Wednesday, May 31, 2006

O bem e o mal segundo André Azevedo Alves

...são respectivamente o Opus Dei e o Código da Vinci. Nada de que não desconfiássemos, mas é sempre bom ter uma confirmação pelo próprio.

Das purezas ideológicas

Oitenta anos depois do golpe de 28 de Maio, parece que uma certa direita "moderna" e muito revisionista (na pessoa de dois jovens historiadores) põe abertamente em causa a natureza fascista do salazarismo. Pode com certeza discutir-se quão "fiel" à ideia original do fascismo, de origem italiana, era o regime em causa. Desde que não se conteste a sua natureza ditatorial e repressiva, tudo bem. Há muitas ditaduras de direita. Nenhum regime político é "puro", como na doutrina. A política tem muitas nuances. Mas não me incomoda que digam que Salazar não era fascista. Eu, por exemplo, digo que Estaline não era comunista.

Espécie protegida

Na Alemanha, os caracóis são uma espécie protegida. Os alemães ficam felizes quando vêem um.

Tuesday, May 30, 2006

Deixai vir a mim os pobrezinhos


Numa daquelas piruetas em que a história é pródiga damos connosco a pensar como é que o tecnocrático Cavaco redundou no caritativo Cavaco, numa verdadeira assombração de um hipotético Guterres.

Claro que podemos encarar a teoria do vírus que, impiedosamente, põe os inquilinos de Belém a dizer banalidades e discursos circulares, sejam quais forem os seus antecedentes.

Também podemos remeter para um assincronismo misterioso qualquer que o levaria a concretizar a demagogia depois de ganhar as eleições, ou seja, quando já é absolutamente desnecessária.

Finalmente, e eu inclino-me mais para este lado, resta pensar que o Cavaco se apresentou durante a campanha como um activíssimo promotor da salvação da país e agora está numa de Madre Teresa apenas pelo gozo supremo de por a esquerda a fazer "figura de urso".

Claro que alguns comentadores conseguirão detectar cavernosas intenções nesta manobra, vá-se lá saber porquê...

Como se dividem as pessoas

Embora haja quem venha sempre com a lengalenga de que não se deve catalogar as pessoas e coisa e tal, a verdade é que a construção de modelos e a identificação de padrões fazem parte do meu trabalho de cientista. Por isso não resisto a este tipo de classificações. Só aqui têm três. Enquanto eu acabo de sacar todas as fotografias da Alemanha para pôr algumas aqui (devidamente comentadas), sugiro-vos qu epensem nalgumas divisões. A mais óbvia, a primeira que aprendemos, é entre a esquerda e a direita. Depois aparecem os chatos dos centristas... Há também os benfiquistas e os sportinguistas. Mas depois aparecem os chatos dos portistas... Eu proponho as pessoas que sabem a diferença entre porque e por que e as que não sabem (para estas é sempre "porque"). Pensem em mais divisões.

Monday, May 29, 2006

Europa

Faz hoje um ano que a Europa sofreu um sério revés. Ficaram patentes as ameaças que uma Europa forte e unida sofre e a força dos seus inimigos. Os perigos e as ameaças a que a Europa está sujeita é o que pretende simbolizar a escultura na fotografia, da autoria da portuguesa Filipa César e em exposição, em conjunto com outras 24 estrelas europeias, na praça do Hôtel de Ville em Paris. Ao fundo o Hôtel de Ville, cheio de bandeiras francesas.

Sunday, May 28, 2006

Mau tempo

Sempre brinquei com a excitação dos meus anfitriões cada vez que, nos EUA, estava um dia de sol. Ficavam logo entusiasmadíssimos, diziam-me “look, the sun is shining!”. Se pudessem iam logo estender-se na relva a apanhar sol. Eu olhava-os com indiferença (para não dizer com desdém) e respondia-lhes que, na terra de onde eu vinha, o sol brilhava quase todos os dias, todo o ano.
Agora compreendo-os melhor.
Só hoje temos um verdadeiro dia de sol. Nos outros dias tem estado sempre a chover.

Verde

A Alemanha é verde. Muito verde. As autoestradas seguem sempre no meio de florestas, onde é verdadeiramente agradável viajar. São muito diferentes das autoestradas do sul da Europa ou da vizinha Holanda. Parecem as “parkways” de Long Island, em Nova Iorque, planeadas por Robert Moses: verdadeiros parques. E sem limite de velocidade.

A zona oriental também "não foi esquecida"


Ontem o Diário de Notícias alertava para as descargas poluentes na zona de Belém/Alcântara que empestam o Tejo (ver o texto que segue).
Já fui "bafejado" junto ao Padrão dos Descobrimentos e ao meu lado os pobres turistas fotografavam o Infante enquanto protegiam o nariz.

Quero acrescentar que a zona oriental também "não foi esquecida" pelos nossos autarcas: quem, como eu, corra ao longo do rio entre a torre Vasco da Gama e a marina da Expo terá a oportunidade de se enjoar com os cheiros nauseabundos.

Aqui vai o texto do DN que referi anteriormente:

Na frente ribeirinha de Lisboa, os esgotos estarão a correr para o Tejo sem qualquer tipo de tratamento. O saneamento básico não terá chegado ainda à zona entre o Terreiro do Paço e o Padrão dos Descobrimentos, em Belém. Significa isto que, desde o início dos anos 90, bares, restaurantes e discotecas construídos sob a jurisdição da Administração do Porto de Lisboa (APL) estarão a fazer descargas directas para o rio.A denúncia partiu da Quercus, que considera o impacto ambiental "extremamente grave".

"As saídas de esgotos são tantas que formam focos de poluição concentrados em vários pontos da margem ribeirinha", diz Carlos Moura, dirigente do núcleo de Lisboa da associação ambientalista, esclarecendo, contudo, ser impossível determinar a quantidade de resíduos que afluem ao Tejo.O problema assume maior incidência nas Docas de Santo Amaro, em Alcântara, onde estão 20 estabelecimentos de restauração. "Os bares e restaurantes instalados em antigos armazéns nunca sofreram obras para o tratamento de águas residuais", critica o responsável.

Manuel Frasquilho, presidente da APL, por seu turno, garante que todos os estabelecimentos cumprem as normas de saneamento e que o "tratamento de águas residuais está integrado nas estruturas da cidade". O certo é que ninguém controla a rede de esgotos na área da APL. Contactada pelo DN, a Simtejo - Saneamento Integrado dos Municípios do Tejo e Trancão - explicou que a rede de saneamento está sobre a jurisdição da APL. Por outro lado, a câmara municipal diz desconhecer tudo o que se passa dentro do porto de Lisboa.

"O controlo e fiscalização do saneamento é da exclusiva responsabilidade da APL", assegurou fonte do pelouro do Ambiente da autarquia.O ambientalista da Quercus está convencido de que a Administração do Porto de Lisboa não cumpre com as normas de saneamento: "A zona entre Belém e Praça do Comércio não diz respeito aos efluentes dos cem mil lisboetas sem tratamento de esgotos, mas aos estabelecimentos instalados na frente ribeirinha."

E as saídas de esgotos são tantas, assegura, que formam focos de poluição concentrados em vários pontos do Tejo: "Além de ser impensável ter uma cidade como Lisboa a drenar esgotos para o rio, esta situação é ainda mais absurda porque ocorre numa zona nobre e turística da capital", censura o ambientalista.O perigo é incalculável, mas torna-se ainda mais alarmante por não existir "qualquer estimativa" sobre quantas captações há na margem ribeirinha ocidental do Tejo. Para ter uma ideia do número de saídas de esgotos construídos à beira-rio, o DN percorreu a zona ribeirinha entre Belém e Terreiro do Paço, tendo contabilizado 12 infra- -estruturas para escoar efluentes e 44 estabelecimentos de restauração, que se encontram sob a alçada da APL. A contagem, porém, nunca poderá ser rigorosa, uma vez que boa parte daquela área está interdita aos transeuntes.

