Já não será, nesta altura, novidade para ninguém. Falo do brinde que a revista Sábado escondeu entre as páginas da sua última edição - ainda nas bancas - e que constituiu verdadeiro serviço público.
Nunca tinha utilizado mortalhas Smoking DeLuxe™, embora o nome me fosse familiar. As mortalhas Smoking DeLuxe™ gozam de uma reputação vestalina entre fumadores, o que terá alimentado algumas dúvidas minhas em relação ao seu real valor (a velha mania idiota de desconfiar do que é unânime ou quase). Este preconceito, esclareço, sempre foi assumida e necessariamente provisório, até que o primeiro contacto com a realidade fumável os confirmasse ou explodisse.
A realidade esteve aqui, nas minhas mãos. First things first: a qualidade existe, e sente-se em cada inalação. Fazer uma mortalha não é o mesmo que fazer um tapete de Arraiolos, mas a forma exige algumas competências específicas que, no caso das Smoking DeLuxe™, se notam a léguas. É inegável que há ali muito talento. Agora, o que também é inegável é a tremenda irregularidade do artífice. Não há duas mortalhas iguais no pacotinho. Mais insólito, não há sequer duas mortalhas de valor aproximado. A mortalha nº 41, por exemplo, achei-a um pequeno prodígio de fumabilidade. Fumei-a várias vezes (sim, é possível), sempre com frequentes acenos de aprovação. Pensei: é assim que eu gosto de sentir a garganta. Na mortalha nº 23 notei uma textura duvidosa e alguns arabescos desnecessários, sinais inequívocos de uma mortalha que quer ser lenço de bolso, mas não sabe como. Resultado: desfez-se em borboletas microscópicas ao primeiro sinal de um isqueiro adulto.
Já da francamente ridícula mortalha nº 7 - que me causou um acesso de tosse convulsa - é impossível falar sem exigir a demissão imediata do responsável pelo controlo de qualidade.
O que fica disto tudo? Porque não há tempo para mais, fica a minha telegráfica contribuição para o estudo de mercado:
O balanço final: é positivo? Creio que sim. Há a tal inconsistência, mas o pulmão é um órgão muito temperamental. Nem sempre se pode confiar nele para juízos imparciais.
Dada a oportunidade, voltaria a consumir mortalhas Smoking DeLuxe™? Sem dúvida. Aliás, ando já à procura de outro pacote, por aí, nos quiosques. Mas também ando à procura de muitas outras coisas, por aí, nos quiosques, sublinhe-se.
A reputação que precede a marca: é merecida? Ah, isso. Tenho as minhas dúvidas.
Nunca tinha utilizado mortalhas Smoking DeLuxe™, embora o nome me fosse familiar. As mortalhas Smoking DeLuxe™ gozam de uma reputação vestalina entre fumadores, o que terá alimentado algumas dúvidas minhas em relação ao seu real valor (a velha mania idiota de desconfiar do que é unânime ou quase). Este preconceito, esclareço, sempre foi assumida e necessariamente provisório, até que o primeiro contacto com a realidade fumável os confirmasse ou explodisse.
A realidade esteve aqui, nas minhas mãos. First things first: a qualidade existe, e sente-se em cada inalação. Fazer uma mortalha não é o mesmo que fazer um tapete de Arraiolos, mas a forma exige algumas competências específicas que, no caso das Smoking DeLuxe™, se notam a léguas. É inegável que há ali muito talento. Agora, o que também é inegável é a tremenda irregularidade do artífice. Não há duas mortalhas iguais no pacotinho. Mais insólito, não há sequer duas mortalhas de valor aproximado. A mortalha nº 41, por exemplo, achei-a um pequeno prodígio de fumabilidade. Fumei-a várias vezes (sim, é possível), sempre com frequentes acenos de aprovação. Pensei: é assim que eu gosto de sentir a garganta. Na mortalha nº 23 notei uma textura duvidosa e alguns arabescos desnecessários, sinais inequívocos de uma mortalha que quer ser lenço de bolso, mas não sabe como. Resultado: desfez-se em borboletas microscópicas ao primeiro sinal de um isqueiro adulto.
Já da francamente ridícula mortalha nº 7 - que me causou um acesso de tosse convulsa - é impossível falar sem exigir a demissão imediata do responsável pelo controlo de qualidade.
O que fica disto tudo? Porque não há tempo para mais, fica a minha telegráfica contribuição para o estudo de mercado:
O balanço final: é positivo? Creio que sim. Há a tal inconsistência, mas o pulmão é um órgão muito temperamental. Nem sempre se pode confiar nele para juízos imparciais.
Dada a oportunidade, voltaria a consumir mortalhas Smoking DeLuxe™? Sem dúvida. Aliás, ando já à procura de outro pacote, por aí, nos quiosques. Mas também ando à procura de muitas outras coisas, por aí, nos quiosques, sublinhe-se.
A reputação que precede a marca: é merecida? Ah, isso. Tenho as minhas dúvidas.
Em última instância depende daquilo que se espera de uma mortalha. Do formato "rice paper" não podemos, realisticamente, esperar frequentes supernovas. Mas há patamares não-explorados do universo bucal que podem ser alcançados com uma baforada competentemente conduzida.
E se por um lado é indiscutível que as Smoking DeLuxe™ não me provocaram ulcerações nas mucosas, a verdade é que nenhuma das que incendiei me levou ao início e ao fim do Universo, o que me chegou a ser prometido. O fumo funciona, e a espaços funciona bem, mas não é mais do que fumo.
E há uma parte de mim que (algo envergonhadamente) ainda quer saber o porquê de tanto alarido. É que a marca O'Rourke™ anda por aí há muitos mais anos, proporcionando o dobro do prazer, com apenas metade da expectoração. E tem ainda esta vantagem adicional: evita-se aquela esporádica, mas incómoda sensação de se estar a apanhar com fumo secundário.
E se por um lado é indiscutível que as Smoking DeLuxe™ não me provocaram ulcerações nas mucosas, a verdade é que nenhuma das que incendiei me levou ao início e ao fim do Universo, o que me chegou a ser prometido. O fumo funciona, e a espaços funciona bem, mas não é mais do que fumo.
E há uma parte de mim que (algo envergonhadamente) ainda quer saber o porquê de tanto alarido. É que a marca O'Rourke™ anda por aí há muitos mais anos, proporcionando o dobro do prazer, com apenas metade da expectoração. E tem ainda esta vantagem adicional: evita-se aquela esporádica, mas incómoda sensação de se estar a apanhar com fumo secundário.
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