Saturday, October 31, 2009
A insuportável riqueza de pertencer
.Quem dá nome às operações policiais? A mais recente chama-se "Face Oculta", mas ninguém dá a cara pelo baptismo. É pena, queria dar-lhe os parabéns.
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Em Aveiro, onde começou o caso que agora enche os jornais, há uma casa de alterne que se chama "Face Oculta". Bem escolhido para esta operação! O que se faz numa casa de alterne? O mesmo que a corrupção faz a um povo inteiro.
Ferreira Fernandes, DN 31.10.2009
Tem graça, mas eu preferia dar os parabéns a quem escolheu o nome por outra razão: é que ao dizer "Face Oculta" insinua-se que existe uma face visível. E essa face visível é a que passa todos os dias, nas televisões, à frente dos nossos olhos.
O Homem primordial aprendeu a proteger-se das ameaças da natureza através do agrupamento de famílas, clãs e tribos. Mas depois percebeu que também é em grupo que mais eficazmente se ataca e caça. E passou a agrupar-se também para obter privilégios, desapossar outros, e em geral, para exercer domínio.
O "homem é o lobo do homem" não por ser egoísta e ambicioso mas fundamentalmente por actuar, como os lobos, em forma de matilha. Os lobos solitários não podem fazer grande estrago.
Vem tudo isto a talhe de foice para dizer que a Face Oculta que nos choca é apenas a outra face da enorme moeda em que vivemos. A organização social, com as suas inúmeras formas de associação é, por muito que nos custe, o caldo de cultura ideal para todo o tipo de desmandos.
O egoísmo "natural" dos indivíduos é uma brincadeira de crianças quando comparado com a capacidade predadora das "organizações humanas". Mesmo quando elas invocam as mais nobres causas (tal como o arguido Manuel Godinho que se notabilizou por ajudar os Bombeiros e o Clube de Futebol de Esmoriz).
Por isso nutro uma enorme desconfiança pelas agremiações; quer sejam partidos ou clubes, tertúlias ou grupos de antigos "qualquer coisa", maçonarias ou Opus Dei, fãs do Tony Carreira ou sindicatos, igrejas ou clãs de académicos, corporações dos médicos, dos professores ou dos juízes. Em geral existem para vender o voto ou ser eleito, impressionar o chefe ou o patrão, pedir favores, privar com estrelas mediáticas, arranjar emprego para o próprio ou para os filhos, receber casa dada pela Câmara, arranjar padrinhos e cunhas, ficar bem visto pelos vizinhos e amigos, desbloquear as promoções ou os contratos, comprar a vida eterna pelo sim pelo não, sentir-se intelectual e culto e, em geral, ser políticamente correcto.
O cidadão, para o ser integralmente, precisa de fugir de tais esquemas como o diabo da cruz.
Marx falou dos proletários como "aqueles que nada têm a perder". Hoje, se queremos preservar a diginidade, é preciso não pertencer para nada ter a ganhar.
Hoje, quando a náusea se torna insuportável e nos apetece voltar à simplicidade primitiva só nos resta fugir para o Alentejo profundo ou para algum serrania transmontana.
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Friday, October 30, 2009
Pedalar para Fugir do Preconceito
As lições de Moçambique
Os primeiros resultados oficiais, divulgados ao princípio da noite de ontem, mostravam que, com 17 por cento dos votos escrutinados, a Frelimo conseguiria 76 por cento dos votos, enquanto Armando Guebuza surgia com 77 por cento, muito à frente dos candidatos da oposição.
Thursday, October 29, 2009
Wednesday, October 28, 2009
Luxos de quem não está endividado
A linha ferroviária de alta velocidade Pequim-Xangai, a maior do mundo, com 1.318 quilómetros de comprimento, deverá estar operacional em 2012, noticia hoje a imprensa chinesa.
A construção deste projecto entrou já na "crucial fase final" e estará concluída em 2011, revela o jornal "China Daily", a propósito da conclusão de uma ponte com um arco de 108 metros nos arredores de Xangai, há cerca de um mês.
A linha férrea de alta de velocidade Pequim-Xangai vai encurtar para apenas cinco horas (metade do tempo actual) a viagem entre as duas principais cidades chinesas, e terá capacidade para transportar 80 milhões de passageiros por ano e mais de 100 milhões de toneladas de carga, segundo o Governo chinês.
Esta obra, orçada em 220,9 mil milhões de yuan (21,7 mil milhões de euros) é a mais cara do Governo comunista nos últimos 60 anos.
A China planeia construir 13 mil quilómetros de linha férrea de alta velocidade nos próximos três anos, mais do que a rede existente actualmente em todo o mundo.
O Crepúsculo dos Deuses
A fabulosa música de Wagner, e várias horas de deuses e heróis, para quem conseguir aguentar.
O Crepúsculo dos Deuses foi a última jornada do Festival Cénico "O Anel do Nibelungo" no S. Carlos, com uma encenação (de Graham Vick) e uma cenografia arrojadas e por vezes belíssimas.
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Tuesday, October 27, 2009
No fundo é isto, mas com "card-counting"
A nova complexidade do casamento
As coisas estão a tornar-se progressivamente mais complicadas. De exagero em exagero, extrapolando este caso de carácter moderado, podemos vir a ter nos jornais histórias do tipo:
um padre que afinal era muçulmano, oficiou um baptizado que afinal era um casamento, entre uma noiva que afinal era um homem e um noivo que afinal já casara 7 vezes.
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A praxe é, sobretudo, um negócio
Os caloiros do ensino superior, em Viseu, estão a ser "usados para aumentar o negócio de alguns bares". As denúncias são dos próprios alunos que acusam os elementos do Conselho de Viriato, o órgão académico que deve zelar pelo cumprimento das regras da praxe, de organizarem festas com os caloiros "pelas quais recebem percentagens do consumo feito nos bares".
Alguns alunos, que também já denunciaram a situação junto da presidência do Instituto Politécnico de Viseu (IPV), acusam Ana Pinto, presidente do conselho, de "organizar iniciativas da praxe em bares, para onde são levados os caloiros, recebendo depois percentagem pela despesa feita", contaram ao DN vários destes elementos, que temendo represálias, preferem ficar no anonimato.
