«Quando penso nisso, é-me necessário confessar que a minha educação me prejudicou muito por várias razões. Esta censura dirige-se a uma quantidade de pessoas, a saber: os meus pais, alguns membros da minha família, alguns frequentadores da nossa casa, diversos escritores, uma certa cozinheira que, durante um ano, me levava à escola, uma multidão de professores (que, na minha recordação, sou obrigado a comprimir estreitamente, sob pena de ver escapar algum, mas uma vez a multidão condensada, eis que o todo se desagrega em alguns lugares), um inspector escolar, transeuntes que caminhavam lentamente, afinal de contas esta censura volta-se como um punhal contra a sociedade inteira e nula, repito-o, ninguém pode estar certo de que este punhal não o venha a ameaçar um dia, à frente, nas costas ou no flanco. Esta censura, não podia suportar que a contradissessem. Como já ouvi muitas contradições, de que a maior parte foi refutada, alargarei a minha censura a essas contradições e declaro presentemente que a minha educação e esta refutação me prejudicaram por muitas razões.»
(Franz Kafka, num fabuloso "momento Henry Adams")
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