É o caso dos terminais de contentores ou de outras áreas onde funcionam os serviços da Administração do Porto de Lisboa.Este é, no entanto, um exercício que todos conseguem fazer sem dificuldade. Basta circular junto à margem do Tejo e estar atento à cor do rio. Só em Belém irá encontrar cinco canais por onde os esgotos são despejados. Outros cinco estão localizados em Alcântara, enquanto as zonas de Santos e do Terreiro do Paço têm um cada.Ao longo de seis quilómetros há saídas de esgotos de todos os tamanhos.

É fácil localizá-las, pois, regra geral, estão próximas de cardumes de tainhas atraídos pela água barrenta que escorre para o rio. Próximo do Padrão dos Descobrimentos, por exemplo, é possível encontrar uma saída de esgoto que, a todo o minuto, despeja resíduos não tratados. Poucos metros mais adiante, há outro paraíso para tainhas e ratazanas: junto ao Restaurante Café In, uma canalização vaza em abundância, formando uma minipiscina de espuma no rio. Casos semelhantes vão--se repetindo ao longo de toda a margem até se chegar ao Terreiro do Paço.

Friday, May 26, 2006

Chauvinismo frances (sem acentos, de Heidelberg)

Isto é tal e qual a Alsacia (mas sem Kronenbourg).
Nélson, alguma vez experimentaste tarte flambée de salmao com espinafres? E supimpa.

Thursday, May 25, 2006

Na Alemanha

...para visitar velhos amigos (dos gloriosos tempos dos EUA) que há muito não vejo. É a minha primeira estadia neste país. A tarde passada na Alemanha quando fui visitar o Nélson no tempo em que ele bebia Kronenbourg e comia tarte flambée (limitámo-nos a atravessar o Reno a pé a partir de Estrasburgo) foi cheia de acontecimentos, mas mesmo assim foi só um "aquecimento". A Alemanha a sério vem aí. Por quatro dias, a partir de hoje.

Wednesday, May 24, 2006

Não há futuro nas indústrias do passado


O Governo anuncia catadupas de investimentos como se um génio fosse sair das chaminés e satisfazer os nossos três maiores desejos.

Já se percebeu que ninguém cuidou de verificar se os tais investimentos teriam consequências nefastas, os famosos impactos, antes do foguetório dos anúncios.

Em alguns casos verificou-se que o volume de emissões perniciosas, no quadro do tratado de Quioto, implicaria a compra de “licenças de poluição” cujo custo tornaria os projectos incomportáveis.

O que parece estranho é que se discuta a preservação ambiental como um freio ao nosso desenvolvimento em vez de considerar os malefícios reais da poluição para o futuro da nossa sociedade. Continua a apostar-se nos investimentos em indústrias do passado, apresentando como oportunidades os riscos que os outros já não querem correr.

Não será contraditório, por exemplo, querer aumentar a celulose em Setúbal e carregar ainda mais o parque de Sines, com químicas e refinarias, quando ao mesmo tempo se diz que o litoral alentejano entre essas duas cidades pretende constituir um novo polo de desenvolvimento baseado em turismo de qualidade ?

Então o “choque tecnológico” não devia levar-nos pelo caminho digital para a sociedade do conhecimento, para elevados padrões de incorporação e valorização dos nossos produtos e serviços ?

Ou agora já vale tudo ?

The Republican Left-Wing

Seria esta a tradução para inglês de "esquerda republicana", e se de política americana se tratasse julgar-se-ia estar na presença de um blogue de apoio à candidatura presidencial de John McCain. Ainda mais com textos como este, do meu velho camarada Rui Fernandes (que tem toda a razão, por sinal). Mas não: trata-se do "velho" Esquerda Republicana, fundado pelo Ricardo Alves e agora enriquecido, para além do Rui, com o "outro Ricardo" e o João Vasco. Tudo malta da LEFT, tudo boa gente. Se a isto acrescentarmos o Filipe Castro (que escreve directamente do Texas, e cujos comentários no BdE eu muito apreciava), temos reunidas as condições para um interessantíssimo blogue. Está de parabéns o Ricardo "fundador" pela equipa que conseguiu reunir. Vamo-nos lendo.

Tuesday, May 23, 2006

Lápis!

Não adianta vir com lapiseira para mim,
é com lápis que eu quero escrever!




E o irritante que é, em inglês, pedir um lápis e receber uma lapiseira? E se se insiste "no, I want a pencil", ainda olham para nós como se fôssemos estúpidos e respondem "but this is a pencil!" O inglês é mesmo uma língua muito pobre. Não tem tradução de lapiseira e nem o equivalente a "meta-a pelo cu acima", que é a única resposta que merece quem se atreve sequer a insinuar que uma reles lapiseira é um lápis.
Há hábitos que eu nunca hei-de perder. Não me desabituo de usar o velho "pine" para ver o email (em ambiente linux) - é o único que faz "plim!" cada vez que surge uma mensagem nova! E nunca deixarei de escrever com lápis. Lápis autêntico, de madeira, com bico grosso ou fino. Nunca me habituei às lapiseiras. Sempre tive "mão pesada" (tudo o que requeira sensibilidade não é para mim), e sempre que tentei usar uma lapiseira parti o bico em três tempos. É evidente que há alturas em que se tem que escrever a tinta, mas sempre que posso para mim não há nada como escrever a lápis. É a lápis que eu faço todos os meus cálculos à mão. É fácil de corrigir erros e apagar. Adoro lápis e é daqueles objectos que gosto de coleccionar. Desde a escola fico doente sempre que perco um lápis. Guardo lápis há anos. De todos os institutos e países por onde passei. Mas os primeiros que me lembro, os primeiros com que escrevi, que foram deixados pelo meu avô materno, eram iguaizinhos aos da figura. Da Viarco. A Viarco que faz este ano 70 anos. Parabéns e espero que cumpram outros 70. E que vivam os lápis.

Monday, May 22, 2006

Teimosia (às três da manhã)

Há mais de uma hora que estava para colocar uma fotografia no servidor do blogger. Não conseguia. Às vezes o blogger.com tem destas coisas. Às vezes é a minha ligação à internet. Não era para uma entrada "urgente". É para uma entrada em projecto. Não importa. A fotografia tinha que ser "subida" hoje. Nem pensava noutra alternativa. Nem punha outra hipótese que não fosse subir a fotografia hoje. Passei mais de uma hora a ler o jornal, a escrever emails, a escrever outras coisas. E ia tentando. Finalmente a fotografia está no blogger.com, à espera da entrada. Vou-me deitar. Boa noite.

Sinais perceptíveis



Durante o primeiro trimestre foram perceptíveis alguns sinais favoráveis relativamente à evolução da situação económica, os quais confirmam o modo lento como tem decorrido a recuperação da economia. No entanto, quer no indicador de actividade, quer no indicador de clima não se registaram melhorias. Caso tais sinais perdurem, poderão representar o arranque de uma fase mais viva de crescimento. Na verdade, melhoraram as indicações sobre a actividade na indústria transformadora, o que foi acompanhado por um crescimento muito significativo das exportações, a avaliar pela informação disponível. A procura interna também deverá ter recuperado, tanto devido ao consumo privado como ao investimento. Deste modo, globalmente a actividade poderá ter acelerado, mesmo que, para além da indústria transformadora, os restantes principais sectores tenham permanecido deprimidos. Por outro lado, e em sintonia com esta aparente recuperação centrada na indústria transformadora, o volume de emprego aumentou, principalmente devido à recuperação nesse sector, enquanto o desemprego desacelerou, permitindo um aumento homólogo mais moderado da taxa de desemprego.

