«A mobilização anti-CPE revelou uma enorme vitalidade da sociedade civil, embora não da "boa sociedade civil" (isto é, cara aos neoliberais), e uniu num único movimento organizações estudantis e todas as confederações sindicais francesas, uma frente social de que não há memória em França. Obviamente, para esta união muito contribuiu a forma como o primeiro-ministro francês conduziu o processo, nomeadamente por avançar com a medida sem negociar previamente com as organizações sociais. Ou seja, esta mobilização social veio também relembrar aos tecnocratas que, numa sociedade democrática, os cidadãos e as suas organizações representativas têm que ser ouvidos antes de se tomarem medidas que lhes dizem directamente respeito (sobretudo quando isso está legalmente previsto, quando se trata de medidas que alteram radicalmente o statu quo e, finalmente, que não estavam inscritas em qualquer programa eleitoral). Tanto mais que o Presidente Chirac foi também eleito com os votos da esquerda.
Desde a década de 1980, em larga medida sob a influência dos consulados de Reagan e Thatcher, que vivemos ao nível mundial sob uma certa hegemonia do neoliberalismo, que até mesmo as famílias partidárias socialista e social-democrata de algum modo incorporaram (nos seus discursos e práticas), embora em graus variáveis. As palavras de ordem têm sido privatizar e liberalizar (isto é, desregular) a economia, reduzir o peso do Estado, reduzir a protecção social, flexibilizar (isto é, precarizar) as condições trabalho, etc. Embora haja obviamente variações nacionais significativas, os resultados globais estão à vista: primeiro, crescimento das desigualdades sociais (PÚBLICO, 15/1/06); segundo, crescimento ou estagnação (em níveis elevados) do desemprego; terceiro, um crescimento económico débil (Europa) e, nalguns casos, até grandes depressões (América Latina, Ásia) a atingirem várias regiões do globo, embora de forma não uniforme. E, note-se, não sou eu nem qualquer radical de esquerda que fazem este diagnóstico, são análises do prémio Nobel da economia Joseph Stiglitz (Globalização - A Grande Desilusão) e do presidente do observatório francês da conjuntura económica, Jean-Paul Fitoussi (La Politique de L"Impuissance).
Perante o insucesso da aplicação das suas receitas em tantas regiões do globo, nomeadamente na Europa, o que é que nos dizem os neoliberais? Que tal insucesso resulta de uma aplicação (ainda) reduzida e pouco extensa das medidas de liberalização, de precarização, etc. Daí que, perante tal dogmatismo ideológico, alguns comparem os neoliberais com os "neocomunistas dogmáticos": se a realidade não funciona tão bem como o modelo teórico (neoliberal ou comunista) prevê é porque aquela se afasta ainda da perfeição ideal deste.»
Tuesday, April 18, 2006
A esquerda francesa e o neoliberalismo
Ainda no rescaldo da luta contra o CPE, um extracto de um excelente artigo de André Freire no Público de ontem:
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
Blog Archive
-
▼
2006
(958)
-
▼
April
(55)
- Abril sempre
- A presidência do Pirilampo Mágico
- Divulgando a ciência
- O carro de Santana na China
- "Devolver o Sporting"... a quem?
- A simplicidade
- O fim da internet como nós a conhecemos?
- Obrigado Ricardo!
- Rescaldo blogosférico do 25 de Abril
- Trova do Vento que Passa
- Há 32 anos
- 25 de Abril em HONG KONG
- A volta do poeta
- Faz hoje exactamente um ano
- A minha alegria futebolística do fim de semana
- Memória de um dia inesquecível na Emilia-Romagna
- Miguel Sousa Tavares, a RTP-I e os novos campeões
- A primeira fase
- Um texto pouco cândido
- 500 anos do massacre de Lisboa (2)
- Um mundo (in)diferente
- Colisão de buracos negros
- Astrolábio ciclópico
- Cada vez mais alto
- 500 anos do Massacre de Lisboa
- A esquerda francesa e o neoliberalismo
- Taichi ao amanhecer
- Bombaspirínica
- Sigamos a Bomba! Sejamos bombásticos!
- O pecado da perda de tempo
- Try again. Fail again. Fail better.
- Doce Páscoa
- O jogo chines
- Ils sont fous, ces vikings!
- O futuro após o CPE
- Duas boas notícias de Itália
- Le CPE en terre, Villepin à terre
- Como é que alguém se pode congratular com tais exe...
- Vénus
- IBM e o holocausto
- Instabilidade blogosférica
- Há quem esteja pior...
- Coragem
- Tango desnudo
- Use sua chance
- O Google e a informação na rede
- Que ganhem os melhores e que a seguir se calem
- Estratégia para a Universidade
- Serão as condições-fronteira e as restrições blasf...
- Sobre a lei das quotas
- E esta, hein ??
- Lisboa, não sejas inglesa
- Alain Minc: «Esta crise é um espasmo»
- Brokeback about nothing
- Os ricos que paguem a crise ?
-
▼
April
(55)
No comments:
Post a Comment