A presidente do Conselho de Viriato, que para além de ser estudante no IPV, trabalha num bar de diversão nocturna na zona de Jugueiros, ao lado do instituto e onde funcionam mais de uma dúzia de bares, desvaloriza as acusações. "Os alunos praxados têm um percurso, vão aos bares, onde ouvem pessoas a falar sobre diversos temas. Se tiverem dúvidas são retiradas e depois seguem para outro bar", revela a estudante.
A presidente do Conselho de Viriato refere que as denúncias surgem de "guerras entre as casas de diversão nocturna que lutam ferozmente pela presença dos estudantes do ensino superior. E viram-se para mim porque eu oriento mais de 700 alunos e sou um alvo mais fácil", adianta. Embora considere as denúncias "difamatórias" Ana Pinto, que é estudante no Politécnico de Viseu há dez anos, garante que o Conselho de Viriato "vai tomar mais cuidado com as iniciativas que envolvem os caloiros".
Monday, October 26, 2009
Português de Yale critica estagnação do superior
Miguel Poiares Maduro, ex-advogado geral no Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias e professor da Universidade de Yale diz que universidades nacionais continuam muito conservadoras e pouco dadas a valorizar o mérito.
Apesar do "investimento" dos últimos anos, as universidades portuguesas continuam muito fechadas em si mesmas, eternizando a cultura da "substituição do professor pelo seu assistente" , "conservadoras" no ensino e pouco dadas a procurar e valorizar o "mérito" no seu corpo docente. Quem o afirma é Miguel Poiares Maduro, o primeiro professor português na Universidade de Yale, nos Estados Unidos.
Em conversa com o DN, Poiares Maduro - que terminou recentemente um mandato de seis anos como advogado geral no Tribunal de Justiça das Comunidades Europeias (ver texto ao lado) confessou "alguma desilusão" com a falta de evolução das universidades portuguesas nos anos que passou no Luxemburgo.
"Portugal teve nos últimos anos um investimento em termos de recursos financeiros no ensino superior que, do meu ponto de vista, não teve os frutos que deveria ter", considerou, defendendo que, se no plano da "investigação", houve melhorias assinaláveis, no que diz respeito à qualidade da oferta educativa das universidades nada se alterou.
"Há até de certa forma quase duas culturas em Portugal", explicou. "Uma cultura científica nos projectos de investigação, muito mais europeia, muito mais internacional, muito mais meritocrática, muito mais avançada . E outra, nas universidades, de um ensino que é muito mais conservador e tradicional e que não evoluiu", lamentou.
Para Poiares Maduro, as reformas do sector nos últimos anos - do regime jurídico das instituições ao novo sistema de graus e diplomas de Bolonha - não produziram ainda efeitos ao nível da qualidade da oferta educativa.
E mesmo as parcerias internacionais no ensino e investigação promovidas pelo Governo - por exemplo com o MIT e as universidades de Austin e Carnegie Melon - foram projectos "com alguns benefícios" mas não soluções.
Segundo defendeu, as medidas do Governo deveriam ser orientadas, isso sim, para se criarem "mecanismos de incentivos correctos para se alterar a cultura" das instituições.
Entre eles propôs a obrigatoriedade de as instituições "recrutarem a maioria do seu corpo docente fora da universidade, para se fazer uma selecção com base no mérito", e de se criarem instrumentos que permitam "flexibilizar" as remunerações dos professores, "premiando os que têm paralelamente uma carreira melhor em forma de ensino e investigação".
O jurista defende que, actualmente as instituições capazes de se afirmar internacionalmente "são ilhas".
Uma categoria onde incluiu a Universidade Católica de Lisboa - na qual vai também orientar agora um projecto de pós-graduação internacional da área do Direito.
DN, 26.10.2008
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Pequim em 2 ou 3 rodas
Como é sabido as biciletas, com duas ou três rodas, têm múltiplas aplicações na China.
Veja AQUI um conjunto de fotografias que realizei em Pequim no passado mês de Setembro.
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"Café Com Blogues" hoje n'"A Brasileira"
Sunday, October 25, 2009
Flaming globes of Sigmund
Sempre gostei muito daquelas histórias - apócrifas ou não - de súbitas revelações nocturnas, em que uma pessoa se levanta a meio da noite depois de um espasmo de criatividade, anota tudo num papel e descobre horas mais tarde que a criatividade não sobreviveu à transferência de suporte. Hitchcock a sonhar uma ideia brilhante para um filme, a escrever a sinopse de olhos fechados, e a acordar para descobrir apenas um papelinho garatujado com a frase "boy meets girl"; Bolaño a sonhar um romance maior do que o Ulysses, a escrever a sinopse de olhos fechados, e a acordar para descobrir apenas um papelinho garatujado com o 2666; ou o caso ainda mais trágico de Carlos Azenha, a sonhar uma longa e respeitada carreira profissional no futebol europeu, a escrever a sinopse de olhos fechados, e a acordar para descobrir apenas um papelinho garatujado com o plantel do Vitória de Setúbal.
Estas histórias têm pathos, porque condensam numa narrativa limpinha um dos grandes mistérios humanos: as calamidades que podem acontecer à inspiração e às aspirações naquela fracção de segundos em que são transmitidas do córtex para o mundo.
Sempre gostei muito destas histórias, mas nunca tinha participado - até que há três noites atrás me levantei a meio da noite com uma solução para o problema do défice orçamental. Quando acordei de manhã, absolutamente convencido de que iria ganhar o próximo Nobel da Economia, encontrei apenas uma folha A5 ao lado da caminha com a seguinte frase: «O défice está no Brasil - é preciso fumá-lo».
Bem, o défice está no Brasil; e é preciso fumá-lo. Suponho que isto, como a Bíblia, não é para ser interpretado literalmente, até porque uma simples análise logística permite-nos verificar as dificuldades operacionais envolvidas: mesmo que o défice fosse efectivamente localizado no Brasil, seria complicadíssimo isolar as suas propriedades tangíveis de forma a conseguir emboscá-lo com mortalha e filtro. (Na verdade, uma segunda camada de complexidade é lançada sobre o versículo pelo duplo sentido do verbo fumar, que poderia até levar ao surgimento de uma corrente herética que pretendesse não aspirar o fumo resultante da combustão do défice, mas sim desidratar o défice num fumeiro, o que em princípio levaria à sua preservação, etc, etc, e é bom de ver que temos logo aqui um problema maior do que o Pelagianismo).