Síntese Económica de Conjuntura do INE
22 de Maio 2006

Às Ordens

A recente (e lamentável) decisão unânime da Assembleia da República de só autorizar licenciados em arquitectura a assinar projectos é uma lamentável cedência à pressão corporativista da Ordem dos Arquitectos, surpreendentemente aplaudida por um dos arautos do liberalismo (no que foi logo - e muito bem - contradito).
Esta discussão sobre as Ordens profissionais interessa-me e tem muito mais a ver com a discussão anterior com o Santiago do que se possa julgar. As Ordens profissionais fazem sentido para atestar competência científica em profissões que requeiram o seu emprego de uma forma que diga respeito à sociedade e ao cidadão. Faz sentido uma Ordem dos Médicos? Sim, queremos ter confiança em quem nos atende nos hospitais. Faz sentido uma ordem dos advogados? Sim - é preciso quem nos garanta que o advogado a quem recorremos, apesar de ter um bom diploma por uma boa universidade, não é um vigarista. Faz sentido uma ordem dos engenheiros? É possível que sim, mas é mais discutível. Não queremos pontes que caiam nem instalações que não funcionem. Faz sentido uma Ordem dos Biólogos? Creio que não. Há outras formas mais fiáveis de se avaliar a competência de um biólogo, como o peer-review. E um bom biólogo deve sempre publicar, mesmo que trabalhe em projectos para a sociedade. Faz algum sentido que membros de uma "Ordem" que não produzem investigação nenhuma estejam a avaliar cientistas activos? Creio que não. Uma Ordem dos biólogos faz tanto sentido como uma ordem dos matemáticos ou dos físicos - ainda bem que ninguém se lembrou de tal ideia. Uma Ordem dos economistas, faz algum sentido? Pelos mesmos motivos, tanto quanto uma Ordem dos historiadores - nenhum. Uma ordem dos professores? Muito discutível. Embora o mérito pedagógico seja indispensável, tal ordem tenderia a proteger ainda mais os licenciados "via ensino", que já são escandalosamente protegidos nos concursos.
Apesar de tudo estas profissões que vim a enumerar requerem sem dúvida competência e aptidões científicas (chamemos-lhes assim), mesmo que não sejam profissões "científicas". Disso ninguém duvida. Agora, que aptidões científicas são necessárias para a profissão de arquitecto? Existirão, mas muito menos do que para as profissões anteriores. E podem sempre ser julgados... pelo engenheiro civil responsável, a quem deve sempre caber a última palavra sobre uma obra. No fundo uma Ordem dos arquitectos faz tanto sentido como uma Ordem dos poetas ou dos realizadores de cinema ou dos jogadores de futebol. São áreas que de científicas não têm nada; requerem sobretudo talento, algo que não se aprende (ao contrário das verdadeiras ciências, que se para serem exercidas também requerem talento, para serem aprendidas basta esforço). O esforço não basta para fazer um bom arquitecto, e para julgar o seu talento temos a sociedade. Não me parece que seja precisa uma Ordem. Mas essa Ordem existe e tem poder, como se vê.
Não quero acabar sem comentar que, nas recorrentes discussões sobre o eduquês que se vêm na blogosfera, estas diferenças não são tidas em conta. Parece-me haver no eduquês uma confusão entre o talento e o esforço, que resulta sempre no prejuízo deste último.

Sunday, May 21, 2006

A seguir a Abril vem Maio

...e com Maio vem finalmente uma lista de ligações, algo que já andava para fazer deste o início deste blogue e só não tinha ainda feito por preguiça. Aproveito para agradecer a todos os que ligaram ou de alguma forma divulgaram este blogue.
Falando em lista de ligações, uma das minhas curiosidades era saber em que categoria ia ficar nas ligações do Esquerda Republicana, um blogue entretanto bastante renovado (este hábito de catalogar as coisas, Ricardo...) Esquerda mais ou menos radical? Esquerda mais ou menos moderada? Nem uma coisa nem outra. Fiquei ao lado do meu amigo, ex-companheiro de blogue e agora também esquerdista republicano Caetera e fiquei muito bem.

Saturday, May 20, 2006

Os museus de Paris

Quando vai decorrer mais uma edição da noite dos museus (sobre este assunto já me expressei aqui), cheguei à conclusão de que uma das coisas de que mais gosto em Paris é a enorme oferta cultural, e sobretudo a quantidade de diferentes museus e exposições. Mesmo quem, como é o meu caso, já visitou todos os grandes museus de Paris (e a grande maioria dos pequenos), encontra sempre algo diferente para fazer no fim de semana. E os parisienses aderem à enorme oferta cultural da cidade. Mal seria se não aderissem, mesmo se ela é feita em grande parte dos casos sobretudo a pensar nos (muitos) turistas que visitam a capital francesa em todas as estações do ano e que a fazem um dos principais destinos mundiais. Também por isto é um privilégio viver em Paris. E em qualquer exposição razoavelmente importante que se vá, seja no Petit Palais ou no Instituto do Mundo Árabe, seja no Centro Pompidou ou no Hôtel de Ville, é certo e sabido que se vai ter que estar na fila para entrar, seja a exposição gratuita ou paga. É uma das sensações que me são mais familiares em Paris. Eu, que embora seja teimoso e tenaz sou em geral muitíssimo impaciente, gosto de estar na fila com os parisienses (sim, costumo estar com os parisienses, mais do que com os turistas que só vão para os grandes museus) para entrar numa das muitas exposições da cidade e desfrutar desse enorme privilégio que é estar em Paris. Sinto-me bem no meio desta gente. Sinto que sou um deles.

Friday, May 19, 2006

Grande fête

Thursday, May 18, 2006

Aos leitores que procuram o blogue escandaloso sobre Merche Romero

...anunciado numa notícia que vinha na primeira página do Correio da Manhã e que chegam aqui, via google, graças a um comentário nesta entrada, com a informação do tal blogue (antes de ele ser escandaloso): aqui nunca se falou na Merche Romero. Mas continuem a vir, que são bem vindos.

(Entre outras coisas acusam a pobre Merche de "pedofilia" (!!!) "por ter mais dez anos do que o craque do Manchester". Independentemente da ignorância sobre o que é realmente a pedofilia que tal revela - mas o que esperar de um blogue anónimo? -, a questão é sempre a mesma: o que diriam se fosse ao contrário? Se - sendo ambos adultos - o Cristiano tivesse mais dez anos do que a Merche?)

Sem sair de Paris, rive gauche

Concordo com o Santiago (aqui e aqui) que faz sentido uma distinção entre áreas fundamentais e áreas aplicadas da ciência. Se a tecnologia é ou não ciência é pura semântica. Mas não é por acaso que nos governos da direita os ministros com a pasta da ciência eram engenheiros (um agrónomo e uma mecânica), e no actual e nos anteriores governos do PS o ministro da ciência é um físico "puro" (e não "aplicado").
Há áreas do conhecimento - e a área em que eu trabalho é uma - que não são, nunca serão, não podem ser autosuficientes financeiramente. Que requerem financiamento exterior, que ou virá de filantropos excêntricos - o melhor exemplo que eu conheço é o de Jim Simons - ou virá da sociedade. Dos nossos impostos. Não há volta a dar-lhe. Os governos da direita, e muitos dos liberais que escrevem na blogosfera, tenderão a desvalorizar a investigação fundamental, por não "criar dinheiro". Não podemos cair no erro de fazer o oposto, e considerar que, lá por outras áreas do conhecimento poderem gerar dinheiro por terem uma aplicação mais imediata, são menos importantes. Se são ou não "ciência", acho que tem que se arranjar outro critério que não simplesmente o modo como são financiadas... Eu confesso que me faz um pouco de impressão ver a invenção do transístor premiada com um prémio Nobel, mas já toda a área dos semicondutores requer a sua teoria, uma física nova, onde se descobriram comportamentos que não se conheciam antes. Toda a física da matéria condensada é uma história de avanço de braço dado da ciência pura e da tecnologia. Mas mesmo a física das interacções mais fundamentais, como a que se estuda no CERN, requer a tecnologia mais avançada. A participação de cientistas portugueses nas experiências do CERN, por vezes tão criticada por "cientistas" mais "aplicados" (aqui uso mesmo as aspas), requer um investimento por parte do governo, mas constitui uma oportunidade para muitas empresas portuguesas de tecnologia de ponta, que têm acesso a contratos que, se Portugal não fosse membro de pleno direito do CERN, não teriam.
Concluindo: em vez de se perder mais tempo dentro das ciências naturais (fundamentais ou aplicadas) a discutir o que é ou não "ciência", sugiro que se passe antes a discutir por que razão as humanidades são financiadas pelas mesmas entidades que a ciência, quando têm objectivos e critérios de avaliação totalmente diferentes. Creio que as humanidades deveriam ter um orçamento próprio, dependente do Ministério do Ensino Superior, claro, mas fora do da ciência. Este ponto, sim, creio que vale a pena discutir.

