Thursday, July 31, 2008

Mearsheimer e Walt atacaram o AIPAC mas apoiam J Street

Continuando o texto anterior:

Em 2006, quando John J. Mearsheimer, da Universidade de Chicago, e Stephen Walt, de Harvard, publicaram The Israel Lobby amd the US Foreign Policy, primeiro um artigo na London Review of Books (LRB) e depois um livro (em 2007), receberam mais insultos que elogios. Quebraram um tabu, ao afirmar que, depois da Guerra Fria, Israel se tornou um fardo mais do que um trunfo estratégico para os Estados Unidos. Dois anos depois, o aparecimento de J Street vai ao encontro de uma das suas recomendações, no capítulo final: "A criação de um 'novo lobby' que pressione a favor de políticas mais inteligentes".

Falando em seu nome e no de Mearsheimer, numa entrevista ao P2 por e-mail, Walt esclarece que nenhum deles esteve envolvido na génese de J Street: "Achamos que é um desenvolvimento positivo [embora] não tenhamos provas de que haja uma ligação directa com o nosso livro. O que é mais evidente é que ambos [o livro e o novo lobby] reflectem uma crescente tomada de consciência de que a política dos Estados Unidos para o Médio Oriente é obviamente má e não serve os interesses da América nem os de Israel. Nós enfatizamos isto no nosso livro, mas outras pessoas, incluindo os fundadores de J Street, seguramente que compreenderam isto muito antes de o nosso livro ter sido publicado."
"Não há nada de errado em ter uma comunidade pró-israelita politicamente influente nos Estados Unidos, se [o objectivo] for lutar por políticas com sentido estratégico e moral, em vez das políticas contraproducentes dos grupos que o AIPAC [American Israel Political Action Committee] tem apoiado", frisam Walt, 53 anos, e Mearsheimer, de 61, seguidores da teoria do "realismo ofensivo", segundo a qual o interesse nacional deve ser a única motivação da política externa de um país.
Ambos mantêm a afirmação de que "o apoio incondicional de Israel - sobretudo das suas políticas brutais em relação aos palestinianos nos territórios ocupados - é uma das razões, ainda que não a única razão, do anti-americanismo crescente no mundo árabe e islâmico". E acrescentam: "Uma política mais equilibrada dos EUA em relação a Israel e aos árabes não resolveria todos os problemas na região mas afastaria um dos principais focos de tensão e facilitaria a resolução de outros problemas. Também achamos que uma política mais equilibrada seria do interesse de Israel, porque estaria mais em consonância com as noções básicas de decência e justiça."
Em The Israel Lobby, encomendado (em 2002) e rejeitado (em 2004) pela Atlantic Monthly, Mearsheimer e Walt recomendam que Israel seja tratado como "um país normal". Esse é também um velho sonho sionista, mas que prazo para isso ser possível? "Se começarmos a ter um discurso mais aberto e honesto sobre Israel e os Estados Unidos, as atitudes e as políticas podem mudar rapidamente", respondem. "Mas, claro, é por isso que grupos no [velho] lobby se esforçam tão arduamente por impedir uma discussão franca."
Apesar de acusações de "anti-semitismo", de "ensaio conspirativo" ou de "trabalho científico medíocre", os autores de The Israel Lobby garantem que as suas carreiras, como membros de uma elite académica (Walt foi, entre 2002 e 2006, reitor da Kennedy School of Government em Harvard), não foram arruinadas. "É cedo para avaliar o impacto do nosso livro, mas acreditamos que contribuímos para um debate mais livre sobre esta questão importante. Ainda é muito complicado um diálogo crítico sobre a política israelita, as relações Estados Unidos-Israel e o próprio lobby."
"Silenciar o debate, caluniando as pessoas como 'anti-semitas', é inconsistente com os princípios da liberdade de expressão e dificulta ainda mais a discussão séria de assuntos vitais", concluem os dois autores. "Se não pudermos discutir esses assuntos, os EUA vão provavelmente continuar as suas políticas insensatas no Médio Oriente, em detrimento de todos os envolvidos". M.S.L.

"Há um novo lobby judeu na América e não tem medo de criticar Israel"

O seguinte artigo do Público de 22 de Julho aborda um dos poucos temas tabu nos EUA: é impossível ter-se uma posição (moderadamente) pró-palestiniana no conflito israelo-árabe. Um político que não jure "apoio incondicional a Israel" não tem hipótese de ser eleito. Um comentador que critique frontalmente Israel nos EUA não pode ser levado a sério.
Felizmente há um grupo - de judeus - que pretende altera minimamente est situação. Conseguirá? Pelo "apoio incondicional" a Israel já manifestado por Barack Obaa, este novo e bem vindo lóbi judeu ainda tem muito que fazer. Boa sorte é o que eu lhes desejo.

Chama-se J Street. Porque não há rua J em Washington e porque a K Street está cheia de lobbies que "apoiam ruidosamente Israel em situações de guerra mas ficam silenciosos em negociações de paz". Tem um poderoso adversário: o grande lobby judeu AIPAC, "infiltrado" pela direita israelita, por neo-conservadores e cristãos fundamentalistas. Mas também um potencial aliado: Barack Obama, que hoje chega a Jerusalém.