Tudo isto foi com certeza provocado pelo livro que li na noite anterior - Liar's Poker, de Michael Lewis - especificamente, uma passagem em que ele compara a assimilação do jargão financeiro à aprendizagem de uma língua estrangeira: primeiro faltam-nos as palavras para determinados conceitos, depois começam-nos a surgir palavras para conceitos que não sabíamos possuir, e finalmente acabamos a sonhar com derivativos japoneses. O livro é muito bom e proporcionou-me muita diversão mesmo antes de a palavra "blackjack" na página 125 me ter provocado o equivalente literário a uma ejaculação precoce. A história de Howie Rubin, o trader que perdeu 250 milhões à Merril Lynch em 1987, e que começou a carreira a contar cartas em Las Vegas, vale, só por si, o preço do livro (que não faço ideia qual seja; uma ignorância apropriada, até porque no mundo do livro ninguém sabe o preço de nada).
O elemento espectacular é este: Howie Rubin tornou-se bond trader porque aquilo lhe fazia lembrar o blackjack (o único jogo de casino em que eventos passados influenciam eventos futuros), mas chegou à conclusão de que a vida em Las Vegas era uma coisa muito mais digna e racional. A sua revelação, codificada implicitamente no axioma de que é mais arbitrário trocar obrigações hipotecárias do que jogar blackjack, é que o dinheiro é mais estúpido do que um baralho de cartas. Rubin ainda anda ali às voltas a tentar convencer-se de que o facto de eventos passados não influenciarem eventos futuros no mercado das obrigações hipotecárias está relacionado com o comportamento errático dos homeowners americanos, mas não engana ninguém. Os homeowners americanos e as pilhas de 312 cartas bem baralhadas podem ser volúveis, mas são um modelo de estabilidade comparados com o dinheiro. O fio condutor de Liar's Poker é este: o dinheiro é completamente maluco. Não se pode confiar nele. Num momento pode estar ali ao canto, tranquilo, ocupado a ser muito, e no momento seguinte pode estar deitado numa viela, a vomitar na sarjeta, sem se lembrar quem é nem onde mora. Bom, este blogue acaba aqui. Obrigado a todos por terem vindo, foram três anos extraordinários, mas agora a minha vida é isto:
China será a segunda maior potência global em 15 meses
As previsões do Fundo Monetário Internacional (FMI) para o próximo ano colocam a China no segundo lugar do ranking de países por Produto Interno Bruto (PIB), com US$ 5,263 trilhões, acima dos US$ 5,187 trilhões do Japão.
Saturday, October 24, 2009
Saramago. A forma e o meio
Tenho a impressão de que a Saramago falta a compreensão da diferença entre os livros que escreve e os grandes meios de comunicação de massas onde opina.
Ele não pode supor que quem o ouve na TV vai posteriormente ler os seus livros para compreender o alcance daquilo que ele disse. Na verdade só uma escassa minoria dos milhões de espectadores que o vêem no ecran lê os livros dele.
Esta distinção é muito importante dada a justa fama que rodeia o autor de Caim.
O surgimento de uma estrela mediática como José Rodrigues dos Santos, com o seu livro "Furia Divina" vai, pela coincidência temporal, contribuir ainda mais para depreciar as declarações avulsas de Saramago sobre a Bíblia. De repente as opiniões bombásticas de Saramago vêem-se enredadas com uma bomba atómica da Al-Qaeda e o público deixa de perceber onde termina a dissertação ensaística e começa o sensacionalismo ficcional.
Quando alguém alcança um estatuto como o de Saramago tem que gerir um difícil equilibrio comunicacional. As suas falas são como os remédios que têm que ser tomados em pequeníssimas doses porque, de outro modo, convertem-se em venenos.
Quem tem muito prestígio quando fala, se não tiver em conta a forma e o meio, corre o risco de parecer ter o rei (ou Deus) na barriga.
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As grandes fortunas viajam muito
"Se temos 9 mil milhões de euros que não vão pagar impostos para 'offshores', quer dizer que é uma farsa toda a grande crise orçamental do país, porque isso é mais do que o dinheiro suficiente para corrigir o excesso do défice orçamental e é por isso que não aceitamos que nos digam que não há recursos para uma melhor educação ou para reduzir as taxas moderadoras na saúde e acabar com a injustiça social em relação aos desempregados", afirmou Louçã em declarações aos jornalistas sobre o futuro governo.
Friday, October 23, 2009
Novidades na blogosfera
Por outro lado, o não menos ilustre Nélson Sousa acabou com o Faxavor. Espero que regresse em breve.
O Marco Robalo (de cujo gabinete escrevo) e mais outros LEFTistas inauguraram o Elefante Quântico. A seguir sem dúvida.
Do modo funcionário de viver
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver
Um Adeus Português (Alexandre O'Neil)
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Um amigo alertou-me para que "todo o governo é parido no sector público". Mas se virmos bem é isso que sucede também com os deputados e os dirigentes dos partidos. A "classe política" é cada vez mais constituída por académicos, professores e advogados.
Fazer política, do BE ao CDS, é cada vez mais um hobby de funcionários da Administração Pública. Nesse sentido pode dizer-se que vivemos numa espécie de socialismo, dada a presença bastante exígua de pessoas do sector privado, quer empresários quer trabalhadores assalariados, nas cadeiras do poder.
Interrogo-me se as pessoas que nos governam, nascidas e criadas a gastar o dinheiro de um orçamento que parece cair do céu, poderão algum dia ter uma ideia, que não seja vaga, dos mecanismos económicos essenciais. Se algum dia entenderão que a discussão política não pode, como vulgarmente acontece, incidir apenas em como gastar os impostos sem cuidar de saber quando, como e com quem se assegura a criação de riqueza.
O governo não existe para resolver os problemas dos funcionários mas sim os do país. O que é bom para os funcionários não é necessáriamente bom para o país.
Quando temos uma ministra da educação que é funcionária professora , uma ministra da saúde que é funcionária médica e uma ministra do trabalho que é funcionária dos sindicatos dá-nos a impressão de que Sócrates abandonou neste mandato qualquer veleidade de impôr o primado do conjunto dos cidadãos.
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Thursday, October 22, 2009
O Chato acusa Saramago de plágio
Vêm aí os talibãs ?
A grande maioria dos portugueses não leu, e nunca lerá, os livros de Saramago mas ouviu-o na TV. A discussão em curso é, ou devia ser, sobre as afirmações desgarradas de Saramago que, essas sim, quase toda a gente ouviu.
