Monday, October 12, 2009

A tomada de Lisboa

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No dia 9 de Setembro o Diário de Notícias noticiava em grandes parangonas: "Costa reeleito com maioria folgada face a Santana" e mostrava este gráfico em que o PS bate a coligação da direita por 12 pontos percentuais.

Trata-se de uma grosseira manipulação que logo denunciei pois, para além de atribuir a Santana um resultado baixíssimo, apresenta um somatório da esquerda (PS+PCP+BE) que nunca foi alcançado em Lisboa, 62%.

O DN, depois de ter publicado o email dos jornalistas do Público, parece querer continuar a prestar serviços a quem ocupa o governo.

Dito isto há que reconhecer, na linha do meu post anterior que a vitória de António Costa é excepcional. Como então expliquei a esquerda em 2001 e 2005 não teve mais do que 45% dos votos em Lisboa e portanto o resultado de Costa é notável na medida em que conseguiu "secar" o BE e a CDU a seu favor. Para este resultado, como ao longo do país, contribuiu sem dúvida a proximidade da vitória do PS nas legislativas de 27 de Setembro.

Relativamente a 2001 (vitória de Santana) e 2005 (vitória de Carmona) a direita perdeu muita da sua força. Basta dizer que Santana alcançou em 2001, sem o apoio do CDS, um total de 130.000 votos e agora só obteve 108.000.

O que esta vitória de Costa tem de mais amargo é não só a heterogeneidade da equipa eleita, que pode trazer alguns problemas no futuro, como o facto de ter sido construída não sobre um programa entusiasmante mas sim sobre o medo do regresso de Santana.

Santana foi diabolizado numa manobra que o PS vem repetindo eleição após eleição. Quem se opõe ao PS é objecto de uma avalanche mediática de destruição de carácter e, como no caso paradigmático de Santana, chega-se ao ponto de não ser preciso discutir ideias bastando acenar com a lepra do adversário. O último a provar deste remédio foi o próprio Presidente da República.

É lamentável que estas eleições em Lisboa se tenham realizado sem que esteja esclarecida a veracidade das acusações e insinuações que permitiram as intercalares de 2007 e o surgimento de Costa na CML. Carmona Rodrigues e outros membros da vereação anterior foram sacrificados mas ainda não se provou nada contra eles e o caso parece, como é costume, estar a deslizar para as calendas. Ficará sempre no ar a dúvida sobre se esta vitória do PS em 2009 teria sido possível sem a intensa campanha mediática que derrubou o executivo de Carmona em 2007 e sem a lentidão da justiça que tarda em esclarecer a veracidade dos factos em que tal campanha se baseou.

Isto é muito mau e faz temer que o PS se esteja a converter numa espécie de partido-regime, numa presença tentacular que se torna quase impossível desalojar do poder.
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