Sunday, July 15, 2007

86.000 votos pelo cano abaixo



O que tantos tanto receavam aconteceu.
Apesar de o tempo não ser adequado para idas à praia a abstenção disparou nas eleições para a Câmara de Lisboa.
Já tinha dito que isso se deveria às pobríssimas ideias da campanha mas, depois de ver os resultados, vou ainda mais longe: os eleitores estão a deixar de votar porque sentem que não vale a pena. Vou explicar.

Há dois anos houve 119.837 cidadãos de Lisboa que votaram em Carmona Rodrigues. Tente-se imaginar o que essas pessoas devem sentir quando vêem a sua escolha arrastada pela lama mediática como um banana corrupto.

Por um lado podem pensar que tudo não passa de suspeições que nenhum tribunal validou ainda mas isso não resolve a angústia dessas pessoas. Das duas uma:

1) ou Carmona é realmente um banana corrupto e então os seus votantes ficam desmoralizados e consideram-se indignos de votar agora noutro candidato que pode vir a revelar-se igualmente mau
2) ou Carmona afinal não é um banana corrupto e então os seus votantes devem concluir que há nesta democracia mecanismos perversos que conseguem sobrepor-se e anular, "na secretaria",uma votação democrática

Esta pode ser a explicação para o facto de as forças de direita (Carmona+PSD+CDS), no seu conjunto, terem perdido 65.713 votos para a abstenção em comparação com 2005.

Mas então como se explica que as forças de esquerda (Roseta+PS+PCP+BE) tenham também perdido, no seu conjunto, 19.676 votos ? O PCP e o BE reduzem mesmo as suas percentagens de 11,42 para 9,53 %, no primeiro caso, e de 7,91 para 6,81 % no segundo.

Talvez os cidadãos não simpatizem especialmente com uma política baseada na denúncia. Mesmo que reconheçam a pertinência das denúncias pressentem que as denúncias, quando a justiça não as confirma em tempo útil, podem transformar-se numa arma perigosíssima para a democracia.

António Costa, ou a sua lista, ainda não tinham sido eleitos e já eram acusados de "interesses nos terrenos do aeroporto", "projectos ocultos na zona ribeirinha", "pacto secreto com Carmona", etc, etc. Onde é que isto nos leva ?

Já tenho dito e repito: há comportamentos na nossa vida política que estão a arrastar a democracia para o abismo. Talvez o mais grave seja a incapacidade para aceitar os resultados das eleições quando quem ganha é o adversário.

Cada vez mais constatamos que os eleitos, mal tomam posse, são imediatamente sujeitos a tratos de polé e, se não se cuidam, destruídos mesmo ao nível da sua vida privada, escolar ou profissional.

De forma falaciosa apresenta-se a intolerância e o espírito anti-democrático como se fossem apenas as normais, e democráticas, diferenças de opinião e de proposta.

O principal problema de Lisboa está, como antes estava, nesta perversão da democracia.
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