O que está em causa não é a liberdade de expressão de Saramago, que ninguém pode retirar-lhe mesmo que queira. Saramago é até um dos poucos portugueses que terá eco nos meios de comunicação diga o que disser. (Infelizmente nos dias que correm é raro que as discussões sejam realmente sobre o tema aparente; estamos sempre a discutir outras coisas, por interposto pretexto, ou a tentar levar a água a algum moinho que não tem nada a ver com o caso em apreço).
O que está em causa também não é saber se Saramago tem ou não tem razão. Aquilo que Saramago disse já o disseram incontáveis intelectuais e artistas. Pode-se, como eu, achar que as teses dele são perfeitamente defensáveis e no entanto ter dúvidas sobre a bondade das afirmações feitas no lançamento do novo livro.
O que devia estar a ser discutido era por que razão decidiu Saramago, neste momento, começar a gritar coisas que estão fartas de ser ditas. Houve alguma modificação importante na sociedade portuguesa ? estamos em risco de ser manietados por algum tipo de fanáticos religiosos ? Parafraseando "Vêm aí os russos?" apetece dizer "Vêm aí os talibãs?"
Aquilo que eu observo é o que todos podemos ver: a esmagadora maioria dos cidadãos vive o seu dia a dia como se Deus não existisse e tem com a igreja uma relação institucional e rotineira. Na vida social são raras as referências à religião e às suas práticas e não tenho detectado qualquer proselitismo militante excepto da parte das Testemunhas de Jeová.
Por isso eu considero que a actuação de Saramago é surpreendente e difícil de interpretar, uma espécie de "vem aí o lobo" pela milésima vez.
Considero "O evangelho segundo Jesus Cristo" uma obra prima e admito que "Caim", que não li, seja também um excelente livro. Não tenho qualquer dúvida sobre a validade e importância de produzir tais obras literárias.
Já outro tanto não posso dizer desta recente campanha eleitoral contra Deus iniciada em Penafiel. Depois das europeias, das legislativas e das autárquicas não precisamos de umas "presidenciais trancendentais" entre Saramago e Deus. E muito menos que sejam uma espécie de primeira volta das verdadeiras presidenciais.
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Wednesday, October 21, 2009
Michael Green sucede a Stephen Hawking
Saramago no Olimpo
Se defendemos, justamente, que Saramago tem o direito de expressar as suas opiniões sejam elas quais forem, então há uma coisa que não podemos fazer: negar esse mesmo direito a quem o critica.
Mas é isso que têm estado a fazer muitos críticos dos críticos de Saramago.
Se Saramago pode dizer: “Deus é vingativo, rancoroso e não é de confiança" então, para sermos coerentes, os seus críticos podem igualmente usar adjectivos pesados para qualificar o escritor.
Não podemos defender a liberdade de expressão, por um lado, e pretender limitá-la, por outro.
Se assim não fosse, se negássemos a possibilidade de o criticar, então Saramago gozaria de um estatuto superior às igrejas e a Deus.
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Ocidente felicita Karzai ? mas exige segunda volta credível ?
Tuesday, October 20, 2009
Saramago e Barois
No DN de hoje Ferreira Fernandes invoca o Jean Barois a propósito da polémica que envolve Saramago.
A grande dúvida sobre o próximo governo
Monday, October 19, 2009
O evangelho segundo Saramago
Sunday, October 18, 2009
É tudo malta do Técnico
Mas a sábia portaria (resultado do lóbi da Associação Animal — a mesma que há uns anos fez apresentar no parlamento uma lei que visava controlar as ‘condições psicológicas’ em que viviam os animais domésticos, bem como o seu acesso aos transportes públicos, entre outros mimos do género), também proíbe a reprodução daqueles animais em cativeiro. Como bem nota o proprietário circense Miguel Chen, não estão porém disponíveis na praça preservativos para os tigres, o que vai implicar que o ministro, ou alguém que o represente dignamente, se afoite a fazer cumprir a lei, interpondo-se entre tigres e tigresas, em plena época de cio: vai ser um número a não perder, num circo próximo de si.
Eis mais um retumbante triunfo da cultura urbana, moderna e civilizada. Porque o fundo da questão está no que diz Victor Hugo Cardinali — um honrado nome de uma família que tem feito sonhar gerações e gerações de crianças, com os seus tigres, leões e elefantes, saídos da televisão e dos joguinhos de computador para a tenda do circo: “Eu também posso fazer algo como o Cirque du Soleil, para os intelectuais de Lisboa e do Porto. Mas experimentem levar isso a Portalegre e eles vão perguntar ‘que porra é essa?’”. É contra este Portugal da porra que em boa hora surgiu a portaria a defender as centopeias, os aligators e também, já me esquecia, os nandus e os crotalos. Somos assim o primeiro país da Europa a proibir as espécies ‘exóticas’ ou ‘selvagens’ nos circos. É motivo de orgulho pátrio: em alguma coisa somos, afinal, os primeiros. Mesmo que estejamos a criar uma geração de criancinhas a quem ensinam que só os ‘maus’ dos caçadores é que matam animais e que julgam que todos os outros animais morrem de morte natural e que os bifes nascem na horta, junto com as alfaces e as salsichas, e que a galinha não tem filhinhos destinados ao churrasco, mas apenas produz ovos e já estrelados.
Saturday, October 17, 2009
O Metro de Pequim
O metro de Pequim, que eu não usara quando em 2006 visitei a cidade, presta um excelente serviço. Nos primeiros dias de Setembro de 2009 usei o metro intensivamente para me deslocar pela imensa cidade.
A organização da rede é muito intuitiva e tira partido da orientação norte-sul de Pequim, definida pela linha Torre do Tambor-Cidade Proibida-Praça Tian An Men-Qian Men. Mesmo para os turistas mais desorientados a rede é muito amistosa pois os sinais dentro das estações estão escritos em mandarim e inglês e, dentro das carruagens, o percurso do combóio é representado pelo acender de luzinhas no diagrama da rede e os altifalantes anunciam o nome da estação seguinte também em inglês.
Outra coisa que facilita a vida dos passageiros é o acesso aos combóios ser feito a partir de um cais central. Há bilhetes recarregáveis que nos dispensam de comprar em cada viagem (o bilhete normal custa o equivalente a 40 centimos de euro).
A rede é enorme mas, apesar disso, há várias novas linhas em construção.
Uma das coisas que me impressionou foi o grande número de televisores instalados nas estações e mesmo dentro das carruagens.
