No PUBLICO de ontem, a propósito da disputa “Mendes&Menezes” (que aliás não me interessa para nada), dizia Rui Tavares:
“Uma parte grande da população ressente-se mais do excesso do poder das empresas do que da acção do Estado. A ideia de que as empresas são por definição mais eficientes também tem levado uma grande sova da realidade. A empresarialização das funções municipais cheira a corrupção, e por aí adiante”.
Não há duvida de que os exemplos estão mesmo a matar...
Mas é pena que haja aqui uma “pequena” imprecisão; de facto, as empresas, por definição, têm condições para serem mais eficientes, mas isso não quer dizer que sempre e todas o sejam.
No entanto a expressão “por definição” não é apenas enfática! Significa que para serem consideradas como tais as empresas têm de ter as características e funcionarem segundo as regras do empreendedorismo.
Ora não há nada mais longe desse modelo e dessas regras do que as empresas municipais que não enfrentam concorrência, e onde os gestores estão sempre seguros e os “riscos” são sempre cobertos pela “vaca leiteira” do orçamento. As chamadas empresas municipais são apenas uma extensão do universo autárquico, criada quase sempre com o objectivo de escapar ao control do Estado, que continua no entanto a sustentá-las. Chamar-lhes “empresa” é apenas uma forma de expressão...
E quanto àquilo de que a população se ressente: nas estatísticas das organizações de defesa dos consumidores o 1º lugar das queixas é ocupado pela PT, exactamente um caso exemplar de uma empresa teóricamente privada mas que vive de exclusivos, protecções e facilidades várias que o Estado lhe proporciona.
Neste caso temos o pior dos dois mundos, trata-se de uma empresa com fins lucrativos, o que segundo a lógica do articulista seria pior para os consumidores, mas que fica “isenta” de se aperfeiçoar por pressão do mercado, o que sempre seria uma compensação para esses mesmos consumidores.
(cartoon de Ben Heine)
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