Em Washington não há nenhuma J Street (as ruas horizontais vão directamente do I ao K), mas é aqui que as palavras de Barack Obama durante a visita que hoje inicia a Israel serão ouvidas, provavelmente, com mais atenção. J Street é o nome de um novo lobby judeu nos Estados Unidos que alguns analistas prevêem irá "mudar o mapa político americano e do Médio Oriente".
Reparem no que diz ao P2, por telefone, Daniel Levy, um dos cem membros do conselho consultivo de J Street. "Hoje em dia, é muito difícil dizer 'Eu apoio Israel, ponto final'. Porque a pergunta a seguir é. 'Que Israel? Israel dos colonos ou Israel que quer acabar com a ocupação? Israel que quer destruir o Hamas ou Israel que acredita que é preciso negociar, ainda que indirectamente, com o Hamas? Israel que quer reter os Montes Golã e não acha importante dialogar com a Síria ou Israel que quer tratados de paz com os vizinhos sendo que isso implica devolver territórios?"
"Hoje, já não é convincente o argumento de que o modo incondicional como a América apoia Israel é bom para a América e para Israel", frisa Levy, asseverando que J Street não terá medo de enfrentar um primeiro-ministro israelita que não comungue as posições do grupo - sondagens apontam como favorito em próximas legislativas o "falcão" Benjamin Netanyahu. E até podem acusá-lo de ser "anti-semita" ou "self-hating Jew" (judeu que se odeia a si próprio) - expressões frequentemente usadas para silenciar os críticos das acções de Israel. "Os israelitas, por estreita ou larga margem, podem eleger um líder que se opõe ao processo de paz, mas não seremos apoiantes de opositores de paz.".
"Haverá pessoas que irão intimar-nos: 'Vocês têm de apoiar o governo israelita!'", reconhece Levy. "Mas eu responderei que isso não se aplica a nenhum outro país. Eu posso ser pró-Venezuela e não apoiar a política de Hugo Chávez. Posso ser um grande admirador da República Checa mas posso não achar uma boa ideia instalar ali um sistema americano de defesa antimíssil. Todos nós, na América, sobretudo os judeus, temos ligações emocionais a Israel, mas não podemos deixar de ser racionais, como se Israel vivesse noutro planeta. Será uma política destrutiva ajudar Israel avaliando-o segundo padrões diferentes. Israel precisa de fronteiras negociadas e reconhecidas. Às vezes abraçamos Israel quase até à morte. Amamos Israel de uma maneira que não é saudável. É como darmos as chaves do carro a um amigo embriagado."
Israel é o maior receptor de ajuda dos Estados Unidos (3000 milhões de dólares anuais). No entanto, como já havia notado Levy num artigo na American Prospect, não é submetido a qualquer pressão. Pelo contrário, "pode gozar uma ocupação de luxo - já gastou mais de dez mil milhões de dólares em colonatos desde 1967." Ora, este "vício de mau comportamento sem consequências conduz à tentação de uma escalada (...) e estrangula uma solução viável de dois Estados."
Alternativa ao AIPAC
As palavras são duras, mas Levy é um "peso-pesado". Cientista político de origem inglesa, é filho de Michael Levy, membro da Câmara dos Lordes, líder da comunidade judaica no Reino Unido e um dos maiores angariadores de fundos da campanha de Tony Blair. Foi conselheiro de três líderes israelitas - Ehud Barak, Yossi Beilin e Haim Ramon. Participou nas negociações com os palestinianos em 1995 (Oslo B) e em 2001 (Taba). Foi um dos principais redactores da Iniciativa de Genebra (um ambicioso plano de paz) e agora é senior fellow da Century Foundation e da New American Foundation. O seu blogue, Prospects for Peace, é um dos mais lidos na Web.
Não o confundam com os anti-sionistas de extrema-esquerda Noam Chomsky ou Norman Finkelstein. Mas também não o incluam no grupo de neo-conservadores de Bernard Lewis. Assumidamente "liberal e progressista", coloca-se no "centro político". Embora não pertença ao "núcleo duro" de J Street, cujo director executivo é Jeremy Ben-Ami, antigo conselheiro do ex-Presidente Bill Clinton e neto dos fundadores de Telavive, Daniel Levy tem sido descrito como "o ideólogo" e Ben-Ami como o "chefe de operações" do novo lobby.
E este, apresentando-se como "braço político do movimento pró-Israel e pró-paz" nos EUA (as suas bases são organizações como American for Peace Now e Israel Policy Forum), quer ser "uma alternativa" ao velho establishment judaico, "infiltrado" pela direita israelita do Likud, pelos neocon e por cristãos evangélicos fundamentalistas. Ou como Levy os caracterizou, "uma combinação que tem sido um desastre para a política americana e para Israel."
É uma tarefa árdua, "redefinir o que é ser pró-Israel", já que o AIPAC tem 200 funcionários, 100 mil membros e um orçamento anual de 60 milhões de dólares, enquanto J Street tem quatro funcionários, 1,5 milhões de dólares e, por enquanto, apenas 40 mil "filiados". Nada que atemorize Daniel Levy. "Conseguir a adesão de 40 mil pessoas em apenas três meses é significativo", sublinha. Mais: do orçamento de 1,5 milhões, cerca de 1,1 milhões já foram angariados online.
A Internet é uma das ferramentas com que J Street tenciona fazer a diferença. "Estamos a usar os instrumentos modernos de organização política, como o MoveOn.org [um projecto virtual que inspirou também a campanha de Obama]. Queremos criar uma grande circunscrição online, que permita financiar candidatos favoráveis à paz, já que somos também um PAC [Political Action Committee]".
Uma morada na Internet
Entre os primeiros candidatos ao Congresso apoiados por J Street está um republicano, Charles Boustany, o que responde às dúvidas dos que se interrogavam sobre se o novo lobby só estaria ao lado de democratas. Há quem acredite que estes apoios vão abalar, ainda que modestamente, a influência do big brother AIPAC no Capitólio. Exemplo: Agora, sempre que alguém vir o seu financiamento reduzido por ter feito declarações que o AIPAC considera "anti-Israel", pode sempre telefonar para J Street a pedir o dinheiro que faltou, ainda que J Street seja mais um endereço URL do que um edifício.
O nome foi propositadamente escolhido para preencher um vazio, tem explicado Ben-Ami. Porque não há rua J em Washington e porque a K Street está cheia de lobbies que "apoiam ruidosamente Israel em situações de guerra mas ficam silenciosos em negociações de paz". Esta frase, colocada num anúncio no New York Times, é uma implícita referência ao AIPAC com o qual muitos judeus americanos e israelitas já não se identificam.
Entre os 100 membros do conselho consultivo de J Street há rabis, académicos, políticos, CEO e prémios Nobel. E entre os supporters (apoiantes) em Israel estão diplomatas, políticos, ex-generais e antigos operacionais dos serviços secretos. É o caso de Yossi Alpher, que foi responsável da Mossad e agora colabora no site israelo-palestiniano bitterlemons.
Inquirido pelo P2 sobre a sua adesão ao novo lobby, Alpher respondeu por e-mail: "Estou convicto de que Israel merece estar mais bem representado entre os judeus americanos no que diz respeito a questões do processo de paz. J Street, ao contrário do AIPAC, é muito mais representativo da opinião dos judeus americanos."
Isso não dissuadiu, porém, Barack Obama de discursar na conferência anual da AIPAC. O senador do Illinois, cujo nome do meio é Hussein, tinha de provar as suas credenciais "pró-Israel", até porque precisa do eleitorado judeu que está a ser cortejado pelos republicanos em swing states, como a Florida. Foi aplaudido de pé quando declarou que "Jerusalém permanecerá a capital de Israel e deve continuar indivisível".
Claro está que os árabes, encorajados por anteriores declarações de Obama em que admitiu "não concordar com todas as acções do Estado de Israel" e retratou o conflito israelo-palestiniano como "uma ferida aberta que infecta toda a política externa dos EUA" (The Atlantic), ficaram decepcionados. Dias depois, Obama deu uma entrevista à CNN, esclarecendo que o estatuto de Jerusalém " é uma questão a ser negociada pelas partes".
Levy achou importante esta clarificação. "Ele aceitou os 'Parâmetros Clinton', ou seja, que os bairros árabes em Jerusalém serão palestinianos e os bairros judeus serão israelitas. O que ele quis dizer é que não deve haver um arame farpado a dividir a cidade como em 1967 [antes da Guerra dos Seis Dias], e até admitiu que a frase que usou [na convenção do AIPAC] não foi bem escolhida. Também disse que Israel precisa, para sua segurança, de uma solução de dois Estados. E esta é uma posição encorajadora."
Além disso, mais do que a referência à Jerusalém, o que foi importante, para Levy, no discurso de Obama ao AIPAC foi a promessa de que resolver o conflito israelo-palestiniano será uma prioridade. O apoio que exprimiu às negociações entre Israel e a Síria. E a afirmação de que, na abordagem ao Irão, privilegiará a diplomacia e não uma nova guerra.
O Irão e o reverendo Hagee
Quanto ao generalizado sentimento israelita de que o Irão constitui uma ameaça existencial e tem de ser contido, a análise de Levy é esta: "Acho que, em Israel, há uns genuinamente preocupados e outros que criam um pânico desnecessário, por causa das coisas nojentas que o Presidente [Mahmoud] Ahmadinejad diz e também das ambições do Irão de ser uma potência regional. Há uma mobilização em Israel para a necessidade de bombardear o Irão. Os israelitas olham para o passado e dizem: 'Bombardeámos o reactor no Iraque, bombardeámos algo na Síria e por isso OK, podemos bombardear os vizinhos, porque resulta. O problema é que o debate público não está a considerar que a situação no Irão é muito diferente e muito perigosa se houver uma guerra."
Levy compara o ambiente em Israel com o que existe em muitas sociedades em conflito. "Os israelitas são frequentemente tentados a pensar: 'Não há solução, vamos bombardeá-los', o que até é compreensível, mas não é uma boa política. Uma maioria de israelitas apoiou a guerra no Líbano há dois anos, mas agora admitem que foi um fucking mistake, mas na altura achavam que era uma grande ideia. A maioria dos israelitas apoia ataques militares na Faixa de Gaza mas também apoia o cessar-fogo com o Hamas. Há muitas dissonâncias nas sociedades em conflito. Eu creio que os israelitas ficariam muito felizes se houvesse uma solução diplomática para o Irão."
Levy está, por isso, entusiasmado com a campanha de J Street contra uma guerra no Irão: "Uma carta a todos os candidatos ao Congresso obteve mais de 30 mil assinaturas online numa semana". Outro sucesso que o novo lobby reclama é uma petição que forçou o candidato republicano, John McCain, a renegar o apoio do reverendo John Hagee, pastor da congregação Christians United for Israel (CUI), aliada do AIPAC.
Na ânsia de apressar o "segundo regresso do Messias", Hagee fez recentemente um sermão que causou uma onda de repulsa: "Deus disse a Jeremias: 'Enviarei muitos pescadores e depois enviarei muitos caçadores'. Os pescadores são os sionistas, homens como Theodor Herzl. (...) E os caçadores? Hitler foi um caçador. Como é que isso [o Holocausto] aconteceu? Porque Deus permitiu que acontecesse. Por que aconteceu? Porque Deus disse: 'A minha máxima prioridade é fazer retornar o povo judeu à Terra de Israel."

Ivan espreita em nome de Eisenstein e Prokofiev












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A Rússia está a regressar à sua História para aprender com o seu passado, depois de anos de propaganda. Ivan, o Terrível regressa em alta 64 anos depois do filme de Serguei Eisenstein.
O realizador de Taxi Blues, Pavel Lounguine, está a montar um filme sobre o czar do século XVI para estrear na próxima Primavera. E Andrei Eshpai está a preparar a série de 16 episódios Ivan Grozny (Ivan, o Terrível) para 2009. Na era Putin e mais de 60 anos depois do clássico de Serguei Eisenstein, Ivan está na moda.

Público, 31.07.2008, a propósito de várias iniciativas cinematográficas em curso na Rússia.


É preciso coragem para tratar de Ivan depois de Eisenstein e, também, da fabulosa banda sonora de Prokofiev. Mas não sou contra. Sinais do tempo.

Wednesday, July 30, 2008

Profundidade

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Vivemos um tempo de acessórios, em que raramente são discutidos os verdadeiros problemas, substituídos pelos aspectos laterias que os adornam. Não se discutem as propostas mas a legitimidade de quem as formulou, não se discutem as causas e as formas da pobreza realmente existente mas as metodologias estatísticas e a quem elas servem, não se discute a emergência brutal da economia chinesa na transformação da nossa sociedade mas apenas os défices democráticos que persistem no gigante oriental.
Perante tanta superficialidade sabe bem constatar que há alguém a tentar ir mais fundo e bater recordes de profundidade. Os cientistas russos tentam descer até ao ponto mais baixo do fundo do lago Baikal, na Sibéria, a mais de 1600 metros de profundidade.(ver aqui)

O lago, que visitei em 1980, é uma pérola da natureza situada a cerca de setenta quilómetros de Irkutsk. Com mais de seiscentos quilómetros de comprimento e oitenta de largura constitui o maior reservatório de água doce do planeta no centro do gigantesco continente. É tão grande que se todos os rios da terra depositassem nele as suas águas levariam pelo menos um ano para o encher.

Ainda guardo em minha casa um calhau rolado que recolhi nas margens do lago. Faz companhia a muitos outros vindos das mais estranhas paragens.