As mensagens publicitárias encontram-se por todo o lado e até, como eu nunca vira em parte alguma, instaladas nas paredes dos túneis de forma a serem vistas como um "filme" através das janelas das carruagens em andamento.
Frequentar o metro é uma boa forma de perceber o quotidiano de uma cidade. Em Pequim é fácil fazê-lo e estas informações aqui ficam para o demonstrar.
Se quiser ver mais fotografias do metro de Pequim feitas por mim vá aqui.
Friday, October 16, 2009
Sobre o "caso Maitê Proença"
- chamar "vilazinha" a Sintra? No português do Brasil, o diminutivo não é depreciativo (ao contrário de, por vezes, em Portugal). Pensem por exemplo nos jogadores de futebol - acaba tudo em "inho". Não há ofensa nenhuma (muito menos ignorância) em um brasileiro referir-se à "vilazinha" de Sintra;
- dizer que em frente a Belém está "o mar"? Bem, se foi dali que Vasco da Gama partiu, a confusão é legítima. Ninguém sabe muito bem onde acaba o rio e começa o mar naquela zona - a estação de comboio da linha de Cascais chama-se "Alcântara-Mar" e não "Alcântara-Rio". De resto, logo no próprio vídeo a correcção é feita;
- não saber que o 3 ao contrário é "místico"? Eu também não sabia. E acho que ela tem todo o direito a gozar com o misticismo;
- a afirmação "o ditador Salazar esteve no poder mais de 20 anos" é matematicamente verdadeira. Sabemos que na linguagem comum "mais de 20 anos" quer dizer "menos de 30", o que relativamente a Salazar é errado. Mas mais grave seria não saber história portuguesa - Maitê tem, pelo menos, noções. Quantos dos que a criticam têm noções de história brasileira? E, já agora, quantos dos que a criticam sabiam que o padrão dos Descobrimentos é uma obra do salazarismo, como Maitê afirmou?
- Maitê aproveitou para referir-se (num tom jocoso) aos portugueses que elegeram Salazar como "o melhor português de sempre". Creio que a irritação de muito boa gente vem daqui. Apostaria que os críticos mais indignados de Maitê que por aí vemos concordam que Salazar é o melhor português de sempre. Este episódio não pode ser totalmente compreendido sem considerar esta parte do vídeo.
Thursday, October 15, 2009
Mais uma análise dos resultados em Lisboa
A ideia é comparar os resultados para a CML, no dia 11 de Outubro, com o resultado nas legislativas de 27 de Setembro no Concelho de Lisboa.
A primeira nota importante é que os 322.192 votantes de Setembro se reduziram para 280.310 passados 15 dias. Pode cojecturar-se que a realização simultânea das autárquicas e legislativas teria provavelmente evitado 41.882 abstenções na capital.
Mas estes números também nos dizem que os votantes para as autárquicas em Lisboa correspondem a 87% do votantes para as legislativas. Se partirmos do princípio que todos os partidos sofreram de forma idêntica com a debandada dos votantes é possível determinar qual seria a votação "normal" para cada partido.
O PS, por exemplo, teve nas legislativas 112.076 votos. Se calcularmos 87% desse valor chegamos à conclusão de que "normalmente" deveria ter tido para a CML 97.507. A verdade é que teve 123.372, portanto mais 25.865 do que seria "normal".
Aplicando a mesma lógica aos outros partidos podemos verificar o seu comportamento relativamente ao "normal":
O PCP perdeu 1.352 votos (partindo de 27.557)
O BE perdeu 14.709 votos (partindo de 31.613)
A direita (PSD+CDS) perdeu 4.737 votos (partindo de 130.107)
A esquerda (PS+PCP+BE) ganhou 9.804 votos (partindo de 171.246)
Visto deste ângulo conclui-se que houve um partido muito acima do espectável (PS) e um partido muito abaixo do espectável (BE). Os outros não se desviaram significativamente do resultado espectável à luz da muito maior abstenção.
Pode-se evidentemente especular sobre quem teria ganho Lisboa se em 11 de Outubro tivessem votado mais 41.882 lisboetas.
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Seinfeld no Twitter
I Enjoy a Good Tweet
The cast of Seinfeld expounds on the latest Internet phenomenon.
By Frank Ferri
Posted Monday, Oct. 12, 2009, at 3:11 PM ET
INT. JERRY'S APARTMENT—DAY
ELAINE and JERRY are standing around JERRY'S kitchen counter. GEORGE is sitting on the couch typing on a laptop.
JERRY: Again with the Twitter?
GEORGE: What? I can't tweet?
ELAINE: No one said you can't tweet.
GEORGE: Jerry did. Jerry's got a problem with my tweeting.
JERRY: Please, tweet away. Tweet all you want. Tweet your heart out.
GEORGE: I will. I enjoy a good tweet.
ELAINE: Fine, but don't you think it's a bit much with the tweets?
GEORGE: Who are you? The queen of tweets? I think I tweet the perfect amount.
JERRY: You know, you've got to have something to tweet about in order to tweet.
GEORGE: I got plenty to tweet about, baby!
JERRY: No, no you don't. You see, you have the Twitter account and the laptop. But you don't have anything worthwhile to tweet about. No job, no girlfriend, no …
KRAMER enters, nearly knocking over JERRY as he stumbles into the living room.
KRAMER: Giddyup. (Notices George.) What's with Poindexter on the laptop?
ELAINE: He's tweeting again.
KRAMER: My God! You're tweeting all over the place!
GEORGE: I tweet just as often as the next guy. No one stops George Costanza from tweeting!
KRAMER: I ever tell you about my friend Bob Sacamano? Tweeted way too much. (Getting animated.) Tweeted like there was no tomorrow!
GEORGE: So?
KRAMER: (high-pitched) He's dead.
ELAINE: Death by Twitter?
KRAMER: You said it, sister.
JERRY: What's the deal with that 140-character limit, anyway? Like if it was 141, the Internet would break?
GEORGE: Ooh, that's good. Can I tweet that?
LAUGHTER. APPLAUSE. END SCENE.
Estudo para a Política Fiscal
Por aquilo que os jornais divulgaram, o Estudo para a Politica Fiscal, não toca em quase nenhum dos problemas que as pessoas e as empresas realmente sentem.
Limitando-nos ao caso do IRS, apenas a hipótese de declaração individual para casados vai no sentido de uma maior justiça (e mesmo assim haveria que ver se o regulamento das deduções familiares não anula o eventual benefício).