Uma aventura psicadélica


Em vésperas do Campeonato Meridional de Futebol 2006, o presidente da Federação Bananalense de Futebol, Felisberto Clorofenil, resolveu apostar novamente no seleccionador matagalense Ruiz Secalhari, permanentemente de férias em Bananassau, acompanhado pela família. Conseguirá a selecção da Bananalândia chegar à final, repetindo a proeza do “Neura 2004”?

Perdida a final do “Neura 2004” para a Espanha, em Lisbola, no estádio do Sport Lisbola e Passaroco (5-0), que caminhos se podem trilhar no futebol bananalense, qualificado para o “Meridional 2006”?

FADO, FUTEBOL E FARPAS, UMA AVENTURA PSICADÉLICA (escrita em pequenos mosaicos cinematográficos de fel, corrosão e ironia, à moda de Mário-Henrique Leiria, com laivos de Monty Python e desenhos animados da Warner Brothers) começa meia-dúzia de meses antes do “Meridional 2006”, disputado na Beerlândia.

Wednesday, May 17, 2006

Experiência

Entretanto passei eu esta noite por uma experiência muito intensa. Entre outras coisas, também envolveu messengers e telemóveis.

O amor e a sua correspondência

Lindo, ou não fosse escrito pela Ana Sá Lopes. Não sei quanto tempo é que a crónica da Vanessa vai ficar disponível, pelo que a transcrevo aqui toda.

«A banalização do telemóvel criou a ilusão do objecto omnipresente. Numa posição de omnipresença, um objecto de paixão passou a ter a "obrigação" da resposta imediata a qualquer estímulo, sob pena de provocar o sofrimento do outro.

A angústia da perda passou a estar associada a trivialidades - pode acontecer, vertiginosa, quando se esgotou uma bateria; ocorre quando o amor se passeia displicente em lugares sem rede; e pode disparar a níveis clínicos quando o objecto amoroso, usando um direito inalienável de autodeterminação, decide desligar o telemóvel.

No amor, o telemóvel fez disparar o stress, a ansiedade, as angústias da rejeição e outras malaises de la civilisation. Um telemóvel desligado é uma providência cautelar para uma ruptura. Um presumível sintoma de infidelidade. Um fechar com a porta na cara. Um não, uma nega, uma tampa.

O telemóvel é caro, mas o amor tende a minimizar o impacto económico das medidas a que, no auge da paixão, recorre. E depois há as sms, esse deslumbrante e mais económico instrumento de sedução, mas - também ele - uma grilheta dos amantes. Os segundos de resposta, os minutos, as horas, tudo é contabilizado para avaliar o impacto de um amor.

Institucionalizados os novos rituais do enamoramento, não importa se o objecto costuma estar sequestrado na Biblioteca Nacional ou vive em audiências contínuas com díspares personalidades; se, por qualquer razão que o coração se esforça por desconhecer, não vive com o maldito computadorzinho na mão, em permanente disposição de disparar uma resposta irredutível.

O mail tem um tempo mais distendido, se excluirmos as pessoas cuja profissão as obriga a estar permanentemente em frente do computador. Estas são ainda fustigadas com o monstro do messenger, que, de borla, obriga ao diálogo contínuo.

Mas a minha amiga Vanessa, que num estado de paixão patético tem passado o último mês a escrever mails ridículos, sms ridículas e a contar os segundos da resposta, teve um destes dias um inesperado e surpreendente ataque de felicidade amoroso: recebeu uma carta. Um postal dos correios. Um envelope com selo e tudo. Quando abriu a caixa e viu que não eram só contas, ia desfalecendo. Uma carta. Uma carta? Sim, só um grande amor.»

Tuesday, May 16, 2006

A blogosfera portuguesa


...foi o objecto de um extenso artigo e da capa, no mês passado, do boletim Cap Mag, da associação francesa de jovens lusodescendentes Cap Magellan. O referido artigo é baseado na síntese 25 momentos na história da blogosfera, já disponível na rede, à qual são acrescentadas referências a blogues culturais, literários e de lusodescendentes em França.
Tentei arranjar a Cap Mag no local habitual (balcão da Caixa Geral de Depósitos...) e na noite do Portugal no Coração no Hôtel de Ville (a associação Cap Magellan era uma das entidades organizadoras). Não consegui, mas a associação teve a delicadeza de me enviar uma cópia da revista para casa. Desejo aqui agradecer publicamente.

Monday, May 15, 2006

Nossa Senhora e as maternidades

Ouvi um português dizer, no dia 13 e em Fátima, que esperava que Nossa Senhora fizesse qualquer coisa para que a maternidade de Penafiel não fosse encerrada.

Por outro lado, parece que o Santuário elegeu como tema anual «Guardar castidade».

Assim não vale: com muita castidade ainda haverá menos filhos e então é que Nossa Senhora não consegue convencer Correia de Campos!

COW parada


O português, sempre à mercê do destino, fez este domingo uma largada de vacas estáticas.

Foi assim possível olhar o destino nos olhos, sem risco de marrada, e voltar para casa lanchar depois de algumas chicuelinas fotográficas.

Assim se vê a idade

Uma directa, no sentido estrito do termo, é passar uma noite em claro e só voltar a dormir na noite a seguir.
Fiz algumas directas na licenciatura, como toda a gente. Quando estava a fazer o meu doutoramento também. Uma delas foi quando estava a preparar um seminário sobre a minha investigação, no meu instituto. Era às 13 horas. Passei a noite toda lá, e como bom português que sou (não deixo os créditos por mãos alheias), estava a imprimir os acetatos às 12:30. Meia hora antes. E dei o seminário com uma directa.
Lembrei-me desse seminário nesta semana que acabou, na qual passei duas noites sem dormir a preparar o seminário que dei na sexta-feira. Mas não fui capaz de aguentar até à noite sem dormir. Em ambos os dias fui deitar-me de manhã, mas tive de dormir umas horas. Ou seja, já não sou capaz de fazer uma directa. Se a isto acrescentarmos que já não deixo a preparação do seminário para a última da hora, assim se vê como me estou a tornar velho e sem graça.

Sunday, May 14, 2006

No jazz com o dissimulateur

Esta não ficou registada, mas garanto-vos que é verdadeira.
Em que estaria a pensar o Primeiro Ministro francês no sábado à noite? Estaria preocupado com o affaire Clearstream e com a possibilidade de ter que vir a abandonar o governo em breve? Estaria aborrecido por não se ter visto livre do seu rival Nicolas Sarkozy? Estaria apreensivo com o relatório que nesse mesmo dia o Libération publicava? Aparentemente não era em nada disso que Dominique de Villepin pensava.
No sábado à noite fui com amigos ao Festival Jazz à Saint-Germain-des-Prés, mais concretamente à Maison des Pompiers do 6ème, ali a St. Sulpice. O concerto era ao ar livre. E quem estava incógnito, no meio da multidão? Dominique de Villepin em pessoa, ouvindo a música, trocando sorrisos com a companheira que de vez em quando abraçava. Um grupo de vários portugueses e portuguesas, italianas e um dinamarquês poderão confirmar.
Surgiu a ideia de pedirmos (alguns de nós) para tirar uma fotografia com o senhor. (É curiosa esta nossa reacção - incluo-me no grupo. Nenhum dos franceses presentes queria ir tirar uma foto de Villepin, e não creio que os portugueses quisessem com Sócrates.) Eu fui mesmo incumbido de ir falar com o primeiro ministro. Diria qualquer coisa do tipo «Bonjour, mr. Villepin. Nous sommes un groupe d'étudiants portugais. Nous ne voulons pas protester...» Só que não havia máquina fotográfica. Ninguém tinha. Bem feita - eu deveria saber, deveríamos todos saber que em Paris anda-se sempre com uma máquina fotográfica.
O mínimo que posso fazer é tentar aqui reconstruir a fotografia que ficou por tirar. Eu estou mais abaixo, ao lado do Rochemback. O Sandro e o Rui estão aqui. Quanto ao Villepin, deixo-vos com a capa do dia do Libération, que ele próprio e todos os parisienses tinham visto antes do concerto em todas as bancas.

