não pertença ao “grupo” não saiba do que se está a falar, e tenha de ir visitar os outros amiguinhos (que assim partilham os visitantes dos seus blogues). Isto se (há gente para tudo…) alguém estiver interessado no que a Bomba quer dizer. Aquilo é um verdadeiro “chá das tias”. Não me incomoda o sucesso do blogue em si, tal como nunca me incomodou o sucesso da revista Caras; há leitores para tudo. Eu não pactuo é com falta de vergonha na cara, e isso aquela gente não sabe o que é. Em particular, não me incomoda nada ter uma média de cento e poucas visitas por dia, enquanto a Charlotte tem 863 (incluindo os que só lá vão via Google Image Search à procura das muitas imagens que o blogue tem), como o maradona faz questão de recordar. Os meus visitantes, por poucos que sejam, são cidadãos livres que escolhem aqui vir; não são membros de nenhum clube privado nem seguidores de nenhum guru.
Dito isto, eu não quero ter mais nada a ver com esta elite muito orgulhosa de si mesma, apesar de não fazer nada de palpável, mas que supostamente é muito “talentosa”, embora os seus talentos até hoje só tenham sido aferidos em comparação uns com os dos outros. Não quero perder mais tempo com gente (de esquerda e de direita) cujos valores são completamente diferentes dos meus – e aqui é mesmo uma questão de valores de que se trata -, a verdadeira negação da “ética protestante”. Gente que não quer que o país passe da cepa torta. A atenção e o poder mediático que esta gente tem explicam e muito o nosso atraso – só em Portugal estes indivíduos alcançariam o destaque que têm.

No chá sem a Bomba

Ironicamente (tendo em conta o assunto que se segue e o título do texto que lhe deu motivo) passei o dia de ontem a beber chá e a comer torradas. Motivo: indisposição e sérios transtornos gástricos. Nada a ver com a blogosfera.

O "sucesso" de Israel no Líbano


Há quem diga que Israel não teve sucesso na guerra do Líbano mas eu penso essa é uma abordagem simplista já que não existe vitória militar definitiva de Israel que possa ser sériamente equacionada.

Como já disse neste blog (ver) penso que a destruição do estado de Israel pelos seus inimigos é apenas uma questão de tempo mas, no curto prazo, penso que Israel conseguiu algo importante:
pôs os cidadãos europeus a pagar um exército de interposição que, no essencial, assegurará o patrulhamento da fronteira norte de Israel.

Claro que esta é uma medida que visa apenas adiar o agravamento intolerável da situação militar de Israel mas, em contrapartida, pode vir a acelerar os anti-corpos da opinião pública europeia.

Tuesday, September 5, 2006

Código da estrada - King James Version

Mercury Prize

O vencedor é anunciado daqui a uma hora. Fazendo fé nos melhores indicadores de intenções da Grã-Bretanha (as agências de apostas) os Arctic Monkeys serão os galardoados de 2006. E justamente, embora eu tenha atribuído, a título particular, uma sentimental menção honrosa ao álbum de duetos da Isobel Campbell e do Mark Lanegan (especialmente pela faixa "The False Husband", que é soberba).
Os juízes do Mercury têm, contudo, um longo cadastro de decisões injustificáveis, das quais se redimiram parcialmente nos dois últimos anos. Mas há quem tenha deixado de levar o prémio a sério em 1997, quando o Ok Computer foi considerado menos brilhante que um álbum do Roni Size. Tão ou mais grave, na minha opinião foi terem preferido o Bring it On dos Gomez ao Mezzanine dos Massive Attack, ou terem premiado em 2002 um banalíssimo naipe de clichés hip-hop - Ms Dynamite - em detrimento do melhor álbum a saír de Liverpool desde Ocean Rain - o homónimo álbum de estreia dos excelentes The Coral.
Este ano, as possibilidades de espalhanço são reduzidas. O prémio não ficaria mal a nenhum dos cinco álbuns nomeados que conheço (Monkeys, Campbell/Lanegan, Gillemots, Hot Chip e Thom Yorke) e até os Muse - nos quais não vejo nem ouço nada de especial - editaram o que dizem ser o seu melhor disco.
Às 21 horas saberemos. Mas, parafraseando Darwin, o dinheiro inteligente está mesmo nos macacos.

Alvo fácil

Na secção musical de um diário online português leio uma referência a um "conserto" dos Rolling Stones. Os pobres dinossauros começam a ser um alvo cómico demasiado fácil.

Ementa

«Sanduíche de Britney Spears em leilão»

(PortugalDiário.iol.pt)

A pergunta que se impõe é: o pão é branco ou integral?

Monday, September 4, 2006

Hurt


Trent Reznor. Johnny Cash. Ouvir sem moderação.

Leitura obrigatória

April March, Herbert Quain
Romanticism and Christianity, Moses Herzog
Beltraffio, Mark Ambient
The Grasshopper Lies Heavy, Hawthorne Abendsen
The Protocols of the Elders of Tralfamadore, Kilgore Trout
Night Rote, John Shade
The Courier's Tragedy, Richard Wharfinger
The Theory and Practice of Oligarchical Collectivism, Emmanuel Goldstein

Na minha rua não há mulheres assim (III)


Claire Forlani, actriz inglesa

Junta-te ao clube, compra a t-shirt

«Representar não é muito difícil. As coisas mais importantes são saber rir e chorar. Se quero rir, penso na minha vida sexual. Se quero chorar, penso na minha vida sexual.»

(Glenda Jackson, vencedora de dois Óscares e actual membro do parlamento britânico)

Apenas um homem vulgar


Pela primeira vez na vida entrei no Casino Estoril, na passada quinta feira. Para o concerto do Jorge Palma. Para o concerto de um cantor que já começou algo “tocado” – notava-se na forma como esbarrava no microfone, que lhe fugia enquanto cantava (por vezes nem dava para o ouvir bem), e quando tropeçou -, mas que nem por isso, no meio de um calor infernal de uma sala sem grandes condições, deixou de ir bebendo cerveja ao longo da noite. Que não teve problemas em acender um cigarro e ir fumando enquanto tocava piano.
O Jorge Palma é um grande compositor e eu gosto muito de o ouvir. Por um lado eu gosto de ver um homem livre que não cede aos ditames do politicamente correcto. Por outro lado, pelo menos enquanto actuava ao vivo, o Jorge Palma não demonstrou ser muito profissional. Não tem autocontrolo. Exagerou. Gostei de ter ido ao concerto, mas porque era à borla. Conforme eu já desconfiava, não gostaria de ter pago um bilhete para o ver actuar como na passada quinta.

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