Monday, June 27, 2005

Cá estou eu de novo a ver navios!




Fui a Estocolmo, e como todo o turista que se preza fui ver o Museu do navio Vasa.

A história do barco é curta e simples:
Mandado construir no sec. XVII pelo rei da Suécia e sendo o navio de guerra mais poderoso e rico do seu tempo, afundou-se na viagem inaugural à saída do porto de Estocolmo porque não tinha a estabilidade necessária para aguentar um golpe de vento!
E lá ficou, durante mais de 300 anos, 32 m debaixo de água até que em 1956 um pesquisador o localizou e a nação sueca decidiu resgatá-lo.
A história do projecto é bem mais longa e rica do que a do barco!
Quando atrás referi “a nação sueca”, não estava a fazer estilo. Trata-se de um verdadeiro projecto nacional em que Estado, empresas e particulares colaboraram de variadas formas: por exemplo, a empresa que efectuou os trabalhos de resgate não cobrou nada por isso; a Armada forneceu pessoal, meios, apoio logístico; os cidadãos contribuíram para várias subscrições.
Os trabalhos iniciaram-se em 1957 e o VASA emergiu em 1961. Logo várias equipas multidisciplinares começaram os trabalhos de limpeza e restauro, estudo dos achados materiais e humanos, preservação e enquadramento num primeiro museu provisório, enquanto os mergulhadores prosseguiam a procura de materiais.
Em 1990 foi inaugurado o novo local, uma construção de 5 andares de galerias em varanda à volta do enorme navio, mantido em condições ideais de luz, temperatura e humidade. Até 2001, tinha recebido 20 milhões de visitantes (o preço do bilhete ronda os 6€).
Este museu mostra-nos muitas coisas.
O barco e o seu enquadramento histórico e social, mas também e não menos importante, o projecto de recuperação e o modo como foi efectivado.
É admirável como os suecos conseguiram, a partir de um único barco dar-nos de forma agradável uma panorâmica tão completa da sua vida no período histórico em que tiveram relevância politica na Europa. Até sugerem uma importância maior do que aquela que de facto tiveram, porque localizada no espaço (norte e centro-leste da Europa) e no tempo (sec. XVII).
Eles mostram-nos como era a Suécia na época do VASA: as actividades económicas, os ofícios, a estrutura social, a habitação, o vestuário, a alimentação, a religião, as festas, a justiça, a guerra, etc.
Com a ajuda de uma dúzia de objectos do quotidiano encontrados a bordo, mas principalmente de muitas maquetes e shows multimédia. Uma das mostras mais interessantes é a do estudo antropológico de 25 restos humanos, em que se discorre visualmente sobre o tipo de alimentação, os cuidados de higiene e saúde e até os hábitos daquelas pessoas; tudo isto culminando na apresentação computorizada da reconstituição facial de 3 deles e a sua reprodução em manequim com as roupas e o aspecto que provavelmente terão tido, enquanto que a instalação sonora debita frases nos dialectos que provavelmente terão usado!!!

Isto traz-me de volta a uma questão que me “visita” desde que Lisboa albergou a XVII Exposição, passando pela EXPO 98 e todas as exposições temporárias que se relacionam com os descobrimentos: a necessidade de Portugal ter uma Mostra Permanente da Expansão Marítima Portuguesa.
Sem qualquer ranço de patrioteirismo nacionalista, temos de concordar que poucas nações foram tão mundialmente importantes como Portugal nos séculos XV e XVI. E principalmente que nenhuma outra daquela época deu, directa e indirectamente, contributos de tão grande alcance futuro para o desenvolvimento económico, social, científico e filosófico.
Assunto e material dos melhores não nos faltariam para uma exposição permanente: a reconstituição de viagens; os naufrágios; os contactos com outras civilizações; a chamada “evangelização”; o comércio e a rapina; a partilha dos novos mundos e o equilíbrio de forças politicas; a navegação à vela e a construção naval (desde o pinhal de Leiria); as transformações sociais com os Descobrimentos; Lisboa, cidade cosmopolita; a miscigenação de culturas (alimentação, vestuário, mobiliário, etc); novas terras e mares, novas plantas e animais, novas línguas e palavras, etc. etc. etc.
Temos especialistas e técnicos que já mostraram saber organizar mostras que além de conteúdo, têm um fundo didáctico e um aspecto lúdico.

Só não há iniciativa, ou vontade política... É verdade que se esperarmos pelo Estado, o melhor é sentarmo-nos (veja-se o triste exemplo da colecção Berardo...).
Mas será que os Belmiros de Azevedo deste país não achariam interessante criar, não um Museu mas um Parque Temático da Expansão Marítima Portuguesa?

Aceder ao site do Museu do Navio VASA

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