Tuesday, July 29, 2008

Monday, July 28, 2008

MMS

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O Público noticia que "O Movimento Mérito e Sociedade (MMS) defendeu hoje a aplicação da taxa Robin dos Bosques aos políticos pedindo, para isso, a revisão imediata das regras de despesa pública assim como a redução das reformas dos ex-deputados, dirigentes de empresas e de instituições públicas que não tenham atingido a idade mínima de reforma (65 anos)."(ver o resto aqui)

Esta proposta hilariante e descaradamente populista tem o grande mérito de provocar a pergunta "por que é que nem o Francisco Louçã se tinha lembrado disto antes ?" ou então "já chegámos àquele ponto em que se formam partidos capazes de fazer propostas assim ?".

Li algures que Eduardo Correia, o dirigente máximo do MMS, propôs também a publicação pelo governo da lista "Top 500" com informação sobre os reformados mais bem reformados do nosso país. É a cereja em cima do bolo.

Estas coisas podem não resolver nada e não têm qualquer hipótese de aprovação, mas lá que dão gozo isso dão.

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O besteirol dos 500 anos

No rescaldo da atribuição do Prémio Camões 2008 a João Ubaldo Ribeiro, achei que vinha a propósito recordar aqui um artigo deste autor, publicado em 2000, sobre a famosa polémica do "achamento" versus "descobrimento" do Brasil. Sobre este assunto, creio que o autor de Viva o Povo Brasileiro sabe muito bem o que diz. É um texto polémico, porém.

O besteirol dos 500 anos, João Ubaldo Ribeiro, O Estado de S. Paulo, 24/04/2000

Levando-se em conta nossa pitoresca realidade contemporânea, até que a quantidade de besteiras ditas e escritas sobre o controvertido aniversário do Brasil não dá para surpreender. O que chateia um pouquinho é que diversas dessas besteiras continuarão a perseguir-nos pela vida afora, algumas talvez trazendo conseqüências indesejadas. A principal delas, naturalmente, é a de que o Brasil começou em 1500, quando nem mesmo no nome isso aconteceu, posto que éramos uma ilha quando os portugueses primeiro viram as terras daqui e, durante muito tempo, o Brasil que duvidosamente existia não tinha nada a ver com o Brasil de hoje.

A impressão que se tem é que, do povo às autoridades e mesmo aos entendidos, acha-se que o Brasil já estava no mapa, com as fronteiras e características atuais, no momento em que Cabral chegou. Teria tido até um nome nativo, já proposto, pelos mais exaltados, para substituir "Brasil": Pindorama, designação supostamente dada pelos índios ao nosso país. Não sou historiador, mas também não sou tão burro assim para acreditar que os índios tinham qualquer noção geopolítica, ou alguma idéia de que pertenciam a um "país" chamado Pindorama. Não havia qualquer país, é claro, nem sequer a palavra Pindorama devia fazer sentido para os ocupantes que os portugueses encontraram aqui, se é que ela era usada mesmo. No máximo, significaria o único mundo conhecido deles. Parece assim que os nossos índios administravam impérios e cidades como os dos maias, astecas ou incas, quando na verdade, que perdura até hoje, viviam neoliticamente e a maioria esgotava o numerais em três - era o máximo que conseguiam contar e o resto se designava como "muito".

Como corolário disso, vem a tese de que fomos invadidos. Com perdão da formulação pouco ortodoxa da pergunta, quem fomos invadidos? Todos nós, salvante os mais ou menos 400 mil índios que sobraram por aí, somos descendentes dos invasores, inclusive os negros, que não vieram por livre e espontânea vontade, mas também não viviam aqui na época de Cabral e hoje constituem parte indissolúvel de nossa, digamos assim, identidade. Imagino que haja quem pense que, diante de uma delegação portuguesa, algum diplomata ou general índio tenha argumentado que se tratava da ocupação ilegal de um Estado soberano do Oiapoque ao Chuí e que aquilo não estava certo, cabendo talvez a intervenção das Nações Unidas.

Se a História tivesse tomado rumos um pouquinho diferentes, nossa área hoje podia estar subdividida em vários países diferentes, uns falando português, outros espanhol, outros holandês, outros francês. Do Tratado de Tordesilhas às capitanias hereditárias, aos movimentos separatistas e à ação do barão do Rio Branco, muita coisa se passou para que nos tenhamos tornado o Brasil que somos hoje. Ninguém chegou aqui e descobriu o Brasil já pronto e acabado (se é que podemos falar assim mesmo agora), isto é uma perfeita maluquice. O Brasil, é mais do que óbvio, se construiu lentamente e às vezes aos trancos e barrancos.

Compreende-se que nativos de países como o Peru, o México e outros, notadamente na América Central, se sintam invadidos. Até hoje são numerosos e discriminados, muitos nem falam espanhol e, quando aportaram os conquistadores, tinham cidades maiores do que as européias. Mas nós? Quem, com a notável exceção do amigo pataxó e da jovem senhora xavante que ora me lêem, foi aqui invadido? Vamos supor, já jogando no terreno da absoluta impossibilidade, que o chamado mundo civilizado ignorasse a existência destas terras até hoje. Teríamos aqui, não o Brasil, mas uns 4 milhões de nativos de beiço furado e pintados de urucu e jenipapo (nada contra, até porque furamos as orelhas, nos tatuamos e usamos batom, é uma questão de estilo), que não falavam as línguas uns dos outros, matavam-se entre si com alguma regularidade e cuja tecnologia não era propriamente da era informática. Brasil mesmo, nenhum.

Mas está ficando politicamente correto, suspeito eu que por motivos incorretíssimos, abraçar a tese da invasão do Brasil. "Nós fomos invadidos, fomos invadidos!", grita em português brasileiro, a única língua que sabe, um manifestante mulato, em Porto Seguro. Será possível que não se perceba a vastidão dessa sandice? Daqui a pouco - e aí é que mora o perigo - entra na moda de vez e os resquícios das nações indígenas que ainda subsistem deverão aspirar à soberania sobre os territórios que ocupam. Como na Europa Oriental, cada etnia quererá ter seu Estado e sua autonomia, com bandeira, hino, moeda (dólar, para facilitar) e passaporte. Que beleza, forma-se-á por exemplo, depois de um plebiscito entre os índios, o Estado Ianomâmi, completamente independente e ocupando área bem maior do que muitos outros países do mundo juntos, reconhecido pelas organizações internacionais e protegido pelo grande paladino da liberdade dos povos, os Estados Unidos, que mandariam missionários e ajuda econômica e tecnológica e, dessa forma, investiriam desinteressadamente numa área tão pobre em recursos econômicos e que tão pouca cobiça desperta, como a Amazônia. E, se protestássemos, a Otan bombardearia o Viaduto do Chá, a ponte Rio-Niterói e o Elevador Lacerda, como advertência.

Cometeram-se e cometem-se crimes inomináveis contra os índios, que devem ter seus direitos assegurados. Também se cometeram e cometem crimes contra grande parte dos brasileiros não-índios, outra vergonha que precisa ser abolida. Mas isso não tem nada a ver com a tal invasão, assim como a outra série de besteiras intensamente veiculada, segundo a qual, se não houvéssemos sido colonizados pelos portugueses, estaríamos em melhor situação, assim como estão em melhor situação a antiga Guiana Inglesa, o Suriname, a Indonésia, a Nigéria, a Somália, o Sudão e um rosário interminável de ex-colônias européias, quando na verdade se trata de um caso claro de o buraco achar-se bem mais embaixo. Como é que se diz "babaquice" em tupi-guarani?

Sunday, July 27, 2008

O silêncio é de oiro ?

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Muito se tem escrito, e dito, sobre o silêncio de Manuela Ferreira Leite. Quase todos dizem que esta omissão de MFL lhe pode ser eleitoralmente fatal.
Ontem Vasco Pulido Valente, no Público, argumentava ao arrepio desta tese que o governo monopoliza os holofotes desde que deixou de partilhar o palco com Menezes e os seus "sound bytes". O que está longe de ser confortável.
Como que a confirmar VPV o governo faz esforços inauditos para arrancar uma "opiniãozinha" ao PSD, correndo o risco de parecer necessitado de inspiração ou conselho.
Uma coisa parece clara, MFL conseguiu garantir a atenção de todos para quando tiver algo a dizer, um resultado que normalmente só se obtém depois de muitas opiniões rigorosas e úteis.
Se ainda vigoram os ditos populares como "quem muito fala pouco acerta" e "os bons produtos não precisam de publicidade" então talvez se confirme que "o silêncio é de oiro". Espero que não.

Saturday, July 26, 2008

Cientista portuguesa premiada

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Elvira Fortunato

O Expresso noticia que Elvira Fortunato foi contemplada com o primeiro prémio na área da Engenharia do European Research Council (ERC), organização que pela primeira vez atribui em 2008 aqueles que são considerados uma espécie de Prémios Nobel europeus.

A equipa do Centro de Investigação de Materiais (Cenimat), da UNL, dirigida por Elvira, tinha produzido pela primeira vez no mundo transístores com uma camada de papel como material isolante, em vez do tradicional silício. Esta inovação pode ter repercussões enormes, incalculáveis, já que permite incluir dispositivos "inteligentes", e portanto automatização, em meios de baixo custo virtualmente descartáveis.

Num país que clama pela produção de "bens transaccionáveis", para inverter o acentuado processo de endividamento nacional, gostaria de saber quem é que está a pensar na potenciação deste produto da inteligência nacional. Será que vai enriquecer os mesmos de sempre ? uns pensam e criam e outros financiam e ganham ?

Espero que não.

