Nunca esperei nada de muito significativo desta nova etapa da selecção nacional com Carlos Queiroz. Há demasiados anos que o vejo como um treinador banal de alta competição, bom programador ao que dizem, disciplinado e trabalhador, bem relacionado, que utiliza o servilismo de uma parte da imprensa portuguesa ("professor" para aqui, "professor" para ali) para esconder a falta dos atributos que mais devem habilitar um homem com as suas funções: carisma, capacidade de liderança e sagacidade nas opções técnicas, sobretudo a partir do banco.
A ausência destas qualidades, a que se soma a falta de experiência significativa como jogador, já fora anteriormente visada nas passagens pelo Sporting (onde não ganhou ao leme da melhor equipa dos últimos 20 anos do clube), pelo Real Madrid (onde foi despedido) e pela selecção (em que falhou o apuramento para o Mundial de 1994). Descontando o trabalho às ordens de Alex Fergusson, um verdadeiro líder cuja longevidade desesperou o actual seleccionador nacional e o fez agora abandonar Manchester, o resto foram experiências irrelevantes no futebol do terceiro mundo.
Queiroz continua a recolher ainda hoje os dividendos do investimento feito em 1989 e 1991 com os títulos mundiais de sub-20, quando levou ao limite a capacidade familiar de alguns jovens com qualidade futebolística para os manter perto de 250 dias em estágios sucessivos - coisa absolutamente anormal para o escalão e que alguns desses jovens pagaram de forma dura em termos académicos e culturais. (...)
A propósito do descalabro da selecção de futebol, que está já seriamente em risco de falhar o apuramento para o Mundial, pode e deve dizer-se algumas coisas concretas. Por exemplo estas (e poderiam ser muitas mais):
Ao contrário do que pretende uma mentira tantas vezes repetida, o jogo com a Dinamarca foi mau. Portugal sofreu três golos, perdeu, e poderia, até, ter sofrido outros dois golos logo nos primeiros momentos do jogo. Ou seja, começou mal e terminou pior.
Não se percebe que na preparação do jogo tenha alertado para o facto da Albânia poder atirar alguma equipa para fora do Mundial e depois, na conferência de imprensa, já tivesse sido capaz de assumir, com atraso, que este era um jogo de ganhar. Ou seja, não foi capaz de colocar essa pressão nos jogadores antes, e só depois disse - obviamente por dizer e para ganhar espaço para os cinco meses de férias que se seguem até Março - que a selecção se vai apurar ganhando onde tiver de ser. Conversa fiada. Neste momento poucos são os portugueses apreciadores de futebol que acreditam nisso.
Queiroz disse três vezes na mesma conferência de imprensa, em Braga, que não sabe o que mais pode ou deve fazer para ganhar um jogo de futebol! Não foi deslize. Tenho a certeza absoluta que ele estava a falar verdade.
É normal um treinador perder- -se nos elevadores do estádio (!!!) e (mandar) justificar assim a sua falta ao compromisso contratualmente assumido de falar à televisão (TVI) que tem os direitos do jogo?
Prova-se que é uma absoluta estupidez esperar de um seleccionador a disponibilidade para "reorganizar" o futebol jovem. Um seleccionador não é um director técnico. Como o velho Aragonés provou, desse homem só se espera uma visão, uma estratégia e resultados concretos da missão.
Pergunto de novo: quanto vai pagar a FPF de indemnização a Queiroz se tiver de rescindir o contrato de quatro anos? Scolari, recorde-se, para comparar, nunca teve direito a mais de dois... Madaíl está enganado se pensa que poderá resistir à pressão da opinião pública depois de um eventual fracasso nesta campanha para o Mundial. Quanto muito, promoverá mais um excêntrico, como o euromilhões, porque esperar que Queiroz vá embora agora, e pelo próprio pé, promovendo uma mudança que seria boa para a selecção, é esperar de mais para quem o conhece.
O pior de tudo é o seguinte: em três meses apenas, Queiroz cortou a relação da equipa nacional com o seu público. Como se vai reconstruir agora essa ligação?
Monday, October 20, 2008
"Um descalabro chamado Queiroz"
Desde que o actual seleccionador entrouao serviço, praticamente não ligo à selecção. Não espero nada. Mesmo considerando o talento dos jogadores: se há coisa que eu vi, foi este treinador não obter resultados com os melhores jogadores. Deixo ainda assim aqu extractos de um artigo de João Marcelino.
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