Neste conjunto de leituras que fui fazendo durante a minha convalescença referir-me-ei, por conveniência de apresentação, a dois livros que li do jornalista polaco Ryszard Kapuscinski, falecido o ano passado.
Há muito que conhecia as traduções que regularmente a Campo das Letras vinha fazendas das reportagens que aquele autor fazia dos diversos conflitos africanos. No entanto, porque o tema nunca me pareceu suficientemente aliciante, nunca tinha adquirido qualquer dos seus livros, até que finalmente, porque o assunto me parecia mais próximo das minhas preocupações políticas, resolvi comprar e ler O Império (Campo das Letras, 2005).
É um livro profundamente crítico do que foi o”império” soviético e que descreve bem o seu estertor final. Relembro unicamente o primeiro capítulo, passado durante a juventude do autor, em que este descreve de forma profundamente negativa a chegada das tropas soviéticas à sua aldeia natal. Esta ficava situada naquela parte da Polónia que foi atribuída pelo pacto germano-soviético à URSS e que foi ocupada por esta em Setembro de 1939, quando Hitler invadiu a Polónia. Havia razões históricas para a URSS a reivindicar e ocupar aqueles territórios, pois ficavam a leste de uma linha que o insuspeito Lord Curzon tinha estabelecido no final da I Guerra Mundial como fronteira natural entre a Polónia e o nascente Estado soviético e que aquela ocupou por ter saído vitoriosa na guerra que travou contra este. Eram territórios da Ucrânia e da Bielo-Rússia, que ainda hoje continuam a fazer parte daqueles dois países. No entanto, isso não autorizava a URSS cometer as barbaridades que se conhecem, como o massacre dos oficiais polacos em Katyn, nem o que é descrito pelos olhos de uma criança no livro de Kapuscinski.
Impressionado pela leitura daquele livro pus-me a ler durante o período de convalescença as Andanças com Heródoto (Campo das Letras, 2007) e o recentemente publicado Os Cínicos Não Servem para Este Ofício, Conversas Sobre o Bom Jornalismo (Relógio de Água, 2008).
Do primeiro livro, que não achei especialmente interessante, retirei a história da primeira viagem do autor ao Ocidente, a Roma, a caminho da Índia para fazer uma reportagem sobre aquele país, que na altura tinha adquirido a independência, e a homenagem, sempre constante ao longo de todo o livro, a Heródoto, que, com o seu livro Histórias, tinha dado origem na Grécia antiga à história, como disciplina credível.
Relembro, porque gostei muito do filme, O Paciente Inglês, de Anthony Minghella, recentemente falecido, que transportava sempre consigo um exemplar das Histórias de Heródoto.
Quanto ao pequeno livro de Kapuscinski sobre jornalismo, para além de uma entrevista em que o autor denuncia a situação actual em que se faz jornalismo, com os jornalistas completamente submetidos aos grandes monopólios dos media, pareceu-me ser um livro inútil, a viver do prestígio do seu autor. Aquele não passa de um conjunto de entrevistas que Kapuscinski deu em Itália nos longínquos anos de 90 e que a organizadora, Maria Nadotti, reuniu para uma edição original em 2002, e que foi recuperada em 2008, à míngua de novas ideias, por uma editora nacional.
Espero no próximo capítulo voltar a temas mais interessantes e convidativos.
Há muito que conhecia as traduções que regularmente a Campo das Letras vinha fazendas das reportagens que aquele autor fazia dos diversos conflitos africanos. No entanto, porque o tema nunca me pareceu suficientemente aliciante, nunca tinha adquirido qualquer dos seus livros, até que finalmente, porque o assunto me parecia mais próximo das minhas preocupações políticas, resolvi comprar e ler O Império (Campo das Letras, 2005).
É um livro profundamente crítico do que foi o”império” soviético e que descreve bem o seu estertor final. Relembro unicamente o primeiro capítulo, passado durante a juventude do autor, em que este descreve de forma profundamente negativa a chegada das tropas soviéticas à sua aldeia natal. Esta ficava situada naquela parte da Polónia que foi atribuída pelo pacto germano-soviético à URSS e que foi ocupada por esta em Setembro de 1939, quando Hitler invadiu a Polónia. Havia razões históricas para a URSS a reivindicar e ocupar aqueles territórios, pois ficavam a leste de uma linha que o insuspeito Lord Curzon tinha estabelecido no final da I Guerra Mundial como fronteira natural entre a Polónia e o nascente Estado soviético e que aquela ocupou por ter saído vitoriosa na guerra que travou contra este. Eram territórios da Ucrânia e da Bielo-Rússia, que ainda hoje continuam a fazer parte daqueles dois países. No entanto, isso não autorizava a URSS cometer as barbaridades que se conhecem, como o massacre dos oficiais polacos em Katyn, nem o que é descrito pelos olhos de uma criança no livro de Kapuscinski.
Impressionado pela leitura daquele livro pus-me a ler durante o período de convalescença as Andanças com Heródoto (Campo das Letras, 2007) e o recentemente publicado Os Cínicos Não Servem para Este Ofício, Conversas Sobre o Bom Jornalismo (Relógio de Água, 2008).
Do primeiro livro, que não achei especialmente interessante, retirei a história da primeira viagem do autor ao Ocidente, a Roma, a caminho da Índia para fazer uma reportagem sobre aquele país, que na altura tinha adquirido a independência, e a homenagem, sempre constante ao longo de todo o livro, a Heródoto, que, com o seu livro Histórias, tinha dado origem na Grécia antiga à história, como disciplina credível.
Relembro, porque gostei muito do filme, O Paciente Inglês, de Anthony Minghella, recentemente falecido, que transportava sempre consigo um exemplar das Histórias de Heródoto.
Quanto ao pequeno livro de Kapuscinski sobre jornalismo, para além de uma entrevista em que o autor denuncia a situação actual em que se faz jornalismo, com os jornalistas completamente submetidos aos grandes monopólios dos media, pareceu-me ser um livro inútil, a viver do prestígio do seu autor. Aquele não passa de um conjunto de entrevistas que Kapuscinski deu em Itália nos longínquos anos de 90 e que a organizadora, Maria Nadotti, reuniu para uma edição original em 2002, e que foi recuperada em 2008, à míngua de novas ideias, por uma editora nacional.
Espero no próximo capítulo voltar a temas mais interessantes e convidativos.
PS.: Este texto foi publicado igualmente em http://trix-nitrix.blogspot.com/
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