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Thursday, July 24, 2008

O concerto


Passeio Marítimo de Algés, 19-07-2008, 21 horas. Alinhamento aproximado:

Dance Me To The End Of Love
The Future
Ain't No Cure For Love
Bird On The Wire
Everybody Knows
In My Secret Life
Who By Fire
Anthem

Intervalo

Tower Of Song
Suzanne
Gypsy Wife
Boogie Street
Hallelujah
Democracy
I'm Your Man
A Thousand Kisses Deep (recital)
Take This Waltz
Heart With No Companion
So Long, Marianne
First We Take Manhattan
That Don't Make It Junk
Closing Time
I Tried to Leave You

Closing time

Quase a encerrar um belo concerto. Tal como com Chico Buarque, eu não poderia deixar de gostar, mas de qualquer maneira foi uma grande noite. Só foi pena faltarem Chelsea Hotel e Famous Blue Raincoat. Haverá uma próxima vez?

I'm your man

A canção com que eu mais vibrei. Apeteceu-me cantá-la (e devo ter cantado algumas partes). Belíssima e, como refere João Bonifácio - numa crónica em que em alguns aspectos não concordo -, de um sarcasmo extraordinário.

Hallelujah

Uma bela canção e isso tudo, eu sei, mas no meio de tanta religião e misticismo deixxem-me cometer uma heresia: prefiro o Rufus Wainwright a cantá-la! Mas gostei de a ouvir pelo Cohen ao vivo.

Tower of song

Gosto desta canção em que Cohen se refere a Hank Williams (uma figura conhecida, mas que eu confesso que não sei quem é). Tal familiaridade a referir-se a um estranho para mim soa-me aos meus amigos Cosmo Kramer (a referir-se a Bob Sacramento) ou Artista Bastos (e os seus "grandes antifascistas").
Enfim. Aplausos quando Cohen entoa "I was born with the gift of a golden voice". No fim conclui que o maior segredo místico se encontra em "doo-da-da-da" que o coro feminino entoava. O internamento num mosteiro budista deu nisto.

Bush e o "capitalismo de casino"














George Bush aderiu também, à sua maneira, à teoria do "capitalismo de casino" para desespero de muitos dos nossos comentadores, com destaque para Mário Soares, que tanto a têm glosado e que dispensavam tal companhia. Veja aqui as definições magistrais de Bush divulgadas hoje no Público, com legendas e tudo.

Também hoje no editorial do Público se faz um pungente apelo à "regulação dos mercados" para impedirmos o capitalismo de se autodestruir como qualquer adolescente desorientado.



Acho um bocado inconveniente esta mania de salvar o capitalismo dele próprio com que alguns preenchem os seus espíritos. Também não compreendo por que consideram estranho o facto de o estado americano deitar a "mão ao menino" à custa do dinheiro dos contribuintes. Não é esse o papel do estado ? cobrar impostos aos que não sabem ou não podem fugir para manter o "sistema a funcionar" ? Business as usual, portanto, só que neste caso a manobra dá mais nas vistas.

Já Zizek chamou a nossa atenção para a actual troca de papéis, à revelia de Marx que entendia o estado como instrumento da classse dominante, em que a esquerda quer um estado forte que a defenda das investidas do capital enquanto a direita grita e se diz reprimida por esse mesmo estado.

Em qualquer dos casos estamos, diz Zizek, perante a despolitização da economia, ou seja, da continuação inquestionada do sistema económico capitalista.

Wednesday, July 23, 2008

The Future

Leonard começou com Dance Me To The End Of Love. Seguiu-se esta The Future, mas a letra da versão original (“Give me crack, anal sex…”) foi substituída por “Give me unprotected sex…”. Acho que o Leonard anda a ler o Womenage à trois
A parte final da música, “Destroy another fetus now, We don’t like children anyhow” é que não foi substituída. Foi curioso olhar para as reacções do público nesta altura. A maior parte das pessoas, que vinha entusiasmada com o resto da letra, estava algo embaraçada, mas houve uma rapariga que sorriu com um ar de desforra. Sobre este assunto é que o Leonard Cohen deveria ler o Womenage à trois

Concertos de uma vida

Há muitos anos que esperava por assistir a um concerto do Leonard Cohen, tal como esperei pelo do Chico Buarque (em Novembro de 2006). Tal como do Chico, só havia visto um concerto dedicado ao Leonard Cohen, em Nova Iorque (e excelente, em Junho de 2003, no Prospect Park, adaptada a filme: “I’m Your Man”. Com a família Wainwright e, ironicamente, Lou Reed!). E exactamente como no do Chico, receio que tenha sido a última oportunidade de ver o Leonard ao vivo. Por isto o concerto (9000 pessoas na assistência no Passeio Marítimo de Algés) merece um destaque especial.

Marx Soares

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"Não vale a pena criticar Bush. Tornou-se um lugar-comum. Mas vale a pena insistir: o neoliberalismo, como ideologia e modelo da chamada "democracia liberal", esgotou-se. Está a conduzir o Ocidente - e talvez o mundo - a uma crise do capitalismo pior do que a de 1929.Vale a pena, porque muitos políticos, intelectuais e economistas, embora reconheçam a crise, que aí está a instalar-se, ainda pensam poder resolvê-la sem abandonar o modelo neoliberal, que afirma o primado do mercado sobre tudo o resto. O que representa uma contradição insanável. Porque foi este modelo economicista, anti-social e anti-ambiental, que nos conduziu aonde estamos.O Courrier Internacional, no número que chegou a Lisboa sábado passado, anuncia em grandes letras na primeira página: "O regresso de Marx." E, em subtítulo, escreve: "Como o século XXI repõe na actualidade o pensador do capitalismo." Com efeito, 2008 celebra o 190.º aniversário de Karl Marx e os 160 anos da publicação do Manifesto Comunista.Depois do colapso do comunismo, em 1989-91, parecia que o mercado seria o centro do mundo e a sua bússola. Chegou a confundir-se mercado e democracia. Contudo, o capitalismo financeiro, especulativo e dito de casino, do séc. XXI, e o descalabro a que está a conduzir o Ocidente - e as desigualdades e exclusões sociais que provoca - suscitam uma nova reflexão sobre a obra de Marx, a que, aliás, o politicólogo francês Jacques Attali procedeu há três anos num livro intitulado Karl Marx ou l'esprit du Monde, 2005, e a que os alteromundialistas, à falta de melhor, hoje se agarram...Seja, porém, como for - e o futuro próximo o dirá - à "democracia liberal" terá de suceder a democracia social e ambiental, com uma grande preocupação distributiva e socialmente inclusiva. Se quisermos evitar revoltas graves e violentas, senão revoluções... Um caminho que passa pelo regresso em força aos valores éticos, ao respeito pelos Direitos Humanos, pela Lei, pelo Direito Internacional, pelo diálogo multicultural e inter-religioso, pelo respeito pelo outro e pelo direito à diferença, pela solidariedade e, sobretudo, pela paz.Porque não é o mercado - não obstante a sua importância para assegurar a liberdade individual - nem, muito menos, a economia que conduzem o mundo. São as ideias. " DN, 22.07.2008

Para Soares não são os mercados, nem a economia, que conduzem o mundo mas sim uma ideia qualquer que lhe passa pela cabeça, uma veia teórica "especulativa e dita de casino".

Marx detestaria certamente Mário Soares quando lhe ouvisse uma frase como "à democracia liberal terá de suceder a democracia social e ambiental, com uma grande preocupação distributiva e socialmente inclusiva"; é difícil escrever algo mais distante do rigor de Marx mas apesar disso, a despropósito, Soares usa na sua dissertação o nome desse grande pensador que até já nem pode protestar.

Uma esquerda que ainda não saiba, 160 anos depois, qual o Marx que deve aplicar ao mundo de hoje e que precise da "orientação" de um teórico da craveira de Soares estará realmente a bater no fundo.

Tuesday, July 22, 2008

Está uma osga na minha sala, atrás da estante das enciclopédias...

... tem estado ali desde as quatro da manhã, e não mostra qualquer vontade em sair. O facto de eu ter decidido não dormir não está directamente relacionado com a presença da osga atrás da estante das enciclopédias. Creio que, dada a situação, a minha tranquilidade tem sido notável. O blogue da LER anuncia "com prazer" a contratação de Rodrigo Casanova (um astuto anagrama de «consagrar o vadio»). Não sei quem é o Rodrigo Casanova (um astuto anagrama de «socorro da vagina»), mas posso garantir que a minha mãe anda cada vez mais confusa com isto tudo. Tenho aqui dois exemplares cilindrados do Dica da Semana para o que der e vier. Nunca temi este tipo de confrontos. Há um «convida a osga» algures dentro das letras de Rodrigo Casanova, parece-me. Ia buscar um lápis para confirmar, se o lápis não estivesse tão perto da estante das enciclopédias. Não tenho só ficado aqui quietinho desde as quatro da manhã, a olhar para a estante das enciclopédias, que isto fique bem claro. Logisticamente impossibilitado de ir pesquisar osgas a uma enciclopédia, fui pequisar osgas ao google. O primeiro conselho que li foi "Join the Osga!". Muito menos surpreendente foi o facto de haver osgas no YouTube. O vídeo é comoventemente intitulado "Osga na casa-de-banho":

Até sempre, grande artista...


...e obrigado por tudo, principalmente aquele título de 2002. Há muito te perdoámos os 3-6...