Saturday, May 13, 2006

O clube das metamorfoses

Primeiro, foi o presidente que deu o dito por não dito e afinal já era candidato à presidência.
Depois, foi o capitão da equipa que deu o dito por não dito e afinal já queria jogar mais um ano.
Será que agora o treinador não pode dar o dito por não dito e dizer que, afinal, conta com o capitão? Se não fizer isso também estará a dar o dito por não dito, só que neste caso o dito há um ano, quando criticou publicamente as saídas do anterior capitão e do lateral esquerdo.

Friday, May 12, 2006

Antes fosse a lutar com o latex!

Conforme bem notou o Nelson (sem acento, embora em português se escreva Nélson) é LaTex e não latex (este último é uma borracha usada no fabrico de preservativos...). Era para alterar o texto, mas depois li a frase «Após duas noites muito mal dormidas a lutar com o Latex...» e deixei estar. Antes tivesse sido essa a razão por que eu esta semana dormi pouco.

Durma-se com um software destes

Após duas noites muito mal dormidas a lutar com o Latex, terminei o ficheiro com a apresentação do meu seminário. Costumava dar seminários em acetatos (impressos), mas achei que estava mais do que na hora de me converter às apresentações electrónicas. Só que, com as fórmulas complexas que tenho que apresentar (e que nos artigos têm imperativamente de ser escritas no Latex), continuei a trabalhar neste software, procurando na internet os programas que me permitiriam fazê-lo. Só então vi bem (mais uma vez!) a paciência que é preciso ter com o software de distribuição gratuita (open-source). Não só existem mil e uma versões diferentes, como cada uma dessas versões tem instruções diferentes de instalação e utilização. Por vezes, a mesma versão em locais diferentes tem instruções diferentes.
Especificando: tinha a usar uma package do Latex chamada Prosper. O objectivo era obter um ficheiro .pdf todo semelhante aos do PowerPoint, só que com as fórmulas todas (e sem ser da Microsoft, o Bill Gates e coisa e tal). As intruções diziam que eu tinha que usar um comando chamado pdflatex. Instalei tudo e a coisa nada de funcionar. Aparentemente antes de ter instalada aquela package, tinha que ter instaladas mais não sei quantas packages. Que não tinha. (A instalação não é autosuficiente, portanto.) Todas essas packages existem para sacar em não sei quantas versões (sem nenhuma versão oficial, que no software de distribuição gratuita é coisa que não existe), e a package Prosper não funciona com todas essas versões. Falei com um colega (algo que deveria ter feito de princípio), que me disse onde poderia usar a tal package em Linux, já instalada (nos computadores da universidade), e que nunca deveria usar o pdflatex: teria de ser o latex normal, seguido de um comando chamado dvipdf -sPAPERSIZE=a4. Lá tive de me ligar aos computadores da universidade e acabar o trabalho lá. Tudo correu bem, mas muitas horas foram perdidas com estas "experiências". Cada vez que um tipo se mete com o software livre dá nisto - ou se é basicamente um engenheiro informático e se conhecem todos os comandos do Linux, ou perdem-se horas, dias, sem nunca se perceber o que se passa.
Finalmente outros dois colegas (com quem eu deveria ter falado à partida) revelaram-me que existe um conversor (de distribuição gratuita...) de Latex para PowerPoint, que permite usar este último sem ter que estar a reescrever as fórmulas todas. Palavra: eu tenho a maior simpatia por todo o software de distribuição livre, mas também tenho a maior simpatia pelo meu tempo (e já não tenho idade para fazer directas a trabalhar). Acho que me vou converter ao tal conversor.

Adenda: a ligação segura aos computadores da Universidade é feita pelo Putty, um simpático programa de ligação a uma máquina Linux a partir de um computador Windows. É um programa muito simples, de distribuição livre, e que se saca sempre do mesmo sítio. Já uso o Putty há anos e nunca me deixou ficar mal.

Thursday, May 11, 2006

Get physical

Se isto fosse verdade, seria a melhor maneira de converter o Pedro Mexia à Física Teórica. Mas é mentira, pelo menos na maior parte dos casos que eu conheço. É verdade nos caos que lá são referidos... Talvez seja assim, em última instância, que se distingue um bom físico de um físico vulgar.

Wednesday, May 10, 2006

Tapar o Sol com uma peneira...

Como devem ter visto eu fiz vários posts neste blog enquanto estive em viagem pela China.

O que foi irritante, para além de muitas vezes ter que usar nos hotéis as versões chinesas dos programas, foi constatar que não me era permitido aceder ao blog que acabara de actualizar.
Não se tratava de qualquer perseguição pessoal, na verdade não consegui aceder a nenhum blog alojado no Blogger. Também não consegui aceder ao DOTeCOMe Forum que é uma ferramenta da voy.com.

Enfim, os nossos amigos chineses parecem querer "tapar o Sol com uma peneira" apesar de ser claro que estão ansiosos por se bronzear...

Força Roca!

Aeroporto de Lisboa, zona de embarques, Janeiro de 2006

Agora já não és treinado pelo Peseiro, e não vais perder a mesma Taça na final dois anos seguidos!

Tuesday, May 9, 2006

Parabéns ao Benfica

«Koeman paga 500 mil euros para sair», anuncia o Record. Evitam ter que despedir o treinador (no fundo aquilo que mais desejavam) e de o indemnizar, e ainda por cima recebem 500 mil euros por quebra de contrato. Desde a venda pelo FC Porto do Secretário ao Real Madrid que eu não via um negócio tão bom no futebol português.

Monday, May 8, 2006

Querem parasitar os nossos conteúdos...

A luta do século XXI vai ser, estou convencido, evitar que parasitem os conteúdos que criamos.

Segue-se um texto do João Ramos, no Expresso desta semana, sobre as manobras em curso.

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E o Google incomoda muita gente...


A INTERNET tal como a conhecemos pode ter os dias contados. A Telecom Italia e a Deutsche Telekom abriram as hostilidades, reivindicando publicamente e junto das autoridades reguladoras o direito de introduzirem novas taxas sobre as empresas de Internet como a Google, Yahoo ou eBay.

Se a pretensão dos operadores europeus for atendida, a Internet passará, na prática, a ter duas velocidades - a que ocuparia a faixa lenta, e outra, mais rápida, que ocuparia uma faixa prioritária, cujo direito de utilização seria pago pelos fornecedores de conteúdos que assim o entendessem.

Mas esta cruzada não está a acontecer por acaso. Surge na sequência de um debate desencadeado no Congresso dos EUA sobre a «neutralidade da rede» que, nos últimos tempos, tem preenchido a agenda da regulação em telecomunicações do outro lado do Atlântico e que vai deixar tudo na mesma. Este princípio da «net neutrality» - que pressupõe que os operadores das redes não deverão ser autorizados a incluir taxas extra aos fornecedores de conteúdos para terem tratamentos preferenciais - levou a que uma posição dos Democratas (que queriam ver reforçado na lei o princípio da neutralidade da rede) fosse esta semana vencida no Congresso pelos votos dos membros do Partido Republicano, recusando, assim, dar mais poderes à FCC (Federal Communications Commission) nesta matéria.

Por outro lado, na Europa o assunto não está encerrado, sendo a posição da Telecom Italia e da Deutsche Telekom uma tentativa dos incumbentes recuperarem os vultosos investimentos que alegadamente têm feito nas redes de banda larga do futuro (algumas estimativas apontam para 80 mil milhões de euros na Europa).

As empresas nascidas na Internet são acusadas de terem enriquecido através do uso de uma infra-estrutura de rede na qual não investiram um tostão. Isto, enquanto os operadores sentem dificuldades em rentabilizar as suas redes fixas, com perda do mercado da voz para as redes móveis, e pela explosão dos serviços de voz sobre Internet (VOIP), como é o caso do Skype.
Para agravar a situação, as suas redes de telecomunicações estão a ser cada vez mais inundadas pelo tráfego informal («peer-to-peer», directamente entre particulares), que desencadeia grandes volumes de dados e conteúdos multimédia (vídeo e jogos) a circular na Net.

