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Quase toda a gente fala da crise de Wall Street como se se tratasse apenas de um acesso de ganância concretizado através de malabarismos à beira da vigarice.
Se assim fosse estaríamos nós bem. Castigava-se os tarados e repunha-se a ordem dos mercados.
O problema é que , por trás dos exageros na concessão do crédito, existe uma crise económica profunda. Não há um equilíbrio sustentável entre a procura, essa sim em crise, e a oferta que cresce exponencialmente.
O trabalho é cada vez menos incorporado durante a produção, que se automatiza constantemente, e torna-se cada vez mais um componente não-repetitivo que se esgota antes (concepção, planeamento...) ou depois (marketing, distribuição..) do acto produtivo.
Nos tempos de Marx os operários eram explorados porque quando chegavam às quatro da tarde já tinham produzido o equivalente ao seu salário e, apesar disso, continuavam a laborar até às sete. Hoje, os "trabalhadores do conhecimento" recebem o ordenado do mês em troca de "software" ou "ideias" ou "imagens" que ficam a facturar para os seu patrões durante anos, mesmo até depois de eles terem sido despedidos da empresa que ficou com as suas criações.
Esta diferença levou à emergência de uma sociedade que tem muita dificuldade em encontrar compradores para as quantidades brutais de mercadorias, físicas e virtuais, que disputam entre si os salários dos trabalhadores.
É por esta razão que o sistema gera constantemente novas formas de ampliar a capacidade de aquisição, a procura, através de esquemas cada vez mais delirantes de concessão de crédito.
Em vez de pagar a quem trabalha, a quem cria valor, de acordo com o que rendeu o que se faz é tentar convencer os cidadãos a gastar já hoje aquilo que se supõe que vão ganhar no futuro.
Enquanto esta contradição não for superada continuaremos a ter "crises financeiras" que não são mais do que sintomas epidérmicos da doença.
Quando esta contradição for superada já não estaremos provavelmente a viver em capitalismo.
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