O ridículo como forma de pobreza

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"Aos emails da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) chegam todas as semanas dezenas de pedidos de ajuda alimentar. Pessoas que evitam revelar o menos possível sobre si próprios e pedem ajuda para atravessar o período difícil que se vive e matar a fome.
Quem o diz é Manuel de Lemos, presidente da UMP, que alerta para este novo padrão de pobreza que foge ao típico retrato dos pobres conhecido em Portugal. "São pessoas com um perfil diferente, que não vivem na miséria, mas estão à beira de entrar na pobreza", explicou ao DN, acrescentando que este é um fenómeno que se veio a sentir desde o início do ano, quando se intensificaram os problemas económicos.
"Não estamos a falar de idosos, dos típicos desempregados, mas de pessoas com menos de 40 ou 45 anos que se calhar não deixam de pagar a netcabo nem desmarcam as férias na agência de viagens (!!) mas passam fome", conta Manuel de Lemos, que diz que ao seu próprio email já chegaram dezenas de pedidos de ajuda."
(DN, 20.07.2008)

No mesmo dia, no Público, Francisca Gorjão Henriques falava da dureza da vida dos "trabalhadores deslocados" na China, em artigo intitulado "São eles que pagam o milagre económico da China":

"Por todo o país, estima-se que entre 150 e 200 milhões tenham deixado as suas casas para procurar trabalho onde há mais oferta: as províncias orientais e costeiras. Há um ano, um relatório da Amnistia Internacional salientava que são eles quem "paga os custos do milagre económico do país", explorados pelos patrões e discriminados pela população urbana. "Os que conseguem completar o laborioso processo de hukou enfrentam discriminação para comprar casa, na educação, saúde e emprego"; os outros "são deixados sem qualquer estatuto legal, tornando-se mais vulneráveis à exploração pela polícia, senhorios, residentes locais e empregadores", dizia o relatório".

Só é pena que estes esforçados chineses não tenham forma de enviar um email ao senhor Manuel de Lemos da União das Misericórdias Portuguesas. Estou certo de que resolveriam todos os seus problemas.

Monday, July 21, 2008

Dinossauros? Quais dinossauros?

"Os dinossauros passaram por aqui" é a manchete do suplemento P2 do Público de hoje. Julguei que se estivesse a referir ao Leonard Cohen ou ao Lou Reed (que tocaram este fim de semana em Lisboa). Mas não: era mesmo a dinossauros.

Pequeno resumo do concerto do Leonard Cohen amanhã ou depois.

Novas formas de CarJacking

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O incidente ocorrido recentemente com o primeiro ministro está na memória de todos. Não foi demonstrada qualquer ligação entre o assaltante e o BE ou mesmo Manuel Alegre.

Parece tratar-se de um caso de socialismo espontâneo.

Sócrates arrancou em marcha atrás e, dessa forma, evitou a tragédia.

Na sequência deste e de outros casos Rui Pereira, o ministro da Administração Interna, apresentou hoje as novas equipas de combate ao “carjacking” da GNR e PSP.

Zizek em discurso directo

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"É preciso repolitizar. Se não repolitizarmos a economia aproximamo-nos da catástrofe. Toda a gente hoje ri de Fukuyama, do seu «fim da História», mas penso que agora até a esquerda é basicamente fukuyamista. Ninguém pergunta se há uma alternativa à democracia parlamentar, uma alternativa ao capitalismo. Quando eu era jovem sonhávamos com um socialismo de rosto humano; hoje sonhamos com um capitalismo de rosto humano, com um pouco mais de direitos humanos, de direitos dos homossexuais, de direitos das mulheres... A verdadeira pergunta séria, para mim, é esta: é isto suficiente, ou já estamos a ser confrontados com novos conflitos que não podem ser resolvidos neste quadro democrático-parlamentar do capitalismo? É por achar que sim que permaneço de certo modo um marxista. "
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"O meu marxismo não se coloca fora deste pessimismo. Não sou um louco à espera de revoluções. Tudo o que sei, juntando todos os sinais, é que nos estamos a aproximar de um ponto que me leva a ser um pouco apocalíptico. Não estou a anunciar o fim do mundo para amanhã. Veja-se como ainda há pouco havia uma sobreprodução de alimentos e já nos estamos a aproximar de novas formas de fome. Não será possível resolver todos estes problemas no quadro da democracia capitalista, mas não estou obviamente a dizer que é preciso regressar ao comunismo estalinista, não sou louco. A noção de proletariado, se a entendermos num sentido mais filosófico, enquanto subjectividade privada das suas condições substanciais, é novamente actual. Esta noção mais abstracta de proletário já não encarna num específico agente colectivo, já não é a classe dos trabalhadores. A bela metáfora do novo proletário seria o filme Matrix, cujas personagens vivem a situação de manipulação total. É também mais do que nunca actual a noção marxista de fetichismo da mercadoria. Marx é de uma enorme inteligência quando mostra que o fetichismo não significa «estás a fazer uma coisa, mas pensas que estás a fazer outra coisa». O paradoxo do fetichismo da mercadoria é que a ilusão da realidade está no que fazes, não no que pensas. A ideologia funciona, cada vez mais, não no que pensas, mas no que fazes. No meu último livro, conto uma anedota sobre o físico Niels Bohr, premiado com o Nobel. Um amigo que o visitou perguntou-lhe: «Porque é que puseste à entrada da casa uma ferradura? És supersticioso?» Ao que ele respondeu: «Não, não acredito. Mas disseram-me que funciona mesmo se não acreditamos.» Não acreditamos na democracia, mas agimos como se funcionasse. Esta é a maneira como a ideologia funciona hoje, e isto é algo que temos de aprender em Marx. "
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"A proletarização do trabalho intelectual é também a tese de Negri. Até certo ponto, podemos dizer que já não temos a classe trabalhadora, porque a classe trabalhadora europeia está na China, na Indonésia, etc. O que caracteriza uma grande companhia capitalista? Tudo está sujeito ao processo de «outsourcing». Tu produzes sapatos: tens dinheiro do banco; contratas uma fábrica em Jacarta, contratas gerentes e uma empresa de publicidade. Em suma: uma companhia capitalista, hoje, não é senão uma marca, um logo. E as consequências disto é que mesmo os gerentes podem por vezes parecer proletários. O que acho triste é que na verdade não temos uma boa teoria do que se está a passar realmente. "


Slavoj Zizek, em "Discurso directo" no Expresso de 19.07.2008

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Saturday, July 19, 2008

No fundo, o pai só o levou a ver o gelo porque era um tipo muito atencioso

Fanatismo na rede

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Estamos a assistir, cada vez com maior frequência, à irrupção de episódios de fanatismo na blogoesfera, um espaço que à partida parecia ser o paraíso do debate.
São cada vez em maior número, ou pelo menos parece, os que se julgam detentores de uma verdade qualquer, urgente e inquestionável. A partir dessa ideia, que se lhes meteu na cabeça sabe-se lá como, sentem-se no direito de agredir quem quer que tenha o atrevimento de uma dúvida.
Não se trata de discordar ou rebater uma opinião contrária mas sim de rebaixar o interlocutor, atribuindo-lhe intenções sinistras e maldade objectiva. Segue-se o insulto, o anátema e o ostracismo.
Vem isto a propósito da minha experiência mais recente no blogue Água Lisa. Levantei dúvidas sobre um post crítico da China, que considero inverosímil, e fui surpreendido pela violência da reacção do autor do blogue (ver aqui). Os meus comentários posteriores, tentativas de esclarecimento, foram liminarmente obliterados pelo João Tunes.
Também recentemente, no "hoje há conquilhas...", fui citado e criticado pelo Tomás Vasques (ver aqui) sem possibilidade de me defender pois o dito blogue não aceita comentários.

Quer num caso quer no outro estamos perante assumidos defensores da liberdade e dos direitos cívicos, pelo menos é o que eles apregoam.
Os seus comportamentos dão-nos uma ideia mais exacta do tipo de democracia que defendem.

P.S. (escrito em 20.07) - João Tunes faz hoje no seu blogue uma nova referência ao "racismo chinês" com o intuito de branquear o seu comportamento descrito mais acima. O novo post intitula-se "JOGOS E PROBLEMAS" e é ilustrado com uma imagem assustadora de repressão que qualquer pessoa julgará corresponder a uma violência ocorrida na China. A verdade, que só é revelada nas últimas linhas do longo post, é que a imagem foi feita em França numa acção da "Amnistia Internacional". É nestas pequenas coisas, na falta de rigor quanto às mensagens difundidas mesmo que a favor de uma boa causa, que se revela a isenção de quem opina.

P.S. (escrito em 21.07) - Acabo de constatar que a fotografia mencionada no P.S. anterior foi entretanto correctamente legendada, o que saúdo.

The little jew who wrote the bible

Alguém me empresta um keffieh (um lenço palestiniano) para usar logo no concerto deste gajo?

Friday, July 18, 2008

Da conversa de Lula com o "doutor Mário"

... (quarta à noite, na RTP1), ficam principalmente estas frases, que cito de memória: "agora, que exerço o poder, não tenho o direito de sonhar mais. O mandato é de quatro anos, e eu tenho que fazer o melhor possível." Só mesmo um homem muito sábio como Lula para arrumar numa frase a "imaginação ao poder" e os soixante-huitards (que mais depressa votam nos tucanos que nele).
Também ficou muito bem a Mário Soares citar Fidel Castro, no fim da entrevista: os homens de esquerda no poder têm que ser "cavaleiros da esperança".