O EXPRESSO convidou a Anacom e a Portugal Telecom a manifestarem uma opinião sobre o assunto, mas até ao fecho da edição não obteve resposta. Por tudo isto, não surpreende que as pressões dos lóbis das duas partes já se tenham feito sentir em Bruxelas, numa altura em que a Comissão Europeia se prepara para rever o quadro regulador das telecomunicações.

Os representantes das empresas de Internet acham que a disponibilização de conteúdos na Web deve ser gratuita e igualitária, sob pena de se perder capacidade de inovação. Ou seja, querem que um videoblogue particular esteja disponível à mesma velocidade que um filme de um serviço «on demand». Posição contrária têm os operadores dos dois lados do Atlântico

Lugar comum

Se há coisa com que eu embirro é com o uso da expressão "lugar comum" (não com a expressão em si). Embirro com quem a usa, pelo que ela tem de crítica à "falta de originalidade", sendo que quem a usa na maior parte das vezes não é nada original. Não há nada menos original do que usar a expressão "lugar comum". Não há maior lugar comum do que dizer que algo é um "lugar comum".
Serve este texto para saudar o aparecimento de mais um blogue colectivo, lugar comum da Susana, do Afonso, do Lutz e do Luís. O título (excelente para um blogue, principalmente colectivo) promete. A qualidade dos escribas não vai decepcionar. E desculpem o lugar comum.

Sunday, May 7, 2006

Só as mães são felizes

Uma música para o Dia da Mãe. Não aconselhável a pessoas especialmente sensíveis.

Saturday, May 6, 2006

«São Paulo dá café...»

Quanto à questão posta pelo Rui, a resposta foi dada pelo Noel Rosa na primeira metade do século passado, numa frase lapidar que eu reproduzi aqui. Como diria um baiano omnipresente, São Paulo tem «a força da grana que ergue e destrói coisas belas.» São Paulo é o avesso do avesso.

«Voto no Lula»

«É claro que esse escândalo abalou o governo, abalou quem votou no Lula, abalou sobretudo o PT. Para o partido o escândalo é desastroso. O outro lado da moeda é que disso tudo pode surgir um partido mais correto, menos arrogante. No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro (risos). Agora, a crítica que se faz ao PT erra a mão. Não só ao PT, mas principalmente ao Lula. Quando a oposição vem dizer que se trata do governo mais corrupto da história do Brasil é preciso dizer "espera aí". Quando aquele senador tucano canastrão vai para a tribuna do Senado dizer que vai bater no Lula, dar porrada, quando chamam o Lula de vagabundo, de ignorante --aí estão errando muito a mão. Governo mais corrupto da história? Onde está o corruptômetro? É preciso investigar as coisas, sim. Tem que punir, sim. Mas vamos entender melhor as coisas.»

«o preconceito de classe contra o Lula continua existindo --e em graus até mais elevados. A maneira como ele é insultado eu nunca vi igual. Acaba inclusive sendo contraproducente para quem agride, porque o sujeito mais humilde ouve e pensa: "Que história é essa de burro!? De ignorante!? De imbecil!?". Não me lembro de ninguém falar coisas assim antes, nem com o Collor. Vagabundo! Ladrão! Assassino! --até assassino eu já ouvi. Fizeram o diabo para impedir que o Lula fosse presidente. Inventaram plebiscito, mudaram a duração do mandato, criaram a reeleição. Finalmente, como se fosse uma concessão, deixaram o Lula assumir. "Agora sai já daí, vagabundo!". É como se estivessem despachando um empregado a quem se permitiu esse luxo de ocupar a Casa Grande. "Agora volta pra senzala!".»

«Acredito que, apesar de a economia estar atada como está, ainda há uma margem para investir no social que o Lula tem mais condições de atender. Vai ficar devendo, claro. Já está devendo. Precisa ser cobrado. Ele dizia isso: "Quero ser cobrado, vocês precisam me cobrar, não quero ficar lá cercado de puxa sacos".»

«Quando ele [Caetano Veloso] fala que as pessoas do atual governo se cercam da aura de esquerda para justificar seus atos e reivindicar para si uma posição superior à dos demais, tudo isso também vale para o governo anterior. Os tucanos costumam carregar essa aura de esquerda com muito zelo. Volta e meia os vemos dizendo que foram contra a ditadura, que são intelectuais de esquerda. Fernando Henrique foi eleito como candidato de centro-esquerda. Na época a vice entregue ao PFL parecia algo estranho. Depois se provou que não era. As pessoas se servem do passado de esquerda como se fosse um título, um adorno. Na prática política efetiva essa identidade não funciona mais. Mas não funciona não apenas porque as pessoas viraram casaca. A história levou para isso. Levou o PSDB a se tornar o que é e obrigou o PT a abdicar de qualquer veleidade socialista ou revolucionária.»

«Percebo nesses grupos [de oposição de extrema-esquerda] um rancor que é próprio dos ex: ex-petista, ex-comunista, ex-tudo. Não gosto disso, dessa gente que está muito próxima do fanatismo, que parece pertencer a uma tribo e que quando rompe sai cuspindo fogo. Eleitoralmente, se eles crescerem, vão crescer para cima do PT e eventualmente ajudar o adversário do Lula. Acompanhei o PT desde a sua fundação e vi de perto muitas dessas discussões. Em 1985, na eleição à prefeitura de São Paulo, eu achava que o Fernando Henrique era o único candidato da esquerda capaz de derrotar o Jânio Quadros. O PT lançou o [atual senador Eduardo] Suplicy. O que eu briguei com gente do PT --e por causa do Fernando Henrique Cardoso (risos). A candidatura do Suplicy no fim ajudou a eleger o Jânio Quadros.»

«Não acho que a mídia tenha inventado a crise. Mas a mídia ecoa muito mais o mensalão do que fazia com aquelas histórias do Fernando Henrique, a compra de votos, as privatizações. O Fernando Henrique sempre teve uma defesa sólida na mídia, colunistas chamados chapa-branca dispostos a defendê-lo a todo custo. O Lula não tem. Pelo contrário, é concurso de porrada para ver quem bate mais.»

(Chico Buarque em entrevista à Folha de São Paulo, via Caetera.)

Friday, May 5, 2006

What a larger Europe needs is small countries able to think big

Um interessante artigo de Timothy Garton Ash (recomendado originalmente pelo André).

A deportação de portugueses no Canadá

Não julguem que é assunto pacífico entre os canadianos. A comprová-lo está este vídeo, por um comediante local.

Thursday, May 4, 2006

Impressões de uma viagem à China


Alguém disse que os 1.300 milhões de chineses são, neste momento, o mais importante recurso natural do planeta e que o século XXI será, em grande medida, o resultado da forma como tal recurso vier a ser usado.

Escapando ao determinismo mecanicista implícito nesta opinião prefiro dizer que o futuro da sociedade humana será brutalmente influenciado por aquilo em que se tornarem os incontáveis chineses (e também os indianos).

Uma viagem de treze dias pela China não pode fazer muito mais do que proporcionar um série de “impressões”, que valem por ocorrerem no local mas que não pretendem senão dar conta da perplexidade do viajante.

A realidade física ultrapassa as expectativas mesmo quando se parte com alguma bagagem de leituras sobre o país, a magnitude das transformações em curso sente-se “na pele”.

O gigantismo institucional de Pequim, que numa só avenida tem vários hotéis do tamanho do Ritz de Lisboa, rivaliza com o modernismo caótico de Xangai, cujo ritmo de crescimento pode ser simbolizado pelo combóio-bala que nos transporta ao aeroporto, a 400 km à hora, sobre tecnologia “magnética” da Siemens.

No Sul, onde se situam as “zonas económicas especiais” de Macau e Hong-Kong, a China dispõe de cinco aeroportos internacionais num raio de 150 km em torno da cidade de Guangzhou (Cantão).

