O filme de Milos Forman "Os fantasmas de Goya" faz todo o sentido nos tempos de transição em que vivemos. Tenho a certeza de que vai ser incompreendido por todos aqueles que fizerem uma leitura superficial. Para mais o filme põe em causa tanto o fanatismo religioso como o fundamentalismo libertário.
A principal "lição" do filme é que devemos distinguir sempre os diferentes níveis dos fenómenos sociais: as grandes teorias/ideologias, por um lado, as formas de alcançar o poder e de o exercer, por outro, o tecido económico e as suas lógicas, outro, e a moral vigente no cidadão comum, ainda por outro.
Os vários níveis influenciam-se mutuamente mas podem ter, no tempo e no espaço, evoluções assíncronas; por exemplo uma ideologia libertária, sem deixar de o ser, pode ser o alibi para um sistema político opressor e uma crença religiosa arcaica pode ser a base de uma justa luta de libertação nacional. Os exemplos não faltam na história.
O filme consegue ser original na forma como mostra as violências de sinal contrário e tem mesmo algumas cenas de antologia. A sequência da saída da prisioneira do santo ofício que é libertada para cair em plena violência jacobina é uma delas.
O filme tem momentos em que tenta lançar pontes para o presente. É chocante ver um general Napoleónico dizer aos seus soldados que os espanhóis os vão receber de braços abertos quando, pela invasão, os libertarem do odiado rei. Exactamente o que foi dito aos soldados americanos que invadiram o Iraque.
E com os mesmos resultados.
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