Saturday, May 12, 2007
Um fado triste
Está imparável a retórica que pretende "devolver a palavra aos lisboetas". Omite piedosamente que foram os lisboetas que elegeram Carmona e, antes dele, Santana Lopes. Dois enganos consecutivos são, pelos vistos, insuficientes. Havemos de votar até acertar, até que alguém verdadeiramente esclarecido (quem será ?) se dê por satisfeito.
Para facilitar a vida ao eleitor, cujo historial é bastante fraco, vamos aparentemente ser brindados com grande número de candidatos que vão do PNR até aos independentes para todos os paladares. A recusa das alianças é a demonstração cabal de que os partidos se preocupam mais com as suas manobras eleitorais do que com a solução dos problemas de Lisboa que eles dizem ser catastróficos.
Os jornais e quase todos os comentadores congratulam-se com o facto de os maiores partidos se prepararem para candidatar "nomes sonantes" e vão ao ponto de considerar que tal constitui um motivo de esperança. Discordo completamente e considero que é, isso sim, uma demonstração da inexistência de planos sérios, desenvolvidos por quem no terreno tenha passado anos de tarimba. Vai-se portanto, à pressa, deitar mão ao sabonete, perdão, ao candidato que melhor corresponde aos requisitos do marketing.
As "calamidades" que se abateram sobre a cidade de Lisboa devem-se, por definição, à perfídia "dos nossos adversários" o que nos dispensa de qualquer análise mais elaborada e trabalhosa.
Assim continuaremos de arguido em arguido, de "providência cautelar" em "providência cautelar", de milhão deficitário em milhão emprestado, até que os actuais 11.000 funcionários (!!!) se tenham convertido em 30.000.
Caramba, isto dava um grande fado (triste).
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Para acabar cito um leitor do Expresso de hoje, Francisco Costa Duarte, com quem partilho preocupações:
Nos últimos dias não tenho ouvido falar de outra coisa senão Lisboa, Lisboa, Lisboa. Será que se discute um plano sério para a reabilitar, uma espécie de Polis económico, social e cultural que lhe devolva as centenas de milhares de habitantes perdidos nas últimas décadas, lhe propicie a inversão da decadência visível a olho nu, lhe permita sobreviver ao trânsito automóvel caótico, lhe devolva o Tejo? Gostava que fosse mas não é!
Admitiria que este falatório discutisse esta crise como resultante do falhanço das actuais organização e prática política/partidária que temos: clubes partidários fechados, procura de satisfazer interesses individuais não merecidos, muitas vezes, inconfessáveis, lóbis com avultados lucros à ‘mesa do Orçamento’, à custa de todos os portugueses, desconhecimento e desprezo pelas opiniões e aspirações das populações, desinteresse e desmotivação destas, etc. Gostava que fosse mas não é!
O que acontece e se discute é uma feira de vaidades, sede e cálculos de poder, defesas de interesses não transparentes, de uns tais Carmonas, Mendes, Carrilhos, Santanas, Bragaparques e outros figurões, individuais e colectivos, uma espécie de clube fechado de «aparatchiks» que, parece, como nos dogmas religiosos, deter toda a verdade sobre Lisboa em particular e sobre o país em geral.
Já ouvi, li e ‘interneti’ vários ‘fóruns’ e o que vejo é falar de “carácter”, “dignidade”, “carisma”, “competência”, “honestidade”, “transparência”, desta espécie de clube. Ainda não ouvi foi falar de Lisboa! Nem das aspirações dos seus residentes. (...) Pouco me interessa o “carácter”, a “dignidade”, o “carisma”, a “competência”, a “honestidade”, a “transparência”, dos membros do tal clube, se tudo isso não é posto ao serviço da população. Porque acho que, além de mais, no fundo, todas as pessoas são boas, mas que, bastas vezes, as profundidades assustam. E porque, não sendo ao serviço da comunidade só servem para crescer o ego e o bolso dos próprios. (...)
Por isso, adoptei outro critério interventivo: sempre que tiver oportunidade faço boa publicidade do Município: Por exemplo: “Este telhado mete água, foi feito pela EPUL”; “Com o Túnel de Lisboa chega à António Augusto de Aguiar. Com o mesmo dinheiro o Metro chegava ao Cacém” (...)
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