À volta das cidades, a perder de vista, vão-se erguendo os “dormitórios” de 20 e 30 andares para onde são “desterrados” os moradores dos bairros tradicionais que, no centro, darão lugar aos arranha-céus das multinacionais. Segundo nos disseram os moradores são avisados com apenas algumas semanas de antecedência e recebem modestas ajudas para o realojamento.

Parece no entanto haver uma diferença notória entre as cidades grandes e as cidades pequenas como Xian, que tem apenas (?) quatro milhões de habitantes. Nestas, embora exista também uma actividade comercial desenfreada e as ruas também estejam apinhadas, é ainda possível observar certos “requintes orientais” que as tornam muito mais aprazíveis.

A ginástica praticada ao amanhecer nas praças e jardins, onde muitas vezes se encontram instalados autênticos “parques infatis” para idosos, e a proliferação de esplanadas nas avenidas que preservam uma arquitectura e uma escala mais humana são sinais de um saber viver que surpreende agradavelmente quem vem das grandes metrópoles.

Também se sentem mais as tradições religiosas e as superstições. Os chineses têm, por exemplo, um conjunto de superstições relacionadas com os números que chegam a tomar aspectos caricatos (muitos hotéis não têm quartos no quarto andar pela simples razão de o 4 ser tradicionalmente associado à morte).
Em Pequim disseram-nos que a gigantesca praça Tiananmen se encontra encerrada à noite por se recear a repetição no local de imolações pelo fogo praticadas por membros da seita Falungong.



Sociedade em mutação


Milhões de pessoas que assistiram aos exageros da “revolução cultural” têm agora, de novo, que suportar enormes transformações no seu modo de vida.

Migrar do campo para a cidade, ser deslocado de um bairro antigo no centro para a periferia, ver lojas cheias de produtos estrangeiros com preços inacessíveis, percorrer muitos quilómetros entre as “colmeias” da periferia e o emprego, as mais das vezes em bicicleta ou à boleia de uma bicicleta alheia.

As bicicletas são aos milhões, cuidadosamente arrumadas nos “parques de estacionamento”, mas parecem estar a ser substituídas, em larga escala, pelas motoretas e as motas. Nas entradas das cidades sucedem-se os “stands” com milhares de motas alinhadas à espera dos clientes.

Enquanto os casais só poderem ter um filho a motivação para o automóvel será menor mas alguns cruzamentos já sofrem engarrafamentos consideráveis de VW, Audi e Hyundai (quase tudo fabricado na China) que representam uma parte considerável dos automóveis existentes, isto com base na mera observação casuística.

Os felizes pequineses proprietários de automóveis são as vítimas do inusitado contratempo constituído pelas tempestades de areia que se abatem regularmente sobre Pequim. O vento trás as poeiras directamente do deserto da Mongólia Interior e deposita-as sobre os seus carros que, de manhã após este “nevão”, estão uma verdadeira lástima. Como há muita mão de obra até cheguei a ver uma mulher, com um aspirador, a limpar o pó de um parque de estacionamento...

Nos locais turísticos vê-se muita gente oriental, muitos com ar de camponeses, as mais das vezes “lutando” com as recém-compradas câmaras fotográficas e tentando caber na imagem juntamente com o Mausoléu de Mao Tse Tung. Tal indicia um activo turismo interno, e a proliferação de gadgets, mas confesso que também pode tratar-se de coreanos, ou japoneses, que eu não tenho meios para os destrinçar.

O número de vendedores ambulantes é enorme e é possível regatear até valores impensáveis caindo no ridículo de “combater” por uma redução de vinte cêntimos, perdendo toda a noção de razoabilidade. Onde quer que pare um autocarro é-se rodeado de vendedores ambulantes que agitam os seus produtos entre os quais se destacam os “lolex”, corruptela de uma famosa marca de relógios.

O comércio é intensíssimo e com horários muito alargados. Qualquer retardatário pode ainda assim redimir-se numa grande quantidade de mercados de rua, com as suas coloridas bancas, onde mal nos aproximamos somos bombardeados com o proverbial “just looking”. Suponho que os vendedores tantas vezes ouviram a expressão, dita pelos estrangeiros passantes, que devem pensar tratar-se de uma forma de saudação.

Há muito pouca gente a falar bem inglês, mesmo em Hong-Kong, mesmo nas recepções dos hotéis.

Dois países um sistema


Parafraseando, e desafiando, o slogan oficial temos que confessar que não conseguimos detectar o “carácter socialista” da R. P. China.

O fosso entre os mais ricos e os mais pobres é abissal e parece crescente, os sectores económicos na mão dos privados aumentam constantemente e só muito poucos parecem estar destinados a permanecer sob controlo do Estado e cada vez maior número de pessoas ganha o seu sustento como assalariado nas empresas privadas.

Como se isto não bastasse é também preciso acrescentar que a educação e a saúde são pagas pelos cidadãos que não beneficiam do “Estado Social” que tantos de nós consideram adquirido e irreversível. Uma das guias contou-nos que o avô, com mais de 80 anos, em cada internamento hospitalar que lhe acontecia deixava os filhos “de tanga”. No caso concreto dos sete filhos só três têm condições económicas para partilhar a despesa.

Por tudo isto penso que aos dois países, Taiwan e RPC, corresponde um e um só sistema económico. Pelo que vi nas televisões e nos jornais, a unificação será apenas uma questão de tempo.
Os negócios assim o esperam e os políticos assim farão.
Segundo consta a explosiva Xangai está sob forte influência dos dinheiros de Taiwan que, de certa forma, estão a regressar a casa já que eram de Xangai os mais influentes empresários que fugiram para a ilha.

Os sinais da política são muito discretos, como se a China se tivesse rendido sem condições ao mais seco pragmatismo. Um retrato enorme de Mao sobre as portas de acesso à cidade proibida, no seu isolamento, quase parece descabido.

Os homens de negócios foram autorizados a pertencer ao partido comunista o que tem possibilitado situações inacreditáveis como a construção, para residência de um dirigente, de uma réplica de um grande palácio francês na China, com frescos nos tectos e repuxos de bronze no lago fronteiro. Mesmo quando não são atingidos tais extremos temos ainda assim os “condomínios fechados” de grande luxo.

As denúncias de corrupção das autoridades e de confusão entre os cargos públicos e os interesses privados são abundantes.

A China parece ser constituída por uma massa enorme de camponeses pobres e operários das periferias, no limiar da subsistência, por uma “classe média” que muitos estimam nos 200 milhões, ancorada nas multinacionais e no funcionalismo e nos serviços e uma minoria de ricos e muitíssimo ricos.
É para estes últimos que existem as lojas Dior, Chanel, Rolls Royce, Ferrari e outras.

O povo miúdo, para quem se vão abrindo apesar de tudo novas possibilidades económicas, frequenta o MacDonalds ao Domingo e vai aprendendo, conforme pode, as virtualidades do consumismo. Para encher o ego popular lá estão os arranha-céus, como a torre Jin Mao em Xangai, que com os seus 88 andares é a quarta mais alta do mundo. Uma ilusão de chegar mais alto do que os americanos.

A questão que se põe não é, quanto a mim, se a R.P.China está ou não a resvalar para um qualquer tipo de capitalismo, mais ou menos selvagem, mais ou menos parasitado a partir de fora.

A verdadeira questão que não consigo esclarecer é a da eventual existência de um desígnio nacionalista no desencadear das transformações em curso, do grau de controlo que tal nacionalismo realmente exerce sobre os acontecimentos e das intenções de tal nacionalismo se, e quando, tiver sucesso na consolidação da China como potência económica global.

Não havendo na R. P. China formas democráticas de legitimação e “controle” do poder é quase impossível estabelecer um nexo claro entre o interesse público e popular e as manobras do Estado e do “nacionalismo económico” que este parece favorecer.