Não há proposta de subir os limites superiores dos escalões para deixar de tributar como ricas as pessoas da classe média.
Não se propõe uma actualização das deduções relativas ao criar os filhos e ao cuidar dos idosos.
Em França, p.ex. existe o sistema C.E.S.U. para pagar serviços prestados por particulares: amas, mulheres- a-dias, enfermeiros, auxiliares domésticos para acompanhamento de crianças ou idosos. Com a vantagem de assegurar automaticamente os descontos obrigatórios para o prestador do serviço e permitir ao pagador o desconto de 50% no seu imposto.
Em Portugal, quem tiver uma empregada doméstica tem todas as obrigações financeiras de um empresário, sem nenhuma das facilidades fiscais! A mensalidade de um lar de 3ª idade é dedutível, o salário de quem presta cuidados no domicílio não é...
Continua-se a englobar as rendas no rendimento colectável dos senhorios enquanto as aplicações financeiras têm taxas liberatórias. E querem dinamizar o mercado de arrendamento?
Propõem aumentar a tributação das mais-valias, nomeadamente em Bolsa, com a desculpa de que é imoral que os especuladores paguem tão pouco.
O que é imoral é que governantes e especialistas nos tratem como atrasados mentais!
Não sabem que quem paga sobre as mais valias é o pequeno investidor cujo património não justifica o uso de uma “off-shore” ou a criação de uma fundação?
O nosso sistema fiscal continua baseado no “espremer” da classe média; começando logo na ridícula “definição” do que são as grandes fortunas.
Este Estudo que não sugere mais do que dar uma demão de tinta sobre o edifício em ruína, poderia ao menos servir para trazer o assunto à discussão publica.
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Wednesday, October 14, 2009
Nas Fronteiras do Universo
O fino verniz da retórica sobre democracia
No último dia da campanha para as autárquicas os media precipitaram-se sobre umas patetices de Carmona Rodrigues a propósito do seu apoio a Santana, ansiosos por descobrir mais uma "trapalhada" para animar os noticiários.
Já na noite de contagem dos votos a cobertura da sede de campanha de Santana concentrou-se num facto totalmente irrelevante: o candidato deslocava-se de vez em quando de um edifício para outro. Um jornalista mais arguto chegou mesmo a perguntar a Santana se tais deslocações tinham como objectivo "ir à casa de banho".
Até um defensor acérrimo da liberdade de imprensa como eu é assaltado por perguntas incómodas como "por que raio é dado o privilégio da comunicação jornalística a cidadãos incompetentes, ignorantes ou mesmo imbecis" ?
Outra questão que se coloca é a seguinte: por que é Santana impunemente objecto de achincalhamento público ? Mesmo quem, como eu, não é apoiante de Santana tem dificuldade em perceber por que razão ele é muito pior do que a generalidade dos políticos da nossa praça.
Ele pode ter falado nos concertos de violino do Chopin mas não assinou projectos de arquitectura pimba.
Ele pode ter sido "menino guerreiro" mas jamé fez corninhos no parlamento.
Ele pode ser populista mas não fez carreira académica na Independente à pala de um professor beneficiado na Cova da Beira.
Ele pode ter tido colaboradores corruptos (o que ainda não foi demonstrado) mas nunca ninguém o acusou de corrupção.
Ele pode ter "andado por aí" mas não foi para a Mota Engil depois de ser primeiro ministro. Apenas para dar alguns dos muitos exemplos possíveis.
Mas esta verdadeira moda de achincalhar Santana ataca mesmo em momentos impróprios.
António Costa, na noite da vitória em Lisboa, tendo-lhe sido perguntado por um jornalista matreiro o que pensava de vir a ter Santana como vereador, fez um sorriso alarve e disse "ele anda sempre por aí...".
Não teve portanto pejo de ridicularizar um adversário que nesse mesmo dia obtivera mais de 38% dos votos lisboetas e que, no seu discurso de derrota, usara de grande urbanidade em relação ao vencedor da noite.
Pode, justamente, António Costa queixar-se daqueles que menosprezaram a sua vitória por ele ser goês. Mas, mesmo por isso, como vítima desse racismo, deveria pensar mais sobre a sua atitude relativamente a Santana que sempre tem tratado como se pertencesse a uma casta inferior.
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Tuesday, October 13, 2009
“A homossexualidade precisa de inventar uma linguagem amorosa”
Álvaro Pombo é o avô "cool" que o mundo das artes espanhol adoptou. Romancista, poeta, é um homossexual que atravessou décadas de repressão franquista. Onde forjou um caminho para a sua sexualidade que nasceu clandestina. Sente-se perplexo com tanta manifestação do orgulho gay. O romance "Contra- natura" dá voz à sua perplexidade.
"Contra - Natura" é um manifesto?
O livro é muitas coisas ao mesmo tempo, mas é muito grande para ser um manifesto [o romance tem 573 páginas]. É antes de mais uma tomada de posição sobre a homossexualidade, sobre a forma como eu, homossexual assumido, me posiciono na sociedade actual sobre as questões políticas e estéticas que nos dizem respeito. Tudo isto sem deixar de ser um romance.
Inventei duas personagens, um protagonista e um antagonista, ambas da minha idade, que são, simplificando, o bom e o mau homossexual. É que dentro da forma de viver a homossexualidade há comportamentos indignos e perversos que nunca podem conduzir à felicidade. Com isso criam-se estigmas sobre os homossexuais que depois são muito difíceis de vencer.
É um livro sobre as perplexidades da sua geração de homossexuais?
Sim. Publicamente, saí do armário desde que comecei a publicar, nos anos 70. Nuca iludi a minha condição e os meus livros sempre a espelharam não iludindo os problemas desta vivência. Hoje, porém, vivemos um período de muito facilitismo. O armário hoje é ridículo. Atravessamos um momento tonto e fútil. Pior: nalguns casos o orgulho da afirmação faz-se pela agressividade e pela vitimização artificial de cada homossexual.
A comunidade homossexual entendeu estas suas perplexidades?
Receberam o livro com muitas reservas. Está-se a viver um momento muito esquerdista militante, muito barulhento e a reflexão que proponho acham-na desmobilizadora. Não se pode fazer uma apologia absoluta da homossexualidade, nem de quase nada na vida. Mas quem me leu com atenção e com esforço sério percebe que sou claro e coerente em muitas questões, nomeadamente na crítica à educação religiosa que condicionou o desenvolvimento sexual saudável de muitas gerações.
