Votei em Mário Soares na última eleição presidencial, e poucas vezes terei votado com tanta convicção. Pela sua intervenção constante, pela forma como recusa reformar-se e como não se resigna, pelo direito à indignação que ele exerce constantemente.
Principalmente nos últimos anos, aquando da guerra do Iraque. Poderia ter-se refugiado no seu estatuto de senador unânime, mas não teve medo de vir a terreno. Nunca tinha votado em Mário Soares antes (e só tinha tido uma oportunidade, nas europeias de 1999). Por isto tudo, achei que Soares merecia o meu voto, e dei-lho.
Evidentemente fiquei aborrecido com o resultado final. Fiquei aborrecido, sobretudo, porque se tornou evidente que o Cavaco não era nenhum papão. Não era imbatível, como demonstram os 0.6%. E o que se verificou? A maioria dos não-cavaquistas convenceu-se de que ele era imbatível. E nem se deu ao trabalho de votar, ou quando votou, votou em Alegre, convencida de que era um voto de protesto e que Cavaco ganharia. (Ana Gomes deveria ter-se indignado era com o seu muito esporádico companheiro de blogue que escrevia no DN antes das eleições que votava em Manuel Alegre e que Cavaco iria ganhar. É um retrato do estado de espírito que se instalou, e que Manuel Alegre nunca tentou combater.) Só Mário Soares nunca se conformou. Até por isto merece a minha homenagem, e por aqui pode ver-se como é maior do que o país.
Há ainda a questão de Manuel Alegre. Eu achei bem que Manuel Alegre se candidatasse, e não tenho nada contra ele ou quem votou nele. Mas a campanha de Manuel Alegre foi muito má. Demasiadamente má. Ele demonstrou que não estava preparado para o cargo e a motivação dele era uma vingança pessoal e mesquinha. Já há dez anos Alegre queria ter sido candidato em vez de Sampaio. Alegre andava há dez anos a querer ser Presidente da República, mas nunca fez nada para isso e - pior - nunca fez nada por isso. Alegre e a direcção do PS secundarizaram sempre as Presidenciais, e agora temos isto - Cavaco na Presidência. Não é certamente com Mário Soares - o único que nunca se conformou - que eu me aborreço. Mário Soares fez o que pôde. Eu também.
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