Carioca



O disco mais esperado dos últimos sete anos chega hoje às lojas. Carioca, é esse o título.
(Os discos do Chico Buarque são como os títulos de campeão do Sporting: são raros e temos sempre medo que sejam os últimos. Ouvimo-los e celebramo-los como se fossem os últimos. No fundo, está tudo dito na Construção.)
Olhando para o repertório, das doze músicas a maioria é inédita: só Ode aos Ratos é uma regravação (a música já estava, com um arranjo diferente, em Cambaio, de 2001). Dura na queda, uma música recente, foi gravada no último álbum de Elza Soares, mas é interpretada pela primeira vez num álbum de Chico. O mesmo vale para Imagina, uma parceria com Jobim. Ouvir Chico cantar Imagina é para já a minha maior expectativa, enquanto não ouço o álbum todo.
Enquanto não o ouvimos, contentemo-nos com uma música homónima originalmente no álbum As Cidades, mas numa versão ao vivo.

(Ó Ana, diga qualquer coisa. Pare lá com a greve.)

Wednesday, May 3, 2006

ALDEIA DE PEDRA


Acabei de ler “Aldeia de Pedra” da romancista chinesa contemporânea Xiaolu Guo.
Foi a minha amiga Joana Lopes que me emprestou o livro, antes da minha visita à China.

Sem tempo para o usar na preparação da viagem, acabei por só o ler após o regresso. Penso que finalmente foi a melhor maneira de tirar proveito, porque a não ser assim muita coisa da atmosfera do romance me teria passado despercebida por pura estranheza.

Foram muitas as perguntas que me assaltaram, quer em Pequim face às torres de 25 andares, de construção pobre e evidentes problemas de manutenção; quer em Guangzhou onde a população em bloco parece estar a trocar por motorizadas as velhas bicicletas onde costumava transportar toda a família ou mesmo toda a mobília da casa; quer nos campos de arroz perto de Guilin onde os arados são puxados por búfalos e a matriarca da aldeia tem em casa o seu caixão sempre preparado para a eventualidade da sua partida.
Como vivem estas pessoas? Onde estão as suas raízes e o que é que elas valem? Para onde pensam que estão a caminhar?

A história da rapariga a quem ao nascer chamaram “Pequeno Cão” porque o Demónio do Mar que reclamava as crianças da aldeia não quereria saber de alguém com um nome tão feio, e que, 28 anos mais tarde, a trabalhar em part-time num clube de video em Pequim, só depois de saldar as contas com as suas raízes começa finalmente a ter uma vida para viver, deu-me algumas pistas.
Provavelmente, a vida de cada chinês rege-se pelo princípio que a avó do “Pequeno Cão” enunciava na sua velha sabedoria: “Toda a gente tem uma vida passada, uma vida futura e uma vida presente”.

(“ALDEIA DE PEDRA” está traduzido em português na Quetzal Editores).

Os paradoxos do sindicalismo

«De acordo com um estudo, de 2004 da Comissão Europeia, a taxa de sindicalização dos trabalhadores portugueses era de 24,3% em 1997, só acima da espanhola (15,7%) e da francesa (9,8%). E muito abaixo da dos países nórdicos, que oscilava entre os 75% e os 82%», lê-se no DN.

Mas por que será então que este resultado contraria um pouco o nosso senso comum? Os países que afinal têm uma taxa de sindicalização mais baixa são os que geralmente associamos a um movimento sindical mais forte, e (principalmente a França) onde se registam as maiores paralisações, as greves de parar o país todo...
Talvez o erro esteja na associação "maiores protestos" e "maiores greves" a "sindicatos mais fortes". Nos países nórdicos há menos greves, mas muitas vezes os sindicatos têm mesmo uma palavra a dizer na administração da empresa (algo que em Portugal e em França seria impensável, e aqui as culpas repartem-se entre trabalhadores e patrões). Numa palavra, os sindicatos têm mais responsabilidades.
Compare-se os países nórdicos com o extremo oposto, a França - veja-se o caso recente do CPE e dos exageros associados às manifestações, mesmo se por um motivo justo. Mas talvez os estudantes e os trabalhadores não tivessem outra alternativa: só assim seriam ouvidos.
Os números não enganam: nos países nórdicos há menos greves e menos conflitualidade social. Os sindicatos são mais fortes e conseguem mais frequentemente os seus objectivos.

Soy loco por ti América (II)

O "libertador" Hugo Chávez, por João Morgado Fernandes no DN.

Tuesday, May 2, 2006

Soy loco por ti América

Restaurante hispânico encerrado em Dallas, no 1º de Maio, por solidariedade para com os imigrantes. A nota está escrita em espanhol e inglês.

Enquanto vivi nos EUA os feriados eram diferentes, não só obviamente os nacionais mas mesmo os religiosos - onde eu vivi prestava-se menos atenção aos feriados cristãos e mais aos judeus, e isso era natural. O que me fazia confusão era não se celebrar o 1º de Maio - o "dia do Trabalhador" nos EUA é a primeira segunda-feira de Setembro, um feriado para se passar em família antes do regresso às aulas e... ao trabalho. Não compreendia e nunca aceitei como poderia não se celebrar este feriado, principalmente tendo em conta que as suas origens ocorreram em território americano, com trabalhadores americanos. Aquele país não quer saber mesmo nada das lutas dos trabalhadores e da duração das jornadas de trabalho.
(Não é bem assim: existem sindicatos nos EUA, e não me admiraria que a taxa de sindicalização dos trabalhadores fosse bem superior a em Portugal. Simplesmente actuam de outra maneira.)
De qualquer maneira, não se celebrar o 1º de Maio não me parecia digno de um país civilizado.
Ao mesmo tempo, do que eu mais gostava nos EUA era da forte presença imigrante, que traz àquele país características únicas. Os "americanos" não existem; vêm de todo o mundo. E a grande força dos EUA sempre foi o abrir-se à imigração. Dentro desta, merece particular destaque a imigração hispânica, os "latinos". Foram os que eu conheci de mais perto.
É com um sentimento de alívio que eu vejo os "latinos" a manifestarem-se nos EUA, a demonstrarem a sua força e a sua importância, e a escolherem para essa data - certamente não por acaso - o 1º de Maio. Talvez no futuro o 1º de Maio venha a ser recordado não só como o dia do Trabalhador mas também como o dia do Imigrante. Vejo estas manifestações e imagino o meu sonho a cumprir-se - a língua espanhola a civilizar aquele país. Uns EUA sem perderem as suas características - o voluntarismo, o optimismo, a confiança, a ambição, o trabalho, ... mas "latinizados". O mundo só teria a ganhar com isso.

Monday, May 1, 2006

"Somos América!"

Imagem de uma manifestação de imigrantes hoje em Times Square, New York

120 anos

Foi precisamente há 120 anos que, nos EUA, os trabalhadores iniciaram uma greve geral com vista ao estabelecimento de uma jornada de trabalho de oito horas. Houve protestos sangrentos no Haymarket em Chicago. Desde então esta data foi adoptada como Dia Internacional do Trabalhador. Ironicamente, não é comemorado oficialmente nos EUA, embora este ano prometa ser agitado.

75 anos


aqui tinha referido que é necessário todas as (belas) cidades terem um edifício alto e feio, de onde se possa mirar a cidade sem se ter pena de não se estar a mirar esse edifício. Para isso Paris tem a Torre Montparnasse. O equivalente em Nova Iorque poderia ser o feioso Empire State Building, mas infelizmente nem assim se consegue deixar de ver o Chrysler Building (como se vê na fotografia - é o que está por trás), com uma cúpula ainda mais horrível. Nova Iorque está mesmo a precisar de um novo World Trade Center, de preferência tão bonito e tão sóbrio como o anterior.
Apesar de tudo o Empire State Building é um edifício feio mas simpático. Permite-nos vistas espectaculares do Central Park e do Harlem como mais nenhum, e ainda de New Jersey, de Long Island e do sul de Manhattan. As cores da cúpula variam consoante a data e a ocasião (ver aqui). A 7 de Setembro de 2001 eram verde e amarelo (dia do Brasil). A 10 de Junho de 2003, e durante essa semana, eram verde e vermelho (dia de Portugal). É um ícone geográfico e histórico e merece respeito. Faz hoje 75 anos.

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