Thursday, July 17, 2008

Re: Debate sobre a Regionalização - a questão do Porto

Caro Pedro,
respondendo sinteticamente (e em estéreo):
1 - Muito obrigado pelos teus esclarecimentos. Desconhecia o facto de o centro histórico de Gaia já ter pertencido ao Porto, bem como o porto de Leixões. Eu sou favorável a municípios fortes, pelo que nada tenho a opor a essa putativa união (nem teria que me opor ou deixar de opor). Só referi essa questão porque achei graça à forma como ela foi posta no tal debate a que assistimos, na intervenção do público: houve quem falasse em o Porto "anexar" ou "absorver" Gaia. Achei graça à leviandade com que se falava em absorver, como se os gaienses, que presentemente até são mais que os portuenses (daí a minha sugestão de Gaia absorver o Porto), não fossem para ali chamados! Mas é preciso dizer que também houve quem falasse em "unir" Porto, Gaia e Matosinhos (sem falar em "absorver").
2 e 3 - Essas são as questões mais interessantes. Haveremos de as continuar a debater. Mas mantenho a impressão de que ninguém anseia mais a regionalização do que o Porto, e na verdade muitos supostos regionalistas no Porto ambicionam mais do que a regionalização. Não é "Lisboa" ter medo do Porto: é o resto do país ter medo do separatismo. Basta considerar o discurso dos regionalistas mais inflamados - o que não falta são candidatos a Umberto Bossi.
4 - Sobre o estafado argumento "constitucional", tu não o usas, e nem ninguém do Blasfémias (ninguém do Blasfémias defende a nossa constituição). Mas olha que há muita gente, principalmente à esquerda, que o usa. Suspeito mesmo que alguns elementos do Norteamos o apoiam. Já experimentaste perguntar-lhes?

Também foi um prazer conhecer-te pessoalmente, e até à próxima. Até lá haveremos de continuar a debater.

Juntar o útil ao agradável

Salvador

Portugal vai ter um plano para recuperar o património histórico português espalhado pelo mundo. A resolução, aprovada ontem em Conselho de Ministros, pretende ser simbólica e assinala o facto de ser o País que tem, fora das suas fronteiras, o maior número de património edificado classificado pela UNESCO. São 21 monumentos espalhados pelo mundo contra os 13 existentes no território nacional. (DN, 17.07.2008)

Aqui está, finalmente, uma notícia moralizante.
Ao fim de vários séculos a espalhar boa arquitectura pelo mundo não seria altura de começarmos a exportar os "patos bravos" que construiram a "cintura de Lisboa" ?


Mazagão

Slightly improved

Espero que, durante a minha ausência, as pessoas tenham tido o bom senso de fazer imensos links para este post de 20 de Junho no b-site:

«I don't like Robben. He is just a slightly improved Folha.
Folha? Who's Folha?
A portuguese player, he was a left winger and almost never right.
«Folha» sounds weird.
It means «sheet».
Oh, I see your point: Robben is shit.
Yeah, just slightly improved.
»

O silêncio dos blogoesféricos





(texto de Rosa Redondo enviado para publicação pela autora)

O filme "Tropa de Elite" de José Padilha é um murro no estômago. Como era de esperar já disseram sobre ele os lugares comuns do costume e já lhe colaram os rótulos habituais. Curiosamente, em Portugal, em especial na blogoesfera, tem-se falado pouco sobre ele; talvez porque temos receio de ser confrontados com alguns cantos mais “obscuros” do nosso íntimo e de ter de pôr em causa alguns dos princípios “bonitos” em que nos apraz fundamentarmo-nos.

Uma excepção é a inteligente crítica que Jorge Leitão Ramos publicou no Expresso de 12 de Julho (“Tiro e Queda”) e que perfilho quase sem reticências.

Acrescentarei só que uma das coisas que o filme nos mostra é que o “sistema” cujos indícios vemos na corrupção “hard” da policia, na corrupção “soft” das ONG, no poder brutal dos bandos da droga, não pode ser desmantelado de dentro, porque se auto-regenera. E o conceito de “de dentro” é muito amplo; inclui o modelo produtivo, social e governativo, o corpo legislativo e judicial, a organização policial...

Há uma frase do capitão Nascimento que não pára de me ressoar na cabeça: “Só rico com consciência social é que não sabe que guerra é guerra.”

Outra grande questão “quente” é a da legalização da venda e consumo de droga. É preciso ter a coragem de a abordar sem moralismos. É já um lugar comum, mas nem por isso é menos verdade, que a “Lei Seca” foi a fortuna dos gangsters.

A ver. Absolutamente.

Rosa Redondo, 17.07.2008

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Wednesday, July 16, 2008

Tudo vira bosta



Quinze dias depois, finalmente tenho um pouco de tempo para escrever sobre o concerto da Rita Lee.
Rita Lee é a recordista na interpretação de canções de abertura de telenovelas da Globo. Até há uns dois ou três anos eu não gostava da Rita Lee. Achava-a uma cantora de abertura de telenovelas (e isto nem é assim tão mau – eu gosto de uma boa telenovela brasileira). Achava-a uma cantora vulgar.
Até que calhou ouvir o álbum Acústico MTV (editado em 1998), onde os seus maiores sucessos são revisitados com arranjos excelentes. O melhor é mesmo o dueto com Milton Nascimento (que mostrei aqui), mas todo o resto do álbum é muito bom. Associado a esta descoberta tardia, veio o álbum que continha músicas deliciosas como Amor e Sexo (de Arnaldo Jabor) e, sobretudo, Tudo Vira Bosta (um hino para a esquerda que chega ao poder). A Rita Lee era acima de tudo uma entertainer que cantava umas coisas giras, que se bem musicadas dariam um óptimo resultado, mas acima de tudo era uma cantora para não se levar demasiado a sério. Por isso mesmo só era bem apreciada por quem tinha mais de trinta anos (a idade com que eu comecei a gostar da Rita Lee). Era como o vinho do Porto. Pensava eu.
No concerto, a minha opinião infelizmente mudou. Vi uma grande falta de improvisação e espontaneidade (que era o que eu mais esperava). Vi uma cantora certinha, sem rasgo e que, embora comunicasse com o público, não tinha grande graça. Que saudades da Rita Lee da Saia Justa – e eu que esperava que ela viesse fazer tricô para o palco! Ouvi as suas aventuras com as vendedoras de calças – a Rita Lee vem a Lisboa visitar os centros comerciais… Tudo parecia já visto por mim, nalgum programa de televisão. Tudo parecia igualzinho a um show da Globo. Tudo muito vulgar.
Recordo agora e compreendo melhor a minha opinião sobre a Rita Lee antes dos 30 anos. Foi essa Rita Lee que eu vi no Coliseu. Não deixarei de forma nenhuma de a ouvir, mas dificilmente ela me apanha noutro concerto.

bloguelivro

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Concretizei, finalmente, uma ideia antiga. Publiquei o livro "Do Capitalismo para o Digitalismo" sob a forma de blog ( http://digital-ismo.blogspot.com/ ). Eu sei que ainda faltam uns pormenores - imagens e um dos anexos - mas agradeço que me alertem para erros ou gralhas no caso de as encontrarem.

Espero que desta forma se reduza a perplexidade causada por algumas das minhas intervenções avulsas.

Tuesday, July 15, 2008

No rescaldo do Porto

O reaccionarismo latente que denunciei há quatro anos não só se mantém como está ainda mais requintado: se fizerem uma pesquisa de uma morada nos mapas do SAPO, verão que não obterão resposta nenhuma se não incluírem o "de" no nome da rua!
Mas não dêem demasiada importância a isto. Esta cidade é linda e é sempre um prazer cá voltar. Até à próxima!

OOPS !!!

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A nova revista on-line OPS!, que sinceramente saúdo, foi ontem lançada.
OPS pode valer por "Outro Partido Socialista" ou "Oferta Pública de Sonhos", o futuro o dirá.

"A razão de ser da esquerda e do socialismo democrático foi sempre a de não se conformar e de procurar soluções alternativas."

Confesso que sou muito céptico quando surge uma iniciativa a dizer que é preciso ter novas ideias. Penso sempre que talvez se devesse ter pensado mais um pouco antes de a iniciativa nascer por forma a que surgisse já com algumas ideias novas.

A história das ideias mostra que ideias verdadeiramente inovadoras raramente foram bem recebidas. Costumam ser embrulhadas em silêncio para eventualmente ressuscitar um pouco mais tarde. Espero que não seja este o caso e que a OPS! não se feche no seu próprio umbigo.

Visitei o site da OPS! e resolvi fazer uma análise da ocorrência de certos termos no seu conteúdo. Aqui vão, sem comentários, os resultados por ordem decrescente do número de páginas em que o termo é mencionado: esquerda (30), debate (28), novo (27), governo (10), direitos (9), trabalhadores (8), estado (8), soluções (7), defesa (7), classe (6), futuro (6), tecnológico/a (6), protecção (5), socialismo (4), alternativa (2), revolução (1).

Quando se olha para a lista de Editores e Colaboradores da OPS! constata-se a larga maioria de académicos e funcionários do estado. Nesse aspecto está em linha com o que tem sido o "universo político" num país onde até o dirigente máximo da maior central sindical sentiu necessidade de se "legitimar"na universidade.

Este predomínio dos professores e outros funcionários no debate público, com notória ausência dos trabalhadores das empresas privadas bem como dos gestores e empresários, pode reforçar a sensação difusa, sem dúvida presente na sociedade portuguesa, de que existe um fosso entre o mundo da produção e do trabalho, por um lado, e o mundo das ideologias e da política, por outro. Aqui entronca a velha discussão sobre quem realmente conhece o "país real".

