Para o André Abrantes Amaral os socialistas não são “humanos” e nem vêm a “essência da pessoa”. Será por contraponto aos liberais? Comparemos então com o seu texto mais recente, “Eles” sabem cada vez menos. Qual é então o “humanismo” liberal? O André primeiro garante que o dinheiro das reformas “não vai chegar para todos”. E encontra rapidamente a solução – para ele, claro: manifesta-se disposto a “pagar a reforma” do seu pai (mas que bom filho!). Ele e o pai “saberiam resolver o assunto na perfeição”.
A diferença entre o “humanismo socialista” e o “humanismo liberal” consiste nisto: mal ou bem, melhor ou pior, o primeiro procura que todo o cidadão que trabalhou toda uma vida tenha uma reforma digna; o segundo está preocupado consigo mesmo, com a sua própria reforma (e eventualmente a da família) e com a de mais ninguém. Não se preocupa nomeadamente com as reformas daqueles cujos filhos não lhas podem pagar (isto se adoptarmos o ponto de vista – discutível – de que as reformas são para serem pagas pelos filhos aos pais).
Sobre este assunto, deixo aqui um extracto de um artigo de José Vítor Malheiros no Público de ontem.
As reformas dos outros
José Vitor Malheiros
Existem, relativamente à Segurança Social, duas grandes posições de princípio. De um lado, os que consideram que a Segurança Social é um mecanismo estrutural de solidariedade social e que os seus descontos de hoje se destinam a assegurar as necessidades dos seus concidadãos mais frágeis (idosos, doentes, desempregados), na certeza de que, quando eles próprios se encontrarem em situação de fragilidade, os seus concidadãos estarão disponíveis para os ajudar financeiramente. De outro lado, os que consideram que os seus descontos para a Segurança Social são uma espécie de poupança pessoal, que estão dispostos a desembolsar mensalmente apenas devido à certeza de que, quando necessitarem, poderão utilizar essa reserva que constituíram e que esperam que o Estado tenha gerido sabiamente de forma a ter aumentado o seu pecúlio.
Os primeiros preocupam-se com a garantia de que, no momento em que dela necessitarem, a Segurança Social terá receitas suficientes (o que significa, entre outras coisas, contribuintes suficientes) para prover às suas necessidades.
Os segundos são os que costumam comparar a "performance financeira" dos seus descontos com o rendimento de fundos de investimento privados e que sonham com o dia em que possam deixar de pagar a "reforma dos outros", para confiar exclusivamente na sua capacidade de investimento para se sustentarem na velhice e na doença. (...)
Neste momento, a investida da direita neoliberal e das empresas que exploram o ramo consiste em tentar convencer os mais ricos a investir em esquemas privados com apelos ao egoísmo e ataques ao estado social (os "ciganos do rendimento mínimo"). E, enquanto esse ataque se faz por todos os meios do marketing empresarial, o Estado social responde apenas no pouco glamoroso plano político.
Há fortes razões (solidárias e egoístas, religiosas e económicas, políticas e éticas, humanitárias e pragmáticas) para defender o Estado social. Mas é preciso que o Estado e os cidadãos para quem a solidariedade é um valor central o façam pelo menos com a mesma convicção dos seus inimigos.
Subscribe to:
Post Comments (Atom)
Blog Archive
-
▼
2006
(958)
-
▼
October
(124)
- In Pace Requiescat
- Jogar às escondidas
- Este post não é um anagrama
- O estado português e o estado checo
- Trick or treat?
- We Await Silent Tristero's Empire
- Liberte o geek que há em si
- António Lobo Antunes: relato de uma visita a Israel
- «The Death of the Lion» (2)
- «The Death of the Lion» (1)
- Are you talking to me?
- Peacocks rule
- Voto no Lula (II)
- Esta noite ouve-se
- Peter van Nieuwenhuizen e os cálculos da supergrav...
- Darwin online
- O Père Lachaise e as vaidades
- Físico-Química
- Coisas que provavelmente aconteceriam se o Univers...
- Père Lachaise
- Lides domésticas
- Obrigação estatutária
- Grandes Portugueses
- Buttercup wisdom
- Para levantar "o moral"
- Cláudio Tellez, um português livre
- De volta o véu islâmico
- Adenda ao post anterior
- Madrugada avulsa
- Esta noite ouve-se
- Cidade das ciências e da indústria
- Até sempre campeão
- Coleridge
- O Blog de Coleridge (III)
- A vida corre-me mal por isto, e isto, e isto...
- Um blogue também serve para isto
- No comboio
- Where is Ms Bobone when I need her?
- Cromos da Cité Universitaire - 3 - a empregada de ...
- Linha editorial
- Encíclica
- Sub-empreitada
- Insónia
- Os Factos
- Cromos da Cité Universitaire - 2 - o servente da c...
- Cromos da Cité Universitaire - 1 - A servente da c...
- As 7 Maravilhas do Mundo
- "...restricted to the point of non-existence..."
- Notícias do Reino
- aspas aspas
- O Estado Social ao serviço do utente
- "Derangement syndrome" com a demagogia propagandís...
- Mitridatismo
- E já agora
- "Tu lembras-te muito bem do que é que eu disse"
- Valha-nos S. António
- Bienvenu en France
- Errata
- 1º Concurso "Pastoral Portuguesa"
- Wikipedia is bad for you
- Capitalismo selvagem
- Pódio
- Actualização
- Parabéns supergravidade!
- Uma dica do Edgar
- Pesadelo II
- Pesadelo I
- Teremos sempre Paris. A Cité Universitaire
- Kramnik
- Museu da Tapeçaria de Portalegre
- Festas académicas (II)
- Festas académicas (I)
- The Conquistador of the Useless
- Pamuk
- ... meanwhile, back in Kalmykia
- Big Muzzy would never do this
- Quando acometido por crises de sinestesia literári...
- O último IDS da semana
- The Education of Franz Kafka
- What could have been
- O disco da casa
- Boa onda
- Anita vai ao Colombo
- The Kenosha Kid
- Vê como bate o meu coração alcalino
- Você sabia que...
- Assim se vê a influência do Expresso
- Memórias das Bodas
- O blog de Moisés (II)
- Evangelismo
- Stulta est gloria
- Casanova, o útil
- O colectivo decidiu, está decidido – iliteracia ec...
- Paris é uma festa (mas a partir de hoje nem tanto)
- Birmingham - trilha sonora
- Esta noite ouve-se
- O blog de Moisés (I)
- Ciência de qualidade na blogosfera lusa
- Fogo sem fumo
- Como é bom!
-
▼
October
(124)
No comments:
Post a Comment