Tuesday, November 28, 2006

Os ortodoxos de hoje serão os renovadores de amanhã

Com o “caso” da recusa de Luísa Mesquita em abandonar o Parlamento, confirma-se uma vez mais: um membro do PCP só é “bom” se entrar em conflito com o partido. João Amaral em 1991 polemizava na imprensa com os então saídos para a efémera “Plataforma de Esquerda”. Edgar Correia e Carlos Brito estiveram convictamente ao lado de Álvaro Cunhal no apoio à tentativa de golpe na União Soviética. Na altura, ainda não eram os “grandes renovadores”. Luísa Mesquita há muitos anos é uma valorosíssima deputada; o reconhecimento só surge com este conflito. Sucediam-se e sucedem-se as críticas aos membros do PCP, sem nunca enaltecer o trabalho dos seus deputados. Mesmo agora, as atenções voltam-se só para Luísa Mesquita: ninguém fala em Odete Santos (que aceitou afastar-se após uma longa carreira de deputada). Sugiro por isso a jornalistas como o Pedro Correia que comecem a escrever o seu elogio a Jerónimo de Sousa – há de chegar a altura em que o actual secretário geral do PCP o merecerá.
Sobre a substituição dos deputados propriamente dita, a sua legalidade parece inquestionável, uma vez que estes mesmo antes de serem eleitos assinaram um documento nesse sentido com o partido. A grande questão que se põe, neste caso como na câmara de Setúbal (ou nos deputados “rotativos” do Bloco de Esquerda) é em que medida é que quem votou nos “afastados” não sabia (nem podia saber) da possibilidade de estes serem afastados, tendo votado nos candidatos e não nos partidos e sentindo-se por isso defraudado. Só nas próximas eleições tal se poderá saber.

Algumas notas:
Marcelo Rebelo de Sousa (texto na edição escrita do DN, sem ligação) fala como se o PCP entendesse substituir os deputados por completos desconhecidos, e não por quem lhes segue na lista. Os novos nomes já constavam nas listas eleitorais, e quem votou no PCP poderia tê-los eleito, caso se reunissem votos suficientes. A argumentação de Marcelo aplicar-se-ia a listas uninominais.
Joana Amaral Dias deveria recordar-se que, da primeira vez que foi deputada, também não foi eleita. Quem votou no Bloco de Esquerda também desconhecia, na altura, a “rotatividade”.
Ler também os dois comentários de João Pedro Henriques e o de Vital Moreira.

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