Depeço-me cordialmente com desejos de sucesso.

Monday, July 14, 2008

Lisbon Comes Alive

Lisboa em destaque no The New York Times de ontem.

Mephisto



A imagem mais aterradora da semana apareceu sábado à noite, no fabuloso programa de Artur Albarran. Mostrava simplesmente uma mulher a escrever. Com um marcador de tinta fluorescente em cada mão, ela escrevia em simultâneo uma frase e o seu reflexo, num indefeso painel de vidro. «Não é difícil», explicou. «O mais complicado é decidir o que fazer com cada olho».
O neurocirurgião de serviço, Bandeira e Costa, debitou os subterfúgios da praxe. Falou de uma «invulgar disfunção cerebral» e de «ligações entre os dois hemisférios», sem nunca se atrever a enunciar a única verdade científica que o caso admite: a mulher é uma bruxa e deve ser lançada à fogueira o mais rapidamente possível.
Artur Albarran estava presente para providenciar o contexto histórico: «o espectador sabe que célebre figura tinha também esta capacidade?» Milhares de portugueses devem ter gritado o nome de Patrick Branwell Brontë. Alcoólico, desempregado crónico, e tristonho figurante na biografia das suas irmãs, Branwell tinha a transtornante habilidade de escrever duas cartas ao mesmo tempo (presumivelmente, uma para a Segurança Social e outra para a destilaria mais próxima). Albarran, contudo, tinha um ícone diferente no teleponto. «Isso mesmo: Leonardo Da Vinci!»
Pobre Leonardo; é retrospectivamente acusado de qualquer coisa de cinco em cinco minutos. Sabemos que, mais cedo ou mais tarde, qualquer observação mordaz será abtribuída a Oscar Wilde, qualquer insulto político a Winston Churchill e qualquer tecnologia moderna a Da Vinci, mas o seu currículo, até no que diz respeito a destreza manual e proezas atléticas, começa a estar ridiculamente inflacionado. Nunca li os famosos cadernos, mas pelo que pude aferir através de fontes secundárias, além de ter deixado esboços para o escafandro, a metralhadora, a bebida gaseificada, o leitor de mp3 e o metro de superfície do Porto, Leonardo terá sido também o primeiro ser humano a dançar o twist, a escalar o K2, e a preencher correctamente uma declaração de rendimentos. Nem a faculdade de escrever com as duas mãos ao mesmo tempo explica tamanha fecundidade.
Desconheço se Da Vinci também foi o precursor do autómato comunicativo que chegou aos nossos dias sob a designação de “Manuela Moura Guedes”. A primeira e mais natural reacção ao presenciar esta estonteante, ainda que rudimentar, manifestação de inteligência artificial é uma espécie de espanto religioso. Mas depressa o espanto dá lugar à desconfiança. Como aquelas populações boquiabertas que assistiram às triunfais exibições dos primeiros autómatos jogadores de xadrez, rapidamente nos perguntamos se não haverá um anão talentoso envolvido no processo. Na verdade, o últimos destes autómatos - o Mephisto - ao contrário dos seus ilustres predecessores (o Turco e o Ajeeb) era operado por controlo remoto, de uma sala diferente. Alguns dos melhores xadrezistas da época, como Isidor Gunsberg e Jean Taubenhaus, encarregaram-se de premir os botões certos. Não sei quem são os estagiários da TVI responsáveis pelo controlo remoto de “Manuela Moura Guedes”, mas creio que não estão minimamente à altura do legado de Gunsberg e Taubenhaus.
A entrevista ao futuro ex-treinador do Sport Lisboa e Benfica, no Jornal da Noite de sexta-feira, foi um exemplo invulgarmente confrangedor do que pode acontecer quando uma tecnologia a vapor colide com a era digital. O autómato esbracejou e balbuciou. Esperneou e suspirou. Microchips perdidos ziguezaguearam-lhe pelas córneas. O seu auricular berrava as instruções num volume tal que Quique Flores quase respondeu a duas perguntas antes de elas serem feitas. Mas o pobre andaluz foi um modelo de decoro. Começou por pedir desculpa aos telespectadores por não se exprimir fluentemente em português, algo que os operadores de “Manuela Moura Guedes” nunca tiveram a delicadeza de a pôr a fazer. A dada altura, o autómato tentou explicar a expressão “ferver em pouca água” com toda a eloquência de um curto-circuito. Quique ignorou-o com cavalheirismo e respondeu a perguntas que não chegaram a ser feitas. Só não confirmou se o Benfica 2008/09 vai jogar em 4-5-1 ou se, pelo contrário, vai ser a mais recente equipa nacional a aderir ao 4-4-2 em losango, táctica desenhada pela primeira vez em Florença no séc. XV, por uma das mãos de Leonardo Da Vinci.

Tratamento de choque para eurocentricos

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O Público, em dois dias consecutivos (12 e 13 de Julho), publicou dois textos muito importantes para nos fazer perceber a transformação do mundo e nos prepararmos para ela. Enquanto isso, no Parlamento Europeu, havia eurodeputados que se entretinham a dissertar sobre como boicotar a cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim.
Aqui ficam alguns parágrafos ilustrativos dos artigos de José Pacheco Pereira e de Francisca Gorjão Henriques:

Quem nos ouve fica com a impressão de que o mundo caiu num buraco monumental, de que não se consegue sair, e com o mundo todos nós atrás. E, no entanto, não é verdade. O mundo não está em "crise". Somo nós, países industrializados ocidentais, na Europa e nos EUA, que estamos em "crise", não é o mundo. Bem pelo contrário, o mundo está bem e recomenda-se.
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Na verdade, há uma gigantesca transferência de recursos entre os ricos do passado e os pobres do passado. Essa deslocação não se faz sem sobressaltos, sem que muito não fique pelo caminho e sem que muito vá parar a mãos pouco recomendáveis, mas nem por isso deixa de se estar a dar uma verdadeira revolução na qualidade de vida de milhões e milhões de pessoas, a começar pela China e pela Índia.
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A "crise" nos EUA e na Europa não é apenas económica - aliás, nada é apenas económico -, mas sim social, cultural, política, civilizacional e, só quando se vê neste conjunto, se percebe a sua importância e profundidade.
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Como todas as grandes mudanças, é turbulenta, há quem ganha e quem perca. Na actual "crise" estamos nós a perder, mas muito mais gente a ganhar e por isso convinha dobrar a língua quando falamos de crise. A nossa lamentação sobe aos céus, mas para muitos milhões de homens são palmas que se ouvem.

Pacheco Pereira, "A nossa "crise" e a (r)evolução deles", Público 12.07.2008


A classe média chinesa - entre 100 e 150 milhões de pessoas - é uma novidade com uma década, o tempo suficiente na China para várias mudanças que no Ocidente levaram 50 anos.
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Não é fácil integrar a expressão classe média no léxico de um regime que foi criado a partir do princípio da abolição de classes. Para não ferir sensibilidades políticas, tornou-se mais frequente empregar termos como "estrato de rendimento médio", "grupo de rendimento médio" ou apenas "estrato médio", escrevia o China Daily (jornal anglófono oficial) num artigo de 2004, onde era referido que o tema tinha saltado das notícia dos jornais para os documentos do Governo. E definia classe média como "um grupo de pessoas com rendimentos estáveis que podem comprar casas, carros e pagar os custos da educação e das férias".
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A pergunta que habitualmente se coloca a seguir é: o regime irá acompanhar a abertura com mudanças políticas? As respostas variam entre os dois extremos.
Por um lado, o regime passará a contar com uma larga camada da população que está feliz com a vida que leva e a quem, aparentemente, não falta nada. Por outro, também há quem defenda que esta nova geração de chineses, com mais estudos e mais habituados a obter o que desejam, leve a um aumento da pressão para que lhes sejam dadas outro tipo de escolhas, como por exemplo, a eleição dos seus líderes.
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Outras das interrogações: o planeta tolera as consequências deste aumento de produção? Annie Wang não dá hipótese. "Não venham dizer aos chineses que eles não podem andar de carro e que fiquem com as bicicletas. Eles têm que passar por isso." E é isso que explica que todos os dias se vendam mil carros em Pequim.
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Um dos fenómenos que tem contribuído para o aumento da classe média é a mobilidade dos camponeses para os centros urbanos. Nos próximos dez anos é previsível que haja 100 cidades na China com mais de três milhões de habitantes, e 700 milhões de pessoas com um razoável poder de compra (algo em que o Governo tem estado disposto a apostar para garantir que o crescimento da economia se mantém).

Francisca Gorjão Henriques, "A República Popular do Consumo", Público 13.07.2008

Sunday, July 13, 2008

Lisbon Comes Alive

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Finalmente uma boa notícia. O New York Times descobre o renascimento cultural de Lisboa em termos elogiosos. Lisboa resiste mesmo com uma CML exangue...

"The last of the Western European capitals to experience a cultural bloom, Lisbon is avidly making up for lost time." (ver mais aqui)

Saturday, July 12, 2008

Santa Betancourt

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“Um dia compreendi que tinha de me oferecer ao Sagrado Coração e fiz esta oração: ‘Meu Jesus, se me anunciares a data em que vou ser libertada no decorrer do mês de Junho, que é o teu mês, serei toda tua...’ E foi no dia 27 de Junho que um comandante nos mandou preparar os sacos... Nessa altura, pensei: ‘Jesus cumpriu, estou a viver um milagre’”, disse ao jornal ‘Pélerin’ (Peregrino).