O título do livro, "Contra - Natura", não é uma provocação?
Talvez. Mas cumpre duas ordens de razão: remete para a realidade histórica que vivi. Quando dois homossexuais eram apanhados nas esquinas de qualquer noite clandestina e eram identificados pela polícia, "contra-natura" era a expressão que aparecia estampada nos autos para caracterizar o tipo de práticas a que se dedicava quem era apanhado em flagrante. Ao mesmo tempo este título dá ao romance um ar rebelde, selvagem, provocador.
Mas acha que um jovem homossexual espanhol não pode ser feliz no amor se não perceber estas dicotomias entre Natureza e História que propõe Ortega y Gasset, ou as armadilhas do pensamento existencialista?
Entendamo-nos: a homossexualidade é um assunto de minorias. Somos uma anomalia estatística e não há forma de dar a volta a esta realidade. E é uma minoria com problemas específicos. Se entendermos a felicidade como uma sucessão de casos sustentados em amores líquidos, em trocas de fluxos, talvez seja possível. Mas há um dia em que queremos mais. Escrevo romances para serem lidos por toda a gente, mas espero que alguns percebam que faz parte do código genético dos meus livros a reflexão sobre problemas muito sérios com que um homossexual se confrontará mais cedo ou mais tarde.
Mas reconhece que a homossexualidade hoje pode ser vivida de forma mais livre? Ou não?
Obviamente. A sociedade é mais aberta e a discussão muito mais fácil.
Há no seu livro uma nostalgia em relação à vivência canalha, despudorada da homossexualidade vivida na clandestinidade?
Não. Mas a verdade é que a prática homossexual se contradiz por natureza numa vivência que se procura normalizável. É por isso que sempre será difícil para mim acreditar na tradução jurídica do casamento como motivo de felicidade imediata. Se calhar bastava contarmos o número de divórcios que existem no casamento heterossexual para pensarmos duas vezes. Acrescente-se ainda o facto de que quando dois homossexuais decidem viver juntos o que prevalece ao longo do tempo é um projecto de companheirismo mútuo e onde as questões eróticas, sexuais muitas vezes não conseguem ser formatadas e a fidelidade assegurada. Neste sentido o casamento homossexual pode ser algo contra-natura.
Álvaro Pombo: homossexual, cristão, homem de direita. A terceira característica em relação a si não é um rótulo apressado e abusivo?
Claro. Eu sou um homem de esquerda, crente e que sempre votei à esquerda. O problema é que em Espanha actualmente tudo tem que ter rótulos, etiquetas e estar arrumado em certezas e dogmas. Esquecem-se que sempre fui um defensor dos direitos cívicos da minoria a que pertenço. Mas não embarco em folclores.
(excertos da entrevista ao Público, publicada no dia 7 de Outubro, que pode ser lida na íntegra aqui)
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Monday, October 12, 2009
A tomada de Lisboa
No dia 9 de Setembro o Diário de Notícias noticiava em grandes parangonas: "Costa reeleito com maioria folgada face a Santana" e mostrava este gráfico em que o PS bate a coligação da direita por 12 pontos percentuais.
Trata-se de uma grosseira manipulação que logo denunciei pois, para além de atribuir a Santana um resultado baixíssimo, apresenta um somatório da esquerda (PS+PCP+BE) que nunca foi alcançado em Lisboa, 62%.
O DN, depois de ter publicado o email dos jornalistas do Público, parece querer continuar a prestar serviços a quem ocupa o governo.
Dito isto há que reconhecer, na linha do meu post anterior que a vitória de António Costa é excepcional. Como então expliquei a esquerda em 2001 e 2005 não teve mais do que 45% dos votos em Lisboa e portanto o resultado de Costa é notável na medida em que conseguiu "secar" o BE e a CDU a seu favor. Para este resultado, como ao longo do país, contribuiu sem dúvida a proximidade da vitória do PS nas legislativas de 27 de Setembro.
Relativamente a 2001 (vitória de Santana) e 2005 (vitória de Carmona) a direita perdeu muita da sua força. Basta dizer que Santana alcançou em 2001, sem o apoio do CDS, um total de 130.000 votos e agora só obteve 108.000.
O que esta vitória de Costa tem de mais amargo é não só a heterogeneidade da equipa eleita, que pode trazer alguns problemas no futuro, como o facto de ter sido construída não sobre um programa entusiasmante mas sim sobre o medo do regresso de Santana.
Santana foi diabolizado numa manobra que o PS vem repetindo eleição após eleição. Quem se opõe ao PS é objecto de uma avalanche mediática de destruição de carácter e, como no caso paradigmático de Santana, chega-se ao ponto de não ser preciso discutir ideias bastando acenar com a lepra do adversário. O último a provar deste remédio foi o próprio Presidente da República.
É lamentável que estas eleições em Lisboa se tenham realizado sem que esteja esclarecida a veracidade das acusações e insinuações que permitiram as intercalares de 2007 e o surgimento de Costa na CML. Carmona Rodrigues e outros membros da vereação anterior foram sacrificados mas ainda não se provou nada contra eles e o caso parece, como é costume, estar a deslizar para as calendas. Ficará sempre no ar a dúvida sobre se esta vitória do PS em 2009 teria sido possível sem a intensa campanha mediática que derrubou o executivo de Carmona em 2007 e sem a lentidão da justiça que tarda em esclarecer a veracidade dos factos em que tal campanha se baseou.
Isto é muito mau e faz temer que o PS se esteja a converter numa espécie de partido-regime, numa presença tentacular que se torna quase impossível desalojar do poder.
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Sunday, October 11, 2009
Sondagem Aximage/Liedson
É muito bonito quando o "político" e o "social" coincidem assim de uma forma tão evidente que até eu consigo perceber tudo.
Insulto gratuito póstumo do mês
Adivinhem lá.
Espinho
Alentejo
Margem Sul do Tejo
Lisboa
Tal como (quase que aposto!) Carlos do Carmo e muitos outros lisboetas, tenho pena que a CDU tenha perdido um vereador, mas não me arrependo de nada. Principalmente porque creio que votei (convictamente) num grande presidente de câmara, mas também porque, como se comprovou, o risco de vitória de Santana Lopes era real. E havia que não dispersar votos, para não voltar a suceder como em 2001. Já da não-eleição de vereadores do Bloco de Esquerda não tenho pena nenhuma. Em qualquer dos casos, o sectarismo foi penalizado.
