Friday, March 24, 2006

Clareza e simplicidade


«"Estou a gostar de ouvir isto" comentou em surdina um velho militante de Vila Nova de São Bento, que foi frequentador assíduo das cadeias do antigo regime.(...)
Jerónimo de Sousa retoma a palavra. "Camaradas, por mais que tentem escamotear a história e os factos, não estão eliminados os antagonismos de classe. Bem pelo contrário, a luta de classes continua a ser a grande questão da nossa época" vincou com palavras marteladas o orador. A audiência compreendeu onde "o camarada Jerónimo" queria chegar e apoiou com palmas e palavras de ordem. (...)
As palmas regressam em força e o secretário geral dos comunistas, coloca a cereja por cima do bolo ideológico que acabara de confeccionar: "Camaradas, Somos um partido feito de homens e mulheres, reconhecemos os nossos erros e temos consciência que não temos verdades absolutas." O auditório percebeu a mensagem e Jerónimo de Sousa terá ficado com as costas bastantes amassadas, por ter ousado ir ao encontro das bases do seu partido. (...) Bastava ouvir os comentários, as expressões de alegria que contratavam com o estado de espírito de tempos recentes em que até os mais convictos sentiam vacilar o ideal comunista.
Foi como que um clique. O aparecimento de algo que faltava. Não pode ser apenas a capacidade afectiva de Jerónimo de Sousa. A forma vibrante como as pessoas expressavam o seu apoio às palavras do líder, revelaram que era urgente falar assim. (...) Estoiram os aplausos e Jerónimo de Sousa, não perde tempo. (...) Percebe-se a razão da empatia do novo secretário geral do PCP. Fala a linguagem que as pessoas já tinham deixado de ouvir.»

(reportagem de Carlos Dias, Público, 20 de Março de 2006)

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