Quem vê e ouve Ingrid Betancourt fica sem dúvidas: a heroína que a França tem estado a aclamar como se o país tivesse repentinamente sido tocado por um qualquer encantamento atravessa uma intensa fase mística. Ingrid transmite a sua fé com uma verdadeira sinceridade e, quando fala em Deus, comove-se até às lágrimas. “Ela transformou-se num ícone da fé, da liberdade e da espiritualidade”, resumiu um editorialista do ‘Pélerin’.

Expresso, 12.07.2008

Desde que foi libertada, a 2 de Julho, Ingrid Betancourt tem multiplicado as entrevistas, nas quais apenas se recusa a falar sobre eventuais abusos sexuais que tenha sofrido. Até de futebol já falou. A franco-colombiana disse à revista Paris Match que "adorou a cabeçada de Zidane a Materazzi", na final do Mundial da Alemanha, e que se tivesse estado no lugar dele "tinha feito a mesma coisa". No acampamento da guerrilha, referiu, "havia os pró-Ingrid, ou seja, os pró-franceses, e os apoiantes da Itália", pelo que o jogo "deu problemas".

Diário de Notícias, 12.07.2008

Operação "Buraco Negro"

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O Tribunal da Relação de Lisboa decidiu hoje que o segredo de justiça do processo “Operação Furacão” chegou ao fim, afirmando que “os arguidos devem ter acesso imediato aos autos” (Público, 11.07.2008).

Mais lhe valera ter rebaptizado o "Furacão" como "Buraco Negro" tal é a força de atracção com que ele parece querer arrastar as maiores empresas e as mais influentes personalidades para o seu âmago.
Tal como o seu gémeo no BCP, que Teixeira dos Santos dizia há dias cândidamente ter sido "ocultado" pelos seus beneficiários e portanto escapado à vigilância da CMVM, estes processos são a revelação de um sistema, do sistema em que vivemos.
Já não se discute, nem tal faria sentido, se os prevaricadores serão castigados. Quando se analisa a lista dos indiciados, o elenco dos advogados que os defendem e a panóplia de instituições que pelo menos pactuaram ou fecharam os olhos aos atropelos percebe-se que da montanha só pode sair um rato.
Se assim não fosse a condenação teria de abater-se sobre o próprio regime.

Friday, July 11, 2008

Tudo o que nunca deve perguntar a um português.

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Os portugueses surgem no segundo lugar entre os cidadãos dos 27 Estados-membros da União Europeia que afirmam ter “dificuldades em pagar as contas ao fim do mês”, com 71 por cento de respostas afirmativas, valor só ultrapassado pelos búlgaros e muito acima da média europeia, de 47 por cento.
De acordo com o relatório nacional divulgado hoje, e elaborado a partir dos dados do Eurobarómetro da Comissão Europeia relativo à Primavera, aquela percepção não é manifestada apenas pelos “sectores habitualmente mais vulneráveis da população”, mas também pela “classe média dos trabalhadores urbanos do sector dos serviços”.
Público, 11.07.2008

Alguém tem que explicar aos responsáveis pelo Eurobarómetro que aos portugueses não se pode fazer este tipo de perguntas. Em Portugal dizer que se tem "dificuldades em pagar as contas ao fim do mês" não é o mesmo que noutros países, é o tipo de coisas que não vale a pena perguntar pois qualquer cidadão que se preze terá pejo em afirmar o contrário. Mesmo que se chame Belmiro de Azevedo. Cheira a bravata, a gabarolice.
Sejamos sinceros, há alguém a quem não custe, que não tenha dificuldade em pagar as despesas ? Ver o nosso rico dinheirinho a abandonar-nos para sempre ? Eu gostava era de saber quem são os 29% que, ao abrigo do confortavel anonimato, tiveram o desplante de não declarar dificuldades...

Este tipo de perguntas leva o português médio, herdeiro de séculos de dissimulação, a tentar perceber o que mais pode agradar a quem lhe faz a pergunta e nem lhe passa pela cabeça revelar o que intimamente pensa.

É por isso que perguntas como "É o catolicismo uma das marcas identificadoras da portugalidade ?" e "Considera correctas as relações homossexuais ?" deram, recentemente, origem aos maiores equívocos e imerecidos protestos.

Portanto é melhor pensarmos duas vezes antes de desatar a tirar conclusões de estatísticas deste tipo.

Excerto de um extraordinário ensaio de Edmund Wilson sobre Ronald Firbank, sacado em ficheiro .txt do tal depósito online ilegal

«By this time ‚ƒ„cˆŠ‹ŒŽ\˜™š›œžŸ ¡¤\¦N©ª«ハ®¯}²³Lµ·¸¹º»¼½¾¿ÀÁÂÃÄÅÆÇÈÉÊËÌÍÎÏÔÑÓþÿÿÿþÿÿÿþÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿÿo»

A minha transição para a meia idade vai progredindo a bom ritmo

Uma passagem que não me lembro de ter sublinhado, num livro cujo título agora me escapa, sugeriu-me uma eventual ligação indirecta com um acontecimento dos últimos dias que agora não recordo. Conversei sobre isto com não sei quem, que me disse suspeitar que teria dado um bom post, desde que não me esquecesse de mencionar qualquer coisa que me esqueci de mencionar.

Do Porto

Desde anteontem encontro-me no Porto a participar em mais um Oporto Meeting on Geometry, Topology and Physics. Mas ontem à noite aproveitei para assistir a um debate sobre regionalização promovido pela Câmara Municipal do Porto e moderado por Rui Rio (ele mesmo). Ao contrário do que é costume em Lisboa, no Porto havia intervenção do público, no final. Intervim como agente provocador. Aqui estão as linhas mestras do meu comentário:
  • deixei bem claro que a descentralização era indispensável e não tinha nenhum problema em especial com a regionalização. O problema era mesmo o Porto;
  • falou-se no debate que o Porto deveria absorver Gaia (assim mesmo, abertamente), formando uma só cidade. A ideia não era má, mas algo incorrecta: o certo seria Gaia absorver o Porto (e acabar de vez com o Porto);
  • todo o país tem que se queixar do centralismo e das desigualdades regionais, mas só no Porto se fala de regionalização. O que motiva o Porto não é a descentralização mas a inveja de Lisboa e uma nova centralização, a norte (o centralismo tripeiro);
  • eu votaria contra a regionalização. Para votar a favor teria de se regionalizar todo o país excepto o Porto. A região norte seria à volta do Porto; o Porto seria um enclave nortenho da região de Lisboa;
  • a quem invoca a constituição para defender a regionalização, recordo que na altura em que isso foi escrito (1975) o socialismo também era um imperativo constitucional. E que tal se, antes de implantarmos a regionalização, implantássemos o socialismo?
No final do debate tive o prazer de conhecer o Luís Rocha do Blasfémias e o Pedro Menezes Simões do Norteamos, entre outros ilustres portuenses. Tudo boa gente. Faltou o Tiago Barbosa Ribeiro, para grande pena minha. Seguiu-se uma animada discussão até às tantas num bar ao pé da Praça... de Lisboa. Foi um serão bem passado; outros seguirão.

Thursday, July 10, 2008

O que é ser de esquerda ?


"Ser de esquerda, hoje, é recusar a normalização imposta pelas ideias únicas, "objectivas", que se apoiam na antinomia: modernização mundial, ou o caos." (José Gil, "Visão", 10 de Julho de 2008)
Acho que algo correu mal nesta frase de José Gil. Não há ideias únicas e a ideia dele, que encabeça o post, é disso uma prova.
Se há quem diga "modernização mundial ou o caos" também há, por exemplo, quem ache que qualquer "modernização" é o caos. E também há quem, como eu, considere a palavra modernização destituída de sentido. Amanhã seremos todos, quer queiramos quer não, um bocado mais modernos seja lá isso o que for.
Para ser de esquerda não me parece que baste recusar a normalização referida, ou outra qualquer. Por isso, neste ponto, vou citar-me a mim próprio:
"Ser de esquerda é acreditar, e procurar, uma sociedade muito mais justa e muito mais produtiva que não se baseie no trabalho assalariado e na empresa capitalista." (ver porquê)

O exemplo de Mrs. Naugatuck



Já pelo menos noutra ocasião recordei a excelente série Maude, originalmente transmitida nos anos 70 mas que, em Portugal, só chegou no final dos anos 80. A ultraliberal e feminista Maude (uma caricatura da esquerda americana da altura) tinha, como não podia deixar de ser, uma empregada. Uma das empregadas (a que durou mais tempo na série), a inglesa Mrs. Naugatuck, era interna. Não me esqueço do episódio em que decide ter a sua própria casa e diz à patroa (que está algo contrariada, habituada a tê-la 24 horas por dia em casa), quando esta a vai visitar: “Aqui tenho a liberdade de a pôr na rua se me apetecer!”. Qualquer pessoa tem direito a isso. Qualquer pessoa tem o direito a não ter um senhorio, pelo menos a partir de certa altura na sua vida.

cadê os outros ?

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A justiça portuguesa conseguiu um feito improvável, tornar-me simpatizante de Vale e Azevedo.

De seu natural titubeante, lenta e inconclusiva a justiça portuguesa mostra-se, contra Vale e Azevedo, afirmativa, célere e concretizadora. O homem pode dizer, com razão, que "saíu em rifa".

É caso para citar o aforismo popular brasileiro "cadê os outros ?".

(ver Público)

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