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"As expedições navais também ilustram a diferença entre as abordagens oriental e ocidental. As missões europeias eram menos grandiosas, mas mais produtivas. Muitas vezes eram inteiramente privadas ou eram parcerias público-privadas e utilizavam novos métodos de financiamento.
Os Holandeses foram pioneiros nas inovações em finanças e em impostos; na década de 1580, os seus comerciantes de arenque utilizavam generalizadamente contratos de futuros. E estes mecanismos financeiros representaram um avanço crucial, porque asseguravam financiamento para um número sempre crescente de expedições. Todas as viagens tinham como objectivo dar lucro, fazer novas descobertas e encontrar produtos novos. O projecto avançava por experiência e erro, com cada expedição a aprender com as anteriores. Ao longo do tempo, desenvolveu-se uma cadeia de iniciativa, exploração, ciência e aprendizagem.
Pelo contrário, na China, as viagens dependiam dos interesses e do poder de um monarca. Quando ele desapareceu, as viagens pararam. Houve mesmo um caso em que o novo imperador mandou destruir os planos dos barcos para que a capacidade de os construir se perdesse.
Os Chineses utilizaram canhões de forma eficiente no século XIII. Trezentos anos mais tarde não conseguiam usá-los sem terem um europeu a mostrar como deviam fazer.
David Landes, um professor de Harvard especialista em história económica, chegou à conclusão de que a China não «gerou um processo contínuo e auto-sustentado de avanços científicos e tecnológicos». Os seus feitos acabaram por ser episódicos e efémeros. Foi esta a tragédia da Ásia: mesmo onde havia conhecimento faltava a aprendizagem."
Na minha condição actual de angustiado estudante de mandarim interrogo-me sobre o papel da complexidade dos caracteres chineses neste problema da aprendizagem, da transmissão entre gerações.
"As expedições navais também ilustram a diferença entre as abordagens oriental e ocidental. As missões europeias eram menos grandiosas, mas mais produtivas. Muitas vezes eram inteiramente privadas ou eram parcerias público-privadas e utilizavam novos métodos de financiamento.
Os Holandeses foram pioneiros nas inovações em finanças e em impostos; na década de 1580, os seus comerciantes de arenque utilizavam generalizadamente contratos de futuros. E estes mecanismos financeiros representaram um avanço crucial, porque asseguravam financiamento para um número sempre crescente de expedições. Todas as viagens tinham como objectivo dar lucro, fazer novas descobertas e encontrar produtos novos. O projecto avançava por experiência e erro, com cada expedição a aprender com as anteriores. Ao longo do tempo, desenvolveu-se uma cadeia de iniciativa, exploração, ciência e aprendizagem.
Pelo contrário, na China, as viagens dependiam dos interesses e do poder de um monarca. Quando ele desapareceu, as viagens pararam. Houve mesmo um caso em que o novo imperador mandou destruir os planos dos barcos para que a capacidade de os construir se perdesse.
Os Chineses utilizaram canhões de forma eficiente no século XIII. Trezentos anos mais tarde não conseguiam usá-los sem terem um europeu a mostrar como deviam fazer.
David Landes, um professor de Harvard especialista em história económica, chegou à conclusão de que a China não «gerou um processo contínuo e auto-sustentado de avanços científicos e tecnológicos». Os seus feitos acabaram por ser episódicos e efémeros. Foi esta a tragédia da Ásia: mesmo onde havia conhecimento faltava a aprendizagem."
FAREED ZAKARIA in "O Mundo Pós-Americano", Gradiva
Na minha condição actual de angustiado estudante de mandarim interrogo-me sobre o papel da complexidade dos caracteres chineses neste problema da aprendizagem, da transmissão entre gerações.
É verdade que a leitura faz apelo a uma das capacidades mais espantosas dos seres humanos: distiguir e identificar formas e padrões e interpretá-los para os integrar na representação mental do mundo. No entanto dada a complexidade e o enorme número de caracteres ideográficos chineses (cerca de 80.000) só podiam ser memorizados se, desde crianças, os chineses convivessem regularmente com textos escritos.
Por isso só uma elite, entre as centenas de milhões de habitantes, tinha realmente acesso a uma leitura culta. Foi já no século vinte, com a ajuda de uma notação fonética baseada nos caracteres "ocidentais", que se avançou para a alfabetização das grandes massas na China.
A leitura e a escrita dos caracteres chineses, ideográficos, constitui quanto a mim mais uma forma de mostrar a força da sociedade sobre os indivíduos e de impor a disciplina e a inevitabilidade das regras sociais.
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