No mesmo fim-de-semana, em 1940, morreram dois dos grandes escritores americanos do século XX. No dia 21 de Dezembro, F. Scott Fitzgerald sucumbia a uma sucessão de ataques cardíacos. No dia seguinte, devastado com a notícia, o seu amigo e parceiro no charco de Holywood, Nathanael West (que era um péssimo condutor nas melhores circunstâncias), passou um sinal vermelho e embateu de frente noutro automóvel. Teve morte imediata. O autor de O Grande Gatsby, apesar dos altos e baixos da sua carreira, era já uma figura respeitada; teve direito a louvores de primeira página, e a um funeral enfeitado com os piadismos monossilábicos de Dorothy Parker. Já o obituário de West apareceu apenas na secção de cinema do NY Times; escreveram-lhe o nome ao contrário e atribuíram-lhe uma bibliografia pejada de incorrecções.
Os títulos dos seus romances são: The Dream Life of Balso Snell, Miss Lonelyhearts, A Cool Million e The Day of the Locust. Há uma edição muito boa da Picador que inclui os quatro. A contracapa inclui o lugar-comum da praxe: West "traçava panoramas satíricos da América" ou coisa parecida, o que, diga-se, não é totalmente descabido. O conjunto da sua obra é o que a literatura americana teve de mais parecido - em espírito e execução - com um Almas Mortas. Mais honesta, contudo, seria uma frase deste género: «West escreveu sobre o Inferno. Por conveniência, deu-lhe o nome de Los Angeles e povoou essa topografia com pintores frustrados, editores cínicos e actrizes desempregadas, mas o fedor a enxofre é inconfundível.» Como os melhores escritores, limitou-se a "traçar panoramas" do interior da sua cabeça e dos fantasmas que lá uivavam. A sua tentacular influência nota-se em Burroughs, em Ballard, em Pynchon, em DeLillo.
Na sua juventude, Nathanael West devorava literatura russa, tendo treinado um bull terrier para morder qualquer pessoa que o interrompesse quando tinha um livro na mão. Um esquema semelhante para a leitura da sua obra não é de todo desaconselhável.
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