Tal como (quase que aposto!) Carlos do Carmo e muitos outros lisboetas, votei na CDU para a Junta de Freguesia. Considero os meus votos muito bem empregues. Nenhum deles foi perdido.
Santana Lopes tinha razão ao apontar o "voto útil" em Costa (para a vereação) por parte dos eleitores mais à esquerda, principalmente da CDU, como se comprova com o muito melhor resultado que a coligação teve nas eleições para as freguesias. Já não tem razão nenhuma (e soa a delírio) falar num "acordo secreto" entre PS e CDU ou numa intenção deliberada do PCP em votar no PS para a vereação. Por um lado estes resultados fortalecem Santana: este voto útil mostra que era um adversário temível para a esquerda. Mas por outro lado tornam evidente que a principal preocupação de grande parte do eleitorado era que Santana não fosse eleito. Santana divide os lisboetas quase ao meio: uma parte significativa ainda gosta muito dele, mas a maioria sente por ele uma rejeição enorme. Por muito que já haja quem afirme o contrário, Santana é um dos grandes derrotados da noite.
Longe da "obra feita"
Encontro-me no Alentejo. Um sítio fabuloso especialmente onde os candidatos não conseguiram ter "obra feita".
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Saturday, October 10, 2009
Friday, October 9, 2009
A minha declaração de voto em Lisboa
Debate sobre Lisboa (2) – as propostas de Santana
Debate sobre Lisboa (1) – o outro António Costa
O apoio que faltava
A improvável vitória de António Costa
Nos dois últimos actos eleitorais autárquicos não intercalares em Lisboa, em 2001 e em 2005, em ambos, a direita no seu conjunto (PSD+CDS) teve cerca de 49% dos votos e a esquerda (PS+PCP+BE) teve cerca de 45%.
Parece pois pouco provável que o PS sózinho esteja em condições de bater o conjunto dos partidos da direita, mesmo com forte efeito "voto útil" em detrimento do BE e do PCP.
Se tal acontecer bem pode António Costa clamar uma excepcional vitória.
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Thursday, October 8, 2009
Vamos dar-lhes porrada nas praias
Como já devem ter adivinhado, fui hoje barbaramente acordado às duas da tarde por alguém que pretende ser meu amigo, mesmo não tendo ainda assimilado as noções mais básicas sobre o meu calendário de repouso: «Já leste esta gaja?». Não só não li esta gaja, como nunca tinha ouvido falar desta gaja, embora tenha sido informado poucos minutos depois que sou a única pessoa cá em casa que não leu esta gaja nem nunca tinha ouvido falar desta gaja. Omiti este dado ontem porque sou um saloio supersticioso, mas tinha apostado 15 libras no Magris e outras 10 no poeta coreano cujo nome, apesar de consistir em apenas quatro letras, vai ser um profundo mistério durante o resto da minha vida. A minha opinião genérica sobre a atribuição do Nobel a Herta Müller é, segundo me informaram, extremamente positiva.
De realçar também que, enquanto eu andava por aí a cruzar-me com o João Botelho em oitenta e sete ruas lisboetas, o Eduardo Nogueira Pinto, o Pedro Lomba e o Miguel Góis fizeram um blogue novo. Perdi quase uma hora a teorizar sobre o facto de o blogue se chamar "Suction with Valcheck" em vez de "Suction with Valchek", porque os fãs do Wire costumam jogar esta coisa toda a um nível muito superior e - digo-o sem pinga de erotismo - tive medo que me estivesse a escapar alguma coisa.
Tendo em conta que já há iluminações de Natal à venda no sétimo piso do El Corte Inglês, decidi antecipar a minha lista de melhores blogues do ano, por ordem de qualidade, e em número de sete:
1. A Causa Foi Modificada
2. Yesterday Man
3. b-site
4. Ouriquense
5. um blog sobre kleist
6. Circo da Lama
7. Gravidade Intermédia
Tenho-me preocupado bastante nos últimos tempos com a falta de preocupação dos adeptos do Sporting em relação ao Benfica. Como um judeu alemão em 1933, o adepto do Sporting insiste em abanar a cabeça e sorrir, ao mesmo tempo que tenta convencer os pequenos Joshua e Sapphira de que vai correr tudo bem. Continuar a defender publicamente a ideia de que o Benfica é só ímpeto e entusiasmo artificial é neste momento blasfemo. Os noventa minutos do Benfica contra o Borisov, que eu fui ver ali com o Sérgio aqui há umas semanas, antes de tropeçar no João Botelho na Bica - noventa minutos de Benfica a meio-gás e sem três titulares importantes - foram francamente aterrorizantes. Já devia ser evidente para todos que estamos na presença do Mal absoluto.
Não é o facto de não ter havido um único lance de ataque inconsequente até aos 82 minutos. Não é o facto de não se ter visto uma única jogada começar com um passe longo de um dos centrais para o jogging acéfalo de um dos avançados (o gambito Polga-charuto-Djaló que tem sido o plano B do Sporting em todas as ocasiões em que não é o plano A). Não é o facto de jogadores do Benfica fazerem agora passes com força e a meia altura para a linha lateral, sem exibirem qualquer sinal de dúvida sobre a capacidade do colega de equipa para controlar a bola (a única pessoa a fazer isto no Sporting no passado recente foi o Rochemback, por inconsciência). Não é sequer o facto de dois antigos YouTubes de 5 minutos chamados Di Maria e Fábio Coentrão andarem agora por ali a ter aplicação prática constante - uma conversão de fantasia em realidade tão obscena como se duas actrizes pornográficas quisessem de repente casar connosco pela igreja.
O que foi realmente assustador foram as exibições de César Peixoto e Rúben Amorim: dois funcionários competentes, que se tivessem nascido dez anos mais cedo estariam hoje condenados a lugares de destaque em qualquer lista de barretes famosos do Benfica. O César Peixoto e o Rúben Amorim não são melhores do que o Nelo e o Tavares; mas vão andar por ali, vão ser esporádicos titulares "úteis", vão ser frequentes suplentes "eficazes". E depois disto, por duas vezes, o Benfica jogou mal e ganhou, como os Nazis na Batalha de Creta em 1941. Por amor de Deus, eu tenho visto o João Botelho com mais frequência do que vejo a minha mãe: aquilo é um homem sorridente e descansado da vida, porque sabe que pertence a uma raça superior. Ou o Jesualdo will fight them on the beaches ou estamos todos perdidos.
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