Existe a tendência de chamar ao 25 de Abril o Dia da Liberdade. É verdade que, durante o fascismo salazarista, o bem mais escasso, o bem mais reprimido, era a liberdade. Não havia liberdades políticas, liberdades cívicas, liberdades mínimas. Porém, num regime totalitário existe sempre uma classe para quem tudo é permitido. Para essa classe a liberdade existe, e é uma liberdade que não conhece limites. Que se confunde com prepotência. Que não acaba nos limites dos que não a têm, ou seja, é uma liberdade que não é admissível numa democracia. No fascismo salazarista, a liberdade era para muito poucos; com o 25 de Abril, a liberdade passou a ser para todos. E isto é liberdade, mas também é igualdade. É a esta combinação que se chama democracia, e é esta a grande conquista do 25 de Abril. Por isso, a meu ver o 25 de Abril deveria chamar-se não Dia da Liberdade, mas Dia da Democracia.
Não é correcto associar-se o 25 de Abril somente à liberdade (ignorando a igualdade) porque, como é bem sabido (na blogosfera é o que não falta) há muita gente que defende a liberdade e não quer nada com a igualdade. A recente (com pouco mais de um ano) campanha para o branqueamento do ditador Salazar, que culminou na sua designação como “O Maior Português” num programa de televisão, teve origem na blogosfera que só defende a liberdade (mas que eu nunca vi defender a democracia). Aliás eu tenho cá para mim que a maior ameaça à democracia, presentemente, provém (não só em Portugal) dos chamados “libertários”, os defensores incondicionais da liberdade. Eles próprios dizem: o 25 de Abril não é o dia deles.
A liberdade não pode ser ilimitada, porque acaba por colidir com a liberdade dos outros. Só pode ser irrestrita quando tal não originar conflitos com a igualdade. Senão, tal viola a democracia. Sobretudo, a mais liberdade corresponde sempre mais responsabilidade. Querer mais liberdade só por querer tem sempre outras consequências. Para o indivíduo e para todos. Pensem nisto.
Bom 25 de Abril.
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